"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Perfume de gardênia

Semana passada, eu estava em Jaboatão dos Guararapes-Pe, em um bar, e os meus amigos discutiam quem fazia a primeira e a segunda voz nas duplas sertanejas.

Gildásio dizia que, na dupla Zezé e Luciano, a primeira voz era Luciano. Guto, achava o contrário. Enfim, eu e Marcos não achávamos nada e tentávamos apenas dar ré naquela "profunda" conversa de primeira e segunda, lembrando do Maestro Zezinho, do programa Leilão das Notas, de Sílvio Santos. O músico do bar quando começava a tocar, a gente perguntava qual era a música e Gildásio acertava todas.

Lá pelas tantas, depois que os dois já estavam cantando com a mão direita no ouvido, passou um vendedor de CD´s e Dvd´s piratas. No meio de centenas, escolhi apenas um, o do show de Waldick Soriano, aquele que foi dirigido pela atriz Patrícia Pillar http://www.youtube.com/watch?v=cJkrXpxTnNY.

Ontem, já em casa, coloquei o DVD para assistir ao show. A cada música que Waldick cantava, me lembrava de Poções, dos alto-falantes e das músicas encaixadas em cada local que havia um deles.

A primeira lembrança daquelas músicas era no alto-falante do Cine Santo Antônio. Ali, eram tocadas antes das sessões, como se fossem para anunciá-las. Pois bem, o quintal da nossa casa era bem próximo ao cinema e eu tinha aquelas letras todas decoradas. Ia buscar as folhas para fazer chá e escutava a sequencia – sabia todas elas.

Não mais baixo, era o serviço de som da Prefeitura, que tinha o postes distribuindo os alto-falantes e um deles era na porta lá de casa. Tocava as músicas de Waldick, de Agnaldo Timóteo e mais alguns. Sentava na varanda no final da tarde e já sabia a preferência de Vicente Ventura.

A música “Perfume de gardênia” era famosa nos chás dançantes no clube, misturada a outros boleros – tocados por orquestra ou pela radiola, que a turma mais velha chamava de “pick-up e seus negrinhos”, numa menção aos discos.

“Perfume de gardênia
Tem em tua boca
Eu vivo embrigado
Na luz do teu olhar

Teu riso é uma rima
De amor e poesia

Macios teus cabelos
Qual ondas sobre o mar…”

Era assim. Todos os lugares tocavam as mesmas músicas e, nós poçõenses, daquela época, temos até hoje um refrão ou uma parte de uma música na nossa memória. Não me venha dizer que “Eu não sou cachorro não” mão mexe com você? E “A Carta”, será que não tem um pedacinho que você viveu?

Minha querida, saudações
Escrevo esta carta
Não repare os senões
Para dizer o que sinto
Longe de ti
Amargurando na saudade
As horas vividas com felicidade
Renunciar seria solução
Mas não apagaria de nossas almas
Cruel paixão
Espero que um dia tudo se consiga
E a quem ama não seja negado
O direito de ser amado

Chegava a Festa do Divino e era instalado o sistema de som, onde as pessoas pagavam para dedicar músicas às outras – eram as páginas musicais. O locutor dizia: Atenção Fulana, ouça essa página musical que alguém te oferece como prova de amor e carinho. Às vezes, fulano sabia quem era. Outras, fulano ia no estúdio perguntar quem foi que ofereceu a página musical.

Isso era uma forma de paquera. Se a música era lançamento do ano, quando a Festa terminava, a letra ficava na memória. Assim foi “Colcha de Retalhos” e tantas outras que eram metáforas da vida amorosa das pessoas.
Aquela colcha de retalhos que tu fizeste
Juntando pedaço em pedaço foi costurada
Serviu para nosso abrigo em nossa pobreza
Aquela colcha de retalhos está bem guardada
Agora na vida rica que estas vivendo
Terás como agasalho colcha de cetim
Mas quando chegar o frio no teu corpo enfermo
Tu hás de lembrar da colcha e também de mim
  
Comparando com os dias de hoje, as paixões eram reveladas publicamente. As dores e os desejos de amores eram partilhados e tinha um romantismo diferente dessas modernidades eletrônicas atuais, seja na qualidade das músicas, seja na forma de se comunicar.

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