"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A Mulinha de Ouro

O terno de Reis de Dona Fetinha era bastante tradicional no mês de janeiro. Como morava defronte da casa dela, acompanhava todos os passos e ajudava a acender as velas dentro das lanternas. Era um misto de pastorinhas, membros da Cruzadinha Eucarística e algumas figuras mais tradicionais da Congregação Mariana e outras entidades religiosas. Chegavam os músicos e a gente seguia pelas principais ruas, mas não visitávamos todas as casas. Era um terno para cantar cantigas religiosas e rezar junto aos imensos presépios que eram construídos (o da casa de Claudionor Mituca era imbatível),

Outros tinham objetivos diferentes e a idéia era passar nas casas para beber. Passavam os ternos do Pavão, da Mulinha de Ouro, do Boi e alguns mais modestos. Independente dos objetivos, mantiveram o folclore e a tradição na nossa cidade por muitos anos, principalmente o terno de Reis que era conduzido por Dr. Alcides dos Reis Pinheiro (coincidência?).

Interessante era ver a figura da mulinha dançando na sala de visitas da nossa casa. Até determinada idade, eu imaginava que ali havia um misto de homem e mula. Da cintura para baixo, o homem ficava dentro do corpo da mula. Havia um estribo pendurado e não compreendia onde ficava a perna da pessoa. Depois, entrava o boi e eles dançavam como se estivessem numa tourada. Os animais muito bem feitos, decorados com um tecido chitão bem vistoso. As roupas dos componentes tinham cores vivas e ainda usavam coroas e cetros. Os instrumentos eram rústicos, mas o som contagiante.

O refrão da música dizia: É de ouro só, a mulinha é de ouro, é de ouro só...

Por vários anos, Chico, meu pai, sempre abriu as portas para receber os ternos de Reis. Deixava pronto um garrafão de licor. O que sobrava, os seguidores levavam. Era tanta gente acompanhando que enchia a sala e a copa.

Em uma bela noite, usaram o banheiro da casa e levaram um barbeador de estimação que havia trazido da Itália. Depois desse fato, ouvia os resmungos dele toda vez que fazia a barba.

Nos anos seguintes, nunca mais o Reis entrou lá em casa. Era cantado na porta da rua, permanecendo a tradição do licor.

Adeus, Mulinha de Ouro!!!

Nota: Hoje, graças ao Sr. Homero, a tradição de cantar Reis em Poções ainda é mantida. Veja apresentação do Terno de Reis filmado pela Rádio Liberdade Fm: http://www.youtube.com/watch?v=v7U9UkQ-4MU&feature=player_embedded

2 comentários:

  1. De carona com Lulu, viajo nas histórias bem vividas e de uma clareza que nos volta aos dias do ocorrido. Saudade de Poções!!! Obrigado Lulu.

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  2. Aí, San!
    Foi num destes ternos de tio Alcides que conheci Poções. Eu deveria ter 7 anos. Não duvido de ter ido a sua casa, mesmo antes de nos conhecer.
    Sergio Queiroz

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