Entrei e fui logo conversando com a pessoa que tomava uma cerveja no balcão. Ainda tinha meia cerveja na garrafa quando me ofereceu compartilhar a bebida. Nos cumprimentamos e ele jogou logo o assunto sobre o mafioso Michele Caputo, que havia sido preso há bastante tempo:
Ele respondeu: - Não, eu não participo destas coisas de igreja!
Mudamos o assunto e, de novo, mais uma tentativa de identificação:
Amarelei de novo. - Ah, eu sei quem é mais não estou me lembrando!
- E o seu nome?
- Lulu, eu sou Pablo, aquele que você pegou cerveja no meu bar no dia que desceu do beco dos Artistas, quando estava conversando com Bruno Sola, seu primo!
- Ah, rapaz, agora caiu a ficha. Você é aquele que fica com o som na maior altura durante a Festa do Divino?
- Isso, sou eu mesmo!
- Eu só tomo uma e vou trabalhar porque no bar eu não posso beber. Você sabe que dono de bar é psicólogo, conselheiro, meio que faz tudo e outra dia um bêbado tava brigado com sua mulher e veio me pedir opinião. Imagine se ele fizesse o que orientei. Portanto, a gente não pode beber para manter as idéias no lugar. Dono de bar é até detetive. Mas, vamos mudar de assunto. Eu me lembro que seu Chico, seu pai, botava as cadeiras sobre o passeio na porta da casa para a gente não passar de bicicleta, aquelas monaretas BMX!
- Ainda não sei !!!
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Perguntei para ele quem era Vicente. Respondeu: - Você é Vicente. Eu falei: -Eu sou Lulu!. Ele teima: - Não, você é Vicente!. E isso durou até o dia seguinte, quando ainda teimava a troca.

À medida que o filme avança, um silêncio se apossa do cinema. A mãe pensa em sair, mas observa todo o envolvimento dos filhos e dos outros jovens com a história. Resolve ficar e mergulha, como todos ali, na magia da sétima arte. As cenas se sucedem num ritmo cadenciado, o lugar é misterioso, quase surreal. Sem motivo aparente, as aves começam a atacar a cidade em bandos cada vez mais numerosos, e depois recuam, e surgem novamente, ameaçadoras, determinadas a abater todos os que ali se encontram. Provocam pânico geral, dúvidas, fogo num posto de gasolina, atacam crianças numa escola, matam uma professora, um fazendeiro e finalmente, o clímax. Uma casa de madeira a beira mar, onde um grupo de pessoas, aterrorizadas, esperam o ataque final das aves, que avançam aos milhares, fazendo um barulho infernal, com bicos afiados como lâminas, a baterem nas paredes, telhados, portas e janelas. Na madrugada, uma trégua, silêncio. Rod Taylor, que faz o protagonista, abre a porta, bem devagar, e se depara com uma cena macabra: as primeiras e dramáticas luzes da alvorada revelam milhares de gaivotas e corvos, pousados em volta da casa, a ocuparem todos os espaços. Sai, em pequenos passos, cuidadosamente, até a garagem. Entra no carro, liga o rádio, ouve as notícias, volta e encoraja a todos a saírem e entrarem no veículo. Liga o automóvel e sai, em movimento reduzido, por entre milhões de aves, para então, tomar a estrada litorânea e sumir, deixando para trás a cidade entregue aos pássaros. Fim. A maioria sai do cinema em silêncio. D Célia e os filhos, Carlinhos, Gina, Teca, Tinho e Nando, descem o Beco dos Artistas, atravessam a Praça Deocleciano Teixeira, passam pelo posto de gasolina de Miguel Labanca, percebem que não há ninguém, e seguem em direção à praça Góes Calmon. Ao chegarem à praça, onde moravam, tomam a direção da residência. A cidade estava calma, metafísica, era uma tarde diferente. Entram em casa, incólumes. Lá fora, pardais volteiam e pousam nos fios de tensão.