"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

sábado, 9 de junho de 2012

Bau, o alfaiate - no tempo da boca de sino

Em 1975, eu comecei  a trabalhar. Fui fazer a entrevista numa sexta-feira e o cidadão me disse que deveria cortar os cabelos, colocar uma camisa decente, usar sapatos e tirar a boca de sino da calça para poder ser entrevistado pelo diretor da empresa, na segunda-feira.
Naquela época, eu e os jovens usavamos cabelos compridos, camisa deixando ver o umbigo e com as laterais recortadas (tinha ainda quem utilizava bonés de duas abas). A calça boca de sino tinha o cós amarrado por cordão no lugar do cinturão de couro, sem bolsos e o maço de cigarros (quando dava para comprar)  colocava na cintura ou carregava na mão junto com o isqueiro. Os sapatos eram substituídos por altos tamancos de couro – eu usava um tipo anabela.
Fui na Piedade cortar os cabelos, comprar uma camisa social e um par de sapatos. Não restou dinheiro para comprar a calça. O jeito era sacar a nesga que dava o efeito da moda e ajustar a bainha. Tinha que fazer isso no sábado.

Recorri para Adalberto, o Bau, nosso alfaite, que havia trabalhado em Poções no Beco dos Artistas e tinha se mudado para um dos casarões da rua da Misericórdia, aqui em Salvador, e montado o seu ateliê. Quem o conhecia, sabia da sua habilidade na profissão e costurava para a grande maioria de jovens que aqui residiam e estudavam. Era mais um ponto de bate-papo para quem ia pegar o ônibus na praça da Sé ou no viaduto da Sé, ali no incío da ladeira da Praça. Não perdíamos a oportunidade de atualizar o nosso “face-book” da época.
Ele fez o serviço numa sentada e ainda colocou o cós que permitia o uso de cintos. Na segunda-feira, Fernando Ferreira, o entrevistador, não me reconheceu devido a mudança de visual e me deu o emprego que durou 17 anos.

Bau, então, foi um dos responsáveis diretos por essa transformação.

Ele é de Iguaí e nunca mais tive notícias. Quem souber, por favor, me informe por onde anda.


Jorge Dantas (Jorge de Duca) comenta:
Vivi muita a época do beco dos artistas, onde o Adalberto Gonçalves (o Bau) trabalhava fazendo as nossas calças de lona tipo cigarretti e as camisas modelo Roberto Carlos. Da Misericórdia saiu para a Coelba onde se aposentou, tem fazenda em Iguaí e mora atualmente em Itapetinga.



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4 comentários:

  1. riponga ainda vai, mas umbigo de fora já é estranho demais!

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  2. A semana passada me lembrei dele, seria mais fácil comprar roupas, com Bau sempre podiamos ajusta-las. Naquele tempo, na rua da Misericórdia, onde ele tinha seu ateliêj havia muitas lojas de tecidos, dominadas pelos árabes, principalmente os Irmãos Cabús. Com o advento da industrialização os alfaiates desapareceram. Se a Industrialização tivesse vindo antes, não teriamos a " Revolta dos Alfaiates".

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  3. Na década de 60, fui fazer uma entrevista com o humorista José Vasconcelos, que queria fazer uma "Vasconcelândia" , um parque temático. Eu estava me inscrevendo para uma seleção de vendedores de cotas do parque. Na época eu usava botas, calças jeans, camiseta , cabelos grandes e uma grande cruz de madeira no peito...pelo menos era menos afrescalhado que o figurino de Lulu...
    Exigiram mudança geral, paletó e gravata. Não voltei mais lá.
    Eduardo Sarno

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  4. Jorge de Duca11 junho, 2012

    Vivi muita a época do beco dos artistas, onde o Adalberto Gonçalves(o Bau) trabalhava fazendo as nossas calças de lona tipo cigarretti e as camisas modelo Roberto Carlos,da Misericordia saiu para a Coelba onde se aposentou, tem fazenda em Iguaí e mora atualmente em Itapetinga.

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