"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

terça-feira, 6 de maio de 2014

Homens de capas

Don Diego de La Vega se transformava em Zorro. Bruce Wayne se transformava no Batman e Clark Kent no Superman. Deixavam as suas funções para trabalhar para outros mais necessitados. Todos usavam capas nas suas transformações.

Refletindo nas histórias desses “supers”, Poções deixaria de ter sucesso se alguns dos nossos não se transformassem e desenvolvessem várias outras atividades, além daquelas que desenvolviam naturalmente.

Colocar e tirar a capa, traduz o objetivo dessa crônica.

Otoniel Costa
(Foto: Vinícius Costa)
No beco dos Artistas, Otoniel Monteiro Costa, Tani, riscava com giz as roupas que iria costurar. Com a fita métrica pendurada no pescoço, transferia para o tecido as medidas exatas tiradas nos seus clientes. No final do dia, deixava de soprar o fole do ferro de engomar, tirava a capa de alfaiate e vestia a capa de músico - ia soprar um instrumento musical. Com isso, Armando Jacó, Zé Armando, Tonhe Arleo, seus funcionários, acompanhavam com outros instrumentos. O beco virava uma festa.

A figura franzina do comerciante Francisco Paradela subia a rua da Itália depois que fechava a casa de negócios na praça. No escuro da Praça da Bandeira, vultos circulavam em direção a um único local – a Maçonaria. Se transformava no Venerável Mestre, conduzindo as sessões. A outra capa que ele sempre vestiu foi a de orador nas atividades de datas comemorativas do município.

Quem via passar Senhorzinho Pia, fardado de militar, não imaginava o quão se transformava tocando na Filarmônica de Bernardino “Nadinho” Fagundes. Exímio trompetista, talvez evocasse Louis Armstrong para soltar as notas musicais, tocou na primeira formação musical poçoense que se chamava Os Fantasmas.

O Sargento Severino era o dirigente do Tiro de Guerra 135. Firme nas suas colocações, rígido nas instruções, mas um bom papo Quando tirava a sua capa, ia para o ginásio dar aulas de francês e inglês. Assim, também era o Pastor Isaías, que deixava a sua igreja protestante para ensinar francês no ginásio.

Olímpio Rolim, um excelente farmacêutico, dono da Farmácia Sudoeste, vestido com a capa profissional e o pijama na sua varanda, tratou de vestir a capa de prefeito municipal, entre 1959 e 1962.

Quem teve a capa de jogador de futebol foi João Batatinha. Quando tirava a capa, era um excelente tipógrafo. Na necessidade de decidir entre seguir a carreira de jogador ou ser tipógrafo, preferiu a segunda capa. Não deixou ainda de ser a referência das nossas tardes de domingo no campo de futebol e não deixou de exercer a sua escolha.

Falando de futebol e cinema, tivemos Tena como um excelente administrador de cinema e desenhista de cartazes. Mas, a capa que ele vestia era a de jogador de futebol, de lateral esquerdo, trazendo alegrias e qualidade ao nosso futebol.

Ainda uma das capas mais alegres de Poções - o mecânico Florisvaldo Cruz Ramos (Dôca). Deixava a capa pendurada na sua Oficina e vestia a capa da felicidade. Ia para o cinema e, lá, se transformava numa figura que deixava os seus problemas e se incorporava no artista do filme ajudando nas ações e tramas da película – um verdadeiro torcedor de cinema. Também teve uma capa importante na Maçonaria, cuja loja leva o seu nome.

Apenas algumas lembranças de homens que vestiam capas e marcaram Poções de alguma forma. São tantos e prometo sequenciar aqui com a lembrança de outros importantes personagens.
  

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4 comentários:

  1. Ali pela década de 60, Humberto Carlos de Campos Neto(Humbertão), Clóvis Pereira Junior(Nino) e eu,nas noites mais frias daqui de Poções,pegávamos as capas de nossos pais e íamos a rua conversar com os amigos. Como as capas eram praticamente iguais e de cor negra, durante um certo tempo, fomo chamados de "---lá vem os homens das capas pretas."! Lulu está aí mais uma colaboração ao seu belo escrito e você está com uma memória fabulosa. Parabéns!

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  2. Lembro-me quando garoto de um menino que por motivos óbvios não citarei o nome. O mesmo colocava uma toalha de mesa em volta do pescoço, gritava Shazam e dava voltas pela casa. Certa feita colocamos na cabeça dele que ele poderia voar, contanto que fosse de um lugar alto e que fosse impulsionado. Entusiasmado subiu em uma janela, gritou Shazam e pulou, não deu outra, ficou bastante avariado.

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  3. Lulu,
    Como sempre, uma crônica de saudosismo para quem viveu em Poções.Que Deus conserve essa memoria privilegiada. Continue nos brindando com outras.Estou esperando ansioso o próximo capitulo sobre os homens de capas.
    Libonati

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  4. MARIO COSTA22 maio, 2014

    Muito feliz em em ver a foto do meu querido pai estampada em seu blog e por ler a crônica onde estão figuras marcantes da história da nossa cidade. Sei que existem (ou existiram) muitos outros "homens de capa" e fico no aguardo de novas postagens. Obrigado, Lulu.

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