Semana passada, eu estava em Jaboatão dos
Guararapes-Pe, em um bar, e os meus amigos discutiam quem fazia a primeira e
a segunda voz nas duplas sertanejas.
Gildásio dizia que, na dupla Zezé e Luciano, a
primeira voz era Luciano. Guto, achava o contrário. Enfim, eu e Marcos não
achávamos nada e tentávamos apenas dar ré naquela "profunda" conversa de
primeira e segunda, lembrando do Maestro Zezinho, do programa Leilão das Notas,
de Sílvio Santos. O músico do bar quando começava a tocar, a gente perguntava
qual era a música e Gildásio acertava todas.
Lá pelas tantas, depois que os dois já estavam
cantando com a mão direita no ouvido, passou um vendedor de CD´s e
Dvd´s piratas. No meio de centenas, escolhi apenas um, o do show de Waldick
Soriano, aquele que foi dirigido pela atriz Patrícia Pillar http://www.youtube.com/watch?v=cJkrXpxTnNY.
Ontem, já em casa, coloquei o DVD para assistir
ao show. A cada música que Waldick cantava, me lembrava de Poções, dos alto-falantes
e das músicas encaixadas em cada local que havia um deles.
A primeira lembrança daquelas músicas era no
alto-falante do Cine Santo Antônio. Ali, eram tocadas antes das sessões, como
se fossem para anunciá-las. Pois bem, o quintal da nossa casa era bem próximo
ao cinema e eu tinha aquelas letras todas decoradas. Ia buscar as folhas para
fazer chá e escutava a sequencia – sabia todas elas.
Não mais baixo, era o serviço de som da
Prefeitura, que tinha o postes distribuindo os alto-falantes e um deles era na
porta lá de casa. Tocava as músicas de Waldick, de Agnaldo Timóteo e mais
alguns. Sentava na varanda no final da tarde e já sabia a preferência de
Vicente Ventura.
A música “Perfume de gardênia” era famosa nos
chás dançantes no clube, misturada a outros boleros – tocados por orquestra ou
pela radiola, que a turma mais velha chamava de “pick-up e seus negrinhos”, numa
menção aos discos.
“Perfume de gardênia
Tem em tua boca
Eu vivo embrigado
Na luz do teu olhar
Teu riso é uma rima
De amor e poesia
Tem em tua boca
Eu vivo embrigado
Na luz do teu olhar
Teu riso é uma rima
De amor e poesia
Macios teus cabelos
Qual ondas sobre o mar…”
Qual ondas sobre o mar…”
Era assim. Todos os lugares tocavam as mesmas
músicas e, nós poçõenses, daquela época, temos até hoje um refrão ou uma parte
de uma música na nossa memória. Não me venha dizer que “Eu não sou cachorro não”
mão mexe com você? E “A Carta”, será que não tem um pedacinho que você viveu?
Minha
querida, saudações
Escrevo esta carta
Não repare os senões
Para dizer o que sinto
Longe de ti
Amargurando na saudade
As horas vividas com felicidade
Renunciar seria solução
Mas não apagaria de nossas almas
Cruel paixão
Espero que um dia tudo se consiga
E a quem ama não seja negado
O direito de ser amado
Escrevo esta carta
Não repare os senões
Para dizer o que sinto
Longe de ti
Amargurando na saudade
As horas vividas com felicidade
Renunciar seria solução
Mas não apagaria de nossas almas
Cruel paixão
Espero que um dia tudo se consiga
E a quem ama não seja negado
O direito de ser amado
Chegava a Festa do Divino e era instalado o sistema
de som, onde as pessoas pagavam para dedicar músicas às outras – eram as
páginas musicais. O locutor dizia: Atenção Fulana, ouça essa página musical que
alguém te oferece como prova de amor e carinho. Às vezes, fulano sabia quem
era. Outras, fulano ia no estúdio perguntar quem foi que ofereceu a página
musical.
Isso era uma forma de paquera. Se a música era
lançamento do ano, quando a Festa terminava, a letra ficava na memória. Assim
foi “Colcha de Retalhos” e tantas outras que eram metáforas da vida amorosa das
pessoas.
Aquela
colcha de retalhos que tu fizeste
Juntando pedaço em pedaço foi costurada
Serviu para nosso abrigo em nossa pobreza
Aquela colcha de retalhos está bem guardada
Agora na vida rica que estas vivendo
Terás como agasalho colcha de cetim
Mas quando chegar o frio no teu corpo enfermo
Tu hás de lembrar da colcha e também de mim
Juntando pedaço em pedaço foi costurada
Serviu para nosso abrigo em nossa pobreza
Aquela colcha de retalhos está bem guardada
Agora na vida rica que estas vivendo
Terás como agasalho colcha de cetim
Mas quando chegar o frio no teu corpo enfermo
Tu hás de lembrar da colcha e também de mim
Comparando com os dias de hoje, as paixões
eram reveladas publicamente. As dores e os desejos de amores eram partilhados e tinha um
romantismo diferente dessas modernidades eletrônicas atuais, seja na qualidade
das músicas, seja na forma de se comunicar.
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Que massa, momento eternizados em seus versos.
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