"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

terça-feira, 31 de maio de 2011

Jurubeba combosta



Está chegando a Festa do Divino Espírito Santo, o dia da "chegada da Bandeira".O coração começa a bater quando vem na mente um mundo de lembranças: o velho pavilhão, a quermesse com as casinhas numeradas e os preás, a pesca de garrafas com argolas na barraca de Mituca. A roda gigante, a víspora do velho Cícero Pia, a pipoca com manteiga. Os amendoins de Febrônio, o parque com a arca de Noé e o alto-falante tocando “Colcha de retalhos”, a gloriosa filarmônica do mestre “tio Nadinho” Fagundes e a barraca de Pulu, coitado, pegando fogo.


Estou lembrando dos meus amigos, das barracas dos estudantes, dos botequins, de carregar o mastro. Vou encontrar a minha gente na porta de casa depois da chegada da Bandeira. Eu vou me emocionar sobre o cavalo, desfilando ao lado de Seu Homero.


Mas, continuarei a guardar a emoção de ter relembrado, com meu pai, o leilão que entrou para a história da festa - o leilão da Jurubeba combosta!


As ofertas para o leilão eram simples e humildemente entregues à comissão. Entre as galinhas – algumas assadas, outras vivas debaixo da mesa - e os carneiros amarrados ao “pé da cajarana”, havia bebidas quentes como cinzano, licor, cachaça e a jurubeba composta Leão do Norte.


Naquela noite, Seu João, o leiloeiro, não pôde ir ao pavilhão por problemas de saúde e tiveram de arranjar outra pessoa. Trouxeram um leiloeiro que não tinha o traquejo de “cantar” como Seu João fazia. Depois de algum tempo, o leilão passou a ficar sem graça e ninguém queria arrematar nem mesmo galinha assada. Aí, entrou em cena Seu Chico, meu pai.


Com aquele ar brincalhão e ingênuo, apenas com a intenção de ajudar o substituto do leiloeiro descansar a garganta, pois era no grito, literalmente.


Meu pai apanhou uma garrafa de bebida, leu o rótulo e bradou no carregado sotaque italiano: – Una garrafa de jurubeba combosta. Qui dá mass? Essa seria a frase da noite para acordar o povo às mesas.


Beber jurubeba combosta naquele frio virou um charme. Sucesso absoluto e não sobrou garrafa para ser leiloada. Em minutos, foram mais de dez a preços altos e que somaram uma boa quantia para a igreja, nos tempos em que o sagrado e o profano andavam de mãos dadas.


Hoje, com a jurubeba, sem a tradição, sem o leilão, sem Seu João e sem pavilhão – questionamos o nosso passado e a nossa identidade.


Boa Festa a todos e que o Divino Paráclito, consolador, nos abençoe, nos perdoe e aceite as lindas rosas tão preciosas do nosso amor, como bem canta Chicão Schittini.



sábado, 28 de maio de 2011

O fim do mundo

No escuro de Poções, conseguíamos enxergar muito bem a constelação do Cruzeiro do Sul, as constelações Ursa Maior e Ursa Menor - as estrelas enfileiradas. Virava e mexia, uma estrela cadente. Quando a lua brilhava, dava pra ver São Jorge dominando o dragão. Virou música – Lua de São Jorge ( http://letras.terra.com.br/caetano-veloso/43876/ ).

Certa vez , acordei às três da manhã para ver um cometa – não foi o Kohoutek e nem o Halley, mas tinha a cauda brilhante como aquela dos presépios de Natal. A imagem era vista sobre o casarão dos Schettinis.

Lembro do anúncio de um grande eclipse que aconteceria na Terra. A escuridão tomaria conta e ficaríamos assim durante um bom tempo. Alguns, interpretavam como um acontecimento normal. Outros, interpretavam como o fim do mundo.

Confesso que o exagero me fez ficar do lado daqueles que acreditavam no fim do mundo . Nessa época, eu era coroinha e, sem dúvida, centenas de pessoas levavam fósforos e velas depois da missa para o Padre Honorato benzer . Significava que o sol não brilharia por muito tempo e a escuridão dominaria. Deu medo.

O padre, ao benzer, manifestava a sua crença e reforçava o pensamento do povo. No final, a frustração: a sombra não atingiu Poções.

Ao longo dos anos, a luz produzida pelas velas bentas serviu para aumentar a fé no Divino Espírito Santo, Santa Rita, Santo Antônio, São José e tantos outros adorados.


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sábado, 21 de maio de 2011

Cola de Farinha

Resolvi tirar três tardes de férias e emendar com o final de semana. Fazer o que em tão pouco tempo? Lógico, consertar coisas quebradas de casa, arrumar outras e jogar fora a papelada sem serventia, costume em toda passagem de ano. Fiquei com os braços doendo de tanto aparafusar uma velha bancada na cozinha. Jurei comprar uma aparafusadeira elétrica.

Imprimi algumas fotos e fui trocar as antigas existentes em uma pequena porta-retrato. Eram apenas seis fotos tamanhos 3x4 a 5x7 e uma circular. Precisei de um pouco de cola e não encontrei o tubo. Minha mulher perguntou: - Você esqueceu como é que se faz cola?

Claro que não,
respondi – com farinha de trigo! Fui fazer a cola e errei a receita. Fiz cola suficiente para colar umas 300 fotos. Enquanto mexia a mistura de farinha com água, me lembrei das capas de provas, das figuras de passar e das rosas recortadas dos papéis de enrolar presentes. A cola ficou grossa, mas colou.

Coitado, o leitor mais novo deve está pensando: Capa de provas? Isso mesmo, capa de prova com areia brilhante. Isso é lá assunto de coluna de site?

Essa lembrança é de 1967. Todo final de ano, as professoras pediam para que os alunos levassem as capas de cartolina para que fossem colocadas as provas finais dentro delas. Na loja dos Sarno, vendiam-se as benditas capas. E vendiam muito bem. Não posso precisar a quantidade, mas dava um trabalho enorme para fazer. Era uma atividade prazerosa. Elas eram fabricadas lá em casa.

Precisávamos apenas de cartolinas de diversas cores, figuras de passar (só se achava em Vitória da Conquista ou Salvador), papel de presente para recortar as figuras, cola e areia brilhante. Esse era o material básico. Vez ou outra se usava tinta guacher.

As cartolinas eram dobradas ao meio e ficavam no tamanho que hoje chamamos de A4. A figura de passar era um material interessante e não é comum nos dias de hoje – chama-se “de passar”, pois quando colocada na água a fina película se soltava e deslizávamos sobre a cartolina. As figuras recortadas eram coladas com a cola de farinha de trigo.

O charme vinha no final, quando se colocava cola branca em torno das figuras e jogava a areia brilhante. Quando recebíamos uma encomenda, o nome da pessoa também era destacado com a areia brilhante. Naturalmente, se enfeitava com o repasse da tinta guache para melhorar a apresentação. A mesma coisa era feita com os nomes das matérias. Para completar, fazíamos os furos com um furador de papel e aplicávamos uma fita com o bonito laço.

Essa lembrança mostra como se dava importância à atividade escolar de outrora. Receber as provas em capas com a nota final gravada era uma festa. Marcava-se data para a solenidade de encerramento.

Até o cara que “tomava pau” se sentia menos culpado e levava as capas. Eu sempre passei “arrastado”, mas trazia as minhas com as mensagens de fim de ano do professor.

Invés, agora, no dia do último Natal, o filho de uma amiga comemorou quando soube, por telefone, que não faria segunda época. Estava fora do “pé-quebrado”, como dizia a minha mãe.




(Texto escrito em 2008)

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Vamos lá Poções!!!

Ontem, eu estava na Feiraguai, bem no meio das lojas, em Feira de Santana. Numa pequena televisão, era apresentado um programa de esportes e anunciava a próxima partida do Poções contra o Itabuna, sábado que vem, pela segunda divisão do campeonato baiano.


Uma pessoa assistia ao programa e comentou: Esse timinho do Poções só anda na lanterna, num aprumou mais, ô coisa feia…


Olhei disfarçadamente e me deu vontade de dá um tabefe no cara. Como é que pode falar desse jeito? Pensei.


Mesmo tendo razão, ele apanharia sem saber por que. Eu, sem razão, poderia apanhar sabendo por que. A raiva passou.


Mas, ainda resta uma esperança de classificação – VAMOS LÁ POÇÕES!!!

(O Poções perdeu por 2 x 0 no final da tarde deste sábado, 21/05)

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terça-feira, 10 de maio de 2011

Os Pássaros - The Birds

Por Carlos Rizério Filho









A minha mãe, Célia Rizério


Início de primavera em Poções. As andorinhas trissavam no azul escuro do céu de setembro. Com zelo e carinho, a mãe preparou os cinco filhos e os levou, pelas mãos, à tão esperada matinê de domingo no Cine Santo Antônio. D Célia havia olhado o título, e concluíra que seria um bom filme de aventuras, ideal para embarcar suas crianças em mais uma tarde cinemágica. Ao começar a fita, um ar de preocupação começa a rondar a mãe, o que ainda não era sentido pelas crianças, não iniciadas, nem tão vulneráveis como os adultos, ao clima provocado pelo mestre do suspense, Alfred Hitchcock. Personagens surgem e se encontram em Bodega Bay, pequena cidade do litoral da Califórnia, lugar onde se desenrola a trama. À medida que o filme avança, um silêncio se apossa do cinema. A mãe pensa em sair, mas observa todo o envolvimento dos filhos e dos outros jovens com a história. Resolve ficar e mergulha, como todos ali, na magia da sétima arte. As cenas se sucedem num ritmo cadenciado, o lugar é misterioso, quase surreal. Sem motivo aparente, as aves começam a atacar a cidade em bandos cada vez mais numerosos, e depois recuam, e surgem novamente, ameaçadoras, determinadas a abater todos os que ali se encontram. Provocam pânico geral, dúvidas, fogo num posto de gasolina, atacam crianças numa escola, matam uma professora, um fazendeiro e finalmente, o clímax. Uma casa de madeira a beira mar, onde um grupo de pessoas, aterrorizadas, esperam o ataque final das aves, que avançam aos milhares, fazendo um barulho infernal, com bicos afiados como lâminas, a baterem nas paredes, telhados, portas e janelas. Na madrugada, uma trégua, silêncio. Rod Taylor, que faz o protagonista, abre a porta, bem devagar, e se depara com uma cena macabra: as primeiras e dramáticas luzes da alvorada revelam milhares de gaivotas e corvos, pousados em volta da casa, a ocuparem todos os espaços. Sai, em pequenos passos, cuidadosamente, até a garagem. Entra no carro, liga o rádio, ouve as notícias, volta e encoraja a todos a saírem e entrarem no veículo. Liga o automóvel e sai, em movimento reduzido, por entre milhões de aves, para então, tomar a estrada litorânea e sumir, deixando para trás a cidade entregue aos pássaros. Fim. A maioria sai do cinema em silêncio. D Célia e os filhos, Carlinhos, Gina, Teca, Tinho e Nando, descem o Beco dos Artistas, atravessam a Praça Deocleciano Teixeira, passam pelo posto de gasolina de Miguel Labanca, percebem que não há ninguém, e seguem em direção à praça Góes Calmon. Ao chegarem à praça, onde moravam, tomam a direção da residência. A cidade estava calma, metafísica, era uma tarde diferente. Entram em casa, incólumes. Lá fora, pardais volteiam e pousam nos fios de tensão.

09/05/2011 (dia das mães)

Carlos Rizério, Filho e sobrevivente

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Dois grandes goleiros

Durante a Agrishow, aqui em Ribeirão Preto, tive a oportunidade de encontrar o goleiro Marcos, do Palmeiras e Seleção Brasileira, no stand da Case, empresa que patrocina o time paulista.



Marcos fez história e eu fiz o meu papel de grande goleiro nos babas da Magalhães Neto.


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