quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
Mentira tem perna curta
Era hora da verdade. Tinha que encarar o curso de Estradas na Escola Técnica Federal, criar uma nova turma e fazer jus por ter passado no vestibular. Do pessoal do Ginásio de Poções, só restou meu primo Miguel Sola, que passou para o curso de Mecânica. Antes, fomos informados que deveríamos "raspar" a cabeça, pois o trote aconteceria durante a matrícula ou nos primeiros dias de aula. Assim, poderíamos passar despercebidos.
Chegou o dia da primeira aula. As turmas eram de 40 alunos por curso e a professora pediu para que cada um se levantasse e fizesse breve apresentação pessoal dizendo onde havia estudado anteriormente. Nas vozes de cada colega, não identificava ninguém que tivesse vindo do interior. Achei que deveria seguir a mesma linha – não dizer que era de Poções - talvez por timidez e mentir seria mais fácil driblar a pressão de momento.
Chegou a minha vez quando mais da metade da turma já havia se apresentado e as falas iam ficando mais reduzidas. Eu disse: “sou Luiz e estudei no Colégio Severino Vieira”.
Foi o bastante para ouvir a voz da minha colega Acácia dos Santos Gomes: “Seeeveeerino Vieeeiiiira? Eu também estudei trêêês anos e nunnnca te vi por lá”. O chão abriu e confesso que quase chorava – não podia! Pensei rápido e respondi gaguejando: “Éeee, eu estudava no turno da noite, deve ser por isso” Não é que a mulher insistiu e respondeu: “Eu também estudei a noite”.
Com isso, aprendi o tamanho e o formato das pernas da mentira pública – curtas e tortas. Passado aquele momento de alívio da pressão de Acácia, eu caí na realidade e fui perceber o que tinha feito com o CNEC, o Ginásio de Poções. Que consideração barata e que falta de humildade.
Chegou o momento de refazer a “área” e caí em campo. Fui descobrindo que muitos haviam mentido da mesma forma que eu. Leones era filho de Simplício Colombo Gomes, então prefeito de Tapiramutá. Nabor veio de Serrinha. "Todo Feio", de Alagoinhas. "Do Molho" (o cara usava brilhantina no cabelo), era de Catu. E aí vai. Tinha gente de Caculé e Brumado.
Como a Escola era no Barbalho, próximo da antiga Rodoviária, toda sexta feira a gente descobria mais um mentiroso pegando o ônibus para o seu interior.
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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Tiro de Guerra
Quando me alistei no serviço militar, já morava em Salvador e fui incluído no “excesso de contingente”. Cheguei perto. Por uma questão banal, o soldado que organizava as filas não foi com a minha cara e me jurou, dizendo: “Pode se preparar, eu quero ver você limpando canhão no Forte de Mont´ Serrat!” Já havia tomado as medidas do capacete, botas e farda.
Juro que perdi a vontade e fiquei me lembrando do Tiro de Guerra 135. Senti que daquela forma não daria certo. Aí, um Tenente de nome Lorenzoni, viu as medidas na ficha e perguntou por que queria servir. Respondi que gostaria, mas estava cursando a Escola Técnica e que um soldado havia jurado o meu destino. O tenente, também filho de italiano, entendeu a minha situação, me dispensou da tarefa e frustrou a vontade daquele soldado predestinador.
Quem também suou frio nesse dia foi Ebenezer Fagundes Ferreira (Déo). Juntos, cruzamos os dedos e aguardando a confirmação que estávamos fora das listas de convocados. Já na semana seguinte, liberados, a gente estava jurando a bandeira na 17ª CSM, na Barroquinha, lembrando do soldado.
Ainda em Poções, tive contatos com algumas turmas do TG. Nas tardes de sábado, o Sargento Severino dava “banca” da língua francesa depois da “instrução aos atiradores”. Eu chegava cedo e ficava esperando a instrução terminar. Na verdade, gostava mais de ouvir as instruções do que assistir aula de Francês. Terminada a sessão, os soldados eram liberados para engraxarem os coturnos (botas), pois no domingo deveriam assistir à missa celebrada pelo Padre Honorato. Com essa rápida convivência, eu gravava os números deles, que era como se identificavam.
O contato maior era nas comemorações cívicas, principalmente nos 21 de abril e 7 de setembro. Logo de manhã, a turma do Ginásio se concentrava no CNEC. Lá estava Renan Macêdo organizando as filas por ordem de tamanho, com o grupamento do pessoal do curso Normal à frente, os homens na seqüência e depois as mulheres. Entregava as bandeiras para os divisores de pelotões e então partíamos para nosso primeiro destino que era a porta do TG. De longe, já avistávamos os atiradores em posição de “descansar”, com os fuzis agrupados em três, desde as 6 da manhã.
Todos nós aguardávamos ansiosos pelas chegadas de Francisco Paradella, Diolino Luz, Monsenhor Honorato, Irmã Bernadete, o próprio Renan, Dr. Ernesto Benedicts, Tenente Celino, Dr. Irundy, Pastor Isaías e demais autoridades. Com eles, estavam representadas as classes civis, militares e eclesiásticas. Se faltasse um, a gente tinha certeza que a cerimônia ia ter um discurso a menos.
Na seqüência da cerimônia, chegava a Bandeira Nacional. Era trazida de dentro da sede do TG pela guarda especial comandada pelo Sargento Severino, vestido com a roupa de gala e lapelas cheias de gemas. O silêncio era total e escutávamos o barulho dos coturnos batendo ao chão, os comandos de “sentido” e “apresentar armas”. A bandeira era hasteada e o corneteiro se posicionava para anunciar a hora do hino nacional.
Renan assumia a posição de mestre de cerimônias e chamava as pessoas para o discurso. Quando os oradores oficiais terminavam, ele anunciava: “a palavra está franqueada”, todo mundo ficava na expectativa para saber quem seria o próximo orador. Sempre aparecia alguém sacando um discurso do bolso e arrumando os papéis na mão. A gente já sabia de cor (e salteado) a introdução do mesmo.
Beirava às 10 da manhã, sol de rachar. Um barulho e movimentação anormal no meio dos atiradores. Era um deles que não aguentava e caia ao chão. O barulho era peculiar – primeiro, o fuzil caía e, na seqüência, o corpo desabava. A gente espalhava entre os colegas – o 19 deu um “abacate” (acho que o termo abacate foi aplicado devido à cor verde da farda e o cidadão espatifar ao chão).
Discursos encerrados, todas as entidades presentes estavam liberadas para o início do desfile. A depender da ocasião, existiam estudantes vestidos de índios, caçadores, atletas, sem contar as bicicletas enfeitadas de papel crepom. Era uma festa. Além do Tiro de Guerra e alunos do Ginásio, desfilavam as escolas primárias, os times de futebol e algumas associações de classes. Era tanta gente que, enquanto o primeiro pelotão passava em frente ao posto de Miguel Labanca, ainda havia gente saindo da frente do TG.
Desfilar nas ruas da cidade tornava-se uma demonstração de civilidade e respeito à pátria. Passar a bandeira e um cidadão ficar de chapéu ou sentado? Nem pensar. Não saber cantar o hino nacional? Imperdoável. Qualquer gesto da população contra estes preceitos era de imediato observados por nós, estudantes.
O dia de marchar era esperado durante todo o ano, dia da nossa demonstração de civilidade. Hoje, essa simbologia acabou. Passamos a assistir, impotentes, a violência desenfreada, a impunidade, o descrédito da classe política e o império da lei do mais forte.
Mas acho que continuamos a marchar. Estamos marchando para o fim do mundo...
“Essas lembranças são dedicadas a Jônatas Fagundes Ferreira (Jota). Um grande amigo, exemplo de simplicidade, comandante do “fim da fila”, companheiro de tantas horas e meu insistente professor de corneta. Pessoa de humor contagiante entre os nossos amigos do Ginásio e os de convivências comuns.
Nos deixou precocemente. Restam as lembranças e as saudades!”
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domingo, 13 de dezembro de 2009
Feliz 1973
Revendo fotografias de 1973, fui buscar no tempo (aliás, no Google) o que aconteceu naquele ano:
- Morreram três Pablos – o Neruda, o Casals e o Picasso;
-A Grã Bretanha, Irlanda e Dinamarca passaram a integrar a Comunidade Européia;
- Armando Marques errou a contagem dos pênaltis na partida final entre Santos e Portuguesa, que acabaram campeões paulistas daquele ano.
- Ocorreram seis Ba-Vi´s – Vitória ganhou três e o Bahia apenas um. O Bahia foi o campeão;
- O piloto François Cevert morreu no treino do grande prêmio da F1 dos USA;
- O estudante Alexandre Vannucci Leme foi morto por policiais do DOI-CODI;
- Polícia Federal proibiu 46 revistas estrangeiras e 14 nacionais;
- O General Médici era o presidente da República e assinou o acordo para a construção do gasoduto entre Santa Cruz de la Sierra e a Refinaria de Paulínia-SP;
- ACM era o Governador da Bahia.
- Surgiu o grupo musical Secos e Molhados. Riachão lançou seu primeiro LP;
- Salvador Allende, socialista chileno, foi morto em 11 de setembro (!) pelas forças comandadas por Pinochet;
- A banda Led Zeppelin fez a mais lucrativa turnê da história – 3 milhões de dólares;
- A inflação no país era de 15%;
- As reportagens internacionais chegavam ao país via Varig;
- Raul Seixas lançou o LP Krig-Há Bandolo;
- Lula era secretário do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo;
- O cantor Evaldo Braga morreu vítima de acidente de automóvel;
- O Maverick e a Brasília tiveram as suas fabricações iniciadas;
- Pedro Alves Cunha assumiu o segundo mandato como prefeito de Poções.
Feliz 1973? Foram tantas as notícias ruins. Passávamos por uma situação que chamavam de “anos de chumbo”. A imprensa era muito perseguida, havia censura para tudo que se escrevia.
Como na maioria das cidades do interior, o rádio trazia mais rapidamente as notícias. A televisão em Poções já era uma realidade, mas vivia constantemente fora do ar devido às retransmissões torre-a-torre. Uma ligação telefônica demorava dias para ser completada. Ninguém conhecia um micro-computador.
Poções, na verdade, era um mar de tranqüilidade para nós jovens, mesmo com a repressão às ideologias políticas dos militantes no país e pela ausência de recursos tecnológicos.
Passávamos as férias entre a sinuca do bar de Duca, o pão com manteiga de Arlindo, o banho de rio na Cachoeirinha e, à noite, improvisávamos uma seresta no Coreto ou no jardim da praça. Outra opção era fazer uma “festa” na casa de alguém - bastava uma radiola portátil, alimentada a pilha. Eram ambientes propícios para “fumar escondido” e beber cachaça, literalmente.
Nossa turma usava cabelo comprido até os ombros ou o famoso “black-power” no estilo Antonio Celso, penteado rigorosamente com aqueles pentes de arame chamados de pata-pata. Na moda, a camisa de “banlon” com gola cacharrel e o cinto largo, de couro, com uma fivela imensa na calça apertada e com a boca de sino.
Apesar dessa descrição de jovem avançado da época, vivíamos um tempo onde as famílias participavam de tradicionais festas como o Reveillon e o Carnaval, sendo muito comum fazerem a passagem de ano no clube social. Costumeiramente, as mesas eram compradas sempre pelas mesmas famílias por causa do relacionamento entre si e da possibilidade de juntar uma à outra. Só modificava essa posição das mesas quando na festa anterior houvesse rolado uma briga e, nesses casos, a própria direção do clube se encarregava de fazer a estratégica mudança, evitando o encontro dos desafetos.
Era muito bonita a confraternização à meia noite. Até o final da festa, todos já deveriam ter dado um aperto de mão ou abraço e o desejo de um feliz ano. Renovava-se a amizade, o respeito e o apreço pelo outro para mais um período.
Percebo que essa atitude perdura-se até hoje. Quando encontro pessoas daquela época, parece que elas têm o mesmo sentimento de que o tempo não passou.
Feliz 1973. Feliz 2010 a todos nós.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
Nós e os doidos...
Restou saber em qual Poções eles viveram. Se as suas histórias não foram compreendidas, eles passaram a fazer parte da história da cidade, naturalmente.
Quem vai dizer que existia maldade em Isaulino? Usava uma calça sem cinto, apenas duas reatas amarradas com um barbante e, muitas vezes, suja de fezes. Descalço, pés rachados, camisa toda rasgada. Uma mão segurava a calça e a outra carregava o saco cheio de latas, puxando um dos pés para trás. O caneco era para pedir água ou café. Possuía olhos claros, falava pouco e baixo. Gesticulava na maioria das vezes como a pedir dinheiro e comida.
Menos maldade havia em Cumpadinho. Sol a pino, vestia um casaco de frio. Vivia sentado na calçada defronte a casa de Fernandão, esperando por um prato de comida que era dado por Dona Marianina ou por tia Stela. Cabelos brancos penteados, ele desaparecia nos finais de tarde.
De uma agressividade aparente, com um porrete na mão, Paulina usava para se defender de possíveis brincadeiras de quem ela atacava com seus discursos. Também carregava um saco e nele a sua vida. Falava sem parar, cabelo envolto em um velho lenço furado. Diziam que Paulina era uma pessoa normal e que depois ficou doida, de repente. Foi inspiração para um poema de José Onildo que se chama “A noiva da cidade”. Nunca consegui lembrar se Paulina era a mascate que comprava mercadorias em São Paulo para revender de porta em porta – tenho dúvida.
Se havia uma doida simpática ela se chamava Josina. Muitas vezes acompanhei suas conversas com a minha irmã Elisa. As duas tinham uma admiração especial e pegava carona nas histórias. Sofria de uma grande depressão pela perda do marido. Transferiu toda carga emocional para o filho Nuguinha.
Outro dia, em Morrinhos, encontrei com Ivan, que também era chamado de doido. De doido não tem nada. Talvez seja quem acha que ele não gira bem. Passou anos trabalhando em São Paulo. Tremenda lucidez, queimado pelo sol, diz que ganha a vida catando ferro velho. Na verdade, tem sua rocinha de feijão.
Sentado na porta do bar de Duca e todo maltrapilho, a gente encontrava Dió. Madrugada, quando o ônibus ainda entrava na cidade, era a única alma viva sob aquele frio de rachar. Caolho, diziam que era a marca de valentia. Defendeu-se de uma invasão na sua fazenda e levou um tiro no olho. Pouca conversa, adorava receber um cigarro e carregava uma lata para tomar café. Durante o dia ele sumia.
Quem dissesse “pára João” ao varredor de ruas mais simpático que Poções já teve, ia ver inerte a figura de João. E João só continuava a varrer se ouvisse o comando “varre João”. Se estivesse empurrando o carrinho de mão, acontecia a mesma coisa – ficava inerte com o carrinho no ar até que alguém dissesse o novo comando.
Maldade em João? Não, maldade nossa.
Toda quinta feira era o dia oficial da esmola, uma convenção que se perdeu no tempo. Lá na loja, na gaveta do dinheiro, já estavam separadas as notas e as moedas para as esmolas. Madalena era uma pedinte que andava descalça e apenas levantava a mão, sem dizer uma só palavra. O gesto era tradicional e só baixava o braço depois que recebesse a sua parte.
De nome exótico, aparência jovem, sempre penteado a moda Elvis, Véi de Zé Galo era o galã (nada a ver com o galo). A fama de tarado ficou e toda mulher tinha medo de encontrar com Véi na rua, principalmente no Beco dos Artistas. Contam da sua relação com um jumento e que fora “abotoado”. Ao passar pela Cônego Pithon, gritou socorro a Liligo Moraes e foi instruído de como se libertar. Seu concorrente de fama de tarado era Tonico. Esse aí, subia e descia a Rua da Itália umas trinta vezes por noite. A fama e a ameaça eram folclóricas, pois nunca se soube de registro oficial de algum “fato consumado”.
O certo é que os Isaulinos, Cumpadinhos, Paulinas, Josinas, Ivans, Diós, Madalenas, Véis de Zé Galo e Tonicos da vida vão continuar a viver marginalizados pelo mundo afora, sem a oportunidade de amenizarem a dor, recuperarem a auto-estima e transformar os sentimentos em esperança.
Assim é a humanidade.
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sábado, 28 de novembro de 2009
O Santo e o Estudante
Coitado, botava a culpa nele sempre que tirava notas baixas. Minha mãe insistia em dizer que eu não havia rezado direito para o santo. Desde pequeno, era costume rezar antes e durante as provas.
Fui um aluno regular a médio – significava que não tinha muita variação – era mesmo na média, o suficiente para passar de ano. Sempre estudei em vésperas de provas. Isso era ruim, mas confiava no Santo porque acreditava que não me deixaria na mão.
Eu e São Domingos Sávio fomos sócios por um bom tempo. Freqüentamos as mesmas carteiras e nunca fomos reprovados. Passamos por Bohêmia Marinho, Maíta Curvelo, Professora Zirinha, Lêda Sampaio, Avani Mattos, Deusdinéa Luz, Getulina Carvalho, Stela Schettini, Glorinha Macêdo, Miriam Mascarenhas e Lia Paradela, todas no primário. Interessante, não havia homens ensinando no primário naquela época.
O que estudamos deu para fugir das palmatórias. Ajoelhar em milho já não existia mais. Pegamos uns castigos de escrever a mesma frase mil vezes, do tipo “Não devo desobedecer a minha professora”. Tanta escrita que o Santo, nessa hora, não fazia a parte dele. Dizia que era a minha vez de treinar a caligrafia.
O primário passou e fui cursar o ginásio. Na companhia do pessoal mais velho, não “colava” mais essa história de santo no bolso da camisa. A vela ainda ficava acesa, mas escondia o santo na carteira ou dentro do caderno.
Depois, no vestibular, o negócio era estudar ou estudar. Fui para o “cursinho” reforçar a minha base e deixei de culpar o pobre santo.
Com ou sem ele, o certo é que construí uma base educacional com interesse e dedicação. Melhor ainda porque os meus professores foram imbuídos na formação de cidadãos. As escolas não faziam diferenciações sociais e os princípios morais e éticos eram respeitados. Alunos e professores faziam as suas partes.
Eu agradeço a educação que recebi dos meus mestres professores poçõenses, inclusive aqueles do ginásio e que sempre cito nas colunas. Sem eles, não teria a capacidade de desenvolvimento mental, intelectual, social e profissional, principalmente.
Minha velha tia italiana, Miminna, de 99 anos, surda, mesmo sem nunca ter arredado o pé da sua cidade natal, diz que “o mundo mudou, porém os professores são os mesmos”. Uma verdade que deve ser sempre reavaliada e que mostra toda a importância e responsabilidade da classe.
Mas não posso deixar de revelar dois segredos:
Na dúvida entre a minha capacidade e a do santo, ainda tenho a mania de carregar um “santinho” no bolso. Fui conferir ali na carteira e tem o de Santa Edwiges, que me foi dado pela professora Heloísa Curvelo, há mais de 12 anos. Meio supersticioso, não sei bem a hora em que devo trocar um santo por outro mais novo. Enquanto isso, Edwiges já está toda desgastada, mas continua sendo a minha sócia e consultora nas questões de dinheiro.
O segundo segredo (foi minha irmã quem me alertou), é que continuo rezando a oração do Santo Anjo do Senhor como se fosse a de São Domingos Sávio:
“Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, me guarde, me governe, me ilumine”.
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Os filmes de legendas vivas
Era o tempo da transição do preto e branco para o colorido. Os cartazes dos filmes ficavam na praça. Quantos letristas tiveram a chance de desenvolver suas artes nos cartazes – quem não se lembra de Dida, Pinho, Bartola e Tena?
Além de obras de artes, os cartazes destacavam filmes famosos como O Dólar Furado (Giuliano Gemma), El Dorado (John Wayne – a gente lia Jovane), Ladrões de Bicicletas (de Vittorio di Sicca), Tarzan (de Edgar Rice Burroughs com Johnny Weissmüller), Maciste (Bartolomeo Pagano), Quo Vadis (Robert Taylor), Dio Come ti Amo (Gigliola Cinquetti) e tantos outros como Ursus, Hércules, Sansão e Dalila, O Mágico de Oz, sem contar os filmes da Paixão de Cristo exibidos na semana santa. Em um dos cantos do cartaz sempre estava escrito – Technicolor ou Cinemascope – o sinal do avanço tecnológico.
Normalmente, de segunda a sábado, as sessões eram à noite – a chamada soirée. Domingo e feriado tinha também a matinée, onde muita gente aproveitou para começar a namorar naquela parte de cima que era chamada de camarote.
Falar de cinema em Poções, não se deve esquecer dos grandes administradores Fidélis Sarno (Fidélis de Boa Nova), Nicola Leto, Vavá e Tena, insistentes na manutenção das salas. Fidélis fundou o Cine Jóia (onde hoje funciona o Bradesco). Em outro nível, dois cineastas poçõenses marcaram os seus nomes no cenário nacional. São eles: Tuna Espinheira e Geraldo Sarno.
Do outro lado, na platéia, figuras marcantes como Lino Carregador e Seu Dôca (Florisvaldo Cruz Ramos), viviam as cenas como se fossem reais. Mas acho que Luiz Schettini Barbosa, o Luiz Bosteiro, foi o mais importante deste segundo grupo. Apesar de não ser artista, nem fundador e cineasta, foi o responsável pelas maiores “artes” dentro do Santo Antônio. Um dia, a gente se encontrou na festa do Divino e ele contou algumas das muitas estórias engraçadas. Uma delas era sobre as legendas vivas.
Naquela época, antes do filme, era costume passar o jornal com as notícias da Luiz Severiano Ribeiro e os gols do Canal 100. A mesma fita era passada na matineé e na soirée. Luiz assistia as duas sessões e gravava as imagens na cabeça. À noite, casa cheia, ele soltava as legendas.
Na primeira cena, o avião do presidente Castelo Branco pousava. A porta do avião se abria e aparecia a imagem do presidente acenando para os que estavam em terra. Luiz aguardava a imagem do presidente e antes do aceno, gritava: “e aí Castelo, não vai falar com os pobres?” O presidente acenava e a galera no cinema era um riso só.
Na segunda cena, já no meio do filme, Hercules fugia da perseguição de soldados dentro de um túnel. Ele para, olha para trás e continua a correr. Luiz fez a cena assim: Antes da parada de Hércules, gritou bem alto “Hércules, Hércules...” depois que o artista para, ele voltou a gritar: “Não é nada não, pode ir, pode ir...” Mais uma vibração do público.
Parte da história do cinema em Poções pode ser contada com passagens engraçadas como estas de Luiz e, sem dúvida, dos comportamentos de Lino e Dôca. Registro a lembrança do extinto cine Glória como uma evolução da época e o fim de um tempo substituído pelo vídeo-cassete e, mais recente, o DVD. Quem sabe, um dia, Poções pode ter um Shopping Center e voltar os tempos do cinema, como já acontece em Vitória da Conquista.
terça-feira, 17 de novembro de 2009
O Chamuscão
Defronte ao posto de Miguel Labanca, onde hoje é o prédio comercial que abriga a Ótica Poções e a Farmácia de Amorim, ficava o Bar de Duca, a Visgueira. Ao lado, havia uma ponta de terreno e Jorge Dantas resolveu fazer a Churrascaria Chamuscão. Foi construída no ano de 1970.
Fazer churrasco não era a praia de Jorge. Também não era a praia do morador de Poções sair para almoçar ou jantar. Não demorou muito e virou um bar, graças a Deus. O lugar passou a ser o nosso reduto, uma espécie de quartel general da noite (dia) da cidade.
De construção simples, paredes de bambu natural, piso cimentado de xadrez vermelho, mesas e bancos feitos de pedaços de troncos de eucalipto. Tinha sanitários decentes. O sistema de som era controlado de dentro do bar, onde Jorge administrava os dois negócios de uma só vez, através de uma estratégica porta que permitia a ligação entre os ambientes.
A primeira formação de garçons que me lembro foi Tonhá e Obed França. Eram dedicados e atentos a todas as mesas, com liberdade para opinar nas conversas. Jorge os ajudava e era mestre em servir cerveja: se havia duas pessoas ele trazia copos altos e esvaziava a garrafa de uma vez. Se fossem cinco pessoas, trazia copos menores e enchia todos também de uma só vez.
Sábado à noite, pelo menos, havia uma atração e o Chamuscão virava boate, com luz negra, entrada paga e mesas reservadas antecipadamente. Bastava baixar as janelas e se transformava no “ambiente fatal”. Num destes sábados, Ricardo Benedicts lançou o primeiro dos seus discos. O Chamuscão ficou mais famoso ainda. Sempre freqüentado e apoiado pelos principais artistas, poetas e visitantes da cidade. Sem dúvida, pelos melhores bêbados, também. Aliás, eu sempre achei que os nossos bêbados sempre fizeram sucesso porque eles eram bêbados conhecidos e não alcoólatras anônimos.
Marcávamos nossos encontros naquele espaço. Lá, curávamos a ressaca do dia anterior. Lembro do carnaval que Tonhe Banana (Antônio Fagundes Filho) passou em Poções. Fizemos um bloco de pouco mais de 10 pessoas e transformamos o Opala vermelho, de teto preto, em um trio elétrico. Praticamente alugamos o Chamuscão naqueles dias de festas.
Mas, temos que entender que o Chamuscão não representou apenas um bar famoso da nossa cidade. Posicionou-se como um referencial por permitir abertamente a freqüência masculina e feminina (tão liberal que a última mesa da direita era sempre ocupada por Daniel Rosinha, o primeiro travesti oficial e declarado de Poções).
Nossa juventude amadureceu mais cedo, rompeu o tabu de anos, onde beber em bar só era permitido para homens e em espaços chamados de “reservado”. A possibilidade de dar continuidade aos papos nascidos no jardim da praça era ali, no Chamuscão. Podíamos freqüentar até altas horas, sem qualquer preconceito ou julgamento devido à seriedade e respeito sempre impostos pelos Silva Dantas. Além do mais, podíamos, ainda, beber e deixar a conta pendurada e pagar por semana.
Valeu Jorge. Valeu Vinicius pela lembrança. Cabe a nós, saudosistas, confeccionarmos uma placa e afixar na parede do atual prédio:
“Aqui, durante anos, enquanto Chamuscão, viveu e cresceu a juventude poçõense”.
Solicitei a Jorge algumas fotos do Chamuscão e recebo o email com um pequeno texto, o qual transcrevo. Interessante o relato dele, pois nos faz lembrar um pouco mais da história daquele lugar único.
"Lulu,
Naquela época, só Vitinho Borba e o Giovanni que tinham máquina fotográfica e quase ninguém tinha hábito em fotografar, então as fotos que tenho do Chamuscão são pouquíssimas. Estou te mandando algumas que consegui com Bruno Sola fotografando da casa de sua mãe, com o Sr. Luiz Sarno passando em frente da Visgueira (bar de Duca) com aquele passo de "EMA", outras com Rosinha de Alvaro Benígno e Catão. Essa foto que estou em frente onde foi construido o Chamuscão, foi o primeiro carnaval que fizemos com a ajuda de todos vocês que estudavam em Salvador, inclusive na escolha do nome "Sukata no Patropi" e com toda sua decoração sob o comando do nosso grande Pepone. E foi daí que surgiu a idéia de construir um espaço para os outros carnavais, com todo o sucesso que teve o inesquecível "CHAMUSCÃO". Eu sempre comparo o Chamuscão com os Beatles: Os Beatles" revolucionaram a juventude do mundo!!! como o Chamuscão fez a mesma coisa com a juventude de Poções..... naquela época é claro!!!.
Um forte abraço,
Na escuta,
Jorjão"
domingo, 15 de novembro de 2009
Camisa Amarela
A igreja me ajudou muito. Tive a oportunidade de ser coroinha por um bom tempo. Sabia onde as pessoas sentavam, qual congregação pertencia, da freqüência na igreja e na fila da comunhão. Essa observação transcendia para as ruas. Conheci muita gente e assim me vem as histórias.
Dessa convivência, me lembro de algumas passagens do nosso imortal Padre Honorato Nascimento de Andrade ou Padre Norato, como era comumente chamado.
Na porta lá de casa, quando avistávamos o padre, colocávamos atrás de qualquer porta uma vassoura de cabeça para baixo com um pano enrolado. Era a simpatia usada para que o Padre não demorasse muito. Algumas vezes deu certo. Outras vezes, só foi embora depois do meu pai oferecer uma bebidinha para ele.
Não bastassem as visitas inesperadas, a mais constante era perto do meio dia para ser convidado para o almoço. Mas minha mãe tinha a manha e dizia: - Já estava fazendo um prato para mandar levar na casa do Monsenhor.
Pronto! questão resolvida, só que sobrava pra mim. Eu tinha que levar o prato na casa do padre.
Ele, apesar de teimoso, era um sujeito muito inteligente. A surdez o prejudicava. Desenvolveu a visão e julgava os fatos pelo que via. A mudança da missa em latim para a missa em português o obrigou a desenvolver mais os temas religiosos. Muitas vezes, a prática era sobre o comportamento particular da pessoa e, lógico, não tinha nada com a igreja. Acabava virando tema de discussão da semana.
A compreensão do que se falava era assim: - Padre, amanhã a missa será às sete? Prontamente respondia: - Não, não, às sete, às sete.
Na hora dos batizados, ele colocava a vela na mão de cada criança e perguntava: - Nome deste? Eu dizia o nome, mas não adiantava – ele não ouvia. Simplesmente falava, eu te batizo em nome do pai e do filho.
A mesma coisa era na hora dos casamentos. Ele nunca disse os nomes dos noivos para declará-los marido e mulher.
Usava aparelho de surdez e aumentava o volume da captação sempre que queria ouvir o que lhe interessava. Era uma microfonia só. Um zumbido que as pessoas ouviam de longe.
O aparelho era alimentado por baterias especiais e vendidas apenas no Centro Auditivo Telex, aqui em Salvador. Por causa dessas baterias, viajei muitas vezes. Ele pagava as passagens, o táxi e o lanche. Saia de Poções na sexta à noite, comprava as pilhas no sábado pela manhã e ficava o resto do fim de semana por conta.
Todas as pessoas que o Padre abordava na rua eram chamadas de Joaquim. Ele dizia: - Joaquim, seu fim vai ser morrer! E nessa onda, certa vez, Michele levou o amigo Joaquim Mendes para passar uns dias em Poções. Cruzou logo com o padre e anunciou para o amigo: - Vamos apostar como ele vai adivinhar o seu nome? Não deu outra e ouviu a frase famosa. Admirado, Joaquim perdeu a aposta.
Outra coisa boa era confessar para o padre surdo. Ele fazia as perguntas e a gente só respondia sim ou não. A sentença não deixava de ser a mesma – Salve Rainha uma vez, Ave-Maria e Pai-Nosso três vezes cada.
O padre comprou para a igreja um moderno sistema de alto-falantes. O amplificador parecia uma geladeira, tal o tamanho. Os microfones eram do estilo pedestal e direcionais. Ele mesmo fazia questão de regular o volume, os graves e os agudos. Entendeu que não tinha condições de fazer e passou a adotar marcas pré-definidas nos botões. Para testar o microfone, dava forte soprada e olhava para um de nós pra saber se estava no volume certo. Depois, confiou essa tarefa para Tonhe Gordo.
O tempo passou e a minha colaboração na igreja chegava ao fim. Comecei a espaçar a ajuda e só aparecia na missa de sábado à noite. Eu comprei uma vistosa camisa amarela, de “banlon”, modelo “cacharrel” (gola olímpica), mangas compridas e só usava nas noites de sábado, o padre assimilou o fato do uso da camisa ao meu afastamento da igreja. Passou a me chamar de “camisa amarela” toda vez que nos encontrávamos.
Foi fiel à batina e ao barrete. Poderia ter pregado melhor o “pacem terris” de João XXIII, onde dizia que a paz verdadeira está assentada em quatro pilares: justiça, verdade, caridade e liberdade.
Bom ou ruim, o padre teve o seu lugar por 48 anos à frente da paróquia de Poções.
O nosso poeta Afonso Manta, em texto publicado sobre o Padre, comentou: "Cabe apenas a Jesus o julgamento do nosso Noratin”.
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
525
A CTP foi fundada por um grupo de pessoas entre elas Corinto Sarno, Otávio Curvelo, Fernando Antônio Schettini, Pedro Cunha, José Palladino e outros que não me vêm na memória.
Apenas existiam alguns cabos telefônicos troncos. As outras ligações eram feitas de pares simples de fio telefônico desde a central até o local da instalação. Lembro-me do cidadão, o técnico chamado Arivaldo puxando os fios, poste a poste. Foram instalados telefones Ericson, modelos utilizados em extensões – sem os discos de números, fabricados de baquelite na cor preto.
A central era manual, permitia talvez 10 ligações por vez. Os assinantes levantavam o gancho e uma luz acendia no mostrador da central. A telefonista, (Gessy Almeida, foi a primeira) conectava um cabo verde, atendia e recebia o pedido de ligação. Conectava com o outro número através de um cabo vermelho e girava uma manivela para acionar a campainha do telefone na casa do receptor. Um sistema moderno para a época e que permitia o funcionamento mesmo se faltasse energia. O serviço funcionava 24 horas.
O telefone lá de casa foi instalado e o sistema ainda não funcionava. Eu ficava treinando a receber ligações e imitando como se estivesse falando com as pessoas. Assim ficamos por um bom tempo e ansiosos para que o telefone funcionasse.
Numa manhã de sábado, enfim, foi efetuado o primeiro teste. Eu estava sozinho em casa e ouvi aquela campainha estridente tocar. Era o 525 na sua primeira ligação. Sai correndo, procurando por alguém e gritando – o telefone ta tocando... o telefone ta tocando...
Importante registrar o fato por ser a introdução do telefone na nossa cidade. E se o fato é histórico, perdi a oportunidade de receber a primeira ligação no 525 e entrar para o Guiness Book.
Depois, com o passar do tempo, cheguei a ajudar várias vezes na operação da Central. O meu tio Corinto Sarno era o gestor financeiro do negócio e me responsabilizou de fazer a cobrança mensal usando uma bicicleta Caloi, de cor azul. Os formulários de cobrança eram feitos na Tipografia de Alcides Batatinha e todo mês saia entregando e recebendo a taxa mensal.
Na minha lembrança ficou o registro de alguns números de telefones. Quando a Tebasa encampou o serviço, os telefones de três dígitos foram substituídos por telefones de sete dígitos. Hoje, quem tem o telefone na sequencia 3431-1001, 1002, 1003... são os originários dos de três dígitos, os primeiros telefones de Poções.
Quem souber de números antigos de três dígitos e o nome do seu primeiro comprador, me mande para efetuar o registro da história do telefone em Poções. Meu amigo Telson trabalhou um bom tempo na CTP e pode ajudar a lembrar.
Alguns números: 501 - Edvaldo Coletor; 502 – Pedro Cunha; 503 - Padre Honorato; 504 – Omar Rocha e Silva; 505 - Usina da Coelba; 506 - Bar de Arnóbio Andrade; 507 - Correios; 508 – Casa do Promotor; 509 - Pedro da Barreira; 510 – Emílio Sarno; 511 – Farmácia Santana; 512 - Banco do Brasil - Sub Gerencia; 513 - Banco do Brasil - Carteira Agrícola; 525 – Amedeo Sangiovanni; 527 – Corinto Sarno; 530 – Bar de Duca; 543 – José Palladino; 548 – Arnulfo Ramos Silva (Lulu); 550 – Giovanni Sola; 551 – Fernando Antônio Schettini; 555 – Nelson Santana; 559 – Vicente Ventura; 563 – Marcolino Melo Ferreira.
Colaborou: Jorge Dantas (Bufão)
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Cada vez mais, Lulu "Chorão"
Se o apelido é público, a explicação também é pública.
Vem do tempo que estudava no Grupo Escolar Alexandre Porfírio, ali na Praça da Liberdade. Quando ia pra escola, já encontrava a primeira concentração de colegas sentada na escada da Prefeitura. Quando apontava, a turma começava o coro: “Vai chorar!!! Vai chorar!!!”. Minha sorte era ter o apoio moral e físico de amigos escudeiros como Kleber Campelo, Fernando Braga, Miguel Sola, Jota Fagundes e Sidnei do Sargento Severino. Eles tentavam amenizar o coro e ainda eram solidários comigo.
Muitas vezes, usei o choro para fugir de provas e perguntas difíceis. A manga comprida da fardinha caqui vivia sempre molhada de lágrimas, pois apoiava os braços sobre a carteira e a cabeça sobre eles e só levantava quando a situação já estava mais amena. Se os professores não entendiam o choro, imagine se eu deveria controlar ou procurar entender. Por conta, tirava boas notas e, na maioria das vezes, nem fazia as tarefas. Juro que não era choro de conveniência.
Um fato eu tenho que registrar: Sempre chorei quando o assunto estava relacionado com a minha mãe. Certa vez, defronte ao Alexandre Porfírio, ela passou em um carro dizendo que ia levar comida para as velhas (as velhas, eram umas senhoras cegas que moravam pros lados da rua de Boa Nova), eu não entendi e pensei que ela estivesse viajando pra Salvador. Não deu outra, a galera puxou o coro e o “Vai chorar!!!” predominou.
Recentemente, baixando músicas pela internet ouvi “Coração de Luto”, de Teixeirinha, que era muito tocada em Poções. Lembrava-me do quanto era triste e trágica aquela história. A angústia me fez lembrar do passado. Eu tinha um medo terrível de perder a minha mãe e ficar como aquele jovem da letra da música. É o subconsciente, que a gente pensa que não existe mais e, de repente, explica atitudes e fatos. Mas, se uma boa terapia busca explicação em coisas do passado, com essa, eu fiquei livre de algumas sessões.
Assim, chorando, eu fui enfrentar o Ginásio. Lá, eu chorava bem menos. Imagine se eu ia chorar na frente de Dr. Irundy.
Interessante: o tempo passou, mas agora eu sei porque e pra quem eu choro. Na chegada da Bandeira, eu choro do Poçõensinho à porta da Igreja. Choro dirigindo, choro ouvindo música, choro pelos meus parentes e amigos. Choro em ver as demonstrações de fé das pessoas. Choro em ver noiva entrando na igreja. Choro quando vejo histórias de pessoas que se superaram com esforço individual. E se for uma formatura, aí eu seco as lágrimas e me recomponho depois, na festa.
Na verdade, eu choro com o coração. É a conjunção muito forte de passado com o presente. Cada lágrima é uma história consolidada. A emoção é sempre à flor da pele.
Cada vez mais, sou Lulu Chorão!!!
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Fazendo fole...
Leitor assíduo da coluna, todo domingo à noite me liga e diz: - Lulu, li sua coluna. Ilhéus é igualzinho, tem essas mesmas histórias!
Fica fácil conversar com ele porque as particularidades são próximas. Busco mais uma relação e vejo que somos da mesma Capitania, a dos Ilhéus, do donatário Jorge de Figueiredo Correia e pergunto:
- Você sabe o que é fazer fole? A gente não se agüenta na risada e ele responde:
- Você está na profissão errada, devia ser jornalista!
A conversa continua e emplaco: - “Fazer fole” é diferente de “bater o fole”, você não acha? Mais alguns momentos de gargalhadas e vamos lembrando das coisas comuns. Antes, eu peço que responda a diferença entre “fazer fole” e “bater fole”. Ele emenda que o ferro de gomar, além do fole, precisa do sopro de quem passa a roupa, cuidando para que as fuligens não caiam no tecido.
- Fazer fole é entregar alguém, fofocar, brincar com as pessoas, estou certo? disse ele.
Tão certo que Guilherme foi aprovado no seu conhecimento de termos comuns usados na capitania hereditária. A conversa agora começa a ficar séria. Nós passamos por tudo isso e não faz muito tempo. Fomos lembrando de coisas e comportamentos de outras épocas, das mudanças no curto espaço de tempo.
Durante a conversa, ia ligando as coisas que aconteciam em Poções. No beco apertado, havia a maior quantidade de alfaiates. O fole da tenda de Tani (Otoniel Monteiro Costa) ficava na porta e quando a gente passava, tinha sempre alguém batendo. Mais abaixo, na tenda de Arnóbio, Valter e Déo também tinha o fole em plena atividade. O mesmo acontecia na tenda de Alfredo, na subida para Morrinhos
Falamos da facilidade em que hoje compramos nas farmácias. Ligamos e pedimos, sem cerimônia, um pacote de camisinhas, modess e outros e quando recebemos conferimos os produtos na frente do entregador. Lembrei-me da farmácia de Fábio Rocha e a cena era comum: Um cidadão precisava comprar modess (absorvente feminino) para a esposa e não tinha coragem de entrar na farmácia e fazer o pedido. Os modess eram vendidos em caixas de papelão e ficavam arrumados no alto da prateleira. O cliente apenas cumprimentava Fábio e olhava em direção à prateleira e com o bico apontando para que ele entendesse. Lógico que não precisava falar nada e nem pagar. Habilmente, a despesa ia para a nota.
Nas farmácias de Dr. Ari, Fábio e Seu Olímpio, existiam os almanaques Fontoura e Sadol. Quem lia a histórias de Jeca Tatu acabava tomando Anquilostomina para combater o hospedeiro que causava o amarelão. E tome Capivarol, Emulsão Scoth, biotônico Fontoura, Cafiaspirina e tantos remédios – alguns deles ainda fabricados.
Fui contar essas histórias na casa da minha sogra e a juventude de lá não se lembra da enceradeira. Imagine alguém se lembrar do escovão, aquele que tinha uma placa de ferro para ajudar a pressionar as cerdas no chão. Bater o escovão depois de espalhar a cera por toda a casa, era um trabalho insano. A invenção da enceradeira poupou o trabalho de muita gente. Interessante que os cachorros manchados de vermelho também sumiram.
Não faz muito tempo, 45 anos, luz era um objeto carente. Bastava “quebrar” o motor e a cidade ficava dias sem energia. Era na base de pequenos geradores que funcionava o cinema e algumas casas. Geladeira só a gás. Os rádios eram na base do acumulador de energia. A cidade tinha o seu movimento a noite limitado até as 22 horas, quando tudo escurecia. São Jorge estava lá, na lua, e se enxergava melhor a constelação do Cruzeiro do Sul.
A energia elétrica é a responsável pelas comodidades dos dias atuais. Será que conseguiríamos trocar o chuveiro elétrico pela lata d´água? Viver sem computador depois das dez da noite? Trocar a lâmpada pelo candeeiro a gás? Estudar com luz de velas?
Pois é, tomar Coca-Cola em Poções era negócio de luxo, só existia em Conquista. O máximo que circulava na cidade era gasosa de limão e guaraná Fratelli Vita. Crush e Grapette eram coisas moderníssimas e comercializadas em engradados de madeira.
Andorinha e Campineiro eram as marcas dos distribuidores de doces naqueles caminhões pretos, Mercedes-Benz, ano 56, cara redonda. Com sorte, ler um jornal só com dois dias de atraso. Quando uma pessoa morria fora de Poções, a notícia vinha via rádio ou telefonavam para Conquista e de lá partia um mensageiro e, muita vezes, o falecido já estava enterrado.
E Zé Carlos Leto ainda me escreve dizendo que tempos bons eram esses daí e viaja nesse tempo de saudades...
Nossa sorte Zé, é que nunca jogamos pedra na cruz, a não ser no pé do cruzeiro da Lapinha e não foi nenhum pecado.
E se não foi pecado, será que foi progresso mesmo chegarmos até aqui?
Depois eu conto o dia em que o telefone tocou em Poções pela primeira vez. E essa garotada vive reclamando do celular e do acesso à internet.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
ApelidE
(ATUALIZADA EM 05.04.2014)
“Apelide” era como a gente pronunciava a palavra apelido em Poções.
Com essa expressão, comecei a conversar com meu amigo Gildásio Possidônio de Lima Filho, um baiano da Caroba de Irará, terra de Dida da Seleção e do grande artista Tom Zé, no bar do Lula, na Cesta do Povo do Ogunjá.
Era sábado, nem um dos dois tinha pressa, nem fome. Compramos dois reais de camarão seco e ficamos tomando cerveja até a hora de almoçar o resto da feijoada, quase fria, servida no balcão “a la self-service”.
Fomos contando histórias e lembrando do cotidiano das cidades do interior, quando esbarrei na pergunta:
- Com essa “palavrona” no meio do seu nome, você não tinha um apelido?
- Tinha e tenho até hoje. Sou Dau de Julita, respondeu.
- Uma justa e bela homenagem pra quem já carrega o nome do pai, emendei.
Comum nos interiores as denominações de propriedade das pessoas. Contei que lá em casa, meu pai se chamava Amedeo e era mais conhecido pelo apelido de Chico que pelo próprio nome. Variava com Chico da Loja, Chico Sarno e tantos outros. Uma confusão nas correspondências e, muitas vezes, achavam que se tratava de duas pessoas. Com isso, além de Lulu Chorão, fiquei conhecido como Lulu de Chico.
Gildásio contou algumas passagens de Irará e se lembrou que ainda teria que visitar a sua mãe Julita naquele dia. Disse que a conversa ia rolar com outros velhos amigos já que Dida e Tonzé não estariam na cidade (pura pretensão de interiorano, eu conheço). Ia se encontrar com um tal de filho de Nega que Mata Vaca, o fulano da Farmácia e outros com apelidos estranhos.
Lá pelas 5 da tarde, a gente se despediu. Voltei pra casa lembrando dos apelidos dos conterrâneos poçõenses e passei a anotar alguns deles em um pequeno pedaço de papel. Foram tantos, que comecei a colocar em ordem alfabética na tela do computador e vi que dava até para classificar.
Passei a semana nesse exercício. Ativei todas as baterias dos neurônios. Na minha cabeça, rodavam as ruas de Poções, as casas comerciais, as festas, as pessoas circulando e, o melhor, lembrava de histórias e mais histórias. Achei apelidos do tempo de criança. Fiz uma verdadeira viagem no tempo. O pessoal daqui de casa dizia que eu estava ficando maluco quando lembrava de alguém no meio do nada e anotava no papel.
Gente que conheci, que convivi. Gente que já se foi. Gente que não vejo há muito tempo. Já são mais de 340 “apelides” (apenas masculinos). Dos sérios aos engraçados, eles fizeram parte também da vida dos seus donos e ficaram registrados na nossa cidade e são tratados aqui com toda a dignidade e respeito. Eles fazem parte da história.
Minha única preocupação, agora, é saber que esqueci de alguns. Paciência! Vocês vão viajar nas suas histórias, lembrar de mais gente e me enviar para aumentar a relação dos apelidos do nosso povo.
Agradeço ao meu amigo Dau de Julita pelo papo que resultou essa crônica. Aliás, confesso que foi uma das que mais me causaram emoção e prazer em pensar e escrever.
Nota do blog: Nasceu em 11.07.2012 Pedro, filho de Gildásio/Cláudia, neto de Julita - vamos aguardar para saber o apelido do menino, mas que sejam muito bem vindos - o menino e o apelido.
Apelidos – baseados em nomes de animais
Artur Rato Branco, Anísio Caçote, Aurino Gambá, Bidinha Cabra, Cesário Rabicó, Coelho (Fernandinho), Coelho (Acascp), Davi Cara de Jegue, Diva Mão de Onça, Edson Jacaré, Fernando Boião, Franga Preta, Gavião do Deserto, Gilberto Galo Cego, Ivan Pavão, Jorge Galinha, Leão Guarda, Lobão, Lobinho, Luiz Morcego, Luiz Surucucu, Mama na Loba, Marco Antônio Cara de Onça, Marcos Lagartixa, Marquinhos Cocá, Marquinhos Peruzinho, Nilton Porquinho, Oga Bode, Piolho, Ratinha, Renan Vaca Gorda, Tonhe Gabirú.
Profissões
Adelson do Portal, Adevaldo Radialista, Agenor da Cachaça, Alcides Retratista, Alfredo Alfaiate, Almir Serra Pau, Antonio Ourives, André da Ótica, Arnóbio da Cachaça, Bal Alfaiate, Barberim, Beto da Loja (Beto Penicilina), Celso Relojoeiro, Chico da Loja, Daje do DNER, Del da Alfaiataria, Dezin do Leite, Didi da lage, Dió Moto-Taxi, Duca do Bar, Enéas do Gás, Fafá Mata Égua, Fidélis do Arroz, Gil do Box, Hélio Manteiguinha, Homero Pintor, Hormindo do Rádio, João do Leite, João do Queijo, Joaquim Carregador, Jonas do Reforço, Lande da caçamba, Locutor Fabiano Ferreira, Louro Saboeiro, Márcio do Celular, Marcos Agente de Saúde, Marcos do Moto-taxi, Miguel Açougueiro, Mimi do Óleo, Nelson Pintor, Néo Ferreiro, Niltão do Fórum, Oscar do Posto, Pedro da Farmácia, Professor Carlos, Professor Kleber, Professor Rosalvo, Orlando Som, Pulú do Cachorro Quente, Quinca da Farmácia, Reginaldo do Posto, Rogério da Caixa, Rui Queijinho, Sargento Izaías, Sargento Jaílson, Sérgio Mota (Sérgio Motos), Terêncio do Bicho, Tonhe da ABB, Tonhe do Feijão, Ulisses do Rádio, Valter Gabriela, Vavá Açougueiro, Vavá da Coelba, Vieira da carne do sol, Zé da Loja, Zé Dentista, Zé do Pão, Zé Sapateiro, Zil da Relojoaria, Zu Latoeiro, Zu Ferreiro, Zuca Fiscal.
Em nome do pai, da mãe, ....
Arnaldin de Zu Latoeiro, Batatinha (João), Bida de Pasqual, Carlos de Daniel, Di de Marcolino, Didí de Eurípedes, Duardo de Pasqual, George de Jorge de Duca, Geraldo de Doninha, Gilmar de Abel, Hélio de Afonso, Jó de Marcolino, Joaquim de Rádio, João de Catão, Jorge de Duca, Jorge de Ucha, Lulu de Chico, Kau de Edite, Marquinhos de Tidinha, Neumir de Marcolino, Neumir de Miga, Paulin de Doca, Paulo de Aníbal, Paulo de Fábio, Pedro de Anália, Pedro de Diná, Raul de Paulo de Fábio, Santo de Zizio, Tim de Eurípedes, Tim de Louro, Toinzin de Carlito, Tonhe de Doca, Vilma de Kel, Zé de Alfredo, Zé de Dahil, Zé de Doca, Zé de Lausinha, Zé de Paladino (Patel), Zé de Vadim, Zé de Zú, Zostinho.
Pela geografia
Boa Nova, Carlinhos Carioca, Candango, Fidélis de Boa Nova, Pedro da Barreira, Serra Preta, Vani do Açude, Zé Califórnia, Zil do açude.
Pela aparência
Abílio Roxo, Ari - o Príncipe, Bruno Gaso, Capacete (Tonhão), Cara de Jaca, Careca, Carlinhos Regaçado, Castelo Branco (Banco do Brasil), Cesar Pedra, Daniel Rosinha, Decalcado, Deixa que eu chuto, Dó Baixinho, Fernando Melancia, Gaso, Geraldo Cafona, Guimar Vampiro, Gutão, Hélio Virote, Homem da Cruz, Isac Pé de Rodo, Ito Pezão, Jânio Barriga, Jipe, João Bonitin, João Pé Real, João Só (Aziz), Jorge Boneco, Jorge Uriudo, Latão, Mortalha, Nêgo Lino, Nêgo Rege, Nêgo Rosi, Nêgo Vando, Néo Bicudo, Néo Paciência, Nildo Cabeludo, Orlando Tonel, Osvaldo Catingueiro, Paulo Barão, Pé de Banha, Pé de Barro, Rui Barriga, Toinho Cabeção, Tonhe Feio, Tonhe Gordo, Turniado, Ulisses Gogó, Valdemar Branco, Valdemar Preto, Vicente Cheiroso, Vicente Lampião, Zé Creca, Zé Foen, Zé Perninha, Zé Pescoço, Zezin Bocão, Zoma Barriga, Zuza Pezão.
Pornográficos
Abel Cagão, Edilson Cuião, Jorge Bufão, Léo Bostinha, Luiz Bosteiro, Osvaldo pega-na-bosta, Quenga, Siri Caçola, Zé Bufinha.
No aumentativo e no diminutivo
Almizinho, Baninho Guarda, Bizinho, Cebolinha, Cumpadinho, Darinho, Fiinho, Gimirim, Gugu, Gutinha, Letão, Letin, Licinho, Lofinho, Lourinho, Maninho, Muzinho, Napinho, Nelsão, Nobertin, Nozinho, Nuguinha, Pedro Sibim, Quequinha, Rael, Riquinho, Rominho, Sonson, Tina, Tininha, Vecinho, Zequinha, Zezel.
Ecológicos
Dêga, Firmino Cravo Branco, Goiaba, João Mercório, Lago, Mário Goiabão, Mero, Rocha.
Italianos
Bajolão, Beleleu, Bruno Beçola, Caúva, Fidelão, Gueguel, Luizito, Lulu Chorão, Marão, Miguelute, Penute (Pinuccio), Pepone, Pipinho, Satobão, Solista.
Músicos
Alcides Bordado, Berecó, Bubuca, Chicão, Cidinho, Pitôco, Sandoval Caúca, Senhorzinho, Tião, Tonhe Faca Doida, Vilmar Coxinha, Xirico, Zé do Sargento, Zé Tenaz.
Na estrada
Alfredo Zefa Doida, Papel, Terão, Tonga, Tota.
Dos Fagundes
Bartola, Bil, Adilson Cabeção, Cebola, Deduca, Dega, Déo, Dudui, Dúi, Jota, Léo Fera, Nenzin (Nilton), Quito, Ti Nadinho, Tonhe Banana, Vei Neném, Viví.
Velha Guarda
Badinho, Batatinha (Alcides), Carlito de Uchinha, Dé, Dindo, Dôca, Fernando, Bigode, Frazin, Liligo, Liquinho, Lô, Lulu (Prefeito), Malagueta, Maneca, Miga, Nelito, Nenga, Nenzinho, Nino, Pedro Boca de Sebo, Tani, Ton de Nino, Ula, Vavá, Zizio Ferrugem.
Malucos
Dió Doido, Ruduleiro Morotó, Tunico, Véi de Zé Galo.
Bons de bola
Aví, Borrela, Bubute, Cal Barú, Capela, Cumpade Laro, Cumpade Nozin, Dái, Dão (Laudelino), Espirro, Ganapa, Jorge Bode, Lejo, Lejado, Mela, Miel, Mirinda, Nêgo Déo, Nêgo Gerson, Pata, Patel, Ponga, Tena, Ti, Tonhe Ximbica, Toninho Galego, Zozó.
Longe do nome verdadeiro
Agonia, Bada, Belisco, Biringo, Budu, Catão, Dena, Deputado, Diva, Fazendeiro, Fura Fura, Já Modeu, La Fontaine, Minuca, Mituca, Mufula, Nino Aprígio, Pancho, Pão, Tinga, Tléis (Alênio), Xarope, Xerife, Zé Catemba.
Outros
Cadê o pão Matheus? César Lubião, Chico Picolé, Fafá, Garapa, Lié, Luizão, Ni, Osvaldo Cientista, Paulo Bibimirim, Pepeu, Praxeda, Rafael Birro Doido, Roni, Rudiá, Tonico, Tonhá.
Colaboraram: José Paladino (Zé de Paladino), Jorge Dantas (Jorge Bufão), Luiz Carlos Schettini Barbosa (Luiz Bosteiro), Michele Sangiovanni (Miguelute) e Jorge Schettini Torres (de Ucha).
Lista do TRE candidatos a vereadores de 2012.
terça-feira, 20 de outubro de 2009
O muro do açude
Quem vê aquele canal, certamente se lembra das enchentes. Não imagina quantos problemas já trouxe para Poções. Hoje, o canal está feito. As enchentes acabaram.
Numa certa tarde, o céu ficou escuro e caiu uma tromba d´água nas cabeceiras do açude e no canal que passa defronte ao Isaias Alves. A água ficou retida nas duas praças e invadiu a Deocleciano Teixeira.
Era muita água. O povo correu para a parte alta da Rua da Itália e aguardava mais inundação. Dali, da porta da Tipografia de Alcides Batatinha, diziam: “o muro do açude caiu, o muro do açude caiu”. Era esperar pelo dilúvio, pois o açude São José inundaria a cidade.
Uma cena que me lembro como se fosse hoje. Desesperados, com as crianças, estava Carlos Rizério e Dona Célia. Eles moravam na Praça do Coreto e se livravam da inundação, mas bastante assustados com a notícia.
Em meio ao desespero, muitos comentavam o assunto e percebiam que a água não chegava. O que era desespero passava a ser alívio.
Na Praça da Igrejinha, onde hoje é “O Gaiolão”, havia um terreno baldio murado, bem ao lado do açougue de Seu Miguel. O muro era utilizado para propaganda política (uma delas era do Plínio Salgado).
Tanta chuva que o muro não resistiu à força dela. Bastou alguém gritar que “o muro do açougue caiu” para entender que “o muro do açude caiu”.
Enfim, o dia em que um erro de comunicação transformou o muro em um dilúvio.