"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Medo de escuro

Estava aqui, pensando naquela profunda escuridão de Poções, quando o motor/gerador dava defeito. De repente, a luz apagava. Esperávamos por horas e nada. Depois das dez, então, seu Nicola Leto não ia mais tomar providências – o conserto ficava para o dia seguinte.

Restava a opção de ir dormir. Apagava o candeeiro e segurava uma vela para iluminar o caminho da cama. Antes, via um vulto vindo do corredor do banheiro em direção à sala e, depois, para o quarto. Era meu pai, com uma lanterna em uma das mãos e a outra ocupada com um portátil vaso sanitário – o penico, mais comumente chamado de urinó.

Com as mãos ocupadas, ele não poderia dar a benção da boa noite e apenas respondia: Dio ti benedica, va te curca presto! (Deus te abençõe, vá se deitar cedo!) num sotaque carregado do dialeto italiano.

Ainda garoto, o medo de escuro me pelava. Quando alguém reclamava de dor de barriga, eu caia fora. Significava que me mandaria pegar erva cidreira no quintal do fundo. Tinha receio que uma mão de defunto ia me agarrar – saia picado, correndo, assim eu poderia chegar primeiro que a alma.

Como a casa era imensa, fria e o banheiro ficava no final do corredor, a opção mais prudente era levar o penico para debaixo da cama. Não digo que curei os meus medos do escuro, mas evitei uns bons calafrios usando o utensílio.

As crianças de hoje não tem mais medo de escuro. Não falta luz, a arquitetura acabou com a “lonjura” do banheiro, acabou com o penico.

Urinó, então, virou coisa do passado.

 .

Um comentário:

  1. Prezado Lulu,
    Era a pura verdade, quando o Gerador a Diesel estava funcinando normalmente, mesmo assim era desligado,~22h, logo após a sessão de cinema que ficava onde hoje é a agência do Bradesco na rua da Itália.
    Quanto ao pinico, nós, também, faziamos uso daquele quase obrigatório acessório doméstico da época. O banheiro da casa dos meus pais,também, ficava quase no final do corredor. A escuridão era um martírio para todas as crianças, principalmente para quem convivia com adultos que adoravam nos contar histórias desalmadas.
    Realmente,ir ao quintal a noite no escuro, não era uma boa ideia.
    Lulu parabéns pelas suas crônicas poçõenses, em sua maioria me indentifico muito com elas.
    Elas rememoram e avivam as minhas lembranças, pois são um bálsamo para aqueles que gostam e sentem sudades de Poções.

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