"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Mormanno, 22 anos depois


Direto de Mormanno - Itália
Depois de vinte e dois anos, retorno a cidade de Mormanno, ao sul da Itália. É sempre um caminho especial, o mesmo que foi feito pelos nossos pais, tios e demais italianos que viveram em Poções por muitos anos.

Os que não vieram de Mormanno, vieram de Trecchina – mesma região.

Percorrendo a auto-estrada em um ônibus, tento entender as dificuldades do passado, as dificuldades de atravessar regiões montanhosas até se atingir o porto de Napoli e enfrentar uma travessia de 11 dias, aportar em Santos – Sp. Daí, chegar em Salvador e depois Poções.

Uma cidade diferente das que estamos acostumados a ver, mas comum em toda aquela região. Em Mormanno, existem apenas quatro mil habitantes. Casas sobrepostas na montanha, uma única via principal que, às vezes, dois veículos não se cruzam. Uma praça pequena por onde a cidade circula, as notícias, as festas, comemorações e lembranças. Para eles, o mundo é aqui. Não é melhor porque Cristóvão Colombo descobriu a América e muita gente foi embora. Talvez a vida aqui tenha demorado de passar, mas os costumes continuam os mesmos.
Foto de 1990

Foto atual
Todas as pessoas na praça estão ali acompanhando as outras, conversando, comprando e vendendo ou apenas sentados. Entre caminhava e fotografava, fui apresentado a um senhor de nome  Faraco (Grisolia Raffaelle) e, ao saber que era “americano”, disse logo que eu era a cara de meu pai e que havia trabalhado com ele quando ainda morava na cidade (meu pai foi morar no Brasil em 1951).
Aqui, ainda vive Domenica Sangiovanni, 102 anos, irmã do meu pai. Giulia, a irmã de minha mãe, e primos de três gerações. Uma descendência que durará anos.
A cidade produz queijos, mussarela e salames diversos – produtos calabreses autênticos. Nas pequenas lojas de vendas de frios, a gente enxerga o quanto é forte a produção e dá vontade de levar todos esses produtos para o Brasil.
Existe uma cooperativa formada por dezoito produtores e investem no sistema de gado confinado e porcos para engorda. Produzem oito mil litros de leite e são transformados nos produtos finais. Os porcos são abatidos quando atingem 120 kg e transformados nos embutidos famosos em toda a região. Um dos administradores dessa cooperativa é Pietro Sangiovanni, nosso primo. Eles encontraram na Cooperativa Campotenese a forma de produzir em uma região montanhosa e aproveitar todos os espaços disponíveis.
Um fato histórico na cidade foi a descoberta de duas grandes criptas na área inferior da Catedral de Santa Maria del Colle, utilizadas antigamente como cemitério de pessoas comuns e de sacerdotes, muito bem mostrada e explicada pelo primo Giuseppe Fortunato.

Daqui do alto, no bairro San Biase, enxergo o movimento tranquilo da cidade, o verde das montanhas que a cercam e o penacho da torre da Igreja de San Rocco, o que marca a minha primeira lembrança de uma Mormanno que apenas conhecia de fotos trazidas pelos nossos parentes.

Vinte e dois anos depois, realimento o passado respirando um pouco desse clima, não só de quatorze graus, mas de onde saiu uma parte da nossa história. Convivendo com o dialeto da língua, vem na mente as reuniões dos tios nas varandas das casas em Poções. Comer o doce "bocconotto" original é sentir a tradição que ultrapassou o oceano e foi parar nos aniversários da família.

É muita lembrança.

.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

A pizza Margherita, por acaso!

Direto de Napoli - Itália

"Não deixe de provar a pizza Margherita, é a mais famosa de Napoli", recomendou minha mulher. Na noite anterior, atendi a recomendação e comi a pizza num lugar chamado Antonio&Antonio.

No dia seguinte, andando sem compromisso, vi um dos becos da cidade e fotografei. Quando olhei pra cima, deparei com a placa comemorativa dos 100 anos da famosa pizza e da pizzaria Brandi, que é de 1780. Estava no meio da história da pizza, sem querer.


O texto a seguir é do Wikipédia:

 Criada no ano de 1889 pelo pizzaiolo Rafaelle Esposito, para homenagear a rainha Margherita di Savoia durante sua visita à cidade de Nápoles. Os ingredientes usados foram escolhidos de forma que as cores fizessem referência a bandeira da Itália: branco representado pela mozarela, verde pelo manjericão e vermelho pelo tomate. 

quarta-feira, 23 de maio de 2012

A Itália protesta...

Direto de Napoli - Itália

Os noticiários da semana dão conta de fatos ligados à violência.

Todas as regiões protestam os vinte anos da morte do Juiz Giovanni Falcone, atentado ocorrido na cidade de Palermo, quando este declarava guerra à mafia italiana. Várias atividades estão sendo realizadas por todas as classes para lembrar o episódio.

Outro protesto que movimenta toda a Itália, principalmente os estudantes, é o da morte da jovem de 16 anos, Melissa Bassi, que ocorreu dias atrás na cidade de Brindisi, após um atentado a bomba. Acompanhei um protesto realizado por universitários no centro de Napoli (foto).

O terremoto na região da Emília também vem sendo muito explorado.

Com notícias desse nível, os canais de televisão discutem fortemente com os políticos, cobrando ações e posições claras.


A única boa notícia local foi a vitória do Napoli sobre a Juventus, pela Copa da Itália, na noite de domingo, enchendo as ruas, principalmente a região onde fica o hotel que me hospeda.


O cartaz acima anuncia a morte da Juventus e convida para o funeral que sairá de Roma para toda a Itália.

.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Ao pé do vulcão, fora da Festa

Infelizmente não estarei na Festa do Divino desse ano. Estou na cidade de Nápoles, na Itália, em viagem de trabalho, longe do terremoto, mas pertinho do vulcão.

Quando retornar, contarei algumas histórias e particularidades dessa bela cidade e também de Mormanno, onde viveram os meus pais.

Desejo a todos uma excelente Festa!!!


.

sábado, 12 de maio de 2012

Por onde anda Salvador Agapito Vaz?

A partir de hoje, o Blog traz uma novidade: a seção “Por onde anda?”. Tem o objetivo principal de reencontrar filhos e amigos de Poções espalhados pelo mundo afora. Se você sabe ou quer saber de algum amigo distante, a seção terá essa função de divulgar.

Para inaugurar a seção, convidei o meu amigo Salvador Agapito Vaz. Ele se tornou um leitor habitual e sempre manifestou as suas opinões sobre a cidade e as histórias aqui contadas. Com certeza, foi uma reaproximação trazida pela existência do Blog. Leia o relato dele:   

"Eu nasci em Ipiaú, mas praticamente  não a conheço, pois viemos morar em Poções quando eu tinha 5 anos. Mas me considero poçoense vibrante e de coração.

A minha família chegou a Poções em março de 1955, com meus pais, Jugurtha Brandão Vaz e Tarcila Agapito Vaz (dona Nita) e meu irmão José Eduardo Agapito Vaz; meus avós,  Dr. Salvador Vaz Sampaio (médico) e Alice Brandão Vaz; meus tios Zóstenes Brandão Vaz e Hilda Cardoso Vaz e meus primos Enia, Stela, Zostinho e Paulo (este poçoense).
Estudei no Grupo Alexandre Porfírio e no Ginásio Estadual. Tenho muitos amigos aí, não os nominarei para não incorrer em esquecimento de alguns.

Muitos outros não estão mais entre nós, tiveram as suas vidas abreviadas, mas sempre estão presentes em minha memória.
Em 1965, fui morar em Vitória-ES, mas sempre nas minhas férias eu ia a Poções. Aqui em Vitória, estudei, casei e tive os meus três filhos e já tenho cinco netos. Estudei na Escola Politécnica de Engenharia do ES e formei em Engenharia Mecânica e fiz Pós- Graduação na FGV em Gestão Empresarial. Trabalhei no Senai, Vale do Rio Doce, Aracruz Celulose, Açominas e Siderúrgica de Tubarão. Hoje, estou aposentado e dou Consultoria na área de Gestão.

Meu e-mail: savaz@terra.com.br
Abraços,
Salvador Agapito Vaz"

Nota do blog:
Minha ligação com Salvador Vaz vem da época da Rua da Itália quando eu e Zostinho éramos parceiros nas brincadeiras com os demais amigos da rua. Através dessa amizade, eu frequentava as residências do avô Dr. Salvador (depois da casa de Félix Magalhães) e do seus pais Jugurtha e Dona Nita, quando a gente conversa assuntos diversos. Salvador, quando chegava em Poções, a gente sabia pela placa do carro, que era de Vitória-ES. Além dos tios e primos citados por Salvador, complementava a família o irmão do Sr. Jugurtha, Sr. Estácio e seus dois filhos Estacinho e Alicinha.
Agradeço a sua disponibilidade em mandar esse relato.


terça-feira, 8 de maio de 2012

Festa do Divino - entrevista

Entrevista concedida ao repórter Fábio Júnior Souza Lopes, publicada no site  www.uniaoperfeita.com


UP - O que é a Festa do Divino em Poções?
A Festa é tradicionalmente religiosa, uma devoção do povo poçoense. Alguns fatos marcam exatamente essa devoção e evidenciam atos religiosos ligados ao passado. Por exemplo: a Bandeira revive a chegada daqueles que fundaram a nossa cidade. O Mastro, relembra a mudança da capela que existia atrás do Grupo Escolar Alexandre Porfírio para a atual igrejinha.

Então, eu acredito que todas essas manifestações, ao longo dos anos, reforçaram a fé do povo e fortificaram a Festa, que se tornou, evidentemente, no importante marco religioso da nossa cidade.
UP - Quais foram as mudanças e as permanências que você observou da década de 90 para cá?
Permaneceram os dois eventos acima graças aos esforços de alguns poucos, capitaneados pelo Sr. Homero.  As particularidades da Festa de largo mudaram bastante. Antigamente, a praça era uma continuação festiva dos eventos religiosos – o parque era na praça principal com alto-falantes. O pavilhão pertencia à igreja e lá se realizava o leilão de objetos ofertadas pela população, inclusive quermeses de um modo geral. Essas coisas geravam recursos para a Igreja.

As barracas, que eram consideradas avançadas para a época, pertenciam aos estudantes das diversas séries do curso Ginasial, com o objetivo único – arrecadar dinheiro para se efetuar uma viagem quando se completava a quarta série ginasial, que nós chamávamos de “embaixada”. Então, se vc se posicionar fisicamente de costas para a Igrejinha, o pavilhão ficava ali. O parque na sua frente, no meio da praça. Do lado direito, as barracas do Ginásio. Do lado esquerdo, defronte ao Isaias Alves, as tradicionais Barracas de Dona Alvina, Dona Lourdes, entre outras. Ao lado da entrada da praça onde residia Afonso Manta, ficavam os “botequins”, que eram realmente a parte profana da época. 
No pavilhão, se apresentava a Filarmônica e, depois, alguma banda de música local ou contratada pela Prefeitura. Naquele momento, eu acho que a Prefeitura passou a assumir esse papel e “tomou” da Igreja o pavilhão da Festa. Daí em diante, a política imperou e cada vez mais as bandas e as atrações principais  passaram a tomar conta da praça. O parque foi empurrado para outro lado. As barracas passaram a ser estritamente comerciais e mudaram as características da praça. Tomou ares de uma grande festa de largo.

UP - Quais maneiras essas mudanças interferiram na vida das pessoas e no jeito de fazer e pensar a Festa do Divino em Poções?
Essa é uma boa pergunta. Houve uma mistura de velhos e tradicionais frequentadores da Festa com os jovens. Cada um tentou ocupar o seu espaço e o povo começou a sair do pavilhão e frequentar outras barracas. O barulho dos shows ampliado nas caixas de som espalhadas pela praça afastou quem queria conversar e trouxe a turma jovem para o local.

Há uma turma que ainda frequenta o pavilhão nas sextas e sábados – são pessoas da “velha guarda” procurando pelos velhos amigos. Então, aos poucos, a tradição de reencontrar amigos foi se acabando pela falta de opção e estímulo. Não vejo que isso possa ser recolocado no seu devido lugar se não houver bom senso. Esse espaço e o momento podem ser melhorados se a programação musical da tarde desses dias (sexta e sábado) for alterada para músicas adequadas ao pessoal de idade mais avançada. No ano passado, uma banda local tocava com o volume estridente e ninguém tinha coragem de ficar na frente daquele palco devido a baixa qualidade musical. Isso espanta e todos sabem que eventos tem a música como pano de fundo. Enfim, deve ser repensada uma relação custo-benefício.
Entretanto, não estou defendendo a volta ao passado. Defendo a utilização racional do espaço, agradando a todos o cleros. Os jovens devem ter os seus espaços e lotar as praças. Enfim, todos querem se divertir ao seu modo. Todos querem ver uma atração famosa. Quem não quis ver Leonardo, Daniel ou outras atrações? Até eu.

UP - Na sua opinião quais foram as razões que levaram a possível desvinculação entre o profano e religioso nos festejos do divino?
Sem dúvida, os dois maiores protagonistas da Festa são a Prefeitura e a Igreja, que representam o profano e o sagrado, respectivamente. A Igreja tá lotada e a praça mais lotada ainda. Teoricamente, os dois fazem bem os seus papéis e atraem as pessoas para os seus espaços. O que a Igreja reclama é que existe muita carência da população e poderia ser amenizada pelo dinheiro que a Prefeitura gasta. Isso gera o desgaste e se alfinetam. A Festa é um prato cheio para os políticos e cada um deles quer aproveitar para mostrar a sua força e garantir o apoio futuro.

Não acredito que em Poções as coisas tenham que ser diferentes dos outros lugares. Devoção, oração e festas andam juntas em todos os cantos desse mundo. Acho que deve existir bom senso e evitar os exageros. A Prefeitura pode reduzir os seus gastos com algumas inutilidades culturais (bandas sem estrutura e conhecimento musical). Deve incentivar para que os recursos gastos, na maioria, fiquem na cidade.
UP - Podemos dizer que a proposta da igreja em separar o profano do religioso causou uma guerra santa em Poções? Porque?
Não vejo que tenha se tornado uma guerra-santa, porque não se enxerga uma guerra definida entre duas posições religiosas. Acho que existem posições “políticas” pelos interesses que os dois lados têm. No meio dessas posições, está o povo, que imagino, sem opinião definida e na expectativa de uma boa solução. Ninguém, de sã consciência vai querer que a Festa se divida. Minha opinião é que existem dois eventos fundamentais - a Chegada da Bandeira e o Mastro. Numa possível separação de datas, haveria um esvaziamento e o fim da Festa seria decretado.

UP - De fato essa desvinculação aconteceu?
Com certeza elas estão desvinculadas nos seus interesses, mas unidas na tradição e na fé do seu povo.

UP - Quais valores prega hoje a Festa do Divino? E quais pregaram a 10 ou 15 anos atrás?
O mundo mudou rapidamente e Poções não poderia ficar de fora. Se quiser comparar os valores da Festa de antigamente com os dias de hoje, veja no Museu do Iecem uma gravação de imagens feitas por Pepone, meu irmão, nos anos 80, onde as opiniões das pessoas refletem esses valores. Nas entrevistas, duas perguntas foram básicas e simples: - Você acha que a Festa mudou? - Você acha que a Festa está melhor ou pior que o ano passado?
Veja que trinta anos atrás essa preocupação existia, já acontecia a inversão de papéis. Os tempos eram outros. A tradição era o pano de fundo. O povo se divertia com muito pouco. Era o bastante você reencontrar os seus amigos naquele ambiente. Os perfis da Festa são inteiramente diferentes se comparamos os comportamentos.

UP - Podemos dizer que hoje a Festa do Divino se tornou mais popular do que religiosa?
Popular nos dois aspectos. Mais popular religiosamente e mais popular profanamente. Graças ao Divino, não temos trios elétricos. Isso seria o fim.

Ainda temos orgulho de dizer que a Festa do Divino é nossa. Até quando? Só o Espirito Santo sabe.

.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Festa do Divino 2012

A Prefeitura divulgou o cartaz da Festa do Divino de 2012