"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

domingo, 6 de julho de 2014

Comônio aí!!!

Texto original publicado em 2009 no extinto site Guia Poções


Nesse final de semana, eu estive rapidamente em Poções. Atualizei-me sobre a Festa do Divino. Quis saber se as notícias dadas pela pomba branca eram verdadeiras. Só ouvi comentários e nenhuma confirmação da programação da Festa da divisão. O sagrado e o profano ainda não se decidiram. O certo é que no calendário, o último dia será em 31 de maio.

Se a pomba estiver certa, teremos o ano da mudança. Festa dividida e o Poções caindo para a 2ª divisão do futebol baiano.

Fiquei conversando com o meu irmão Pepone na varanda de casa, lembrando de coisas do passado, principalmente das brincadeiras. Da mesma forma que a gente sentia que a hora não passava, parecia que as nossas brincadeiras haviam acabado de acontecer.

Numa época em que não havia internet, quais eram as nossas brincadeiras?

Ali mesmo, na Rua da Itália, transformávamos um pedaço dela num campo de futebol. O poste ao lado da varanda da nossa casa era um gol. O outro gol  era no limite entre o armazém de Fernando Schettini com a casa de Zóstenes Vaz. O único lugar do mundo onde os gols ficavam no lugar do escanteio. O local era exclusivo da criançada moradora da Rua da Itália e a gente só perdia a vez quando Luiz Bosteiro chegava para passar as férias em Poções. Era um terror, ninguém mais tinha direito a nada, só ele mandava.

Também era no armazém de Fernando que a gente brincava de esconder entre as imensas pilhas de sacos de mamona e café que eram comercializados naquela época (hoje funciona a academia de Rosita Palladino).

Durante o dia, lá na praça da prefeitura, a brincadeira era com o pré-histórico pião. Pobre dos piões pequenos, as carrapetas ou catatais. Normalmente, eles tinham o castelo “bizocado”. Na roda, a gente só colocava o catatau.

Quando não era pião, chegava a temporada do triângulo ou da gude. As gudes eram compradas em Seu Emério Pithon, no Bazar Natal. Com o “cocão” (gude grande) a gente dava o “aço” (bater na gude menor para afastá-la da “casa”).

Ladrão e polícia era a brincadeira preferida. Tinha mesmo que pegar o cara no braço e levar para a “cadeia”. Normalmente a gente usava as varandas das casas para fazer o cativeiro. Se bobeasse, o ladrão invadia e bastava passar a mão na cabeça do preso para ele se livrar.

Das telas do cinema para a rua, foi trazido o “cowboy”, que era uma variação “western” do ladrão e polícia. A imobilização do bandido se dava com a expressão “comônio aí” uma espécie de mãos ao alto. Normalmente, o bandido usava um lenço amarrado no rosto, o que dava maior realidade e originalidade à brincadeira. A atividade física era tão ativa que a sensação do frio passava e ainda dava para brincar sem camisa. Esquentava o frio, como dizemos.

Com os pequenos revólveres de brinquedo na cintura, daqueles de cabo branco e rolinho de espoleta, a gente transformava a Rua da Itália numa verdadeira praça de guerra.

Hoje, nenhum sinal de brincadeiras. Naquela noite, apenas duas crianças convenciam o velho Zica, caído e embriagado, para que encontrasse o rumo da sua casa, evitando que fosse roubado e “judiado” pelos malandros.


Durante as quatro horas que ficamos na varanda conversando, tivemos a presença de alguns amigos que participaram das brincadeiras do passado, pararam seus carros e trocaram alguns minutos de boas lembranças.

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