"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O pentelho do brasileiro

O Aurélio diz que “pente” significa a porção anterior da pelve que no adulto está recoberta de pelos. Já a palavra “pentelho”, significa cada um dos pelos que cobrem o pente. Pentelho também pode ser compreendido como indivíduo maçante, aborrecido, chato. Eu diria, mal educado.

Não quero ser pentelho com essa história de falta de educação do brasileiro (de alguns, é claro), mas é gritante. Eduardo Sarno comentou que a colonização faz diferença e a esculhambação pode ter as suas vantagens – até concordo, em partes. Eu estou falando de uma falta de educação de escola, doméstica, de coisas mais atuais, de falta de civilidade, de convivência com o outro. Não vamos colocar toda a culpa no português, portanto.

Também não foi apenas nessa viagem que percebi que nada muda de uma região para a outra. Todas as regiões são iguais e a falta de educação é visível. Mudou apenas o tempo da viagem e, consequentemente, a possibilidade de observar foi mais que normal.

O avião balança e a comissária pede para que todos fiquem sentados, inclusive a tripulação. Não bastou falar e levanta uma moça carregando no colo uma criança de uns dois anos para leva-la ao banheiro. Tomou uma bronca e a pentelha voltou com a cara mais cínica do mundo.

Pousa o avião e mais um aviso para que as pessoas não se levantem antes de estacionar completamente. Foram seis avisos e não houve a obediência solicitada. Na sétima vez, em tom alto, bravo e pausado: S – E – N – T – A – D – O – S. Os pentelhos custaram a atender.

Quando o avião parou, ainda houve a necessidade de um reposicionamento. Agora, já estava todo mundo com as sacolas e malas nas mãos quando foi solicitado que voltassem aos seus assentos. Não preciso contar a reação dos pentelhos. Foram contrários às suas próprias seguranças.

Um sujeito, usando chapéu panamá, anunciava bem alto pelo celular que ele estava desembarcando em São Paulo e que havia comprado o brinquedo da filha, querendo saber dos detalhes das vendas do negócio dele durante o carnaval, o tempo em que ficou fora. Quando pensei que tivesse me livrado do sujeito,  reapareceu na sala de embarque duas horas depois. Agora ele já estava parabenizando a equipe de vendas por ter batido a meta em mais de dez por cento. Sujeitinho pentelho, esse.

A bendita terceirização colocou pessoas nos guichês da Polícia Federal. O normal seria o funcionário responder por uma saudação gentil de “boa-tarde”. As duas moças, com caras de paisagem, uma querendo ensinar o trabalho a outra, continuavam com o papo sobre emagrecimento e qual regime deveriam fazer. Nessa hora, eu não estava sendo o pentelho porquê não conseguia atrapalhar o papo delas. As filas agradeciam e engordavam.

Fui tomar um café e novamente o pentelho aqui não tinha o que o caixa queria: O senhor não tem trinta centavos?

Enquanto fiquei dois minutos parados no saguão, uma senhora tomava conta de uma criança e esta chorava porque tinha sede. Gritava para a criança: - pare, sua otária! E só parou de gritar porque fixei o olhar na cena e ela deve ter dito: - que sujeito pentelho!   
Portão 1 - sala 1A - Aeroporto de Guarulhos (foto de celular)
Na sala de embarque, uma multidão espera pela vez de embarcar e procura um lugar para se sentar. Num banco, ocupando todos os assentos, estava deitada uma senhora. O clima de revolta estava se formando, quando chegou uma outra passageira. - Ei, a senhora pode se levantar? Aquela que estava deitada, apenas puxa os pés e libera um assento para a outra. Continuou com o pano que lhe cobria o rosto e ficou ali por uns mais dez minutos. Levantou, sem acanhamento, se justificando que o Sorine (medicamento nasal) havia acabado e que fica “cega” quando isso acontece. Boa desculpa – se lembre – Sorine é bom para pentelhos.

Aí, já era a minha vez de embarcar e fui rapidinho ao banheiro. O mictório, daqueles que tem umas telinhas coloridas, estava cheio de chicletes mascados e a borda tomada de pelos. Que os homens tem a mania de cuspir na hora de urinar, nós sabemos porque. Agora, que  as bordas tem que estar cheia de pelos, eu só acho que isso é coisa de pentelhudo.

E como dizia Ibraim Sued: - À demain que vou em frente!!!

.

2 comentários:

  1. Lu, o assunto é extenso e existem livros inclusive comparando a colonização do Brasil com os EUA, e certamente com a Argentina. Lá eles não tiveram a religião católica, essa sim um dos maiores pentelhos do mundo,que aqui no Brasil, com a Inquisição cabocla queria saber a vida intima e sexual dos habitantes, um absurdo. Tb não tiveram as capitanias hereditárias, um absurdo. Lá eles promoviam a posse das terras (que eram dos indios, um absurdo terem tomado), lá o protestantismo incentivava o trabalho, aqui o catolicismo incentivava a preguiça, lá tiveram escravos, mas não tão intensamente como aqui. Lá eles tiveram um racismo radical, que acabou acabando (em parte) aqui tem um racismo cronico, onde a nossa alta sociedade (e média) tem ainda horror a negro.É por isso que a casa do brasileiro, com estas origens e tradições não transmite educação doméstica. Não é uma questão de grana, como vemos na sua crônica, mas de cultura. Temos um caldo de cultura vencido.
    abs
    Eduardo Sarno

    ResponderExcluir
  2. Lulu,
    Continue em frente nos brindando com suas belas crônicas. A do "pentelho" é genial.
    Libonati

    ResponderExcluir