"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

domingo, 29 de dezembro de 2013

Feliz 2014 - Grandes emoções... Poções!!!

Quando eu estou aqui
Eu vivo esse momento lindo
Olhando pra você
E as mesmas emoções
Sentindo

São tantas já vividas
São momentos
Que eu não me esqueci
Detalhes de uma vida
Histórias que eu contei aqui

Amigos eu ganhei
Saudades eu senti partindo
E às vezes eu deixei
Você me ver chorar sorrindo

Sei tudo que o amor
É capaz de me dar
Eu sei já sofri
Mas não deixo de amar
Se chorei ou se sorri
O importante
É que em POÇÕES eu vivi

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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

O Natal do papagipe

Era a hora de esperar o Papai Noel passar. O sono chegava e eu não resistia, dormia profundamente. Cansaço do dia ativo de qualquer criança naquela idade.

Pelos vidros canelados da porta do quarto, eu sabia que era dia e despertava correndo, ainda vestido com o pijama de flanela que minha mãe costurava. Ia direto para a árvore de Natal e estava lá o presente. Naquele ano, um velocípede novinho, reluzia debaixo do pisca-pisca. Sonhava com um “velocipe”, como eu pronunciava.

A letra da música fazia sentido: …Seja rico ou seja pobre o velhinho sempre vem! Significava, a cada ano, a capacidade financeira dos pais em fazer a alegria dos filhos.

O comércio de Poções era fraco para a compra dos presentes de Natal. O Bazar Natal, de Emério Pithon, era reforçado nessa época e o seu nome era sugestivo. Jaimevique Alves também fazia o mesmo. Por isso, os presentes eram simples, mas eram aqueles que ficávamos admirando dias antes da festa.

Os presentes dados pelos tios completavam as nossas esperanças. Debaixo de cada árvore, sempre tinha um presentinho e nos dava prazer visitá-los nessa manhã.  
Com a renovação dos brinquedos, era a hora de brincar nos passeios da rua da Itália. Juntava-me a Zé Marinho, Zostinho, Bada, Eraldo, Paulin, Zé de Dahil e Zé de Doca e cada um desfilava com o seu brinquedinho novo.

Certo ano, eu ganhei um caminhão “papagipe” (cegonha) de madeira. Uma perfeição de brinquedo. Bem colorido, bem pintado e media uns 45 cm de comprimento, onde podia separar o cavalinho do reboque.

Minha tia Lina fez uma “lona” com furos reforçados com ilhoses e podia, então,  cobrir os pedaços de madeira cortados no tamanho exato do reboque. Quando coberto e amarrado com cordão grosso, tinha a aparência desses jamantas carregadas. A vibração das rodas nos ressaltos do piso do passeio dava a impressão de imponente e realçava o meu “papagipe”.

A interação com as crianças vizinhas, papagipes, velocípedes, presentes dos tios e a expectativa de ver Papai Noel (principalmente, entender como ele entrava numa casa toda fechada) solidificaram a crença no espírito natalino.

Um grande abraço a todos e um feliz Natal.

Nota do blog
Após publicação, recebi um email com os dizeres, abri mesmo um grande sorriso e fiz a devida inserção. Obrigado amigo Zé:

José Carlos Meira Alves, filho de Poções e sempre emociono quando falam da minha terra natal, principalmente você Lulu, com quem tive a honra de brincar de "carrinho", foi muito bom ler você falando do Natal, porque lembrei de detalhes da minha infância, digo,maravilhosa infância. Obrigado Lulu. Não, não você não conhece José Carlos Meira Alves, mas se eu disser Zé de Dahil, tenho certeza que você dará um lindo sorriso. Um grande abraço Amigo irmão.
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segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Uma casa de velhinhos...

Dona Pureza era a mais exaltada do asilo. Hora da merenda e ela queria tomar o suco na caneca branca, a que tinha o seu nome. Ninguém achava a caneca e ela insistiu em um tom mais alto para que procurassem. Tentaram dar o suco em outro recipiente parecido e ela não quis saber.

Só parou de reclamar quando Lala e Edu começaram a tocar. Como música acalma as pessoas, isso estava estampado no sorriso do rosto largo de Dona Rita, outra moradora do asilo, nos seus 70 anos, sentada em um cadeira de rodas.

Terminada a primeira música, Rita perguntou: Como é o nome dessa música? Lala respondeu que se chamava Amor te Matar. Ela deu uma gargalhada e disse: Isso é nome de música?? Né boa não, continuando com a gargalhada.

Neste ano, resolvemos dar uma trégua a Papai Noel. Pedimos para que ele não trouxesse nenhum presente para as nossas casas. O acordo foi selado e todos da família Fagundes participaram - o dinheiro de cada presente seria gasto na compra de mantimentos para um asilo ou instituição de pessoas carentes. Edu e Lala, nossos artistas da música, tocariam e cantariam para animar o dia daquelas pessoas.

Essas manifestações de Pureza e Rita demonstram o bom clima e a harmonia existente entre as 35 mulheres e 60 homens, todos moradores do lugar. Mas, demonstram, também, a carência afetiva, o abandono das famílias e a necessidade de mais ajuda em todos os sentidos. É nessa hora, de coração apertado, que a gente enxerga o descaso do nosso país com pessoas idosas naquelas situações. Faltam os programas e as políticas públicas. Enfim, pessoas que o próprio mundo tenta descartar da sociedade, encontram outras que dedicam parte da sua vida para cuidá-los.

Enquanto a apresentação musical acontecia, em mim havia o misto de alegria e tristeza – alegria em ver como as pessoas vivem naquele momento - harmoniosas e cuidadas; tristeza por compreender que aquele tipo de abandono tende a crescer e, cada vez mais, teremos que contar com a caridade para solucionarmos os problemas em torno do nosso mundo.

Poucos conhecem essa realidade. Veio o sentimento de que doar bens é apenas muito pouco. Aquelas pessoas precisam mesmo é de carinho.

Uma senhora, sentada em outra cadeira de rodas, me fez lembrar daquilo que minha mãe chamava há dezenas de anos atrás, aí em Poções – a casa das velhas. Eram senhoras idosas abandonadas, com pouca mobilidade,  que algumas famílias se acertaram e cada dia levavam a comida para elas. A casa ficava no bairro do Tigre.

Outra casa, na Lagoa Grande, era de três senhoras cegas. Ali, as dificuldades eram maiores e os descuidos com a higiene eram evidentes pela própria deficiência visual.

Meu papel era acompanhar as minhas tias. Eu não imaginava que aqueles gestos de solidariedade ficariam marcados como os primeiros na minha vida. Depois, vieram as freiras para Poções e elas assumiram esse papel na nossa sociedade.

Na tarde de hoje, uma senhora nos conduziu por todos os quartos dos moradores daquele asilo. Ela aparentava os quase 70 anos de idade e um vigor físico impressionante fazia subir e descer escadas. Falava com todos eles de forma a ser atendida como transitasse por aquele lugar há anos.

Com um ar sereno, seus cabelos brancos e rosto gasto pelo tempo, aquela senhora tinha uma única função - de voluntária, decidida a dar todos os seus domingos para os velhinhos da Accabem, a instituição. 

Moradora vizinha do local, ela disse que a sua disponibilidade e dedicação era o que tinha no momento para ajudar àquela gente carente. 

Anônima estava e anônima se manteve.Uma lição de vida para todos nós nessa tarde.


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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Os livros de Poções - O Pintor

De repente, uma tempestade de cultura cai na nossa cidade, Poções.

Os lançamentos dos livros de Affonso Manta e Adilson Santos coroam a cultura poçõense em 2013. Talvez, nessa magnitude, coroem mais alguns anos pra trás e pra frente.

Confesso que foi uma semana muito emocionante pra mim. Na quarta feira, eu vi o trabalho de Adilson transformado em um livro, da forma que consagra e perpetua um artista, quando ele pode receber as homenagens que o reverenciam.

Acompanho-o como parte da minha família. Irmão de pessoas fantásticas como o meu sogro Valmir, de minha tia Dalva e dos falecidos Vandinho, Carlito, Alina e Dolores, pessoas que eu tive a maior admiração,  respeito e amizade – e me adotaram como sobrinho, genro, amigo e conterrâneo, é claro. A convivência com Seu Nenen (Mem Fernandes Santos Freitas), o pai de Adilson, cuja história contei aqui mesmo no Blog pela ocasião dos 100 anos de meu pai Chico, foi anterior e antes de conhecer a sua neta. Então, resumindo, uma família tradicionalmente ligada a nossa Poções com grande contribuição e participação na cultura musical.
Adilson  no Carnaval de Poções, com os seus irmãos Carlito, Dalva e Dolores e a nossa família
De graça, também, a amizade de Vane, prima de Bete, casada com o meu primo Eduardo, pai de Nessa. Pessoas que não tenho como ficar aqui elogiando e adjetivando, pois prefiro conviver com os três e os tenho como aquelas jóias raríssimas que não devem ficar guardadas em gavetas – gasto mesmo toda essa amizade em família.

Eu entrei na família por causa do casamento de Pepone com Rosilma, quando pude conhecer Bete – minha mulher e sobrinha queridíssima de Adilson, que foi a definitiva porta de entrada. Padrinho de casamento, em 1981 ele nos deu de presente a  hospedagem de lua-de-mel em um hotel cinco estrêlas em Campos do Jordão-SP, mas nos obrigou a retornar pelo Rio de Janeiro para um final de semana em Ipanema (devo revelar que Ipanema sempre foi o Rio de Janeiro para Adilson e, nas visitas ao Pão de Açúcar e Corcovado, fui eu que me virei para achar o caminho pois ele não sabia).
Lulu com Adilson Santos, no Corcovado, em 1985
Isso foi em 1985, quando partimos para o Rio de Janeiro em um Fiat 147, onde fomos especialmente participar de uma das suas tantas exposições.

Aqui em casa, nós temos nove quadros, sendo oito de Adilson e um de Roberto de Souza, amigo dele, que nos presenteou na viagem ao Rio de Janeiro. O mais importante é um que mostra a Igrejinha de Poções, duas escadas, uma galinha e a lua (leiam no livro o que cada elemento representa).

Além de apreciar a arte dele, apreciei também os seus carros. Bastava anunciar que estava vendendo e eu comprava (esse 147 foi um deles quando o modelo foi carro um dia na vida).

Sempre disse a Adilson que Raul Seixas se inspirou nele para escrever a música Sessão das Dez. Como se mudou de Conquista para o Rio, a letra de Raul era o retrato dele: "Ao chegar do interior, inocente puro e besta, fui morar em Ipanema, ver teatro, ver cinema, era a minha diversão".

No resumo final, em linhas bem traçadas, está a admiração por esse poçoense e o reconhecimento mais que pessoal pela sua arte e por colocar Poções no mundo como o berço de artistas de nível e reconhecida qualidade.


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Os livros de Poções - O Poeta

A vida tem suas coincidências. A gente depara com elas, mas algumas só tomam corpo com o passar dos tempos. 

Em janeiro de 2011, eu estava almoçando com Adilson Santos no restaurante Caminho da Roça, em Vitória da Conquista. Eis que entram Irundy e Nóelia acompanhado de seu filho Dino Augusto (Leia no Blog sobre o encontro - Dose tripla). 

Conversei com Adilson sobre os seus quadros e com Irundy sobre o livro que Ruy Espinheira Filho organizava com as poesias de Affonso Manta.

Isso, porque, em novembro de 2010, Ruy procurou alguém que pudesse ajudar a providenciar uma autorização de Irundy para a publicação dos contos. De imediato, contatei Michele e Bruno Sangiovanni e a tarefa foi cumprida.

Passados mais de três anos, o lançamento do livro foi feito. Ruy me pediu para providenciar a remessa dos livros para o lançamento em Poções, bem na semana em que o outro livro, o de Adilson, foi lançado. O mesmo Michele foi quem providenciou o transporte e pediu a Daniel Palladino para levá-los.

Hoje, pela manhã, fui até a Assembléia Legislativa do Estado para apanhar as quatro caixas com os livros de Affonso. No caminho, voltando para casa, a emoção tomou conta de mim. Os olhos encheram de lágrimas. Estava transportando a cultura de Poções, a poesia de Affonso, a poesia de Poções - o livro mais esperado na cidade.

Estavam seguindo para as mãos do seu povo, aqueles que o conheceram, admiraram e viram Affonso escrever as suas poesias. Me lembrava da mesa do bar "Sombra da Tarde", onde se juntava com outros amigos. Lembrava da emoção de Irundy com a concretização da obra.

Lembrava de Affonso, lembrava de Poções.


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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A arte do poçoense Adilson Santos é lançada em livros

Adilson em noite de lançamento (Foto: Luiz Sangiovanni)
Em uma concorrida noite de autógrafos, o poçoense Adilson Santos lança os dois livros de pinturas e desenhos numa coleção intitulada O Exercício Livre da Memória, organizada por Irene Santino e patrocinada pela Caixa Econômica Federal. Trata-se do programa cultural que incentiva os melhores artistas brasileiros.

A arte de Adilson, portanto, está exposta ainda mais ao mundo. Tenho a absoluta convicção que o nome de Poções entra de vez para a história da arte e revela-se através da série Poções Fundo de Quintal, pintada com detalhes da infância e adolescência do artista, quando morou na nossa cidade. A série é mostrada em quase metade de um dos livros.

Sexta feira será a vez de Vitória da Conquista conhecer a coleção. Em Poções, segundo revelou Adilson, o lançamento será no dia 10 de janeiro.

Esta coleção é uma obra de arte de tamanha significância para nós, poçoenses, que dá orgulho e trás prestígio no cenário mundial das artes.

Parabéns Adilson. Obrigado pela beleza do seu trabalho.

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domingo, 15 de dezembro de 2013

Ângelo Garrido - Campeão Europeu de Jiu-Jitsu e coração poçoense

Ângelo Garrido em Chieti, na Itália
Ângelo Garrido se tornou ontem (14) o novo CAMPEÃO EUROPEU DE JIU-JITSU, em competição realizada no norte da Itália, na cidade de Chieti.

Sendo casado com minha sobrinha Marianni Fagundes Sangiovanni e genro de Pietro Sangiovanni (Pepone), meu irmão, as ligações de Ângelo com Poções são fortíssimas, participando das Festas do Divino todos os anos, inclusive ministrou aulas de artes marciais na nossa cidade. Portanto, poçoense de coração.

O título é mais que merecido pela sua determinação e dedicação a este e outros esportes. A nossa família se sente honrada pelo fato de a conquista ter sido em solo italiano, a nossa terra de origem.

Ele retornará amanhã da Itália e trarei mais informações detalhadas dessa importante competição.

Ângelo (centro), no Mercado de Poções (com Marcelo, Lulu, Zitão, Raider e Pepone- Foto Arquivo Lulu Sangiovanni)
O blog parabeniza por importante conquista e tenho certeza que Ângelo divide a vitória com todos da nossa cidade.

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Bodas de Ouro - Delza e Antônio Libonati

Antônio e Delza (Foto: Reprodução Sérgio Libonati)
O casal Antônio e Delza Libonati comemorou, ontem (14), as Bodas de Ouro. Renovaram diante do padre Thadeu, amigos e parentes o mesmo “sim”, dito há 50 anos atrás. Cheguei depois da missa, mas pelo cântico escolhido “A Nós Descei, Divina Luz”, evocaram ao Espírito Santo essa renovação.
Lulu, Antônio e Pepone, selando a amizade (Foto: Sérgio Libonati)
Vejo nesse casal um exemplo de relação familiar, convivência, a bela família criada e pela sincera amizade. Além de tudo, tenho o prazer de ter Antônio Libonati como o meu padrinho de batismo, escolha acertada dos meus pais (leia aqui no blog a crônica Benção, Padrinho!!!).

Parabéns ao casal, aos seus filhos, genro, noras e netos. Uma noite extremamente agradável, uma noite de renovação para todos os casais presentes.

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domingo, 8 de dezembro de 2013

Adilson Santos - Lançamento do livro


O livro O Exercício Livre da Memória, do artista plástico poçoense Adilson Santos, terá lançamento duplo em Salvador e Vitória da Conquista, conforme informações no convite acima. O patrocínio é da Caixa Cultural.

Adilson também fará o lançamento em Poções em data a ser definida.

Todos são convidados. Veja o livro em 3D


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Rita Fagundes Marques - Falecimento

Rita Fagundes Marques
Comunico o falecimento de Rita Fagundes Marques (55 anos), ocorrido hoje (08) em Poções. Rita foi minha contemporânea e era irmã dos meus amigos Maria Ornilda e José Onildo Fagundes Marques.
Os meus sentimentos e força aos familiares nesse momento de grande dor e perda.

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quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Irmão Pires

Faleceu nessa segunda (2), em Recife, o meu amigo e irmão Lindbergh Pires.

Tive o prazer de conviver por quase quarenta anos. Nossa amizade começou quando ele conduzia um grupo de jovens e liturgia no Colégio Antonio Vieira, aqui em Salvador. Bete, minha mulher, na época, fazia parte desses dois grupos e me convidava para participar. 

Eu não tinha cacife espiritual e nem formação religiosa para enfrentar o irmão Pires, preferindo ficar ali, no fundo da igreja nas missas dominicais, e na porta do Vieira, nos finais de noite das terças-feiras.
Lindbergh Pires, de camisa escura - Anos 80  (Foto arquivo pessoal).
Mas, ele, habilidoso, mandava me chamar para conduzir a kombi do colégio quando o grupo ia fazer retiro no sítio Loyola, em Abrantes e tratava logo de me encaixar nos pequenos grupos. Assim, eu poderia tomar gosto pelo estudos do grupo. Pires me enquadrava, mas preferia organizar o time de futebol.

Essa relação com o grupo serviu para consolidar uma amizade que se manteve por tantos anos. Pires se tornou “de casa” e todas as férias sempre vinha passar uma semana com a gente.

Assistindo TV, jogando cartas, nas refeições e nos passeios, sempre tivemos a companhia de um ser humano extraordinário com os seus pontos de vista, reflexões, puxões de orelhas. Enfim, uma companhia que valia à pena, que todos queriam. Desfrutamos muito da sua presença.

Ele era Jesuita na Companhia de Jesus, Regente, Compositor, Professor e Dirigente de Curso na UNICAP (Universidade Católica de Pernambuco).
Lindbergh Pires e Luiz Sangiovanni (Foto Arquivo Pessoal)
Em fevereiro, participamos das comemorações dos seus 70 anos de vida e 50 anos na Companhia de Jesus, em Recife, juntamente com os seus principais amigos, familiares, colegas de trabalho e inúmeros alunos do seu Madrigal, com quem realizava várias apresentações no ano.

Falar do meu amigo é dizer que sentirei muitas saudades, mas sempre estará nas minhas orações e no aprendizado de vida.

Lembrarei sempre de um dos seus grandes sucessos cantado nas missas de todo o mundo, que descreve muito bem a sua dedicação pela opção de vida, a de Jesuita.


“Quero ouvir teu apelo Senhor!
Ao teu chamado de Amor responder!
Na alegria te quero servir!
e anunciar o Teu Reino de Amor!!
E pelo mundo eu Vou!
Levando o Teu Amor!...

E disponível estou!
Para servir-te Senhor!
Dia a dia tua Graça me dás,
nela se apoia o meu caminhar!
Se estás ao meu lado Senhor!
O que então poderei eu temer!
E pelo mundo eu vouuu!!
Cantando o Teu Amor!!
Pois disponível estou!
Para servir-te Senhor!”

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domingo, 1 de dezembro de 2013

Affonso de Dr. Ary

Por Eduardo Sarno (especial para o blog do Sangiovanni)
Por ironia, sempre tive ideias políticas e religiosas transversas com as de Affonso Manta Alves Dias. Na época em que eu estudava no Seminário Menor de Amargosa, ele era marxista. Conversávamos muito e havia comentários em Poções de que não ficava bem um rapaz que estudava para ser padre, ajudava a missa e  usava batina,  conversar tanto com um ateu. Mas nossos temas versavam sobre filosofia e teologia e lembro uma vez em que, andando na Rua da Itália, indo para a praça do Obelisco, Affonso me expôs a teoria dos macacos datilógrafos, para refutar a ideia do homem ter sido criado por Deus. Tratava-se de demonstrar a criação como mera casualidade: se cem macacos ficassem datilografando durante cem anos, certamente um deles escreveria uma frase lógica. Como ainda não se completaram os cem anos, deixemos os macacos digitarem em paz...

Anos depois, quando retornei de uma etapa das minhas atividades políticas clandestinas contra a ditadura militar, e já com uma formação marxista consolidada eis que encontro Affonso transmutado em místico medieval, profundamente religioso na teoria e na prática. Fiquei a me perguntar se era o misticismo algo tão forte que havia arrebatado Affonso ou se ele havia acedido por fraqueza. Mas eu não precisava destas respostas, pois sempre houve entre nós um grande respeito pelas ideias e vivências.

O pai de Affonso era Dr. Ary, dono de uma das principais farmácias de Poções, onde, às tardes, os aposentados e amigos jogavam gamão na calçada. Esta paternidade identificava, para os poçoenses a ascendência, pois era conhecido como Affonso de Dr. Ary.

Convivi com Affonso também em Salvador. Certa ocasião, numa manhã de sábado, ao passar pelo Cine Guarany, na praça Castro Alves , fui chamado por ele, que estava sozinho em uma mesa do Bar Cacique. Pedi uma cerveja e entre um papo e outro Affonso ia chamando para a mesa todos os amigos e conhecidos que iam passando. Passava do meio dia, mesa cheia, muitas “brahmas”, Affonso levanta-se, cumprimenta a todos com uma expressão paternal e vai-se, esquecendo a “dolorosa” para ser “rachada” entre os amigos!

A Ladeira dos Aflitos com suas pensões era o local ideal para os estudantes do interior. Por lá passaram Vicente “Cheiroso” Sarno, Antonio Libonati, Geraldo Sarno e o nosso caro Affonso Manta. A sistemática de Affonso era gastar em farras com os amigos a mesada que Dr. Ary mandava, atrasando o pagamento do aluguel. Apesar da compreensão de alguns proprietários, depois de alguns meses ele era despejado e lá se ia Affonso com colchão e mala na cabeça instalar-se na pensão vizinha. Quando este recurso foi esgotado nos Aflitos ele teve de ir para mais longe e chegou até o Corredor da Vitória, na Avenida Sete. Lá havia o pensionato do padre Torrend, jesuíta, e Affonso , confundido com os estudantes que ali moravam instalou-se no sótão do grande sobrado. Quando, meses depois foi descoberto, alegou que só sairia dali se falasse com o diretor, pois, conhecia seus direitos. Informado pelo secretário que o diretor estava em Roma, no Concílio, foi condescendente e não criou caso: “- Pois eu espero ele chegar”, disse ele.

A nossa turma de Poções, Ruy, Tuna e Gey Espinheira, Eraldo Curvelo, Zé Fidelis, Pietro Sangiovanni, o “Pepone” sempre se reencontrava em Salvador e era época das farras ditas “homéricas”, por Ruy. Uma delas teve início no Mercado Modelo. Lá eu havia comprado uma bengala de jacarandá, daquelas que eram feitas na Penitenciária Lemos de Brito. Na sequência decidimos continuar a beberrança em um bar na Rua da Ajuda, no centro.

Affonso disse que podíamos ir na frente, que ele iria depois. Pediu emprestado minha bengala e meus óculos escuros, e disse que iria de olhos fechados !

Copos depois chegou Affonso na Ajuda. Jurou que não havia aberto os olhos e que as pessoas foram muito prestativas. O guarda de trânsito parou o tráfego e alguém lhe pagou a subida no Elevador Lacerda. Na ocasião Affonso nos brindou, e aos demais frequentadores do bar, com a declamação do Cancionero Gitano, de Lorca.

Da Ajuda, onde tivemos de deixar um relógio penhorado a troco de bebida fomos para a Praça da Sé. A madrugada foi nos encontrar no Terreiro de Jesus, onde presenciamos uma cena inusitada. No meio da praça tem uma fonte, e um negão bem vestido empurrava uma negona de volta para dentro da fonte toda vez que ela tentava sair.  Affonso, sensibilizado,  dirigiu-se para o negão e disse :

“- Meu senhor, com licença, por que o senhor está empurrando esta senhora para dentro d’água, evidentemente  contra a sua vontade?”

O negão surpreso nem teve tempo de responder, quando a negona gritou de dentro d’água:
“- O negão é meu e ele me empurra quantas vezes ele quiser e você não tem nada a ver com isso!”

Affonso, pacato, calado, vencido, retirou-se.

Bondoso e socialista era comum alguém receber de Affonso um livro de presente, com dedicatória e depois descobrir, na página seguinte o nome do proprietário. Ruy já recebeu um livro que era dele mesmo!

Affonso trabalhou por uns tempos como guia no Museu de Arte Sacra, no Sodré. Era extremamente agradável ir lá às tardes conversar com ele e acompanhar os grupos de turista que ele, demonstrando um conhecimento profundo, guiava por corredores e salas.

De uma cultura que honra Poções, Affonso é sobretudo um poeta. Não se sabe porém o que isso significa. Pensam alguns poçõenses que poeta é quem conversa com as andorinhas que ficam no beiral da velha Igreja  Matriz do Divino Espírito Santo.

Eduardo Sarno 

Jan/98


Nota do blog:
Essa crônica foi lida pelo autor na ocasião do lançamento do livro de Affonso Manta. Eduardo é poçoense, historiador, livreiro, proprietário da livraria de livros usados, a Grauna. Meu primo especial e também primo de Ruy Espinheira Filho. Colaborador, comentarista e entusiasta do Blog do Sangiovanni, a quem agradeço pela gentil colaboração para publicação nesse espaço.

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