"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Um grande atleta mundial

Fico vendo esses casos de pessoas que saem de interiores longínquos, enfrentam a vida na capital, se esforçam e se tornam grandes atletas.

Na Escola Técnica do bairro do Barbalho, no ano de 1973, aqui em Salvador, havia três professores de educação física: Valmir, João Célio e Coelho, todos boas praças. Eles incentivavam a nossa participação em diversas modalidades de esportes – eu sempre gostei de jogar volei (modéstia à parte, jogava bem) e aproveitava a bagagem que trouxe do Ginásio de Poções.

Mas, eu queria ser um atleta destacado, com capacidade de disputar os jogos interestaduais entre as escolas técnicas. O caminho seria o professor João Célio, gozador nato, que me colocou o apelido de Ameba, porque eu tinha as pernas brancas. Com o tempo, criamos uma relação respeitosa e tivemos a oportunidade de conversar mais longamente, pois pegávamos o mesmo ônibus (ele morava na rua do Destêrro e eu no Politeama). Conversando, me perguntou se queria fazer natação na ABB (Associação Banco do Brasil), na Barra.

Fiquei contente com a indicação. Fazendo natação eu estaria dispensado das aulas de educação física. Fui parar na ABB às seis da manhã para fazer o teste. Cheguei no local como um grande atleta, de futuro promissor, pensava. O professor de natação me pediu para nadar 50 metros e ver como estava o meu rendimento. Com um apito na boca e um cronometro na mão, autorizou a minha entrada na água. Nadei o que pude, o que sabia.

Gentilmente, o professor pediu a minha saída da piscina – vá tomar banho, trocar de roupa pra gente conversar! Pulava de felicidades debaixo do chuveiro, socava o ar e dizia - Chegou a minha vez. Sou tão bom que o cara nem quis que eu terminasse!

Numa conversa franca, ele foi direto e disse que eu teria que gastar muito tempo para aprender e que não tinha nenhum estilo. Ouvir aquilo foi o mesmo que toda aquela água fria da piscina caísse sobre mim. - Como um professor pode descartar um talento da natação? Fui embora decepcionado.

No ônibus, vendo passar as árvores do Corredor da Vitória, pensava e resmungava baixo, tentando entender a decisão do professor e a minha decepção com todo o entusiasmo que cheguei ali.

O dia ficou marcado até hoje - Poções deixou de ter um grande atleta mundial!


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