"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O Homem-Livro


O homem-livro é de Poções. Ele é Eduardo Sarno, um dos maiores colaboradores e entusiastas desse blog. Com prazer, eu ressalto o fato:
Ontem, no jornal A TARDE (edição de 07/01/2013), ele foi o destaque de capa do Caderno2, que conta a sua história no mundo dos livros usados, se tornando o maior livreiro desse ramo na Bahia. Ele é dono da Graúna, fundada em 1986. Além da sua história, a reportagem cita algumas passagens interessantes e fala da Feira de Livros Usados, onde qualquer exemplar custa R$ 5,00 (propaganda nesse blog).
Estou tentando copiar a reportagem na íntegra para poder publicar aqui no Blog.

Pelo que lí na reportagem e conheço dessa história, vem de longe a dedicação pelos livros. Vem de Poções.
Ele era estudante e o seu quarto tinha um estante com dezenas de livros, umas cabeças entalhadas na madeira e distribuídas pelas prateleira. Na parede, um cartaz com o desenho de um esqueleto humano, com os nomes de todos os ossos. Mas acho que o esqueleto era para amedrontar os curiosos e mante-los afastados daquele ambiente.
Teve época em que a casa dos pais de Eduardo ficou fechada devido às constantes viagens dos meus tios Corinto e Annina para Salvador. Eu tinha “passe-livre” e folheava todos os livros da estante. Existia a recomendação da minha tia que aqueles livros não podiam sair dali.
Na época em que eu cursava o Ginásio, tinha como colega Gilberto Luz – o Pancho. Comentei sobre a existência desses livros e ele se empolgou. Eram livros avançados para aquele tempo. Um dia, levei Pancho para conhecer a pequena biblioteca e separou logo uma meia dúzia de livros e colocou pé firme que os levaria emprestados e devolveria rapidamente. Contrariando a ordem da minha tia, não tive opção - uma casa fechada e um mundo de livros parados eram as mesmas coisas – emprestei por conta e risco e Pancho devolvia na data prevista, quando levava outros.
Outra vez, na época da ditadura militar (eu tinha oito anos de idade em 1964), a casa estava fechada e fui fazer a minha inspeção rotineira e catar goiabas no quintal para minha mãe fazer doce, quando vi  sob a porta um corte que permitia a passagem de uma chave. O suposto “detetive” habilmente derrubou a chave no chão e a laçou com um arame passando pelo corte feito.
A surpresa foi encontrar os livros remexidos como se procurassem por títulos que pudessem ser contrários ao regime. Restou a meu pai reforçar a porta com uma tranca de ferro. O “detetive” não voltou mais.
Então, essa foram  as minhas primeiras lembranças de Eduardo com os livros.
Parabéns Homem-Livro!!!

Um comentário:

  1. É, Lu, os italianos em Poções, em geral, eram bons leitores. Falo alguma coisa sobre isso no blog Familia Sarno.Quando fui para o Seminário de Amargosa me dediquei a encomendar livros da editora Vozes, religiosa, para vender para os colegas. Certa vez fiz uma grande encomenda, e aproveitei para encomendar uns para mim.Eles trocaram o endereço e mandaram caixas de livros para Poções.Meu pai, ao receber, sem saber, comentou:"-Eu sabia que Eduardo gostava de ler, mas não pensei que fosse tanto!"
    Tio Chico também lia muito, principalmente sobre a história da Itália. Lembro o último que ele estava lendo, sobre a familia real italiana.
    Mas é isso, trabalhar com cultura, arte, conhecimento é sempre um prazer, e vc sabe bem disso, ao tratar com tanto carinho e competência o seu Blog.
    Obrigado pela divulgação, grande abraço.
    Eduardo Sarno

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