"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Affonso Manta - O imortal


AFFONSO MANTA (fonte: germinaliteratura.com.br)

Texto: Fábio Agra do Blog As Casuarinas de Poções

Chegamos por volta das 17h na antiga morada de Góes Calmon, que agora tem como habitantes vários imortais baianos. Subimos a escada, que dá acesso às dependências do Palacete, tentando nos esquivar do final de tarde chuvoso em Salvador. Os bustos dos grandes escritores estão ali prostrados, olhando atentamente a estes visitantes do interior, que vieram da pequena, mas estonteante, cidade de Poções.

Ruy Espinheira Filho (Foto: Fábio Agra)
Aproximamos-nos timidamente, até pela reverência ao local. Em cima de uma mesa logo na entrada, cada um de nós pega um exemplar do livro com capa azul. Em alto-relevo, o nome de Affonso Manta, que há 10 anos partia de vez para o desconhecido, agora estava impresso na coleção Mestres da Literatura da Bahia. Era início de uma noite festiva, de homenagens a este poeta. Era o lançamento de Affonso Manta – Antologia Poética.

Dou mais uns passos e olho de soslaio para a outra sala. Estão sentados à imensa mesa de madeira Ricardo Benedictis, Aramis Ribeiro e o mestre Rui Espinheira Filho. Um pouco tímido, fico reticente em aproximar-me de Rui Espinheira. Enquanto ele conversava e autografava alguns exemplares da Antologia Poética, que ele selecionou e organizou, uma mulher anuncia que o pessoal de Poções chegou. Rui vira-se um pouco de lado e nos vê. Diz então - Que maravilha! Pegamos nossos livros e os deixamos a postos para serem autografados também. Até então, não dizemos uma palavra. Ficamos contemplando o ambiente, que passa a pertencer também a Affonso Manta. Aos poucos, mais pessoas vão chegando.
Ruy e os amigos poçoenses (foto: Élvio Magalhães)
Com um grande sorriso, Eduardo Sarno adentra a sala de braços abertos. Em seguida chega Tuna Espinheira. Ricardo Benedictis nos apresenta a Rosa Alba Sarno, irmã do cineasta Geraldo Sarno. Aos poucos, vamos familiarizando-nos uns com os outros e as histórias sobre Poções vão vindo à memória, são contadas. Rosa Alba fica entusiasmada ao lembrar-se do cinema. Conta como Irineu Sarno atentava em algumas sessões. Com muita elegância, ela caía na risada. Dizia, então, com um saudosismo estampado no olhar – Preciso ir a Poções. Estávamos – Dinho Oliveira, Gildásio Júnior, Marcelo Santos, Zezel Leite, Telma Carmezina, Júlia Letícia, Lucimar Alves, Sílvio Persi e eu – ouvindo atentamente Rosa Alba e Eduardo Sarno, enquanto isso Tuna Espinheira contava-me que seu próximo filme, O imaginário de Juraci Dórea no Sertão/Veredas, seria lançado em meados de dezembro em Salvador, com exibição única.

Naquele instante, Poções estava ali com seus cinemas, com a velha Igreja Matriz, a rua da Itália, a praça do Obelisco. Tudo cabia em apenas uma sala da Academia de Letras da Bahia. Várias gerações respiravam a poesia de Affonso Manta e o nome da cidade era dito com galhardia.

Paramos por um momento para ouvir atentamente Rui Espinheira Filho dizer sobre a Antologia, sobre Affonso. Com uma voz rouca e firme, Rui exalta o nosso querido poeta. O põe entre os grandes. Faz-nos entender que em algum momento Affonso será reconhecido como um dos maiores poetas da segunda metade do século 20.

Ruy fala da sua convivência com Affonso (Foto: Zezel Leite)
- Desde Poções que nós viemos com uma longa conversa, longa convivência. Eu sei que o que eu fiz aqui iria agradar muito Affonso. Esta é a grande recompensa minha deste trabalho: trazer um livro de um poeta importantíssimo. Tenho enviado exemplares para fora. Está fazendo sucesso e espantando as pessoas que estão mal acostumadas com poetinhas de segunda e terceira categorias. De repente pegam um poeta dessa qualidade e ficam de boca aberta. ‘Ah, mas nunca ouvi falar’ - O problema é seu. O problema não é dele, não. Ouviu falar agora. Então passe a falar dele, passe a lê-lo e passe a divulgá-lo.

Então, como se estivesse em uma demonstração do que acabara de dizer, Rui lê dois poemas de Affonso: Relâmpagos e Quando esta noite passar... Em seguida diz - Meu velho amigo Affono Manta. Ele, com certeza, está por aqui porque ele era sempre surpreendente. Deve estar dando boas risadas dessa minha tarefa inesperada também.

A noite passou, Affonso, com alguns relâmpagos, e agora você já é imortal, mesmo sem ocupar alguma cadeira da Academia. Tornou-se imortal simplesmente porque sua poesia o fez assim. Quanto a nós, regressamos a Poções, ainda em meio à chuva, e trouxemos além do velho Affonso Manta, as memórias de Eduardo Sarno, de Rosa Alba Sarno, de Rui Espinheira Filho...


Nota do blog
Por razões profissionais, tive que viajar e não participei do lançamento do livro de Affonso Manta. Já havia comunicado essa ausência e parabenizando a Ruy pelo expressivo trabalho, no domingo passado. Solicitei a Fábio Agra a autorização antecipada para a publicação do texto acima. À minha amiga vereadora Zezel Leite solicitei que me representasse oficialmente no evento. Parabenizo aos amigos de Poções que estiveram presentes, sem medirem esforços e riscos de uma viagem no estilo bate-volta para prestigiarem o importante lançamento.

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