Está chegando a Festa do Divino Espírito Santo, o dia da "chegada da Bandeira".O coração começa a bater quando vem na mente um mundo de lembranças: o velho pavilhão, a quermesse com as casinhas numeradas e os preás, a pesca de garrafas com argolas na barraca de Mituca. A roda gigante, a víspora do velho Cícero Pia, a pipoca com manteiga. Os amendoins de Febrônio, o parque com a arca de Noé e o alto-falante tocando “Colcha de retalhos”, a gloriosa filarmônica do mestre “tio Nadinho” Fagundes e a barraca de Pulu, coitado, pegando fogo.
Estou lembrando dos meus amigos, das barracas dos estudantes, dos botequins, de carregar o mastro. Vou encontrar a minha gente na porta de casa depois da chegada da Bandeira. Eu vou me emocionar sobre o cavalo, desfilando ao lado de Seu Homero.
Mas, continuarei a guardar a emoção de ter relembrado, com meu pai, o leilão que entrou para a história da festa - o leilão da Jurubeba combosta!
As ofertas para o leilão eram simples e humildemente entregues à comissão. Entre as galinhas – algumas assadas, outras vivas debaixo da mesa - e os carneiros amarrados ao “pé da cajarana”, havia bebidas quentes como cinzano, licor, cachaça e a jurubeba composta Leão do Norte.
Naquela noite, Seu João, o leiloeiro, não pôde ir ao pavilhão por problemas de saúde e tiveram de arranjar outra pessoa. Trouxeram um leiloeiro que não tinha o traquejo de “cantar” como Seu João fazia. Depois de algum tempo, o leilão passou a ficar sem graça e ninguém queria arrematar nem mesmo galinha assada. Aí, entrou
Com aquele ar brincalhão e ingênuo, apenas com a intenção de ajudar o substituto do leiloeiro descansar a garganta, pois era no grito, literalmente.
Meu pai apanhou uma garrafa de bebida, leu o rótulo e bradou no carregado sotaque italiano: – Una garrafa de jurubeba combosta. Qui dá mass? Essa seria a frase da noite para acordar o povo às mesas.
Beber jurubeba combosta naquele frio virou um charme. Sucesso absoluto e não sobrou garrafa para ser leiloada. Em minutos, foram mais de dez a preços altos e que somaram uma boa quantia para a igreja, nos tempos em que o sagrado e o profano andavam de mãos dadas.
Hoje, com a jurubeba, sem a tradição, sem o leilão, sem Seu João e sem pavilhão – questionamos o nosso passado e a nossa identidade.
Boa Festa a todos e que o Divino Paráclito, consolador, nos abençoe, nos perdoe e aceite as lindas rosas tão preciosas do nosso amor, como bem canta Chicão Schittini.

À medida que o filme avança, um silêncio se apossa do cinema. A mãe pensa em sair, mas observa todo o envolvimento dos filhos e dos outros jovens com a história. Resolve ficar e mergulha, como todos ali, na magia da sétima arte. As cenas se sucedem num ritmo cadenciado, o lugar é misterioso, quase surreal. Sem motivo aparente, as aves começam a atacar a cidade em bandos cada vez mais numerosos, e depois recuam, e surgem novamente, ameaçadoras, determinadas a abater todos os que ali se encontram. Provocam pânico geral, dúvidas, fogo num posto de gasolina, atacam crianças numa escola, matam uma professora, um fazendeiro e finalmente, o clímax. Uma casa de madeira a beira mar, onde um grupo de pessoas, aterrorizadas, esperam o ataque final das aves, que avançam aos milhares, fazendo um barulho infernal, com bicos afiados como lâminas, a baterem nas paredes, telhados, portas e janelas. Na madrugada, uma trégua, silêncio. Rod Taylor, que faz o protagonista, abre a porta, bem devagar, e se depara com uma cena macabra: as primeiras e dramáticas luzes da alvorada revelam milhares de gaivotas e corvos, pousados em volta da casa, a ocuparem todos os espaços. Sai, em pequenos passos, cuidadosamente, até a garagem. Entra no carro, liga o rádio, ouve as notícias, volta e encoraja a todos a saírem e entrarem no veículo. Liga o automóvel e sai, em movimento reduzido, por entre milhões de aves, para então, tomar a estrada litorânea e sumir, deixando para trás a cidade entregue aos pássaros. Fim. A maioria sai do cinema em silêncio. D Célia e os filhos, Carlinhos, Gina, Teca, Tinho e Nando, descem o Beco dos Artistas, atravessam a Praça Deocleciano Teixeira, passam pelo posto de gasolina de Miguel Labanca, percebem que não há ninguém, e seguem em direção à praça Góes Calmon. Ao chegarem à praça, onde moravam, tomam a direção da residência. A cidade estava calma, metafísica, era uma tarde diferente. Entram em casa, incólumes. Lá fora, pardais volteiam e pousam nos fios de tensão.