Av. Olímpio Rolim em 2008 (Foto: Lulu Sangiovanni) |
Dessa vez,
eu fui tomar uma surra no meio da rua, logo na Av. Olimpio Rolim, antigamente
chamada de rua do Beco Apertado.
Vou dar uma “arrudiada”
antes de tomar a surra.
Eu conhecia
tudo da rua. Dominava os quintais da minha casa, as goiabas e mangas da casa de
meu tio Corinto, o quintal maior de Seu Zóstenes Vaz, o fundo do armazém de
Fernando Schettini (Bigode), o quintal estreito de Dôca e o novíssimo armazém
de Fernandão Schettini (de Rafael). Para fechar o quarteirão, ainda tinha um
ponto comercial na esquina do Beco do Artistas, mas esse sempre mudava de mão (de locador).
No outro
lado da rua, tinha a isolada casa de Dona Júlia e das suas irmãs (minhas
professoras Tereza e Beatriz Martins), a casa de Irundy (na época moravam Tavinho
e Dona Amélia). Um casarão abandonado (foi derrubado e transformado na residência da família de Dr.
Arthur Rolim), a casa de Olímpio Rolim, a casa de Giovanni e a famosa Marcenaria Itália (havia se mudado de onde hoje funciona o CDL). Depois, existia a casa de Dona
Mariquinha, que morava com a filha Lourdinha Amaral. Após, um terreno baldio e o
glorioso cine Santo Antônio.
A casa de Giovanni Sola - a rua não era calçada (Foto: Arquivo Lulu Sangiovanni) |
Esse era o
centro da minha circulação. Foi ali que eu vi o
primeiro trator na minha vida, fazendo o alargamento da rua (era larga até o
beco dos Artistas e um funil até a Cônego Pithon).
Voltando à
surra:
Um dos
primeiros carros de propaganda em Poções foi o de Pedro Matos, dono do SRPCP
(Serviço Regional de Propaganda Comercial da Cidade de Poções). O carro tinha
um alto-falante amarrado no parachoque dianteiro e circulava bem devagar. Era
um Jeep com capota de aço e aquela escadinha no fundo.
Quando
passou pelo fundo lá de casa, eu já esperava para “pongar”, na
escadinha. Ia feliz da vida, pendurado. Não andamos 20 metros e alguém me puxou
pelas orelhas e me tirou do fundo do Jeep. Era o meu tio Giovanni com uma ripa na
mão e tome-lhe madeira. Apanhei que nem uma mala velha.
E o pior,
ainda teve o apoio de meu pai. Os tios italianos, na época, tinham liberdade e
permissão para baterem nos filhos dos outros, numa boa, sem cerimônias. E
ninguém gastava a mão para bater – ou era umas boas “curriadas” ou umas boas madeiradas.
Não bastava a pancada para depois, vir o castigo, que era papel obrigatório do
pai decretar depois da surra – tudo isso para dar prestígio ao tio batedor.
Não se faz mais carro de som como antigamente…
nem tios…
.
Eu sou tio, mas sei que não sou como os de antigamente. Muita coisa mudou, e até mesmo a permissividade aos tios.
ResponderExcluirNão se faz mais carro de som, tios, sombrinhas e ripas como antigamente.
Incrível como vc lembra de tantos detalhes. É uma mente fotográfica.
Abraço.
Pinduca.
Sou suspeito pra falar disso porque as surras que eu não levei do meu pai apanhei do chinelo franciscano do tio ze.detalhe não precisa aprontar era só ele chegar e calçar o chinelo que ja começava a me bater.apanhei muito novo com uns 5 anos de idade.passaram se anos e descobri que sinto prazer com surras desde que sejam de chinelo de couro virei masoquista e não tenho vergonha de dizer isso.
ExcluirLulu,
ResponderExcluirParabéns pela crônica.
Libonati
Olá, Luiz,
ResponderExcluirQuero parabenizá-lo pelo blog, uma autêntica ferramenta para quem ama Poções e quer que a sua memória seja preservada. Eu me deliciei com os textos e, principalmente, com as imagens que você postou de locais e personagens que construíram e constroem a história da nossa cidade. Parabéns, também, pela sua habilidade em abordar a sua família, inserindo-a no contexto da história da cidade, sem tornar o blog coisa de interesse particular dos seus parentes, o que demonstra a sua generosidade. Moro em Salvador há mais de trinta anos, aprendi a gostar daqui, mas no coração a minha cidade será sempre Poções, cuja saudade se ampliou ao navegar na sua página. Muito obrigado.
Abração
Mario Magalhães Costa
Tomamos nossas surras, hoje somos tios, pais, homens respeitosos, honestos e sem traumas de infância.
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