Dedicado a Vitório Dias, grande amigo (in memoriam)
Vitório Dias já trabalhava na loja de
Américo Libonati e eu era pré-adolescente. Quando a loja fechava, ele passava
pela porta da loja de meu pai e perguntava se eu queria bala Juquinha, lá na
mercearia de Miranda e Arcênio Alves. Fidélis, o balconista, colocava uma dose
de jurubeba pra ele e três balas Juquinha pra mim.
Ele veio morar em Salvador e a gente se
encontrava na loja "Tio Correia", onde trabalhava, e nas festas do Divino.
Várias vezes, fizemos parceria nas noitadas de cachaça da festa.
Em um dia de São João, na porta de casa, junto
com Michele e Pepone resolvemos fazer uma fogueira no final da tarde. Michele
providenciava a madeira, Pepone pegava a cerveja e eu montava a fogueira. Passa
Vitório em um carro branco ouvindo um forrozinho de CD e nos faz companhia na
cerveja. Conversa vai, conversa vem, uma lata de cerveja aqui, uma história lá,
uma dose de cachaça com limão ali, uma lenha e um cavaco ali, terminamos a
fogueira e fomos dar uma volta.
Dei de presente a Vitório um CD de “Robério
e seus teclados” e logo fomos ouvindo. Ele aumentou o volume e a gente nem
conseguia ouvir o que o outro falava. Fomos parar na sua casa na Rua de São
José. Tomei duas doses de whisky daquelas calibradas e já comecei a querer
andar sentado.
Passamos no bar ao lado da praça do Coreto e
fomos contar histórias. Tomamos umas três cervejas e passei a régua. Chegou pra
mim. Ele me deixou em casa.
Lá, da nossa varanda, eu enxergo uma mão acenando
da casa de Humberto Schettini. Era Marquinhos me chamando. Eu gritei logo: São
João passou aí??? E fui atravessando a rua. Me convidou para um copo de vinho e
tomamos quase uma garrafa inteira.
Voltar para casa, atravessar a rua não era
problema. Problema era tirar da minha cabeça a idéia de ir na Fazenda Caetitú
tomar a saideira com João Novaes. Quem passava o São João por lá era o
radialista Varela e eu queria saber se realmente aqueles tapas que dava no
programa eram mesmo de verdade.
Foi um pandemônio em casa. Esconderam a
chave do carro. A sorte, João de não ter que suportar um porre de porre, e
dos outros, que esconderam a chave, foi que eles vieram da Fazenda para passear
em Poções. Fizemos uma espécie de semi-círculo e tomei um tapão na mão e Varela dizendo: - Com esse, já vai dá pra ficar bom da cachaça!!!
E me lembro porque foi filmado. O resto não me lembro. Minha sobrinha Juliana
parou de filmar e o registro se perdeu no travesseiro. Perdeu-se na memória.
O que não perdi foi o sono e a vontade de
beber água a noite toda. Na cabeça, aquele chamado entre as músicas do disco: “Roooobéééééério e seus teclados”.
O dia seguinte foi outra história. Depois eu
conto.
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