Resolvemos adiantar os inventários de meu pai e
minha mãe. Fiquei com a incumbência de providenciar as certidões na Receita
Federal, o maior órgão de inteligência do Brasil.
Pontualíssimo o atendimento agendado. Parecia até
horário britânico e, depois das 18, quando todas as repartições públicas já
estão “dormindo”.
Assim se passou a conversa entre esse blogueiro, a
minha filha e o preposto do Leão:
- Nós queremos tirar uma certidão do meu avô, falou
minha filha.
- Já tem o inventariante nomeado? A senhora é a
inventariante?
- Não, precisamos deste documento para fazer a
papelada.
- Só pode ser solicitada por um dos herdeiros.
- Sim, o meu pai aqui é filho, herdeiro.
- Então, preciso da identidade dele e da certidão de
óbito.
- Estão aqui.
- Deixe me ver o documento… Infelizmente não será possível extrair a informação
do sistema. A certidão de óbito não é original, é uma cópia. Só posso fazer com
a certidão original ou cópia autenticada.
- Mas moço, só por isso. O senhor poderia apenas verificar o que está
bloqueando a emissão pela internet?
- Não posso, tenho que atestar a originalidade do
documento, fazer uma cópia e anexar à solicitação. Lembra do caso de José
Serra?
- Lembramos. Mas, meu pai é filho e está aqui presente, dá no mesmo.
- Não, não posso.
- Está bem, compreendemos mas não entendemos. O
senhor poderia, então, verificar o CIC da minha avó, a mãe dele? Temos a
certidão original.
O atendente pega o documento, examina e responde:
- Infelizmente também não, o nome dela está escrito
com dois enes (Anna) e na Identidade do seu pai está apenas com um ene (Ana).
Só se o supervisor liberar.
- O senhor poderia perguntar ao supervisor?
- Sim.
Passados alguns minutos, ele volta sorridente e diz:
- O supervisor liberou. Vou poder acessar o sistema.
Alegria geral no lado de cá do balcão. Conseguimos o
nada-consta de Dona Anna (ou Dona Ana). O de seu Chico, só quando chegar o
documento original ou a cópia autênticada e preciso saber qual dos meus irmãos
tem dois enes no documento de identidade para o leão liberar o documento.
Desde 1956, o nome da minha mãe está grafado na certidão
de nascimento com apenas uma letra ene e todos os meus documentos foram assim obtidos
a partir deste.
Quem sabe, na hora da aposentadoria, eu não precise
desse ene.
E viva os tempos modernos. Viva o país de todos os ennes!!!
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