Com a vitória da Itália na Copa do Mundo, o pensamento se volta para o meu querido e saudoso Tio Giovanni.
Giovanni (E) ao lado do cunhado Chico Sangiovanni - foto arquivo pessoal
Contar as suas passagens e
comparar o Brasil com a Itália era o seu forte. Todo mundo se empolgava com as
alegres e emocionantes estórias. Bastava começar a falar para encher os olhos
de lágrimas.
A Marcenaria Itália, onde funcionou
a locadora de Bruno, seu filho, possuía duas portas. Uma, com janelas de vidro,
e outra com uma divisória fixa. Quando alguém passava na rua, ele via pela
primeira porta e corria, de imediato, para a segunda porta. De lá, convidava
para um rápido bate-papo, nem que fosse apenas para cumprimentar a pessoa.
Debruçado sobre a
divisória, misturava o português com o italiano e soltava palavras próprias do
dialeto da sua terra natal Laino, região de Mormanno - Itália. Era assim o
querido tio, também meu padrinho de crisma. A saudade da Itália havia ficado no
seu peito e a memória era atual. Conversávamos bastante e podia entender essa
dolorosa separação daquela região montanhosa da Calábria. Pude compreendê-lo
melhor quando visitei Mormanno, em 1990. Desde o pós-guerra, Giovanni enxergava
a Itália com a possibilidade de se tornar uma das grandes potências mundiais.
Apaixonado pela caça,
sempre teve os melhores perdigueiros e as famosas espingardas de dois canos da
marca Saint´Ettiene em Poções. Na sua terra, era conhecido como Giovanni
"giubunno", por utilizar um blusão com grandes bolsos, próprio para
carregar caças. Seus maiores companheiros foram Agenor Xavier e Nenga Rolim. Um
dia, acompanhei no campo de aviação para uma caçada – não encontrando uma só
codorna ou perdiz, mandou arremessar o chapéu ao ar e, com maestria, o
transformou em uma peneira.
Outra marca registrada era
a qualidade dos seus móveis, que foi mantida por profissionais como Tião,
Xirico, Néo Bicudo e tantos outros que trabalharam e aprenderam a arte da
movelaria artesanal.
Um dos maiores
freqüentadores do macarrão de domingo na sua casa foi Gilmar Magalhães (Gilmar
de Maneca). Contou-me que um dia conversava sobre os três filhos de Giovanni.
Carinhosamente sempre se referia aos filhos como o “meu Pino”, o “meu Guel” e o
“meu Bruno”. Naquela época, os três moravam em Salvador. Feliz da vida e
orgulhoso por terem estudado e se formado na Escola Técnica Federal, disse-lhe
que já estavam casados e dando belos netos.
Gilmar, vendo a emoção e os
olhos de Giovanni brilharem, comentou:
“Seu Giovanni, quer
dizer que o Sr. tem uma prole muito grande?”. O tio, ingenuamente
respondeu, fazendo gestos de comprimento e diâmetro com as mãos: “É, mio caro Gilmar, non tão grande, mas
peró un tanto grossa”.
Tio Giovanni tem um lugar
especial no meu coração e, com certeza, será sempre lembrado por manter bem
viva e próxima essa minha relação com a Itália.
Leia mais sobre Giovanni Sola no Família Sarno
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário