"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O cisto e calvário

Crônica publicada em agosto de 2007


Vivemos numa época de tanta tecnologia e rapidez de procedimentos que um pequeno cisto mostra a fragilidade do sistema de atendimento médico e o vai-e-vem de consultório em consultório:

Recentemente, uma saliência no calcanhar do meu pé esquerdo passou a incomodar com a simples pressão do sapato ou então com fortes pontadas enquanto dormia. Alguns amigos diziam que era “a velhice”.Outros diziam que era “esporão de galo”.

Nada mais oportuno que procurar um médico para examinar. Fui ao dermatologista e me encaminhou para o exame de ultra-sonografia. O médico do ultra-som, ao examinar, me perguntou qual era o diagnóstico que o médico dermatologista havia dado:

 – Doutor, ele não disse nada, mandou perguntar ao senhor!

O médico, com cara de poucos amigos, respondeu:

- É um cisto de conteúdo espesso!

 - E aí Doutor, o que é isso? É caso de cirurgia ou dá pra espremer?, perguntei.

 - Seu médico é quem vai dar o parecer cirúrgico, leve pra ele o resultado! Retrucou, descontando a resposta da primeira pergunta.

Cheguei a marcar nova consulta com o dermatologista mas perdi o exame. Dias depois, comentando o fato com uma amiga minha que é médica, solicitou um novo ultra-som. Voltei à clínica e o médico buscou a segunda via do exame no computador, refez o procedimento e comparou as dimensões, atualizando o laudo.

Agora não tinha jeito, iria continuar com a decisão de eliminar o cisto.

No aniversário de minha sobrinha, encontrei com um primo que é excelente clínico e quase implorei pra que fizesse a consulta no salão de festas. Marquei para levar o laudo no consultório na segunda-feira seguinte e assim fiz.

Muito previdente, me aconselhou a consulta com o ortopedista, pois o cisto estava colado ao nervo. Marquei a consulta com o especialista e na hora estava lá.

A avaliação foi prontamente feita e o caso era de solução cirúrgica,  solicitando dois exames complementares – Eletrocardiograma e Coagulograma. Com os resultados, voltei para a consulta final e combinamos a cirurgia para a semana antes do carnaval, pois precisaria ficar 15 dias de repouso.

Fui ao hospital apresentar a requisição e confirmar a data, dia 13. Preenchida uma série de formulários, pediram que aguardasse a aprovação do convênio e que ainda precisaria fazer a consulta com o anestesista no dia anterior ao da cirurgia.

No dia 12, a anestesista perguntou logo qual era o braço a ser operado.

– Não doutora, não é o braço, é o pé!

Ela, uma jovem, responde: - É que os médicos de hoje esquecem dos detalhes!

Eu não quis tomar os documentos e mostrar que o ortopedista colocara pé esquerdo e procedimento correto na requisição.

No dia 13, me internei ao meio-dia. Jejum absoluto desde as seis da manhã. Me mandaram vestir um pijama com as marcas do hospital e colocaram uma pulseira de identificação. Imaginei estar pronto para o camarote do hospital, já que era semana de carnaval e o pijama um perfeito abadá.

Chegada a hora, a enfermeira veio me buscar. Fui andando até o centro cirúrgico. A anestesista de plantão era outra. Me recebeu e pediu para que lavasse numa pia o braço que seria operado. – Não, minha senhora, é o pé esquerdo! Só me senti aliviado quando ouvi a voz do médico, lá de dentro da sala: - É o pé, doutora, a gente lava aqui na mesa mesmo!

Furaram a minha mão, colocaram soro, um medidor de tensão no meu dedo, controlador cardíaco, captadores nas costas e um pequeno tubo na parte externa das narinas e me disseram: - O senhor vai sentir vontade de dormir, é normal!

Com tanto aparato, ainda brinquei: - Imagine se fosse uma operação cardíaca!

Na verdade eu não dormi, pois foi necessária apenas a anestesia local. 15 minutos depois eu estava de volta ao quarto, vivo, graças a Deus e com o pé corretamente operado, não o braço.

Após a cirurgia, recebo a ligação de um colega de trabalho que comentou:

- Você deixou um bilhete para todos nós dizendo que faria uma cirurgia no pé esquerdo. Não sei porque você tem que ser tão preciso, bastava dizer que era uma cirurgia!

Eu respondi: - E se tivessem operado o meu braço? Você estaria com uma prova a meu favor...

 Ele não entendeu nada. Vai entender quando ler a crônica.


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Um comentário:

  1. Lulu,
    Parabéns pelas fotos e por não terem operado o seu braço.
    Libonati

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