Vivemos
numa época de tanta tecnologia e rapidez de procedimentos que um pequeno cisto
mostra a fragilidade do sistema de atendimento médico e o vai-e-vem de
consultório em consultório:
Recentemente,
uma saliência no calcanhar do meu pé esquerdo passou a incomodar com a simples
pressão do sapato ou então com fortes pontadas enquanto dormia. Alguns amigos
diziam que era “a velhice”.Outros diziam que era “esporão de galo”.
Nada
mais oportuno que procurar um médico para examinar. Fui ao dermatologista e me
encaminhou para o exame de ultra-sonografia. O médico do ultra-som, ao
examinar, me perguntou qual era o diagnóstico que o médico dermatologista havia
dado:
– Doutor, ele não disse nada, mandou perguntar
ao senhor!
O
médico, com cara de poucos amigos, respondeu:
-
É um cisto de conteúdo espesso!
Cheguei
a marcar nova consulta com o dermatologista mas perdi o exame. Dias depois,
comentando o fato com uma amiga minha que é médica, solicitou um novo
ultra-som. Voltei à clínica e o médico buscou a segunda via do exame no computador,
refez o procedimento e comparou as dimensões, atualizando o laudo.
Agora
não tinha jeito, iria continuar com a decisão de eliminar o cisto.
No
aniversário de minha sobrinha, encontrei com um primo que é excelente clínico e
quase implorei pra que fizesse a consulta no salão de festas. Marquei para
levar o laudo no consultório na segunda-feira seguinte e assim fiz.
Muito
previdente, me aconselhou a consulta com o ortopedista, pois o cisto estava
colado ao nervo. Marquei a consulta com o especialista e na hora estava lá.
A
avaliação foi prontamente feita e o caso era de solução cirúrgica, solicitando dois exames complementares –
Eletrocardiograma e Coagulograma. Com os resultados, voltei para a consulta
final e combinamos a cirurgia para a semana antes do carnaval, pois precisaria
ficar 15 dias de repouso.
Fui
ao hospital apresentar a requisição e confirmar a data, dia 13. Preenchida uma
série de formulários, pediram que aguardasse a aprovação do convênio e que
ainda precisaria fazer a consulta com o anestesista no dia anterior ao da
cirurgia.
No
dia 12, a anestesista perguntou logo qual era o braço a ser operado.
– Não doutora, não é o braço, é o pé!
Ela,
uma jovem, responde: - É que os médicos de hoje esquecem dos detalhes!
Eu
não quis tomar os documentos e mostrar que o ortopedista colocara pé esquerdo e
procedimento correto na requisição.
No
dia 13, me internei ao meio-dia. Jejum absoluto desde as seis da manhã. Me
mandaram vestir um pijama com as marcas do hospital e colocaram uma pulseira de
identificação. Imaginei estar pronto para o camarote do hospital, já que era
semana de carnaval e o pijama um perfeito abadá.
Chegada
a hora, a enfermeira veio me buscar. Fui andando até o centro cirúrgico. A
anestesista de plantão era outra. Me recebeu e pediu para que lavasse numa pia
o braço que seria operado. – Não, minha senhora, é o pé esquerdo! Só me senti
aliviado quando ouvi a voz do médico, lá de dentro da sala: - É o pé, doutora,
a gente lava aqui na mesa mesmo!
Furaram
a minha mão, colocaram soro, um medidor de tensão no meu dedo, controlador
cardíaco, captadores nas costas e um pequeno tubo na parte externa das narinas
e me disseram: - O senhor vai sentir vontade de dormir, é normal!
Com
tanto aparato, ainda brinquei: - Imagine se fosse uma operação cardíaca!
Na
verdade eu não dormi, pois foi necessária apenas a anestesia local. 15 minutos
depois eu estava de volta ao quarto, vivo, graças a Deus e com o pé
corretamente operado, não o braço.
Após
a cirurgia, recebo a ligação de um colega de trabalho que comentou:
- Você deixou um bilhete para todos nós dizendo que faria uma cirurgia no pé esquerdo. Não sei porque você tem que ser tão preciso, bastava dizer que era uma cirurgia!
Eu
respondi: - E se tivessem operado o meu braço? Você estaria com uma prova a meu
favor...
.
Lulu,
ResponderExcluirParabéns pelas fotos e por não terem operado o seu braço.
Libonati