"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Por dentro das placas

O velho Chico, meu pai, fazia conta com as placas dos veículos. Multiplicava, somava e dava um resultado ou significado, como se fosse aquele cálculo de Zagalo quando ele quer que o resultado seja o número 13. Um dia, chegou Marivaldo Soares com um Volks TC de placa AC2678. Chico não poupou a matemática e disse 26 x 3 = 78.

Naquela época, as placas dos veículos eram com duas letras e quatro números. Isso durou até 1990. Por exemplo: Poções tinha a combinação das placas com as iniciais VS. Iguai VJ, Nova Canaã VP, Conquista tinha duas combinações VX e VZ. VI era Ibicuí e Planalto era VQ. Com estas placas, todo entendido de carro sabia o ano de fabricação pelas iniciais. Nos lugares que havia um par de letras somente, a cronologia era pela ordem crescente dos números da placa.


A estrada para Morrinhos não era asfaltada e passava por lá a Rural de Vicente Orrico com a placa VS0006. Eu aprendi a dirigir no fuscão da minha prima Aurora, que era AB6222. Já Michele, penou para aprender a dirigir no fusca AC7743. Depois que aprendeu, comprou a Brasília AH3763 e trocou pelo fusca AT9203. Pepone veio a aprender mais tarde, tinha um Corcel II azul AN8182 e, mais tarde, uma Elba AU8741, sem esquecer da Marajó AW7743, que meu pai com o sotaque italiano pronunciava "Marujon". Me faltou memória para lembrar a placa do Corcel branco - lembrei agora: AS8778.

No quintal da nossa casa, Chico Pithon Sarno guardava o fusca AD6841 e usava nas estradas da fazenda em Boa Nova. Sola, meu primo, comprou o fusca branco que foi de Gervásio Moura, emplacou em Salvador, e recebeu a nova placa AG0048. Quem comprou um gol daqueles BX, primeira geração, foi meu cunhado Gerson Lima, trocou o fusca AI4941 que era da professora Madalena. O gol foi emplacado como AZ1008.

Comecei minha vida de viajante no fuscão amarelo Fafá de Belém que tinha a placa AK2972. Esse daí, tinha dentro dele um rádio transmissor SSB, de longo alcance. Quando passava em Poções, eu montava a antena e ficava falando com os colegas de trabalho: Não dava outra – ficava rodeado de pessoas ouvindo a conversa.

Cansei de tomar emprestado o Chevette de minha prima de placa AL1618. Tomei vergonha e comprei o meu primeiro carro, uma Variant branca, AL9070, que pertenceu a Afonsinho Liguori. Dois carburadores e valente naquela estrada poeirenta para Guanambi. Depois, troquei por uma Brasília verde comprada na mão de Zé Palladino, de placa VX4038. Fiz rolo e fiquei com a Brasília branca TD2334 (TD eram as iniciais de Guanambi), que pertenceu ao meu sogro Valmir. Me lembro do Fiat 147 de placas VZ8211 e do Uno YV8072 (YX8074, com a correção de Ricardo - veja comentário), que fui comprar no Rio de Janeiro na mão de Adilson Santos, em 1985. Tive, ainda, um Prêmio UM5972.

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5 comentários:

  1. Muito bom esse texto. Memorável!
    Longe de querer apontar qualquer lapso ou fraude da memória, queria apenas contribuir para a grande confusão com minha lembrança esparsa de que a placa do Fiat uno preto comprado de Adilson no Rio tinha Placa YX8074 em vez da referida YV8072. Lembro-me, como bom filho de peixe, porque identificava pela placa do carro a chegada de meus pais para me buscar na escola. Mas (talvez inconscientemente para me diferenciar de meu pai, porque se tentasse copiá-lo certamente ficaria muito aquém dele), de uns tempos para cá, ando me preocupando mais em esquecer do que em lembrar das coisas.

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  2. Luiz fidelis27 janeiro, 2011

    Não me aquentei de ri !! Que memoria Lulu.. Vou sempre fazer uma consultinhas free com você. Diga-me a placa da camionete de Luigi Sarno...

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  3. Luizito conta que a placa da camionete F100 de tio Luiz Sarno era no formato anterior, que continha apenas números: 4-20-28

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  4. Lu,estava atrasada na leitura de suas cronicas maravilhosas!!!!"Che pecato"não faço mas isto.Sua memoria nem precisa ser elogiada, gostaria de 1/3 dela.
    Esperamos pelo seu livro.
    Bjs

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  5. Um foto antiga, trás muitas memórias, texto incrível.

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