"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

sexta-feira, 12 de julho de 2013

O gato de Poções

Nos anos 80/90, viajei algumas vezes com meu amigo e ex-colega José Carvalho Oliveira. Iamos sempre a Teresina, São Luis, Imperatriz e, uma vez, fomos parar em Manaus, onde comemos um tambaqui na brasa.

Toda as vezes, até os dias de hoje, quando nos encontramos é uma festa. A gente se lembra das histórias, das viagens, do Flamengo de Zico. Eu vou logo pedindo para contar a história do gato. Com o sotaque sergipano, ele que é de Simão Dias, a história fica muito mais engraçada e eu dou gargalhadas com a forma que ele conta.

Para quem teve uma infância no interior e morou em casa com quintal, os gatos e cachorros passam a ser animais especiais. Minha irmã Elisa, sempre me lembra dos apelidos que eu colocava nos gatos que circulavam ali. E os apelidos eram escolhidos pela “personalidade” de cada um deles. “Gato de despensa” era um angorá que circulava para roubar os alimentos na nossa casa. Tinha o “gato de telhado”, que ficava o dia dormindo nas telhas. O “gato de esgoto” era muito paciente, passava o dia todo olhando pelo esgoto esperando aparecer um ratinho.
E foram tantos gatos valentes, astutos, pé-duro, de raça, etc.

Em homenagem a esses gatos, fiz uma versão da história que Zé Carvalho me contava. Lógico que o gato era de Poções, de onde mais poderia ser?

Então, um contador de história de Poções não perde as suas origens e trata de contar para os seus amigos assim:

“Certo dia, cheguei em Poções e minha mãe estava chateada com um gato que criava. O bicho se tornou insuportável e eu sugeri que deveríamos colocar o gato no saco e soltá-lo bem longe, coitado. Assim fiz, coloquei o gato no saco e levei no bagageiro do fusca até a cidade de Vitória da Conquista, 60 quilometros de Poções. Soltei o bichano bem depois da estação rodoviária e fui visitar alguns clientes durante o dia.

Retornei à noite para Poções e, para minha surpresa, quem eu encontro? – O gato. Ele havia voltado para casa. Não acreditava, as histórias de que os gatos retornam para casa se confirmavam. Prometi a minha mãe que levaria o gato para despachá-lo em Brumado na semana seguinte.

Em Brumado, fui fazer uma visita na Magnesita e soltei no meio da mineração. O gato me olhou, passou o rabo na minha perna e ficou ali, quieto, examinando o novo lar. Recebi uma ligação que deveria ir a Guanambi e fiquei lá uns três dias. Era semana santa e voltei a Poções para a paixão de Cristo e Páscoa. Minha mãe foi me receber dizendo que tinha uma surpresa – era o bendito gato, pois ele voltara para casa mais uma vez.

Não era possível, como esse gato conseguia chegar e tão rápido? Bom, agora era questão de honra livrar do gato. Tinha uma viagem programada para a região da Chapada e levei para soltar dentro daquelas cavernas que tem ali próximas à cidade de Lençóis.

Não pedi ajuda a ninguém, achando que poderia me virar sozinho para soltar o gato. Dei voltas, subi e desci serras, procurei a caverna mais profunda e soltei o bicho. Tentei acarinhá-lo, mas como a viagem foi longa, ele saiu em disparada. Pensei, agora minha mãe está livre do bicho!

Sai da caverna, entrei no carro e procurei o caminho para a cidade. Me perdia cada vez que procurava a saída. Comecei a me desesperar.

Quatro horas depois, eu ainda continuava no mesmo lugar. Estava perdido. Só restou uma saída, ligar para minha mãe e perguntar:

- Mãe, o gato chegou aí???

- Já tá aqui, debaixo do fogão da cozinha, faz tempo!!!

- Passe o telefone pra esse infeliz, pra me ensinar a sair daqui…”


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4 comentários:

  1. Rapaz...dei muitas risadas com essa do gato.
    Bichano infeliz!
    Além de voltar pra casa ainda lhe fez ficar perdido. Um bom churrasco resolvia o problema de sua mãe.

    Abraço,
    Pinduca.

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  2. Fico imaginando Zé Carvalho contando esse "causo" e estou dando boas gargalhadas.
    1 abraço.

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  3. Aqui em Morrinhos aconteceu uma história parecida, mas com um ator diferente:um urubu! Iran (dos Leite, primo, dono daquela casa na saída em direção a Iguaí, toda desenhada com palavras religiosas), resolveu criar um urubu. Batizou-o com o nome de Sagres e estabeleceu uma amizade entre os dois. Iran foi pra região das Sete Voltas e levou o amigo que sumiu alguns dias depois. Triste, o primo volta pra casa e eis que é surpreendido por Sagres que o recebe na porta de casa, feliz da vida. Vai entender!

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  4. Aqui em Morrinhos aconteceu uma história parecida, mas com um ator diferente:um urubu! Iran (dos Leite, primo, dono daquela casa na saída em direção a Iguaí, toda desenhada com palavras religiosas), resolveu criar um urubu. Batizou-o com o nome de Sagres e estabeleceu uma amizade entre os dois. Iran foi pra região das Sete Voltas e levou o amigo que sumiu alguns dias depois. Triste, o primo volta pra casa e eis que é surpreendido por Sagres que o recebe na porta de casa, feliz da vida. Vai entender!

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