"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

sexta-feira, 16 de março de 2012

Isabel e Dé de Zabé

Sumiram as rezadeiras. Depois da velha Marcolina, só me lembro de Bel, a mãe de Cosme e Damião.

Em julho de 2011, em Capela do Alto Alegre, interior da Bahia, fui procurar por outra dona Isabel e não a encontrei. Fiz menção no blog e coloquei a foto dela no meio da roça de milho, que meu amigo Guilherme Junot tinha nos seus arquivos.

Recentemente, voltando de Jacobina, insistimos em procurar a rezadeira. Parece que o carrego era grande e uma força nos puxava para aquele lugar. Afinal, três pesos (eu, Guilherme e Vanderkleison – nome de centroavante do Bahia). Lugar simples, fogão a lenha e cozinha tomada pela fumaça de alguns tições que queimavam para esquentar uma “chicolateira” de café. No meio da sala, as cabras criadas ali na fazendola de Dé Simão, o Dé de Zabé, e da rezadeira Isabel.

Enquanto ela estava no terreiro pegando as folhas, Dé (José Francisco da Silva), 73 anos completados em 20 de agosto, contava as histórias de Zabé. “Ela curou um menino que ficou no hospital internado por dias e os médicos o liberaram para Zabé fazer o trabalho e dá remédio para gases – O menino ficou bom no mesmo dia com as rezas dela”.

Nos dividimos. Dois escutavam as histórias enquanto o outro era rezado. Não foi diferente da “abrição de boca” da velha Marcolina. Isabel respirava fundo e rezava. No final das rezas, o carrego era grande e o resultado foi: "Todo mundo de olhado e dos brabo".

De tão exaurida que ficou, o consolo foi ouvir Dé de Zabé dizer que aquilo era normal na vida de Isabel Souza da Silva, 69 anos de idade e 45 de rezadeira. "Ela reza esse povo todo daqui da região e ainda viaja para rezar gente grande na capital".

O casal nos fez acreditar que o alívio momentâneo não é somente com a reza e sim com a simplicidade. Me fizeram voltar ao passado.

Meus amigos Guilherme e Kleison, depois daquele dia, contaram que os negócios progrediram devido ao peso que eles carregavam. Vai duvidar?

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Um comentário:

  1. Zezel leite20 março, 2012

    Salve, Lulu! Saudades dos teus textos.
    O que seria dos contadores de história sem essas figuras do interior? Adoro uma reza. E acredito nelas. Hoje mesmo meu filho foi na rezadeira. Disseram que ele tá muito danado (tem 2 anos e meio o bichinho) e precisa ser rezado pra acabar com a babreza. Os ramos ficaram murchinhos. E ele? Um pouco mais animado...risos.
    Abraço
    Zezel.

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