"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

domingo, 29 de dezembro de 2013

Feliz 2014 - Grandes emoções... Poções!!!

Quando eu estou aqui
Eu vivo esse momento lindo
Olhando pra você
E as mesmas emoções
Sentindo

São tantas já vividas
São momentos
Que eu não me esqueci
Detalhes de uma vida
Histórias que eu contei aqui

Amigos eu ganhei
Saudades eu senti partindo
E às vezes eu deixei
Você me ver chorar sorrindo

Sei tudo que o amor
É capaz de me dar
Eu sei já sofri
Mas não deixo de amar
Se chorei ou se sorri
O importante
É que em POÇÕES eu vivi

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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

O Natal do papagipe

Era a hora de esperar o Papai Noel passar. O sono chegava e eu não resistia, dormia profundamente. Cansaço do dia ativo de qualquer criança naquela idade.

Pelos vidros canelados da porta do quarto, eu sabia que era dia e despertava correndo, ainda vestido com o pijama de flanela que minha mãe costurava. Ia direto para a árvore de Natal e estava lá o presente. Naquele ano, um velocípede novinho, reluzia debaixo do pisca-pisca. Sonhava com um “velocipe”, como eu pronunciava.

A letra da música fazia sentido: …Seja rico ou seja pobre o velhinho sempre vem! Significava, a cada ano, a capacidade financeira dos pais em fazer a alegria dos filhos.

O comércio de Poções era fraco para a compra dos presentes de Natal. O Bazar Natal, de Emério Pithon, era reforçado nessa época e o seu nome era sugestivo. Jaimevique Alves também fazia o mesmo. Por isso, os presentes eram simples, mas eram aqueles que ficávamos admirando dias antes da festa.

Os presentes dados pelos tios completavam as nossas esperanças. Debaixo de cada árvore, sempre tinha um presentinho e nos dava prazer visitá-los nessa manhã.  
Com a renovação dos brinquedos, era a hora de brincar nos passeios da rua da Itália. Juntava-me a Zé Marinho, Zostinho, Bada, Eraldo, Paulin, Zé de Dahil e Zé de Doca e cada um desfilava com o seu brinquedinho novo.

Certo ano, eu ganhei um caminhão “papagipe” (cegonha) de madeira. Uma perfeição de brinquedo. Bem colorido, bem pintado e media uns 45 cm de comprimento, onde podia separar o cavalinho do reboque.

Minha tia Lina fez uma “lona” com furos reforçados com ilhoses e podia, então,  cobrir os pedaços de madeira cortados no tamanho exato do reboque. Quando coberto e amarrado com cordão grosso, tinha a aparência desses jamantas carregadas. A vibração das rodas nos ressaltos do piso do passeio dava a impressão de imponente e realçava o meu “papagipe”.

A interação com as crianças vizinhas, papagipes, velocípedes, presentes dos tios e a expectativa de ver Papai Noel (principalmente, entender como ele entrava numa casa toda fechada) solidificaram a crença no espírito natalino.

Um grande abraço a todos e um feliz Natal.

Nota do blog
Após publicação, recebi um email com os dizeres, abri mesmo um grande sorriso e fiz a devida inserção. Obrigado amigo Zé:

José Carlos Meira Alves, filho de Poções e sempre emociono quando falam da minha terra natal, principalmente você Lulu, com quem tive a honra de brincar de "carrinho", foi muito bom ler você falando do Natal, porque lembrei de detalhes da minha infância, digo,maravilhosa infância. Obrigado Lulu. Não, não você não conhece José Carlos Meira Alves, mas se eu disser Zé de Dahil, tenho certeza que você dará um lindo sorriso. Um grande abraço Amigo irmão.
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segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Uma casa de velhinhos...

Dona Pureza era a mais exaltada do asilo. Hora da merenda e ela queria tomar o suco na caneca branca, a que tinha o seu nome. Ninguém achava a caneca e ela insistiu em um tom mais alto para que procurassem. Tentaram dar o suco em outro recipiente parecido e ela não quis saber.

Só parou de reclamar quando Lala e Edu começaram a tocar. Como música acalma as pessoas, isso estava estampado no sorriso do rosto largo de Dona Rita, outra moradora do asilo, nos seus 70 anos, sentada em um cadeira de rodas.

Terminada a primeira música, Rita perguntou: Como é o nome dessa música? Lala respondeu que se chamava Amor te Matar. Ela deu uma gargalhada e disse: Isso é nome de música?? Né boa não, continuando com a gargalhada.

Neste ano, resolvemos dar uma trégua a Papai Noel. Pedimos para que ele não trouxesse nenhum presente para as nossas casas. O acordo foi selado e todos da família Fagundes participaram - o dinheiro de cada presente seria gasto na compra de mantimentos para um asilo ou instituição de pessoas carentes. Edu e Lala, nossos artistas da música, tocariam e cantariam para animar o dia daquelas pessoas.

Essas manifestações de Pureza e Rita demonstram o bom clima e a harmonia existente entre as 35 mulheres e 60 homens, todos moradores do lugar. Mas, demonstram, também, a carência afetiva, o abandono das famílias e a necessidade de mais ajuda em todos os sentidos. É nessa hora, de coração apertado, que a gente enxerga o descaso do nosso país com pessoas idosas naquelas situações. Faltam os programas e as políticas públicas. Enfim, pessoas que o próprio mundo tenta descartar da sociedade, encontram outras que dedicam parte da sua vida para cuidá-los.

Enquanto a apresentação musical acontecia, em mim havia o misto de alegria e tristeza – alegria em ver como as pessoas vivem naquele momento - harmoniosas e cuidadas; tristeza por compreender que aquele tipo de abandono tende a crescer e, cada vez mais, teremos que contar com a caridade para solucionarmos os problemas em torno do nosso mundo.

Poucos conhecem essa realidade. Veio o sentimento de que doar bens é apenas muito pouco. Aquelas pessoas precisam mesmo é de carinho.

Uma senhora, sentada em outra cadeira de rodas, me fez lembrar daquilo que minha mãe chamava há dezenas de anos atrás, aí em Poções – a casa das velhas. Eram senhoras idosas abandonadas, com pouca mobilidade,  que algumas famílias se acertaram e cada dia levavam a comida para elas. A casa ficava no bairro do Tigre.

Outra casa, na Lagoa Grande, era de três senhoras cegas. Ali, as dificuldades eram maiores e os descuidos com a higiene eram evidentes pela própria deficiência visual.

Meu papel era acompanhar as minhas tias. Eu não imaginava que aqueles gestos de solidariedade ficariam marcados como os primeiros na minha vida. Depois, vieram as freiras para Poções e elas assumiram esse papel na nossa sociedade.

Na tarde de hoje, uma senhora nos conduziu por todos os quartos dos moradores daquele asilo. Ela aparentava os quase 70 anos de idade e um vigor físico impressionante fazia subir e descer escadas. Falava com todos eles de forma a ser atendida como transitasse por aquele lugar há anos.

Com um ar sereno, seus cabelos brancos e rosto gasto pelo tempo, aquela senhora tinha uma única função - de voluntária, decidida a dar todos os seus domingos para os velhinhos da Accabem, a instituição. 

Moradora vizinha do local, ela disse que a sua disponibilidade e dedicação era o que tinha no momento para ajudar àquela gente carente. 

Anônima estava e anônima se manteve.Uma lição de vida para todos nós nessa tarde.


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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Os livros de Poções - O Pintor

De repente, uma tempestade de cultura cai na nossa cidade, Poções.

Os lançamentos dos livros de Affonso Manta e Adilson Santos coroam a cultura poçõense em 2013. Talvez, nessa magnitude, coroem mais alguns anos pra trás e pra frente.

Confesso que foi uma semana muito emocionante pra mim. Na quarta feira, eu vi o trabalho de Adilson transformado em um livro, da forma que consagra e perpetua um artista, quando ele pode receber as homenagens que o reverenciam.

Acompanho-o como parte da minha família. Irmão de pessoas fantásticas como o meu sogro Valmir, de minha tia Dalva e dos falecidos Vandinho, Carlito, Alina e Dolores, pessoas que eu tive a maior admiração,  respeito e amizade – e me adotaram como sobrinho, genro, amigo e conterrâneo, é claro. A convivência com Seu Nenen (Mem Fernandes Santos Freitas), o pai de Adilson, cuja história contei aqui mesmo no Blog pela ocasião dos 100 anos de meu pai Chico, foi anterior e antes de conhecer a sua neta. Então, resumindo, uma família tradicionalmente ligada a nossa Poções com grande contribuição e participação na cultura musical.
Adilson  no Carnaval de Poções, com os seus irmãos Carlito, Dalva e Dolores e a nossa família
De graça, também, a amizade de Vane, prima de Bete, casada com o meu primo Eduardo, pai de Nessa. Pessoas que não tenho como ficar aqui elogiando e adjetivando, pois prefiro conviver com os três e os tenho como aquelas jóias raríssimas que não devem ficar guardadas em gavetas – gasto mesmo toda essa amizade em família.

Eu entrei na família por causa do casamento de Pepone com Rosilma, quando pude conhecer Bete – minha mulher e sobrinha queridíssima de Adilson, que foi a definitiva porta de entrada. Padrinho de casamento, em 1981 ele nos deu de presente a  hospedagem de lua-de-mel em um hotel cinco estrêlas em Campos do Jordão-SP, mas nos obrigou a retornar pelo Rio de Janeiro para um final de semana em Ipanema (devo revelar que Ipanema sempre foi o Rio de Janeiro para Adilson e, nas visitas ao Pão de Açúcar e Corcovado, fui eu que me virei para achar o caminho pois ele não sabia).
Lulu com Adilson Santos, no Corcovado, em 1985
Isso foi em 1985, quando partimos para o Rio de Janeiro em um Fiat 147, onde fomos especialmente participar de uma das suas tantas exposições.

Aqui em casa, nós temos nove quadros, sendo oito de Adilson e um de Roberto de Souza, amigo dele, que nos presenteou na viagem ao Rio de Janeiro. O mais importante é um que mostra a Igrejinha de Poções, duas escadas, uma galinha e a lua (leiam no livro o que cada elemento representa).

Além de apreciar a arte dele, apreciei também os seus carros. Bastava anunciar que estava vendendo e eu comprava (esse 147 foi um deles quando o modelo foi carro um dia na vida).

Sempre disse a Adilson que Raul Seixas se inspirou nele para escrever a música Sessão das Dez. Como se mudou de Conquista para o Rio, a letra de Raul era o retrato dele: "Ao chegar do interior, inocente puro e besta, fui morar em Ipanema, ver teatro, ver cinema, era a minha diversão".

No resumo final, em linhas bem traçadas, está a admiração por esse poçoense e o reconhecimento mais que pessoal pela sua arte e por colocar Poções no mundo como o berço de artistas de nível e reconhecida qualidade.


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Os livros de Poções - O Poeta

A vida tem suas coincidências. A gente depara com elas, mas algumas só tomam corpo com o passar dos tempos. 

Em janeiro de 2011, eu estava almoçando com Adilson Santos no restaurante Caminho da Roça, em Vitória da Conquista. Eis que entram Irundy e Nóelia acompanhado de seu filho Dino Augusto (Leia no Blog sobre o encontro - Dose tripla). 

Conversei com Adilson sobre os seus quadros e com Irundy sobre o livro que Ruy Espinheira Filho organizava com as poesias de Affonso Manta.

Isso, porque, em novembro de 2010, Ruy procurou alguém que pudesse ajudar a providenciar uma autorização de Irundy para a publicação dos contos. De imediato, contatei Michele e Bruno Sangiovanni e a tarefa foi cumprida.

Passados mais de três anos, o lançamento do livro foi feito. Ruy me pediu para providenciar a remessa dos livros para o lançamento em Poções, bem na semana em que o outro livro, o de Adilson, foi lançado. O mesmo Michele foi quem providenciou o transporte e pediu a Daniel Palladino para levá-los.

Hoje, pela manhã, fui até a Assembléia Legislativa do Estado para apanhar as quatro caixas com os livros de Affonso. No caminho, voltando para casa, a emoção tomou conta de mim. Os olhos encheram de lágrimas. Estava transportando a cultura de Poções, a poesia de Affonso, a poesia de Poções - o livro mais esperado na cidade.

Estavam seguindo para as mãos do seu povo, aqueles que o conheceram, admiraram e viram Affonso escrever as suas poesias. Me lembrava da mesa do bar "Sombra da Tarde", onde se juntava com outros amigos. Lembrava da emoção de Irundy com a concretização da obra.

Lembrava de Affonso, lembrava de Poções.


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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A arte do poçoense Adilson Santos é lançada em livros

Adilson em noite de lançamento (Foto: Luiz Sangiovanni)
Em uma concorrida noite de autógrafos, o poçoense Adilson Santos lança os dois livros de pinturas e desenhos numa coleção intitulada O Exercício Livre da Memória, organizada por Irene Santino e patrocinada pela Caixa Econômica Federal. Trata-se do programa cultural que incentiva os melhores artistas brasileiros.

A arte de Adilson, portanto, está exposta ainda mais ao mundo. Tenho a absoluta convicção que o nome de Poções entra de vez para a história da arte e revela-se através da série Poções Fundo de Quintal, pintada com detalhes da infância e adolescência do artista, quando morou na nossa cidade. A série é mostrada em quase metade de um dos livros.

Sexta feira será a vez de Vitória da Conquista conhecer a coleção. Em Poções, segundo revelou Adilson, o lançamento será no dia 10 de janeiro.

Esta coleção é uma obra de arte de tamanha significância para nós, poçoenses, que dá orgulho e trás prestígio no cenário mundial das artes.

Parabéns Adilson. Obrigado pela beleza do seu trabalho.

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domingo, 15 de dezembro de 2013

Ângelo Garrido - Campeão Europeu de Jiu-Jitsu e coração poçoense

Ângelo Garrido em Chieti, na Itália
Ângelo Garrido se tornou ontem (14) o novo CAMPEÃO EUROPEU DE JIU-JITSU, em competição realizada no norte da Itália, na cidade de Chieti.

Sendo casado com minha sobrinha Marianni Fagundes Sangiovanni e genro de Pietro Sangiovanni (Pepone), meu irmão, as ligações de Ângelo com Poções são fortíssimas, participando das Festas do Divino todos os anos, inclusive ministrou aulas de artes marciais na nossa cidade. Portanto, poçoense de coração.

O título é mais que merecido pela sua determinação e dedicação a este e outros esportes. A nossa família se sente honrada pelo fato de a conquista ter sido em solo italiano, a nossa terra de origem.

Ele retornará amanhã da Itália e trarei mais informações detalhadas dessa importante competição.

Ângelo (centro), no Mercado de Poções (com Marcelo, Lulu, Zitão, Raider e Pepone- Foto Arquivo Lulu Sangiovanni)
O blog parabeniza por importante conquista e tenho certeza que Ângelo divide a vitória com todos da nossa cidade.

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Bodas de Ouro - Delza e Antônio Libonati

Antônio e Delza (Foto: Reprodução Sérgio Libonati)
O casal Antônio e Delza Libonati comemorou, ontem (14), as Bodas de Ouro. Renovaram diante do padre Thadeu, amigos e parentes o mesmo “sim”, dito há 50 anos atrás. Cheguei depois da missa, mas pelo cântico escolhido “A Nós Descei, Divina Luz”, evocaram ao Espírito Santo essa renovação.
Lulu, Antônio e Pepone, selando a amizade (Foto: Sérgio Libonati)
Vejo nesse casal um exemplo de relação familiar, convivência, a bela família criada e pela sincera amizade. Além de tudo, tenho o prazer de ter Antônio Libonati como o meu padrinho de batismo, escolha acertada dos meus pais (leia aqui no blog a crônica Benção, Padrinho!!!).

Parabéns ao casal, aos seus filhos, genro, noras e netos. Uma noite extremamente agradável, uma noite de renovação para todos os casais presentes.

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domingo, 8 de dezembro de 2013

Adilson Santos - Lançamento do livro


O livro O Exercício Livre da Memória, do artista plástico poçoense Adilson Santos, terá lançamento duplo em Salvador e Vitória da Conquista, conforme informações no convite acima. O patrocínio é da Caixa Cultural.

Adilson também fará o lançamento em Poções em data a ser definida.

Todos são convidados. Veja o livro em 3D


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Rita Fagundes Marques - Falecimento

Rita Fagundes Marques
Comunico o falecimento de Rita Fagundes Marques (55 anos), ocorrido hoje (08) em Poções. Rita foi minha contemporânea e era irmã dos meus amigos Maria Ornilda e José Onildo Fagundes Marques.
Os meus sentimentos e força aos familiares nesse momento de grande dor e perda.

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quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Irmão Pires

Faleceu nessa segunda (2), em Recife, o meu amigo e irmão Lindbergh Pires.

Tive o prazer de conviver por quase quarenta anos. Nossa amizade começou quando ele conduzia um grupo de jovens e liturgia no Colégio Antonio Vieira, aqui em Salvador. Bete, minha mulher, na época, fazia parte desses dois grupos e me convidava para participar. 

Eu não tinha cacife espiritual e nem formação religiosa para enfrentar o irmão Pires, preferindo ficar ali, no fundo da igreja nas missas dominicais, e na porta do Vieira, nos finais de noite das terças-feiras.
Lindbergh Pires, de camisa escura - Anos 80  (Foto arquivo pessoal).
Mas, ele, habilidoso, mandava me chamar para conduzir a kombi do colégio quando o grupo ia fazer retiro no sítio Loyola, em Abrantes e tratava logo de me encaixar nos pequenos grupos. Assim, eu poderia tomar gosto pelo estudos do grupo. Pires me enquadrava, mas preferia organizar o time de futebol.

Essa relação com o grupo serviu para consolidar uma amizade que se manteve por tantos anos. Pires se tornou “de casa” e todas as férias sempre vinha passar uma semana com a gente.

Assistindo TV, jogando cartas, nas refeições e nos passeios, sempre tivemos a companhia de um ser humano extraordinário com os seus pontos de vista, reflexões, puxões de orelhas. Enfim, uma companhia que valia à pena, que todos queriam. Desfrutamos muito da sua presença.

Ele era Jesuita na Companhia de Jesus, Regente, Compositor, Professor e Dirigente de Curso na UNICAP (Universidade Católica de Pernambuco).
Lindbergh Pires e Luiz Sangiovanni (Foto Arquivo Pessoal)
Em fevereiro, participamos das comemorações dos seus 70 anos de vida e 50 anos na Companhia de Jesus, em Recife, juntamente com os seus principais amigos, familiares, colegas de trabalho e inúmeros alunos do seu Madrigal, com quem realizava várias apresentações no ano.

Falar do meu amigo é dizer que sentirei muitas saudades, mas sempre estará nas minhas orações e no aprendizado de vida.

Lembrarei sempre de um dos seus grandes sucessos cantado nas missas de todo o mundo, que descreve muito bem a sua dedicação pela opção de vida, a de Jesuita.


“Quero ouvir teu apelo Senhor!
Ao teu chamado de Amor responder!
Na alegria te quero servir!
e anunciar o Teu Reino de Amor!!
E pelo mundo eu Vou!
Levando o Teu Amor!...

E disponível estou!
Para servir-te Senhor!
Dia a dia tua Graça me dás,
nela se apoia o meu caminhar!
Se estás ao meu lado Senhor!
O que então poderei eu temer!
E pelo mundo eu vouuu!!
Cantando o Teu Amor!!
Pois disponível estou!
Para servir-te Senhor!”

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domingo, 1 de dezembro de 2013

Affonso de Dr. Ary

Por Eduardo Sarno (especial para o blog do Sangiovanni)
Por ironia, sempre tive ideias políticas e religiosas transversas com as de Affonso Manta Alves Dias. Na época em que eu estudava no Seminário Menor de Amargosa, ele era marxista. Conversávamos muito e havia comentários em Poções de que não ficava bem um rapaz que estudava para ser padre, ajudava a missa e  usava batina,  conversar tanto com um ateu. Mas nossos temas versavam sobre filosofia e teologia e lembro uma vez em que, andando na Rua da Itália, indo para a praça do Obelisco, Affonso me expôs a teoria dos macacos datilógrafos, para refutar a ideia do homem ter sido criado por Deus. Tratava-se de demonstrar a criação como mera casualidade: se cem macacos ficassem datilografando durante cem anos, certamente um deles escreveria uma frase lógica. Como ainda não se completaram os cem anos, deixemos os macacos digitarem em paz...

Anos depois, quando retornei de uma etapa das minhas atividades políticas clandestinas contra a ditadura militar, e já com uma formação marxista consolidada eis que encontro Affonso transmutado em místico medieval, profundamente religioso na teoria e na prática. Fiquei a me perguntar se era o misticismo algo tão forte que havia arrebatado Affonso ou se ele havia acedido por fraqueza. Mas eu não precisava destas respostas, pois sempre houve entre nós um grande respeito pelas ideias e vivências.

O pai de Affonso era Dr. Ary, dono de uma das principais farmácias de Poções, onde, às tardes, os aposentados e amigos jogavam gamão na calçada. Esta paternidade identificava, para os poçoenses a ascendência, pois era conhecido como Affonso de Dr. Ary.

Convivi com Affonso também em Salvador. Certa ocasião, numa manhã de sábado, ao passar pelo Cine Guarany, na praça Castro Alves , fui chamado por ele, que estava sozinho em uma mesa do Bar Cacique. Pedi uma cerveja e entre um papo e outro Affonso ia chamando para a mesa todos os amigos e conhecidos que iam passando. Passava do meio dia, mesa cheia, muitas “brahmas”, Affonso levanta-se, cumprimenta a todos com uma expressão paternal e vai-se, esquecendo a “dolorosa” para ser “rachada” entre os amigos!

A Ladeira dos Aflitos com suas pensões era o local ideal para os estudantes do interior. Por lá passaram Vicente “Cheiroso” Sarno, Antonio Libonati, Geraldo Sarno e o nosso caro Affonso Manta. A sistemática de Affonso era gastar em farras com os amigos a mesada que Dr. Ary mandava, atrasando o pagamento do aluguel. Apesar da compreensão de alguns proprietários, depois de alguns meses ele era despejado e lá se ia Affonso com colchão e mala na cabeça instalar-se na pensão vizinha. Quando este recurso foi esgotado nos Aflitos ele teve de ir para mais longe e chegou até o Corredor da Vitória, na Avenida Sete. Lá havia o pensionato do padre Torrend, jesuíta, e Affonso , confundido com os estudantes que ali moravam instalou-se no sótão do grande sobrado. Quando, meses depois foi descoberto, alegou que só sairia dali se falasse com o diretor, pois, conhecia seus direitos. Informado pelo secretário que o diretor estava em Roma, no Concílio, foi condescendente e não criou caso: “- Pois eu espero ele chegar”, disse ele.

A nossa turma de Poções, Ruy, Tuna e Gey Espinheira, Eraldo Curvelo, Zé Fidelis, Pietro Sangiovanni, o “Pepone” sempre se reencontrava em Salvador e era época das farras ditas “homéricas”, por Ruy. Uma delas teve início no Mercado Modelo. Lá eu havia comprado uma bengala de jacarandá, daquelas que eram feitas na Penitenciária Lemos de Brito. Na sequência decidimos continuar a beberrança em um bar na Rua da Ajuda, no centro.

Affonso disse que podíamos ir na frente, que ele iria depois. Pediu emprestado minha bengala e meus óculos escuros, e disse que iria de olhos fechados !

Copos depois chegou Affonso na Ajuda. Jurou que não havia aberto os olhos e que as pessoas foram muito prestativas. O guarda de trânsito parou o tráfego e alguém lhe pagou a subida no Elevador Lacerda. Na ocasião Affonso nos brindou, e aos demais frequentadores do bar, com a declamação do Cancionero Gitano, de Lorca.

Da Ajuda, onde tivemos de deixar um relógio penhorado a troco de bebida fomos para a Praça da Sé. A madrugada foi nos encontrar no Terreiro de Jesus, onde presenciamos uma cena inusitada. No meio da praça tem uma fonte, e um negão bem vestido empurrava uma negona de volta para dentro da fonte toda vez que ela tentava sair.  Affonso, sensibilizado,  dirigiu-se para o negão e disse :

“- Meu senhor, com licença, por que o senhor está empurrando esta senhora para dentro d’água, evidentemente  contra a sua vontade?”

O negão surpreso nem teve tempo de responder, quando a negona gritou de dentro d’água:
“- O negão é meu e ele me empurra quantas vezes ele quiser e você não tem nada a ver com isso!”

Affonso, pacato, calado, vencido, retirou-se.

Bondoso e socialista era comum alguém receber de Affonso um livro de presente, com dedicatória e depois descobrir, na página seguinte o nome do proprietário. Ruy já recebeu um livro que era dele mesmo!

Affonso trabalhou por uns tempos como guia no Museu de Arte Sacra, no Sodré. Era extremamente agradável ir lá às tardes conversar com ele e acompanhar os grupos de turista que ele, demonstrando um conhecimento profundo, guiava por corredores e salas.

De uma cultura que honra Poções, Affonso é sobretudo um poeta. Não se sabe porém o que isso significa. Pensam alguns poçõenses que poeta é quem conversa com as andorinhas que ficam no beiral da velha Igreja  Matriz do Divino Espírito Santo.

Eduardo Sarno 

Jan/98


Nota do blog:
Essa crônica foi lida pelo autor na ocasião do lançamento do livro de Affonso Manta. Eduardo é poçoense, historiador, livreiro, proprietário da livraria de livros usados, a Grauna. Meu primo especial e também primo de Ruy Espinheira Filho. Colaborador, comentarista e entusiasta do Blog do Sangiovanni, a quem agradeço pela gentil colaboração para publicação nesse espaço.

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sábado, 30 de novembro de 2013

Araci Marinho Schettini - Falecimento

Com atraso, noticio o falecimento da senhora Araci Marinho Schettini, ocorrido domingo passado (24), na cidade de Poções.

Dona Araci teve uma importante participação na minha vida. Vizinha da Rua da Itália (e daquela rua nunca abandonou), eu frequentei a sua casa pela amizade que tinha (e tenho) com os seus filhos José, Fenandinho, Angelina e os falecidos Pepetinha (minha professora) e Miguel Antônio (Satobão). Avó de Gustavo, Rodrigo, Ronaldo e Silvia (me perdoem pelos outros nomes dos seus netos). Sogra de Pedro Sílvino e Dena Tavares. Era viúva de Fernando Schettini (Fernando Bigode).

Em minhas crônicas, eu sempre cito Fernando e Araci em passagens importantes e interessantes como as idas ao Cine Santo Antônio, onde eu ia na frente para reservar os lugares que eles gostavam de sentar (terceira fila, últimas cadeiras da esquerda).

Nos jogos do Atlético de Poções, quando assistíamos a partida perto da bandeiro do escanteio. Quando falo de Dezinho do Leite, não me esqueço de Dona Araci.

Filha da lendária Dona Fetinha, ela dava todo o suporte para que a "cruzadinha" fizesse tanto sucesso.

Amiga da minha mãe, na semana santa, Dona Araci não deixava de enviar uma travessa de vatapá, pois sabia que ela não dominava a culinária baiana.

Enfim, Dona Araci sempre tinha um conselho, uma observação e uma atenção especial para comigo. 

Será uma eterna falta para todos nós, seus vizinhos da rua da Itália.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Affonso Manta - O imortal


AFFONSO MANTA (fonte: germinaliteratura.com.br)

Texto: Fábio Agra do Blog As Casuarinas de Poções

Chegamos por volta das 17h na antiga morada de Góes Calmon, que agora tem como habitantes vários imortais baianos. Subimos a escada, que dá acesso às dependências do Palacete, tentando nos esquivar do final de tarde chuvoso em Salvador. Os bustos dos grandes escritores estão ali prostrados, olhando atentamente a estes visitantes do interior, que vieram da pequena, mas estonteante, cidade de Poções.

Ruy Espinheira Filho (Foto: Fábio Agra)
Aproximamos-nos timidamente, até pela reverência ao local. Em cima de uma mesa logo na entrada, cada um de nós pega um exemplar do livro com capa azul. Em alto-relevo, o nome de Affonso Manta, que há 10 anos partia de vez para o desconhecido, agora estava impresso na coleção Mestres da Literatura da Bahia. Era início de uma noite festiva, de homenagens a este poeta. Era o lançamento de Affonso Manta – Antologia Poética.

Dou mais uns passos e olho de soslaio para a outra sala. Estão sentados à imensa mesa de madeira Ricardo Benedictis, Aramis Ribeiro e o mestre Rui Espinheira Filho. Um pouco tímido, fico reticente em aproximar-me de Rui Espinheira. Enquanto ele conversava e autografava alguns exemplares da Antologia Poética, que ele selecionou e organizou, uma mulher anuncia que o pessoal de Poções chegou. Rui vira-se um pouco de lado e nos vê. Diz então - Que maravilha! Pegamos nossos livros e os deixamos a postos para serem autografados também. Até então, não dizemos uma palavra. Ficamos contemplando o ambiente, que passa a pertencer também a Affonso Manta. Aos poucos, mais pessoas vão chegando.
Ruy e os amigos poçoenses (foto: Élvio Magalhães)
Com um grande sorriso, Eduardo Sarno adentra a sala de braços abertos. Em seguida chega Tuna Espinheira. Ricardo Benedictis nos apresenta a Rosa Alba Sarno, irmã do cineasta Geraldo Sarno. Aos poucos, vamos familiarizando-nos uns com os outros e as histórias sobre Poções vão vindo à memória, são contadas. Rosa Alba fica entusiasmada ao lembrar-se do cinema. Conta como Irineu Sarno atentava em algumas sessões. Com muita elegância, ela caía na risada. Dizia, então, com um saudosismo estampado no olhar – Preciso ir a Poções. Estávamos – Dinho Oliveira, Gildásio Júnior, Marcelo Santos, Zezel Leite, Telma Carmezina, Júlia Letícia, Lucimar Alves, Sílvio Persi e eu – ouvindo atentamente Rosa Alba e Eduardo Sarno, enquanto isso Tuna Espinheira contava-me que seu próximo filme, O imaginário de Juraci Dórea no Sertão/Veredas, seria lançado em meados de dezembro em Salvador, com exibição única.

Naquele instante, Poções estava ali com seus cinemas, com a velha Igreja Matriz, a rua da Itália, a praça do Obelisco. Tudo cabia em apenas uma sala da Academia de Letras da Bahia. Várias gerações respiravam a poesia de Affonso Manta e o nome da cidade era dito com galhardia.

Paramos por um momento para ouvir atentamente Rui Espinheira Filho dizer sobre a Antologia, sobre Affonso. Com uma voz rouca e firme, Rui exalta o nosso querido poeta. O põe entre os grandes. Faz-nos entender que em algum momento Affonso será reconhecido como um dos maiores poetas da segunda metade do século 20.

Ruy fala da sua convivência com Affonso (Foto: Zezel Leite)
- Desde Poções que nós viemos com uma longa conversa, longa convivência. Eu sei que o que eu fiz aqui iria agradar muito Affonso. Esta é a grande recompensa minha deste trabalho: trazer um livro de um poeta importantíssimo. Tenho enviado exemplares para fora. Está fazendo sucesso e espantando as pessoas que estão mal acostumadas com poetinhas de segunda e terceira categorias. De repente pegam um poeta dessa qualidade e ficam de boca aberta. ‘Ah, mas nunca ouvi falar’ - O problema é seu. O problema não é dele, não. Ouviu falar agora. Então passe a falar dele, passe a lê-lo e passe a divulgá-lo.

Então, como se estivesse em uma demonstração do que acabara de dizer, Rui lê dois poemas de Affonso: Relâmpagos e Quando esta noite passar... Em seguida diz - Meu velho amigo Affono Manta. Ele, com certeza, está por aqui porque ele era sempre surpreendente. Deve estar dando boas risadas dessa minha tarefa inesperada também.

A noite passou, Affonso, com alguns relâmpagos, e agora você já é imortal, mesmo sem ocupar alguma cadeira da Academia. Tornou-se imortal simplesmente porque sua poesia o fez assim. Quanto a nós, regressamos a Poções, ainda em meio à chuva, e trouxemos além do velho Affonso Manta, as memórias de Eduardo Sarno, de Rosa Alba Sarno, de Rui Espinheira Filho...


Nota do blog
Por razões profissionais, tive que viajar e não participei do lançamento do livro de Affonso Manta. Já havia comunicado essa ausência e parabenizando a Ruy pelo expressivo trabalho, no domingo passado. Solicitei a Fábio Agra a autorização antecipada para a publicação do texto acima. À minha amiga vereadora Zezel Leite solicitei que me representasse oficialmente no evento. Parabenizo aos amigos de Poções que estiveram presentes, sem medirem esforços e riscos de uma viagem no estilo bate-volta para prestigiarem o importante lançamento.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

As Casuarinas de Poções - O blog


Poções ganha um novo Blog.
O autor, jornalista Fábio Agra, me pergunta o nome daquelas árvores da praça do Obelisco. Respondi que se chamam “eucaliptos”, como muitos conhecem. Ele faz um arrodeio, diz que vai pesquisar e me retorna horas depois, dizendo que se chamam Casuarinas, e que vai criar um blog com esse nome.
As Casuarinas de Poções
Ele já sabia tudo, o nome das árvores e a história das casuarinas. Não é o mais bonito, comentei, mas é bastante próprio para uma cidade como Poções. Tratei logo de mandar uma foto que tenho da praça com as imponentes árvores. Todos os seus moradores já tiveram uma história naquele lugar ou pelo menos ouviram o som interminável do vento passando pelos finos ramos das árvores ou, então, cataram os pequenos peões para decorarem presépios de Natal.

Portanto, acertou em cheio com a escolha do nome.
Praça da Liberdade, Praça do Obelisco, Praça da Prefeitura – tanto faz, hoje passa a se chamar Praça das Casuarinas. A árvore empresta o seu nome e Fábio devolve com a proposta de resgatar nossa cultura e sua gente com matérias interessantes.

Parabéns Fábio, parabéns Poções!!!
http://ascasuarinasdepocoes.blogspot.com.br

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domingo, 24 de novembro de 2013

Livro de Affonso Manta é destaque no Almoço Anual da Familia Sarno

Aconteceu, hoje (24), o encontro anual da família Sarno, aqui em Salvador. O encontro é realizado na centenária Casa d`Itália, tradicional reduto dos italianos radicados em Salvador, por mais de 30 anos.

Ruy Espinheira Filho fala sobre o livro de Affonso Manta (fotos Eduardo Sarno)
Contou com a honrosa presença do poeta e escritor Ruy Espinheira Filho, primo da família, que falou sobre o lançamento do livro do nosso poeta Affonso Manta. Ruy falou da importância de Affonso para a nossa cultura, considerando-o um dos grandes poetas brasileiros. O livro será uma descoberta no meio poético brasileiro.
Também mencionou a sua relação pessoal com o poeta e garante que o livro trás o melhor de Affonso.

Railda Sarno recebe o livro de Affonso Manta
No final das suas palavras, dois livros foram especialmente entregues a Fidélis Sarno e Railda Vasconcelos Sarno, os dois representantes mais velhos da família, que tiveram convivência próxima com Affonso.


José Fidélis Sarno lê o poema Guerreiro, de Affonso Manta.
O primo José Fidélis Sarno comentou sobre a importância do livro para a sua geração e que ajuda a resgatar bons momentos, trazendo à memória a nossa querida Poções. No final das suas palavras, leu o poema Guerreiro, publicado no Caderno 2, edição de ontem do jornal A Tarde, que transcrevo abaixo:

Existe em mim um bárbaro guerreiro
Ousado ou dispersivo, não sei bem,
Que insiste em arriscar tudo o que tem
Num momento veloz e passageiro.
Sem procurar saber se me convém,
Gasto em frivolidades meu dinheiro,
Fico bebendo, fumo o tempo inteiro
E varo a madrugada olhando o além.
Esse jeito boêmio e sem juízo
Talvez não seja aquilo que eu preciso
Para me conduzir bem como gente.
Mas, seja ou não o que mais me convenha,
E apesar de eu não ser papel nem lenha,
Um fogo me consome inteiramente.
O livro será lançado na quinta-feira, 28, às 18 horas, na Academia de Letras da Bahia (veja post abaixo).

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Antologia Poética - Afonso Manta / Ruy Espinheira - Lançamento


Do facebook para o cemitério

Ontem, eu almoçava com alguns colegas de trabalho, torcedores do Bahia, e falávamos de Perivaldo da Pituba, aquele jogador, lateral do time, que recentemente foi mostrado morando em Portugal. 

Nenhum deles tinha visto Perivaldo jogar bola, descer pela lateral esquerda acenando, pedindo o cruzamento e partindo pra cima. Eram as marcas registradas do jogador nas tardes dos domingos na Fonte Nova.

Alguém quis se lembrar do técnico da época e perguntou quem era o velhinho que treinava o time. ...Titio Fantoni? perguntei e reclamei: vocês são fracos de memória, talvez não se lembrem de Evaristo de Macêdo, Candinho, Joel Santana e …

Um deles, sacou o telefone e foi pesquisar. Acabou dizendo: Não sei como as pessoas viviam sem smartfone – a gente sabe tudo na hora!!!

Pra que essa pressa? perguntei. Você não chegará mais longe só por causa desse telefone. 

Melhor foi ter visto, ter vivido. Agora, me desculpem: vocês são uns torcedores de m…., não sabem a história do time!

A sorte deles é esse tal de Smartfone e o tal do facebook. Um para ajudar a lembrar e o outro para ser lembrado.

Lembrado é a palavra correta, é verdade. Todo perfil de facebook já vem com a mesma foto que vai ser utilizada no cemitério. Lá, as lápides mostram fotos das pessoas em momentos felizes, sorrindo, iguaizinhas àquelas que a rede social já mostra (a minha, por exemplo).

Com essa mania de fotografia que vivo, algumas pessoas me pedem fotos e eu pergunto:  Você quer para facebook ou para a lápide do cemitério? A escolha é sua…


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sábado, 16 de novembro de 2013

No tempo do lenço

Recebi um texto que fala sobre o uso do paletó, escrito pelo meu primo Eduardo Sarno. Não sei se ele autoriza, mas vou convencê-lo que é uma interessante crônica e gostaria de publicá-la aqui no blog.

Mas, falando de paletó, me lembrei do tempo em que se usava lenço, aquela peça de tecido de algodão medindo uns 30x30 cm. Foi por muito tempo uma opção quando a pessoa preferia dar um presente baratinho. Eram vendidos numas caixinhas de papelão, bem dobrados, e de cores variadas. O mais famoso deles era o Lenço Presidente, que até hoje é fabricado.

Quando me mudei para Salvador, minha mãe colocou uns três na minha bagagem. Confesso que só usava no dias que ficava gripado e era uma bomba ambulante de transmissão de germes, sem esquecer do “catarro” que ficava grudado entre as dobras e eu virava para aproveitar o outro lado, ainda limpo.

O lenço tinha a sua utilização mais variada, aplicada no dia-a-dia das pessoas. Me lembro de Fernando Schettini (Bigode) quando assistia às partidas de futebol. Lá, quase na bandeira do escanteio, ficava sentado em um adobão (tijolo de barro) e com o lenço na cabeça. Ele dava quatro nós, um em cada ponta do lenço, e o transformava numa touca para se proteger do sol.

Meu tio Luis Sarno, tinha o costume de usar o “torrado”, cheirando pelo nariz. Terminava a colocação do torrado e puxava o lenço para limpar o nariz dando aquelas assoadas.

Giovanni Sola, puxava do bolso aquele “embolado” de lenço e assoava o pó de serra que acumulava no nariz. O quadrado do lenço virava no final do dia um bolo.

De lenço embolado eu me lembro bem. Meu pai me levou pra passear na Rural Willians de Rafael Schettini, junto com José Domarco, Américo Libonati e Giovanni Sola. Fomos ver o asfaltamento da BR116, lá perto do Pituba. Eu sei que me deram um picolé e melei o rosto inteiro. Chico, meu pai, pegou o lenço embolado no bolso, deu umas cusparadas nele e esfregou no meu rosto para limpar o melado do picolé.

Numa boa, embolou outra vez e colocou no bolso.

Nota do blog .
Encontrei Antônio Libonati depois da crônica publicada e ele lembrava que os lenços eram usados na igreja durante a missa. Serviam para os homens ajoelharem sobre ele, evitando, portanto, que sujassem a calça. Mas, Libonati, como médico, lembrou da falta de higiene que era o uso do lenço sujo limpando o nariz.

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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Antologia Poética - Affonso Manta

O Poeta Affonso Manta
Confirmado o lançamento do livro Antologia Poética, trazendo as poesias do nosso poeta Affonso Manta. O livro foi organizado pelo também poeta e escritor Ruy Espinheira Filho. Acontecerá do dia 28 de novembro, após às 17 horas, na Academia de Letras da Bahia, Av. Joana Angélica, 198 – Palacete Góes Calmon, no bairro de Nazaré, aqui em Salvador.

O convite foi reforçado por Irundy Manta Alves Dias, o irmão do poeta, que me ligou de Poções muito entusiasmado, e pelo autor Ruy Espinheira Filho. 

Convite feito, aguardo a presença de vocês no evento.


Transcrevo o que escreveu sobre o livro o poeta Carlos Machado, no poeta.net:

Caros,

O que é um poeta? A rigor, não sei. A arte é sempre maior que as definições. Mas a falta de uma definição — ou de um manual de reconhecimento — não constitui nenhum empecilho quando estamos diante do trabalho de um verdadeiro poeta. E este é o caso do baiano Affonso Manta (1939-2003).

Travei o primeiro contato com a poesia de Manta no mesmo ano de sua morte. Na época, publiquei o boletim n. 48, dedicado a ele. Volto agora ao trabalho de Manta após a publicação de sua
Antologia Poética, organizada por Ruy Espinheira Filho (poesia.net n. 18 e n. 284).

A distribuição dos textos feita por Espinheira Filho na
Antologia ajuda a realçar o quanto de sensibilidade e invenção lírica existe no trabalho e na personalidade do poeta. “Lá vai, lá vai, lá vai Affonso Manta / Pela rua lilás”, escreve Manta. No mesmo poema, ele se autodefine como “o rei da extravagância, o sem maldade”.

Dono de todos os sonhos e investido de todas as forças líricas, no poema “O Cavalheiro sem Anéis”, ele também se retrata: “Eu sou a própria roupa do crepúsculo”. Neste decassílabo forte e desconcertante, a aliteração em “p”, combinada com os erres de “roupa” e dos encontros consonantais “cr” e “pr”, provoca uma sensação que só um poeta de ouvido refinado sabe extrair das palavras.


O verso estimula a imaginação. Que cor teria a roupa do crepúsculo? Talvez amarelo-sangue. Talvez púrpura com semitons de carmim, ou tudo isso mesclado. No estrato dos sons e (sugestão de) movimentos, a aliteração me leva a imaginar o poeta vestido com a capa — ou manta? — do entardecer drapejada pelo vento. Mas o texto, afinal, não autoriza a disjunção entre poeta e roupa: as duas entidades líricas são uma coisa só.

Além disso, a proparoxítona “crepúsculo” estabelece um fechamento brusco, mais agitado, como se uma lufada de vento mais forte sacudisse a roupa. É por isso que faz todo o sentido a afirmação no início do poema: “Quando me visto de pôr-do-sol / Os anjos ficam loucos”. Não é todo dia, nem todo ano, nem todo quinquênio que aparecem versos assim (pelo menos para este leitor, amador-profissional, do
poesia.net).

“Eu sou a própria roupa do crepúsculo”. Beleza e angústia. Beleza angustiada.

“Nasceram-me gaivotas nos sentidos”. “Pouca coisa sei da vida. / O bastante para não correr”. “Crie canários verdes na varanda / Onde os meninos brincam de ciranda”.

Creio que os versos de Affonso Manta falam por si mesmos. Mas é impossível não destacar a musicalidade e a esperança triste contidas na canção “Quando Esta Noite Passar”. Até nos rabiscos, simples anotações, o poeta revela sua potência lírica e, mais que isso, sua profunda consciência sobre as possibilidades e limites do fazer poético. “Há que deixar em paz o poema. / Ou o poema nos afeta. / O poema há de ser perfeito. / Ou ele come o poeta”. Brilhante.

É por momentos de tal iridescência, para usar um termo mantiano, que o poeta Ruy Espinheira Filho diz no prefácio da
Antologia que Affonso Manta foi um “conhecedor como poucos da arte do verso”. E diz mais: “Ele foi essencialmente poeta, como raros o são. João Guimarães Rosa dizia que as pessoas não morrem: ficam encantadas. Affonso Manta não esperou morrer para se encantar: foi um encantado a vida inteira”.

•o•
Affonso Manta nasceu em Salvador (BA), em 1939. Ainda bebê, mudou-se com a família para Poções, onde o pai, médico, iria trabalhar. Aos doze anos, volta para Salvador. Lá, terminou o curso clássico no Colégio Estadual da Bahia. Depois, entrou em Ciências Sociais na UFBA, mas não concluiu o curso. Professor, jornalista, funcionário público, Manta gostava mesmo era da boemia. Como diz o poeta Ruy Espinheira Filho, era um "boêmio impeninente". Viveu alguns anos no Rio de Janeiro, como inspetor dos Correios e Telégrafos. Morreu em Poções, em 2003.

•o•

Apenas um ponto a lamentar. Parte da coleção Mestres da Literatura Baiana, a
Antologia Poética de Affonso Manta foi publicada pela Academia de Letras da Bahia com o patrocínio da Assembleia Legislativa do Estado. Como publicação oficial, fora de comércio, não vai chegar às livrarias. Chegará a bibliotecas e a uns poucos felizardos, entre os quais me incluo. Uma pena.

Poetas como Affonso Manta, assim como vários outros poetas-poetas destes Brasis, precisam ser retirados da virtual clandestinidade em que se encontram e divulgados para todo o país. Afinal, eles representam uma parte do que há de mais refinado no espírito brasileiro.

Um abraço, e até mais ler,
Carlos Machado