AFFONSO MANTA (fonte: germinaliteratura.com.br) |
Texto: Fábio Agra do Blog As Casuarinas de Poções
Chegamos por volta das 17h na antiga
morada de Góes Calmon, que agora tem como habitantes vários imortais baianos.
Subimos a escada, que dá acesso às dependências do Palacete, tentando nos
esquivar do final de tarde chuvoso em Salvador. Os bustos dos grandes
escritores estão ali prostrados, olhando atentamente a estes visitantes do
interior, que vieram da pequena, mas estonteante, cidade de Poções.
Ruy Espinheira Filho (Foto: Fábio Agra) |
Aproximamos-nos timidamente, até pela
reverência ao local. Em cima de uma mesa logo na entrada, cada um de nós pega
um exemplar do livro com capa azul. Em alto-relevo, o nome de Affonso Manta,
que há 10 anos partia de vez para o desconhecido, agora estava impresso na
coleção Mestres da Literatura da Bahia. Era início de uma noite festiva, de
homenagens a este poeta. Era o lançamento de Affonso Manta – Antologia Poética.
Dou mais uns passos e olho de soslaio
para a outra sala. Estão sentados à imensa mesa de madeira Ricardo Benedictis,
Aramis Ribeiro e o mestre Rui Espinheira Filho. Um pouco tímido, fico reticente
em aproximar-me de Rui Espinheira. Enquanto ele conversava e autografava alguns
exemplares da Antologia Poética, que
ele selecionou e organizou, uma mulher anuncia que o pessoal de Poções chegou.
Rui vira-se um pouco de lado e nos vê. Diz então - Que maravilha! Pegamos
nossos livros e os deixamos a postos para serem autografados também. Até então,
não dizemos uma palavra. Ficamos contemplando o ambiente, que passa a pertencer
também a Affonso Manta. Aos poucos, mais pessoas vão chegando.
Ruy e os amigos poçoenses (foto: Élvio Magalhães) |
Naquele instante, Poções estava ali com
seus cinemas, com a velha Igreja Matriz, a rua da Itália, a praça do Obelisco.
Tudo cabia em apenas uma sala da Academia de Letras da Bahia. Várias gerações
respiravam a poesia de Affonso Manta e o nome da cidade era dito com galhardia.
Paramos por um momento para ouvir
atentamente Rui Espinheira Filho dizer sobre a Antologia, sobre Affonso. Com uma voz rouca e firme, Rui exalta o
nosso querido poeta. O põe entre os grandes. Faz-nos entender que em algum
momento Affonso será reconhecido como um dos maiores poetas da segunda metade
do século 20.
Ruy fala da sua convivência com Affonso (Foto: Zezel Leite) |
Então, como se estivesse em uma demonstração do que acabara de dizer, Rui lê dois poemas de Affonso: Relâmpagos e Quando esta noite passar... Em seguida diz - Meu velho amigo Affono Manta. Ele, com certeza, está por aqui porque ele era sempre surpreendente. Deve estar dando boas risadas dessa minha tarefa inesperada também.
A noite passou, Affonso, com alguns
relâmpagos, e agora você já é imortal, mesmo sem ocupar alguma cadeira da
Academia. Tornou-se imortal simplesmente porque sua poesia o fez assim. Quanto
a nós, regressamos a Poções, ainda em meio à chuva, e trouxemos além do velho
Affonso Manta, as memórias de Eduardo Sarno, de Rosa Alba Sarno, de Rui
Espinheira Filho...
Nota do blog
Por razões profissionais, tive que viajar e não participei do lançamento do livro de Affonso Manta. Já havia comunicado essa ausência e parabenizando a Ruy pelo expressivo trabalho, no domingo passado. Solicitei a Fábio Agra a autorização antecipada para a publicação do texto acima. À minha amiga vereadora Zezel Leite solicitei que me representasse oficialmente no evento. Parabenizo aos amigos de Poções que estiveram presentes, sem medirem esforços e riscos de uma viagem no estilo bate-volta para prestigiarem o importante lançamento.
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