"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

domingo, 28 de dezembro de 2014

Paulo Espinheira

Por Eduardo Sarno, especialmente para o Blog
Paulo Espinheira (Foto: Mabel Oliveira)

Paulo não vai, ele fica na nossa memória. Todos juntos somos capazes de reconstruir a sua essência, a sua lembrança, o seu carinho para conosco.

Paulo tinha um grande depósito, um armazém, com portas largas, e na frente um enorme letreiro vermelho, escrito "Coração".

Era lá que ele guardava com carinho os amigos. Desde os amigos do pai, Dr. Ruy Espinheira, que ele manteve e cultivou, como os amigos do filho, ele mesmo, que durante sua vida ampliou e conservou. E, pasmem, guardava também, além dos amigos do pai, do filho, os amigos do Espírito Santo ! Estes eram os amigos de Poções, onde ele reencontrava na festa do padroeiro, Divino Espírito Santo.

Diferente de Glauber, Paulo tinha um copo na mão, um sorriso no rosto e muitas idéias na cabeça. Farrista, amistoso e culto. Era sempre um prazer para os amigos encontrá-lo nestes três momentos juntos.

Paulo Barão. Um merecido título de nobreza para quem enfrentou com tanta dignidade uma situação difícil, sem se abater, compartilhando com os amigos a mesma alegria de sempre.

O seu legado, para nós, não poderia deixar de ser o seu sorriso aberto, sempre franco e leal.

Adeus, primo, nós que ficamos te saudamos.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Os doidos

Por Eduardo Sarno
Eles estavam nas ruas e nas nossas cabeças. Quando ouvíamos a molecada gritar: “Ôôô Três Casaco !!!” corríamos para ver. Lá estava ele, barbudo, já de uma certa idade, carregando um saco cheio de coisas, correndo atrás dos moleques e jogando pedras. Ele costumava ficar na porta da casa do dr. Agripino Borges e chegou a dar um tapa em Adilson Santos. Era dos brabos. Mas tinha também os mansos: Isaulino era um deles. Magro, segurando as calças sujas para não cair, andava, ciscava com uma perna, catava um bago de cigarro no chão, dava uma corridinha, parava e ficava falando só. Quando o chamavam, resmungava e mal levantava a cabeça.

Para nós, atentar os doidos era um misto de brincadeira ingrata e perigosa. Não nos deixava satisfeitos. Havia ali algo que nosso entendimento infantil não alcançava. O máximo que ouvíamos os adultos comentarem eram sentimentos de pena: “coitados !!!”. Mas isso não era suficiente. Ficávamos a pensar de onde eles vinham, porque se tornaram assim e o que eram, finalmente. Às vezes alguém comentava que um doido havia sido um homem rico, fazendeiro ou negociante, ou que uma doida teria sido uma mulher muito bonita, que esteve quase noiva. Sentíamos o peso da fatalidade como o de uma rocha caindo em cima de uma formiga, pois ali estava o pobre coitado, na rua, sem absolutamente nada. O contraste conosco era total. Tínhamos de tudo e a comparação a que éramos submetidos quando víamos um doido era muito forte.

Joaninha, a empregada lá de casa, assim certamente como todas as outras de Poções, não perdia a oportunidade de recorrer às ameaças de chamar um doido para nos pegar em caso de desobediência ou malcriação. Os preferidos eram Buqueirão, um mulato barbudo, maltrapilho, feroz e que jogava pedra, e o outro era Medonho, olhos remelentos e uma cabeça enorme, que ele batia contra a parede.
A nossa ignorância fazia com que ficássemos aterrorizados, imaginando a obediência daqueles doidos aos desejos das empregadas, a vinda deles fisicamente durante o dia e metafisicamente durante o sono, nos atormentando.

Mas, com alguns doidos havia uma certa convivência ou aproximação. Lope, por exemplo, doido manso, contava as estrelas e quando errava recomeçava. Ao nos ver pedia “torresmim” para comer. Maria Putuquinha tinha até um trabalho, botava água de ganho nas casas, pois não existia ainda a água encanada de Morrinhos. Já com o Carrim, que era cego, a malvadeza da molecada era orientar erradamente e fazer ele tropeçar ou cair em um buraco. Quando davam comida para ele e não tinha carne, perguntava: “-Ô Sá Jô cadê a mastigadura ?” Quando a molecada deu um pau sujo de bosta para ele pegar acusou logo: tem um cagado por aqui !.
Os doidos tinham oscilações de humor e comportamento, e dizia-se que a lua cheia tinha a ver com isso. Gatinha era pequena, branquela, e quando braba deu um murro na barriga de Vone Macedo, que estava na porta da farmácia de Olimpio Rolim. Contudo, os filhos de comadre Dozinha Fagundes podiam xingar de Gatinha que ele não se incomodava. Pedia pedaços de sabão nas casas e suspendia a saia, para alegria da molecada.
Já Pêga, negra gorda, feia e suja, era sempre braba. O povo raspava a cabeça dela por causa dos piolhos.
Havia os que, se não eram doidos eram tipos estranhos. Zupero era um deles. Índio, caboclo das matas, onde morava, não saia de dia e só a noitinha é que passava nas casas. Lenço amarrado na cabeça, bermuda desfiada, brincos e colares Zupero trazia para a nossa curiosidade um novo elemento: o efeminado. Cantava versos do terno de Reis: “Ai duri duri ai, ai ai duri duri ai”, e dizia que na Sexta Feira Santa passava por dentro de um espelho.
O outro tipo estranho era Mazinho, filho de Dona Massú, que era lavadeira e fazia acarajé. O pai era seu Hermenegildo, guarda noturno, que o povo chamava de “Miligildo” e tinha um Reis de Boi onde, certa ocasião, pregou um rabo de verdade no “boi” que fedeu tanto que o povo não quis receber o Reis nas casas. Negro, alto, de andar rebolado, Mazinho era o outro efeminado que nos intrigava. Não sabíamos nem porque nem para que servia um efeminado. Achávamos que era só mania de querer imitar as mulheres.
Poções sempre foi pequeno e com três passadas os doidos iam da Rua da Itália à Rua São José e assim conheciam e eram conhecidos de toda a cidade que, tirante a molecada, não os hostilizava. Mas tinha um que só fazia ponto na Praça Coronel Magalhães. Era Jipe. Na verdade era um andarilho que saia de Jequié e ia até Conquista, pela Rio- Bahia, sem asfalto na época. Trazia pendurado no pescoço um volante e a tiracolo as buzinas e os faróis. Amarrado atrás um bagageiro pequeno, com os pertences de viagem. Os sapatos eram os pneus e as pessoas que o cercavam para ver a novidade davam dinheiro, que era para comprar a “gasolina”: café com leite e pão no Bar do João Liguori.
São lembranças de seres provisórios, sem passado e sem futuro, que só serviram para povoar a nossa imaginação. Eles ficaram no passado, mas nós mantemos incrustados em algum lugar das nossas mentes aqueles olhares perdidos que olhavam mas não viam , os olhares dos doidos de Poções.
Jul/97

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Irundy e o jogo de Xadrez

Com Irundy e Noélia - junho 2014
(Foto: Fernanda Sanjuan)
O dia 02 iniciou com uma triste notícia. Custava a acreditar que a notícia do falecimento de Irundy Manta Alves Dias era verdade, mesmo com a confirmação passada pelos meus amigos mais próximos.
A tristeza foi grande. Restava lembrar das histórias contadas pelo Seu Dy no blog dele. Lembrar das suas passagens no ginásio, na cadeira do consultório odontológico e na convivência do dia-a-dia como amigo nos diversos encontros em sequenciadas Festas do Divino, onde a presença era certa.
Além de professor de matemática, dentista, diretor, escrutinador, pai, marido, avô, cidadão presente, Irundy também ensinou o jogo de Xadrez nos intervalos pós provas no ginásio. Eu fui seu aluno, acompanhado de Fernando Schettini Filho (Coêlho), Tõe de Doca e Gracinha Almeida (irmã de Gessy).
Até hoje, quando olho a formação de um tabuleiro de Xadrez me lembro de Irundy. Cada peça tem uma função importante. O rei e a rainha, segundo ele, estavam protegidos pelo clero - os bispos. Eles podiam dar a proteção religiosa. Os cavalos serviam para que pudessem fugir do campo de batalha. As torres dariam a proteção de um castelo. A linha de peões era formada pelos soldados, os que protegiam as demais peças.
Não era uma aula, era uma batalha. A movimentação das peças, mostradas detalhadamente, acompanhadas de macetes de quais peças eram importantes a sua manutenção.
Fizemos um campeonato de Xadrez. Disputei com Gracinha, ganhei e fui enfrentar Fernandinho na final. Deu Fernandinho campeão. Meu primeiro título, portanto, Vice Campeão de Xadrez.
Histórias à parte, quero externar o meu sentimento pela perda irreparável de Irundy. Dizer a minha pró Noélia, aos filhos Sibele, Mercês, Dino e Guga, genros, noras e netos que sinto muito orgulho de ter convivido dessa forma com o Seu Dy. Um grande abraço a todos e resgatarei outras passagens.

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domingo, 21 de setembro de 2014

A barbearia

(publicada em setembro de 2007, no site www.terradodivino.com.br)

No sábado, após o sete de setembro, fui cortar o cabelo com Nildinho. Não havia tanta necessidade assim, não estava grande. A verdadeira intenção era relembrar os bons tempos da barbearia de Hermes.

De cara, na porta, estava João Batatinha - uma cena histórica. Perguntou logo por Adilson Santos, o mais famoso artista plástico de Poções. Eu e Nildinho, começamos a trocar algumas poucas palavras enquanto observava o ambiente. A minha primeira lembrança veio do nome fundido no suporte dos pés – “Ferrante”, que confirmava ser ainda a mesma cadeira, modelo 27, fabricada nos anos 40 por Gennaro Ferrante.

À esquerda, um pouco mais acima, bem à mostra, no pequeno armário de porta de vidro estavam expostas as aposentadas máquinas manuais de cortar cabelo. Tava lá a máquina mais famosa e mais temida - a que cortava no tamanho “zero”.

Até os penduradores de toalhas são os mesmos. Lembrava-me de quanto tempo passava ali, sentado, de cabeça baixa, para que Hermes ajeitasse o pé do cabelo que nasce, até hoje, arrepiado, ouvindo as histórias contadas por aqueles que esperavam a sua vez.

Tinha dúvida se estava no museu ou na grande escola de profissionais cabeleireiros que Poções formou. Perguntei por Elias, Barbeirin e Juscelino. Nildinho fez conta do tempo de trabalho, das idades, me disse o paradeiro de cada uma das pessoas e ainda comentou: - Você sumiu mas me lembro desde que era pequeno, já cortei seu cabelo e cortava o de Chico (meu pai) até os seus últimos dias.

É verdade, as contas bateram e a nossa diferença de idade é de 7 anos.

Como gira a cadeira do barbeiro, gira também o pensamento. Ela parou apontada para um dos bares que ainda existem na travessa Lions Club. Pude avistar “Já Modeu” e lembramos da origem do seu apelido. Perguntei por Celso Relojoeiro. Nildinho ria, ficou impressionado como me lembrava das coisas. Talvez ele nem soubesse das minhas lembranças nas colunas.


Como poderia esquecer de uma das travessas mais famosas da cidade? Ali nascia e acabava a saudade. Dali partiam e chegavam os ônibus - a “rodoviária de Poções”. Era como se estivesse vendo juntos, Netário, Everaldino, Abílio Roxo e Jió despachando tantos poçõenses para o mundo.


P.S. Mais sobre a Barbearia de Nildinho aqui no Blog

domingo, 14 de setembro de 2014

Prego e o rádio

Em 1984, passei a ser Gerente de Peças e tive a incumbência de visitar as filiais, residências e clientes no interior da Bahia.

Durante muitos roteiros, fiz parceria com Lauro Matta, experiente vendedor de máquinas e um tremendo gozador. Ele era residente em Vitória da Conquista. De lá, partíamos para o roteiro do Sul da Bahia até Teixeira de Freitas. Itabuna era a primeira parada para dormir.

Sempre nos hospedávamos no Lord. Havia um bar no térreo que era o ponto de encontro dos viajantes da região. Hotel simples, com uma particularidade nos apartamentos – um rádio de cabeceira da marca Semp.

Em toda viagem a gente se juntava ao residente da região de Itabuna José Carlos, o Prego. Assim o chamavam porque era magro e a cabeça grande. A gente se reunia no apartamento que me hospedava. 

Prego viu o rádio e pensando que era meu, perguntou:

Mas você leva esse rádio toda vez que viaja? – é pra ouvir jogo do Flamengo? É muito sacrifício”.

O rádio é bom. Pega até a Rádio Globo antes das 5 da tarde. Já me acompanha desde rapaz”, respondi.

Você quer vender? É pra meu irmão Deco, aquele lá de Teixeira de Freitas. Ele fica sozinho e o rádio seria uma boa companhia. Pago com cheque pré-datado”.

Lauro, mostrando desinteresse na conversa, disse:

Olha San, lá em Conquista tem desses rádios, você compra outro. Deve custar um duzentos, piscando o olho para mim”.

É San, Deco vai gostar, fica lá na filial sem ouvir nada. Nem televisão ele tem. Vou levar o rádio pra testar por alguns dias” disse Zé Carlos.

É de pilha e de energia, ele vai gostar, Tá bom, Zé, pague 150 e a gente fecha o negócio. Faça dois cheques para os dias dos salários seguintes”

Terminada a reunião, Prego colocou o rádio sob o braço direito e empunhou a pasta 007 com a mão esquerda e me pediu para chamar o elevador. Lauro esperava por esse momento, pegou o telefone e ligou para a recepção:

Olha, aquele cara que subiu vai levando o rádio do hotel. Pegue ele aí”.

A recepcionista já o conhecia e, meio embaraçada, falou: “Seu Zé, ei seu Zé”. Apontou o dedo para o rádio mas não disse nada. Continuou apontando e falou “Seu Zé, Seu Zé, oh ..........., oh ...........

Ah! O rádio? Acabei de comprar na mão dos meninos! É pra Deco, meu irmão”

Certo, seu Zé, só que o rádio pertence ao hotel”.

Desapontado, subiu e foi direto para o apartamento de Lauro. Só se acalmou quando viu outro rádio igual na cabeceira da cama. Ele compreendeu a brincadeira e descemos para o bar. Meia hora depois, chegou com um rádio comprado na Avenida Cinqüentenário para o irmão.

Meses depois Deco faleceu. Zé Carlos fundou a Silmar, uma loja de peças para tratores em companhia de Josivaldo, o Rivelino. 

Notas do Blog
Depois de muitos anos sem contato com Zé Carlos, semana passada me ligou Zé Palladino e estava na loja dele, em Itabuna. 

Lauro Matta, hoje, aposentado, mora em Salvador e é o Presidente da AMARV - Associação dos Moradores e Amigos do Rio Vermelho.

- Crônica inicialmente publicada no extinto site Terradodivino.com.br 


Ruy Espinheira lança novo livro


segunda-feira, 28 de julho de 2014

Um adeus a Bada...

Hoje pela manhã, assim que cheguei no trabalho, alguém me pediu o telefone de uma pessoa com a letra Z. Fui na agenda e quando procurava vi o nome de Zé de Dôca e o número que Adriana, a sua irmã, me passou. Naquele momento, comentei comigo mesmo: - como a gente não liga para os amigos? Imaginei ligar pra Zé Francisco (o Zé de Dôca) e dizer o quanto sentia vontade de dar um abraço, religar o passado. No entanto, não fiz a ligação.

Passou aquele momento e estava reunido com um cliente quando o telefone tocou. Vi que era Michele, meu irmão. Comentei com a pessoa: - Dá licença, pois essa hora pra meu irmão ligar é pra dar notícia ruim! Eu disse: - morreu alguém no nosso interior, lá em Poções. Não deu outra. Dava conta do fulminante infarto que tirara a vida de Bada (Zilovaldo Ferreira Ramos), irmão de Zé Francisco.
Zilovaldo Ferreira Ramos (Bada) - Foto: Luiz Sangiovanni

Fui buscar nos meus arquivos a foto que fiz dele, em outubro de 2012, e tive o triste cuidado de informar o ocorrido para os amigos de Poções.

Passei o dia pensando na rua da Itália, na família Ferreira Ramos, nossos vizinhos-imãos de casa e o quanto convivi com eles. Pessoas fortes de espírito, de educação firme dada por Dôca e Zilda, seus pais. Em vários momentos do dia eu recordei passagens. Afinal, a minha infância estava ali. A formação do caráter nas brincadeiras do dia-a-dia, a convivência ajudando-os na limpeza dos diversos motores dos jipes e Rurais que Dôca ensinava o manuseio a todos nós. Olhei para a Oficina de máquinas pesadas que hoje dirijo e agradeci pela convivência e experiência que adquiri. Vêm de lá – nasceram ali.

Lembrava que o nome Zilovaldo era a junção de parte dos nomes dos pais Zilda e Florisvaldo. Do tempo de namoro dele com Ládia (Ladinha), a filha de Dahil, que pareciam ter nascidos um para o outro - namoro de menino, feito na rua da Itália. Da figura de pacificar os irmãos em opiniões diversas. Os “cãos de Dôca”, como eram chamados, tinha um líder calmo e justo para uma palavra de harmonia que era Bada. O fato de uma família ser grande também no número de filhos (Tonhe, Paulin, Eraldo, Bada, Zé Francisco, Marcos, Marília, Adriana e Alex) precisava de uma mão extra nas ordens para ajudar aos pais na atitude sempre correta e justa – essa era a tarefa de Bada.

A Rua da Itália não é mais a mesma. Esvazia-se o passado. Troca-se por lembranças povoadas nas memórias de brincadeiras e convivências próximas, do frequentar a casa do outro. De pular o muro pra tirar frutas. Da confiança na intimidade, na revelação das mudanças adquiridas na puberdade. De como se transformar em verdadeiros homens e levar adiante a educação recebida pelos nossos pais. 

Essas lições a Rua da Itália nos deu.

Enfim, um momento de dor em nossa cidade. A falta de uma pessoa que ali conviveu anos e que prometia encerrar os seus dias naquele lugar será sentida. Vai-se Bada, vai a opinião comedida e certeira dos seus comentários. Toda as vezes que eu ia a Poções, era passagem obrigatória na sua casa de negócio para tomar uma pinga temperada que sempre fazia a questão de dizer a origem e oferecer como cortesia da casa. Naqueles banquinhos, sempre trocávamos algumas palavras, nem que fosse para atualizar as novidades das famílias ou comentar as publicações aqui no Blog.

Salve Bada!!! um dia muito triste para todos nós, como descreveu a sua irmã Adriana. Porém, tristeza em Poções e festa no céu. Festa na Rua da Itália da eternidade. Zilda, Dôca e os irmãos que estão lá os recebem de corações abertos e saudosos junto com os vizinhos da nossa rua, lugar onde todos nós nos encontraremos.




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quinta-feira, 24 de julho de 2014

Homenagem a Affonso Manta

Por RUY ESPINHEIRA FILHO

A vereadora Zezel Leite, de Poções, confirmou-me a notícia: a antiga escola estadual Luiz Viana Filho foi municipalizada e hoje se chama Affonso Manta Alves Dias – nome completo do poeta Affonso Manta. Nada mais justo, já que ele, embora tenha nascido em Salvador e passado a infância em Iguaí (então distrito de Poções), foi naquela cidade que morou quase toda a vida – com exceção do tempo em Iguaí, dos anos de estudo em Salvador e dos que viveu no Rio de Janeiro, como inspetor dos Correios e Telégrafos. Aposentado por motivos de saúde, retornou a Poções e lá permaneceu de 1975 até sua morte, em 2003.

A poesia de Affonso Manta é marcada de profundo lirismo, oscilando (como dividi a antologia que dele organizei e foi lançada no ano passado) entre a poética confessional, a amorosa, a de temática variada e a de cunho religioso ou místico. Minha amizade com o poeta começou na juventude: eu com treze ou catorze anos, ele com dezesseis ou dezessete. Todas as tardes nos sentávamos no coreto do jardim de Poções, ao lado da velha Matriz, perto da qual ele viveu grande parte da vida, e conversávamos até depois do crepúsculo. Ou, mais exatamente, ele falava e eu escutava — maravilhado com aquele rapaz que já tinha lido tanto e se referia desenvoltamente a ficcionistas, filósofos, sobretudo a poetas e poesia.

Nossos contatos se intensificaram a partir de 1961, quando vim estudar em Salvador, onde ele já se encontrava. Poeta respeitado, boêmio impenitente, foi quem me apresentou a pessoas brilhantes da literatura e das artes — como Carlos Anísio Melhor, Fred Souza Castro, Jehová de Carvalho e Ângelo Roberto, entre outros. De personalidade muito complexa, foi ele um solitário e um boêmio. Seu lirismo é pungente, às vezes delirante, muitas vezes sábio e compassivo. A sua poética é densa de magia, como se lê em “Lá vai Affonso Manta”, que assim começa: “Com estrelas na testa de rapaz./Com uma sede enorme na garganta,/Lá vai, lá vai, lá vai Affonso Manta/Pela rua lilás.” A pungência do confessional pode ser exemplificada pela primeira estrofe de “O realejo de vinho”: “Para quem me queira ouvir: /Sou um homem aos frangalhos. /Parte por culpa de tudo. /Parte por culpa de nada.” De seu lirismo de sabedoria, colhemos o final de “Criação”: “Crie esses bois de chifres de açucenas/Que pairam nos céus das manhãs serenas.(...)/Crie raiz no amor de uma mulher/E espere calmamente o que vier.”

Affonso foi poeta pouco conhecido. Mas reservei alguns exemplares da sua antologia para enviar a escritores, críticos e leitores especiais pelo país afora, despertando manifestações de admiração e de espanto pela descoberta de um autor tão importante e de quem nunca tinham ouvido falar.

O nome do poeta numa escola honra o poeta – e principalmente honra a cidade em que ele viveu e que sempre amou. Nomes de políticos e apaniguados são dados a tudo, sem falar nos abominavelmente vergonhosos. Todas as cidades estão densamente poluídas por tais excrescências e ninguém parece se incomodar com tamanho horror.

Portanto, é algo que lava a alma ver o nome de um poeta ser lembrado. De parabéns Affonso Manta, Poções - e a poesia brasileira.

(Publicado no jornal A TARDE, 24/07/2014)

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Centro Cultural Fedele Sarno

Fedele Sarno
Ontem, 16, em Poções, foi aprovado o Estatuto e eleita a Diretoria provisória do Centro Cultural Fedele Sarno para os próximos seis meses. Após este período, será escolhida a diretoria definitiva para um mandato de dois anos.

Assim ficou definida a direção do Centro:

- Fábio Agra e Gildásio Júnior – Direção Geral
- Diana Lucard - Secretária Geral.
- Samara/Rubens – Tesouraria
- Leonel Nunes/João Dias e Ariana Amaral assumem o Conselho Fiscal.
- Jânio Rocha, Zezel Leite, Manoel Alex, Wellinton Fagundes, Léo, Carlos Rizério, Adilson Santos, Fidélis e Geraldo Sarno fazem parte do Conselho Consultivo.

Durante os trabalhos, estava presente o artista plástico Adilson Fagundes Santos, que prometeu doar um quadro pintado por ele para que se faça um leilão com o objetivo de arrecadar fundos. O fotógrafo Carlos Rizério Filho doará um dos seus trabalhos fotográficos com o mesmo objetivo.

Enfim, o trabalho foi inciado e outras doações serão bem-vindas. Parabéns e sucesso à Diretoria no desenvolvimento do Centro.

Lembrando que o prédio onde funcionará o Centro foi uma concessão de Fidélis Mário Sarno e leva o nome do seu avô Fedele. Para muitos, vale lembrar que Fedele Sarno é o grande patriarca da família Sarno. 

Ele sempre se manteve na Itália, mas todos os filhos se mudaram para Poções e foram importantes no crescimento de diversos segmentos na cidade, principalmente o comércio. Criaram as suas famílias e hoje conta com mais de 200 descendentes. Mas, eu pedirei a Eduardo Sarno, seu neto historiador, para que nos conte um pouco dessa história.


(Com informações de Zezel Leite)

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domingo, 6 de julho de 2014

Comônio aí!!!

Texto original publicado em 2009 no extinto site Guia Poções


Nesse final de semana, eu estive rapidamente em Poções. Atualizei-me sobre a Festa do Divino. Quis saber se as notícias dadas pela pomba branca eram verdadeiras. Só ouvi comentários e nenhuma confirmação da programação da Festa da divisão. O sagrado e o profano ainda não se decidiram. O certo é que no calendário, o último dia será em 31 de maio.

Se a pomba estiver certa, teremos o ano da mudança. Festa dividida e o Poções caindo para a 2ª divisão do futebol baiano.

Fiquei conversando com o meu irmão Pepone na varanda de casa, lembrando de coisas do passado, principalmente das brincadeiras. Da mesma forma que a gente sentia que a hora não passava, parecia que as nossas brincadeiras haviam acabado de acontecer.

Numa época em que não havia internet, quais eram as nossas brincadeiras?

Ali mesmo, na Rua da Itália, transformávamos um pedaço dela num campo de futebol. O poste ao lado da varanda da nossa casa era um gol. O outro gol  era no limite entre o armazém de Fernando Schettini com a casa de Zóstenes Vaz. O único lugar do mundo onde os gols ficavam no lugar do escanteio. O local era exclusivo da criançada moradora da Rua da Itália e a gente só perdia a vez quando Luiz Bosteiro chegava para passar as férias em Poções. Era um terror, ninguém mais tinha direito a nada, só ele mandava.

Também era no armazém de Fernando que a gente brincava de esconder entre as imensas pilhas de sacos de mamona e café que eram comercializados naquela época (hoje funciona a academia de Rosita Palladino).

Durante o dia, lá na praça da prefeitura, a brincadeira era com o pré-histórico pião. Pobre dos piões pequenos, as carrapetas ou catatais. Normalmente, eles tinham o castelo “bizocado”. Na roda, a gente só colocava o catatau.

Quando não era pião, chegava a temporada do triângulo ou da gude. As gudes eram compradas em Seu Emério Pithon, no Bazar Natal. Com o “cocão” (gude grande) a gente dava o “aço” (bater na gude menor para afastá-la da “casa”).

Ladrão e polícia era a brincadeira preferida. Tinha mesmo que pegar o cara no braço e levar para a “cadeia”. Normalmente a gente usava as varandas das casas para fazer o cativeiro. Se bobeasse, o ladrão invadia e bastava passar a mão na cabeça do preso para ele se livrar.

Das telas do cinema para a rua, foi trazido o “cowboy”, que era uma variação “western” do ladrão e polícia. A imobilização do bandido se dava com a expressão “comônio aí” uma espécie de mãos ao alto. Normalmente, o bandido usava um lenço amarrado no rosto, o que dava maior realidade e originalidade à brincadeira. A atividade física era tão ativa que a sensação do frio passava e ainda dava para brincar sem camisa. Esquentava o frio, como dizemos.

Com os pequenos revólveres de brinquedo na cintura, daqueles de cabo branco e rolinho de espoleta, a gente transformava a Rua da Itália numa verdadeira praça de guerra.

Hoje, nenhum sinal de brincadeiras. Naquela noite, apenas duas crianças convenciam o velho Zica, caído e embriagado, para que encontrasse o rumo da sua casa, evitando que fosse roubado e “judiado” pelos malandros.


Durante as quatro horas que ficamos na varanda conversando, tivemos a presença de alguns amigos que participaram das brincadeiras do passado, pararam seus carros e trocaram alguns minutos de boas lembranças.

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sábado, 5 de julho de 2014

Novo Blog do Irundy

Nosso mestre Irundy Dias atualiza o endereço do seu blog. Conta de forma detalhada passagens da sua vida e, com elas, histórias de uma Poções antiga.
Os queridos mestres Irundy e Noélia, sua espôsa
Parabéns a Irundy por nos presentear com detalhes que só uma memória privilegiada possibilita.

Poções agradece ao mestre de nós todos.

Acesse o blog através do endereço:
Blog do Irundy

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Pedro Alves Cunha - Falecimento

Pedro Alves Cunha
Recebo a notícia do falecimento do Sr. Pedro Alves Cunha. Ele foi prefeito de Poções em duas gestões: de 1967 a 1970, sucedendo a Aníbal Carvalho. Se elegeu novamente em 1973, permanecendo até 1976, quando foi sucedido por Octávio José Curvelo.

Era casado com Dona Regina Novaes Cunha e pai dos amigos Pedro Cunha Filho, Rosângela, Ruy e Solange Cunha.

À família, um abraço e os sentimentos da família Sangiovanni.

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quarta-feira, 28 de maio de 2014

Pop78 - Uma viagem ao passado



Ensaio da Banda Pop78
As notícias que chegam de Poções, dão conta de uma onda de euforia e expectativa com a Festa do Divino. Tenho a impressão que este ano será o fim do “divisor de águas” entre o antigo e o novo – enfim, diversão para todos os gostos e idades. 
A festa do grupo de amigos do Velhas Fotografias de Poções também promete (07/06). Um reencontro de amigos como nunca visto - casa cheia, como se diz no futebol. Tenho lido confirmações de presenças de pessoas que já haviam dado como encerrada a participação na adoração ao Divino.
Uma das maiores atrações, com certeza, será a Banda Pop78. A antiga banda Os Fantasmas, de Poções, se manteve travestida durante anos com nomes que fizeram sucesso, sendo o Fase Cinco um dos grandes. Chegou a vez de voltar pra casa. Tocar no Clube de Poções é reviver a sua origem.

Nessa euforia de voltar, a convite de Robertinho Prudente, eu fui conferir o ensaio que a banda fez há duas semanas e vem repetindo quase todos os dias.

Fui recebido por Jeová, Robertinho e Albérico no estúdio do Itaigara com a alegria de quem não se via há anos. Os olhos de todos brilhavam na mesma intensidade. Respirávamos um ar de nostalgia, e ansiedade para começar o ensaio de imediato, mas ainda existia um mundo de fios a ser conectado nos aparelhos.

Carlos Senna
Ao lado deles, o experiente contrabaixista Carlos Sena dava as coordenadas para o ensaio começar com um “ar” muito espontâneo e sorridente. André Barbosa, o Pixinguinha, tocava no teclado umas notas querendo ensaiar aquilo que já estava planejado. Enquanto isso, Jeov
á montava o pedal na bateria e escolhia as baquetas sob a gozação de Albérico. Robertinho me apresentou a lista com todo o repertório e o que tocarão nas sequencias.

Como não entendo muito, fiquei na cerveja anotando e fotografando enquanto cada música era ensaiada. Entre uma e outra, a pausa para lembrar dos detalhes do passado. “Milionários” foi a única liberada para dizer que está no repertório. Mas, eu disse que “Georgia” deveria ser no início de algum intervalo para a gente se lembrar do momento em que cruzávamos o salão para neutralizar a concorrência na hora de formar o par para dançar.

Jeová Prudente
As baquetas de Jeová soavam como uma marcação de tempo, literalmente. Pra marcar o tempo de entrada de uma nova música, bem como uma marcação do nosso tempo de adolescente . Robertinho olhou para Albérico e puxaram o sucesso antigo - “Cândida”. Sucesso total no estúdio, os cinco cantaram e se formou um coro bonito, harmonioso. Era como estar no meio do salão do Clube de Poções. Embalaram o ensaio ao som de Creedence Crewater Revival e eu, grudado na Skol, imaginando como será a nossa festa. A sequencia dos Beatles é fantástica (chega, pois prometi que não contaria).

Enquanto trocava os pedais de solo da guitarra, Albérico comentou que a banda promete surpresas e fortes emoções. Relembrar o passado é o presente da confraternização com os nossos companheiros. Os estilos de cada um estão mantidos e isso faz parte do espetáculo. Animação e disposição pra tocar durante horas não vão faltar, prometeram.

Só posso garantir que tudo aquilo que vi e anotei não é metade do que a Pop78 vai mostrar. Quem quiser conferir essa empolgação envolvente vai poder viajar no passado – nós, a plateia delirante – eles, os músicos apaixonados pelo passado. Um casamento perfeito!!!

A festa promete e quem viver (revi)verá sempre...

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terça-feira, 27 de maio de 2014

Velhas Fotografias de Poções

Por Valdiria Rocha (27/05/2014)

Velhas Fotografias de Poções é um título autoexplicativo que indica uma linguagem, um tempo e um lugar. Um acervo de imagens, de compartilhamento de memórias, lembranças, registros da história de um povo, da identidade de uma comunidade. Daí a sua grande importância e o seu valor.

Ao mesmo tempo, Velhas Fotografias de Poções é um lugar sem chão, como a casa muito engraçada de Vinícius de Moraes, que não tinha teto... nem nada. Um ambiente feito de ondas magnéticas, um meio de comunicação desse nosso tempo onde a magia das tecnologias contrai, dilata, acelera ou para o tempo e o espaço, fazendo do mundo uma aldeia, e das distâncias apenas uma circunstância. Nosso Mestre Gilberto Gil já disse em décadas atrás que: “Antes mundo era pequeno Porque Terra era grande Hoje mundo é muito grande Porque Terra é pequena Do tamanho da antena Parabolicamará” e mais “Pela onda luminosa Leva o tempo de um raio Tempo que levava Rosa Pra aprumar o balaio

Quando sentia Que o balaio ia escorregar Ê volta do mundo, camará Ê, ê, mundo dá volta, camará”.
Nessas ondas luminosas nós navegamos ao encontro do fio condutor que nos leva a um lugar onde nos encontraremos por inteiro. Navegamos de volta para casa, para o abraço seguro dos amigos, o colo amado dos pais e avós, o conforto dos sabores, cheiros, texturas do nosso lar, dos sons e cenários da nossa cidade. Para uma ancestralidade familiar e cultural, uma raiz que dá sentido às nossas vidas, à vida dos nossos descendentes.

José Carlos (Tim de Eurípedes) disse lindamente: “Nós outros, ainda mortais, desfrutamos dessa benesse tecnológica que nos permite, à distância, reviver nossa inocência e nos comunicarmos impessoalmente”.
O espaço virtual nos permite refazer o caminho que, indubitavelmente, nos leva ao encontro de nós mesmos e de todos os outros que nos constituem pela genética ou pela convivência social. Há um tempo marcante onde a essência da nossa identidade se formou. Aquela parte que explica o nosso EU mais singular, que ampliamos no contato com os diversos mundos que passamos a habitar. Pois, como disse o poeta Alberto Caeiro,

 
“Da minha aldeia veio quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...”
Aqui podemos nos re-conhecer e estabelecer essa ponte entre as gerações para que a nossa cidade POÇÕES retome suas raízes, sua beleza e solidariedade, sua alegria espontânea e simples, sua grandiosidade artística libertando as almas cantadoras, musicistas, poéticas, cênicas, escritoras, plásticas, educativas oriundas de troncos ancestrais multiculturais.

Que o Divino Espírito Santo abençoe essa Terra e o seu povo, sempre.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Homens de capas

Don Diego de La Vega se transformava em Zorro. Bruce Wayne se transformava no Batman e Clark Kent no Superman. Deixavam as suas funções para trabalhar para outros mais necessitados. Todos usavam capas nas suas transformações.

Refletindo nas histórias desses “supers”, Poções deixaria de ter sucesso se alguns dos nossos não se transformassem e desenvolvessem várias outras atividades, além daquelas que desenvolviam naturalmente.

Colocar e tirar a capa, traduz o objetivo dessa crônica.

Otoniel Costa
(Foto: Vinícius Costa)
No beco dos Artistas, Otoniel Monteiro Costa, Tani, riscava com giz as roupas que iria costurar. Com a fita métrica pendurada no pescoço, transferia para o tecido as medidas exatas tiradas nos seus clientes. No final do dia, deixava de soprar o fole do ferro de engomar, tirava a capa de alfaiate e vestia a capa de músico - ia soprar um instrumento musical. Com isso, Armando Jacó, Zé Armando, Tonhe Arleo, seus funcionários, acompanhavam com outros instrumentos. O beco virava uma festa.

A figura franzina do comerciante Francisco Paradela subia a rua da Itália depois que fechava a casa de negócios na praça. No escuro da Praça da Bandeira, vultos circulavam em direção a um único local – a Maçonaria. Se transformava no Venerável Mestre, conduzindo as sessões. A outra capa que ele sempre vestiu foi a de orador nas atividades de datas comemorativas do município.

Quem via passar Senhorzinho Pia, fardado de militar, não imaginava o quão se transformava tocando na Filarmônica de Bernardino “Nadinho” Fagundes. Exímio trompetista, talvez evocasse Louis Armstrong para soltar as notas musicais, tocou na primeira formação musical poçoense que se chamava Os Fantasmas.

O Sargento Severino era o dirigente do Tiro de Guerra 135. Firme nas suas colocações, rígido nas instruções, mas um bom papo Quando tirava a sua capa, ia para o ginásio dar aulas de francês e inglês. Assim, também era o Pastor Isaías, que deixava a sua igreja protestante para ensinar francês no ginásio.

Olímpio Rolim, um excelente farmacêutico, dono da Farmácia Sudoeste, vestido com a capa profissional e o pijama na sua varanda, tratou de vestir a capa de prefeito municipal, entre 1959 e 1962.

Quem teve a capa de jogador de futebol foi João Batatinha. Quando tirava a capa, era um excelente tipógrafo. Na necessidade de decidir entre seguir a carreira de jogador ou ser tipógrafo, preferiu a segunda capa. Não deixou ainda de ser a referência das nossas tardes de domingo no campo de futebol e não deixou de exercer a sua escolha.

Falando de futebol e cinema, tivemos Tena como um excelente administrador de cinema e desenhista de cartazes. Mas, a capa que ele vestia era a de jogador de futebol, de lateral esquerdo, trazendo alegrias e qualidade ao nosso futebol.

Ainda uma das capas mais alegres de Poções - o mecânico Florisvaldo Cruz Ramos (Dôca). Deixava a capa pendurada na sua Oficina e vestia a capa da felicidade. Ia para o cinema e, lá, se transformava numa figura que deixava os seus problemas e se incorporava no artista do filme ajudando nas ações e tramas da película – um verdadeiro torcedor de cinema. Também teve uma capa importante na Maçonaria, cuja loja leva o seu nome.

Apenas algumas lembranças de homens que vestiam capas e marcaram Poções de alguma forma. São tantos e prometo sequenciar aqui com a lembrança de outros importantes personagens.
  

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quinta-feira, 1 de maio de 2014

O jegue que comia papel

O jegue, em Poções, sempre fez sucesso. Criar o animal, porém, nunca foi vantajoso porque não trazia retorno financeiro. Bruno Sangiovanni, meu sobrinho, quando morava aqui em Salvador, me passava a cotação: “tio, um jegue em Poções custa cinquenta centavos e ninguém quer comprar”. Explicava, portanto, a razão de tanto jegue perambulando na cidade.

Me lembro de passagens envolvendo jegues na cidade, numa época em que os animais andavam soltos e se alimentavam nos mangueiros ao longo do rio São José – nas gramas do chafariz defronte a casa de Dr. Alcides e no campinho das gramas, onde passa a tubulação de água quase defronte da casa onde morou Seo Abel Magalhães.

- Seu Liligo, Seu Liligo, me acode. O jegue “butuou”, o jegue “butuou”, repetia Véio de Zé Galo depois de tentar um encontro amoroso com o animal e esse  desembestar pela Av. Cônego Pithon. Passou pela frente da casa de Liligo e  recomendou ao “jegueiro”: - belisca o saco do bicho que ele solta. Belisca o saco…

Não vou explicar aqui o que significa “butuou” por duas razões: a primeira é não ter que entrar nos detalhes. A segunda, é que todo poçoense da minha geração tem a obrigação de saber (e como tem) o que significa o termo “butuar”. E quem não é da minha geração, pergunte a alguém mais velho.

Ainda sobre as paixões pelos jegues, tinha os da estrada da Cachoeirinha quando era a época da gabiraba. Bastava uma bicicleta com uma corda no bagageiro e a gente já sabia o resultado.

Mas, vamos voltar aos jegues mansos, os de sucesso. O jeguinho de Dezinho trabalhou muito. Saía de Morrinhos e trazia o leite para ser vendido na casa de Fernando Schettini (Bigode ou Fernando de Araci). E Dezinho não gostava de andar pela estrada dos Araçás, o antigo caminho para Morrinhos. O velhinho, de barbas brancas e tronco arriado, deixava os baldes cheios, pegava os vazios e os  deixava pendurados na cangalha enquanto fazia a venda do leite, litro a litro. O jeguinho, amarrado, esperava pacientemente até o meio dia, quando Dezinho estava pronto para voltar pra Morrinhos.
 
A turma do jegue na festa do Divino (foto: Ricardo Sangiovanni)
Mas, o valor de cinquenta centavos por um jegue subia de cotação na festa do Divino quando foi criada a Turma do Jegue.  Passava para R$ 1,00. Depois de exibido e montado na chegada das Bandeiras, o animal era solto e retornava para o seu lugar de origem. Até volante o jegue tinha e os enfeites lembravam os que desfilavam na lavagem da Bonfim, aqui em Salvador.

Como os animais andavam soltos, era comum que eles buscassem alguma coisa para comer. Certa vez, um daqueles pequenos redemoinhos que aconteciam em Poções, levou uma folha de jornal para a varanda da casa de Emílio Sarno (vizinho ao casarão dos Schettini). O jegue, paciente, subia a rua da Itália, foi direto na folha de jornal e comeu o papel naturalmente. Eu achei aquilo estranho e guardei na memória a cena.

Quando os meus filhos, Ricardo e Carla, eram pequenos, minha mulher Bete tinha o costume de contar histórias para que eles dormissem. Um dia, sendo a minha vez de colocá-los para dormir, contei a história do jegue que comia papel. Entre eles, essa história virou um “clássico” infantil. Toda vez que eu estava próximo e perguntava qual a história que queriam ouvir, eles não negavam a resposta e diziam:

 - Conta a história do jegue que comia papel.


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A poçoense Rosa Alba lança blog com as suas artes

Tela de Rosa Alba (50x50)
Rosa Alba lança blog e apresenta os seus quadros. Como sempre informo aqui, mais uma poçoense de sucesso. Para aqueles que não conhecem Rosa, ela é filha de Valentim e Giuseppina Grisi Sarno e irmã do cineasta Geraldo Sarno.

Visite o blog http://rosaalbapintura.blogspot.com.br/ 

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domingo, 27 de abril de 2014

Dona Nainha - 95 anos bem vividos...


Quero aproveitar para registrar e parabenizar a Dona Nainha, seus filhos Jorge, Paulo, Roberto e Maria Rita, os seus netos, especialmente Clarissa, George e Vinicius, pelos 95 anos bem vividos e comemorados.
Dona Nainha Dantas e seus netos (Foto: Reprodução Facebook)
Em Poções, pude conviver muitas vezes com essa pessoa alegre e voltada para a família, sempre ao lado do seu marido, o inesquecível Seo Duca.

Muita saúde para Dona Nainha. Abraços a todos.

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Milena Palladino lança o livro Sobretons

Sobre seu modo de olhar a vida com poesia,
Milena Palladino traz seu primeiro livro.
SOBRETONS é, sobretudo um livro sobre sentimentos,
que reúne haicai com fotografia.

Com as palavras acima, a fotógrafa Milena Palladino anuncia o lançamento da sua obra na página do Facebook https://www.facebook.com/events/1398704547076472/?ref=ts&fref=ts.

Aqui mesmo, no blog, já escrevi sobre a sua arte fotográfica. Sem dúvida alguma, essa menina é um orgulho pra todos nós, poçoenses.

As suas belíssimas imagens mostram a forte ligação com a cidade interiorana, carregadas de relação com a natureza e ligada com a veia poética, coerentes com os  sentimentos. Quem lê o seu blog, depara com uma apresentação simples, mas que define toda a essência da artista:
Milena Palladino (foto Facebook)




“jornalista, baiana, retina de fazer retrato, escrevinhadora de sentimentos e dona desse blog que mais parece um caderno velho” (http://milenapalladino.blogspot.com).



Agora, ela nos presenteia com o livro Sobretons, registrando as imagens captadas pela retina diferenciada e os haicais que exprimem puros sentimentos. Milena se junta aos nossos conterrâneos talentosos que tornam públicas e eternas as suas obras .



Quem perdeu o lançamento semana passada, aqui em Salvador, terá a chance de prestigiá-la e conhecer a  obra no lançamento, dia 30, quarta-feira, às 18:30h, na Livraria Nobel, Rua Rio Prado, em Itabuna, onde mora atualmente.


Parabéns Milena. A sua arte é uma inspiração.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Você sabia? (Annina Sarno)


Você sabia?

Anna Maria Sangiovanni Sarno (Annina)
Que a senhora ANNINA SARNO, já falecida, teve a bela e feliz iniciativa de fazer a "CAMPANHA DO CRUZEIRO", com a finalidade de angariar fundos para a construção da atual IGREJA MATRIZ DO DIVINO ESPÍRITO SANTO?

Ela saía sozinha, somente aos sábados, de casa em casa, de barraca em barraca, com a sua enorme simpatia, recebendo ajuda até dos pequenos feirantes e donativos que cada um podia dar.

Lembro-me bem, que ela chegava ao meu Consultório Dentário e dizia : -"Campanha do Cruzeiro!"

Aquele cruzeiro, eu já deixava separado pois sabia que ela nunca deixaria de passar, a não ser se estivesse acamada. Mesmo sendo idosa, doença era difícil de pegá-la desprevenida.

Vou agora, reclamar de viva voz, que até hoje, nenhuma autoridade constituída desse Município, lembrou-se dela.

E há tanta gente, que nada fez por esta Cidade, e já consta o seu nome em placas de ruas ou de escolas e por aí afora...

Caso tenha acontecido algum agradecimento ou manifestação de apreço pelo o que ela fez por Poções, não houve A DIVULGAÇÃO NECESSÁRIA. Eu mesmo não soube.


VOCÊ SABIA ?

sábado, 12 de abril de 2014

Baltazar, um encontro de Reis

Meu amigo e irmão Lourival, o rei Baltazar, em 2008 (Foto: Ricardo Sangiovanni)
Quem acompanhou a cruzadinha eucarística de Dona Fetinha sabia o quanto era difícil ser algum personagem nos ternos de Reis ou na semana Santa, na igreja de Poções.

Em todo evento religioso, havia a caracterização de um personagem bíblico. Fetinha escolhia sempre pela presença na igreja, nas missas. Zé Marinho, seu neto, tinha lugar cativo no papel de apóstolo, de um dos Reis Magos e um cargo não tão bíblico, o de porta estandarte. Isso nos deixava furioso. Às vezes, revezávamos esses “papéis”, mas tinha que ter o aval da nossa líder. Melchior e Gaspar, dois dos reis, eram sempre disputados na surdina, entre nós da cruzadinha.

Portanto, quem não foi Rei Mago em Poções?

Mesmo no papel de Baltazar, que era um rei negro, tinha concorrência - Uma vez era assumido por Lourinho (Lourival), outras por João Queiróz ou por Rosivaldo (Nêgo Rosi), pois eram nossos colegas negros.

O tempo passou. Fomos para o curso de admissão e o Vanderlei (Nêgo Vando) tratou de colocar apelido em todo mundo. Omoplata era um deles, pois dizia que era quem andava com a mão no ombro do outro. Tenaz, porque a amizade era muito boa e o cara colava mesmo. Sobrou para Lourinho o apelido de Baltazar, por ter sido um dos mais famosos Reis Magos de Poções.

Solidificamos o apelido durante o curso do Ginásio e ficou até hoje. Além do apelido, uma amizade  daquelas que não precisa de muito grude, de cola Tenaz, mas de grande qualidade quando a gente se encontra – um verdadeiro encontro de Reis.

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