"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Fotos inéditas 10 - (Giovanni Sola)

(Essa crônica foi inicialmente escrita e publicada no antigo site Terra do Divino, de propriedade de Léo Fagundes)


Com a vitória da Itália na Copa do Mundo, o pensamento se volta para o meu querido e saudoso Tio Giovanni.

Giovanni (E) ao lado do cunhado Chico Sangiovanni - foto arquivo pessoal
 
Contar as suas passagens e comparar o Brasil com a Itália era o seu forte. Todo mundo se empolgava com as alegres e emocionantes estórias. Bastava começar a falar para encher os olhos de lágrimas.

A Marcenaria Itália, onde funcionou a locadora de Bruno, seu filho, possuía duas portas. Uma, com janelas de vidro, e outra com uma divisória fixa. Quando alguém passava na rua, ele via pela primeira porta e corria, de imediato, para a segunda porta. De lá, convidava para um rápido bate-papo, nem que fosse apenas para cumprimentar a pessoa.

Debruçado sobre a divisória, misturava o português com o italiano e soltava palavras próprias do dialeto da sua terra natal Laino, região de Mormanno - Itália. Era assim o querido tio, também meu padrinho de crisma. A saudade da Itália havia ficado no seu peito e a memória era atual. Conversávamos bastante e podia entender essa dolorosa separação daquela região montanhosa da Calábria. Pude compreendê-lo melhor quando visitei Mormanno, em 1990. Desde o pós-guerra, Giovanni enxergava a Itália com a possibilidade de se tornar uma das grandes potências mundiais.

Apaixonado pela caça, sempre teve os melhores perdigueiros e as famosas espingardas de dois canos da marca Saint´Ettiene em Poções. Na sua terra, era conhecido como Giovanni "giubunno", por utilizar um blusão com grandes bolsos, próprio para carregar caças. Seus maiores companheiros foram Agenor Xavier e Nenga Rolim. Um dia, acompanhei no campo de aviação para uma caçada – não encontrando uma só codorna ou perdiz, mandou arremessar o chapéu ao ar e, com maestria, o transformou em uma peneira.  

Outra marca registrada era a qualidade dos seus móveis, que foi mantida por profissionais como Tião, Xirico, Néo Bicudo e tantos outros que trabalharam e aprenderam a arte da movelaria artesanal. 

Um dos maiores freqüentadores do macarrão de domingo na sua casa foi Gilmar Magalhães (Gilmar de Maneca). Contou-me que um dia conversava sobre os três filhos de Giovanni. Carinhosamente sempre se referia aos filhos como o “meu Pino”, o “meu Guel” e o “meu Bruno”. Naquela época, os três moravam em Salvador. Feliz da vida e orgulhoso por terem estudado e se formado na Escola Técnica Federal, disse-lhe que já estavam casados e dando belos netos.

Gilmar, vendo a emoção e os olhos de Giovanni brilharem, comentou:

Seu Giovanni, quer dizer que o Sr. tem uma prole muito grande?”. O tio, ingenuamente respondeu, fazendo gestos de comprimento e diâmetro com as mãos:  É, mio caro Gilmar, non tão grande, mas peró un tanto grossa”.

Tio Giovanni tem um lugar especial no meu coração e, com certeza, será sempre lembrado por manter bem viva e próxima essa minha relação com a Itália.



Leia mais sobre Giovanni Sola no Família Sarno



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