"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Os filmes de legendas vivas

O Cine Santo Antonio foi o cinema que marcou época em Poções. Fisicamente, limitava o final da parte larga da atual Av. Olímpio Rolim com o início da Rua Apertada, que era um funil até chegar na subida da Igreja. Além da exibição de filmes, vários artistas famosos se apresentaram no seu palco, a exemplo de Agnaldo Timóteo, Nelson Ned, Mauro Figueroa, Valdick Soriano, Nelson Gonçalves e tantos outros.

Era o tempo da transição do preto e branco para o colorido. Os cartazes dos filmes ficavam na praça. Quantos letristas tiveram a chance de desenvolver suas artes nos cartazes – quem não se lembra de Dida, Pinho, Bartola e Tena?

Além de obras de artes, os cartazes destacavam filmes famosos como O Dólar Furado (Giuliano Gemma), El Dorado (John Wayne – a gente lia Jovane), Ladrões de Bicicletas (de Vittorio di Sicca), Tarzan (de Edgar Rice Burroughs com Johnny Weissmüller), Maciste (Bartolomeo Pagano), Quo Vadis (Robert Taylor), Dio Come ti Amo (Gigliola Cinquetti) e tantos outros como Ursus, Hércules, Sansão e Dalila, O Mágico de Oz, sem contar os filmes da Paixão de Cristo exibidos na semana santa. Em um dos cantos do cartaz sempre estava escrito – Technicolor ou Cinemascope – o sinal do avanço tecnológico.

Normalmente, de segunda a sábado, as sessões eram à noite – a chamada soirée. Domingo e feriado tinha também a matinée, onde muita gente aproveitou para começar a namorar naquela parte de cima que era chamada de camarote.

Falar de cinema em Poções, não se deve esquecer dos grandes administradores Fidélis Sarno (Fidélis de Boa Nova), Nicola Leto, Vavá e Tena, insistentes na manutenção das salas. Fidélis fundou o Cine Jóia (onde hoje funciona o Bradesco). Em outro nível, dois cineastas poçõenses marcaram os seus nomes no cenário nacional. São eles: Tuna Espinheira e Geraldo Sarno.

Do outro lado, na platéia, figuras marcantes como Lino Carregador e Seu Dôca (Florisvaldo Cruz Ramos), viviam as cenas como se fossem reais. Mas acho que Luiz Schettini Barbosa, o Luiz Bosteiro, foi o mais importante deste segundo grupo. Apesar de não ser artista, nem fundador e cineasta, foi o responsável pelas maiores “artes” dentro do Santo Antônio. Um dia, a gente se encontrou na festa do Divino e ele contou algumas das muitas estórias engraçadas. Uma delas era sobre as legendas vivas.

Naquela época, antes do filme, era costume passar o jornal com as notícias da Luiz Severiano Ribeiro e os gols do Canal 100. A mesma fita era passada na matineé e na soirée. Luiz assistia as duas sessões e gravava as imagens na cabeça. À noite, casa cheia, ele soltava as legendas.

Na primeira cena, o avião do presidente Castelo Branco pousava. A porta do avião se abria e aparecia a imagem do presidente acenando para os que estavam em terra. Luiz aguardava a imagem do presidente e antes do aceno, gritava: “e aí Castelo, não vai falar com os pobres?” O presidente acenava e a galera no cinema era um riso só.

Na segunda cena, já no meio do filme, Hercules fugia da perseguição de soldados dentro de um túnel. Ele para, olha para trás e continua a correr. Luiz fez a cena assim: Antes da parada de Hércules, gritou bem alto “Hércules, Hércules...” depois que o artista para, ele voltou a gritar: “Não é nada não, pode ir, pode ir...” Mais uma vibração do público.

Parte da história do cinema em Poções pode ser contada com passagens engraçadas como estas de Luiz e, sem dúvida, dos comportamentos de Lino e Dôca. Registro a lembrança do extinto cine Glória como uma evolução da época e o fim de um tempo substituído pelo vídeo-cassete e, mais recente, o DVD. Quem sabe, um dia, Poções pode ter um Shopping Center e voltar os tempos do cinema, como já acontece em Vitória da Conquista.
Leia nos Comentários a história que Jorge Bufão conta
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3 comentários:

  1. Valeu Lulu as lembranças!!!
    Outra história sobre o cine Glória com um dos filmes: "TARZAN O REI DAS SELVAS",esse filme foi exibido no cine Glória durante uma semana ou mais,aí o filme foi emprestado para Iguaí só que chovia muito naquela época, o Jipe que transportava o filme atolou feio e o filme teve que voltar para Poções não deu outra, colocaram um outro título no cartaz: "A VOLTA DE TARZAN",conclusão, bilheteria esgotada....com os gritos da galera!!!é roubo...é roubo!!!meu dinheiro...meu dinheiro!!!!são coisas de Poções.
    Um forte abraço,
    Jorge de Duca.

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  2. Lulu, Estou procurando uma foto do cine Santo Antônio. Se vc souber quem tem eu agradeço. Abraço

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  3. Esse histórias são muito boas já escultei muitas dessas pelo meu pai.
    Isso é muito importante para a memoria coletiva de Poções, hoje eu e um grupo de colega exibimos quizenalmente filmes na camara de vereadores justamente neste intuito de preservar essa cultura cinematrografica dentro de Poções.
    Parabéns o site esta otimo

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