"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Ruy Espinheira lança "A Casa dos nove pinheiros"

 
(Reprodução)
A imagem é familiar. Está na varanda da casa onde residiu a família do Dr. Ruy Espinheira. Hoje, é habitada pela família de Vicente Palladino, na Rua da Itália.

(arquivo pessoal)

Comentários de Carlos Barbosa
 
Ruy Espinheira Filho comemora seus 70 anos com um novo livro de poemas: A casa dos nove pinheiros. O livro reúne uma seleção de poemas escritos no período 2009-2012, e sai publicado pela editora Dobra, de São Paulo. O aniversário de Ruy será em dezembro, mas, esbanjando generosidade e invertendo a lógica, entrega aos amigos desde já (não haverá lançamento do livro) um presente que é uma celebração emocionada de uma vida bem vivida, na qual afirma crer "que sempre fui feliz, / inclusive nos momentos em que me sentia / e me dizia / infeliz."

A imagem da capa mostra dois pinheiros maiores seguidos por sete outros, "nove pinheiros enfileirados / em curva suave, / do maior ao menorzinho, / representando / o pai, / a mãe, / os sete filhos / que ali moravam." Morava, essa família, em uma casa viva na memória do poeta e ainda de pé na cidade em que passou parte de sua infância, Poções. A foto da capa, recortada para destacar o detalhe dos nove pinheiros, foi feita pelo filho do Ruy, o jornalista Mário Espinheira.

O poema que dá título ao livro diz dessa presença eterna da casa a habitar o poeta, mesmo tendo nela vivido por meses e não por décadas. Talvez pela particularidade dos pinheiros cravados na parede da varanda e o claro propósito de caracterizar aquela morada como permanente, e que culminou se tornando provisória no plano físico e olímpica no emocional. "Os pinheiros continuarão a lembrar / pai, / mãe, / sete filhos, / mesmo quando não restar sequer um deles / para sentir certo tempo, / respirar a casa, // como eu agora, / com antiga alegria e um sabor / de lágrimas."

Ruy Espinheira Filho tem afinado sua lira ao ponto de alcançar a simplicidade dos poetas maiores. Os versos encadeiam-se naturalmente, e o leitor experimenta a delícia do poema como um voo sem ruídos e turbulências, prenhe de ritmo e densidades várias. E ao pousar, ao final do último verso, terá feito então um percurso de emoção e sabedoria, que se repetirá no poema seguinte até o último do livro. Até uma nova leitura.

Encerro este comentário com o quarto movimento do poema "Condição":

"Sim, novamente escrevendo.
Sem saber, como sempre, aonde estou indo,
se é que estou indo a algum lugar.

Às vezes me ocorre
que escrever é exatamente isto: ofício
de quem não sabe aonde ir.
E, como não sabe, tateia
na névoa
à espera de encontrar alguma coisa
que não só não sabe onde está
como não sabe o que é
e que talvez seja uma parte da alma que ficou perdida
na travessia
entre sombras ancestrais
e a vida."



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2 comentários:

  1. Eu ganhei o meu. Com direito a autógrafo e um dedo de prosa sobre Poções... Ruy emociona, encanta e nos faz mais alegres com suas palavras. Lindo demais o texto dele. Recomendo!

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  2. Cesar Moretti27 novembro, 2012

    É a casa mais emblemática de Poções. Sair de Poções em 1975, mas imagem daqueles pinheiros parece uma obra de arte singular que fica eternamente em minha memória. Sempre lembro de uma menina que se chamava Monica Sarno e seu irmão brincando na sua varanda.
    Cesar Moretti

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