Revendo fotografias de 1973, fui buscar no tempo (aliás, no Google) o que aconteceu naquele ano:
- Morreram três Pablos – o Neruda, o Casals e o Picasso;
-A Grã Bretanha, Irlanda e Dinamarca passaram a integrar a Comunidade Européia;
- Armando Marques errou a contagem dos pênaltis na partida final entre Santos e Portuguesa, que acabaram campeões paulistas daquele ano.
- Ocorreram seis Ba-Vi´s – Vitória ganhou três e o Bahia apenas um. O Bahia foi o campeão;
- O piloto François Cevert morreu no treino do grande prêmio da F1 dos USA;
- O estudante Alexandre Vannucci Leme foi morto por policiais do DOI-CODI;
- Polícia Federal proibiu 46 revistas estrangeiras e 14 nacionais;
- O General Médici era o presidente da República e assinou o acordo para a construção do gasoduto entre Santa Cruz de la Sierra e a Refinaria de Paulínia-SP;
- ACM era o Governador da Bahia.
- Surgiu o grupo musical Secos e Molhados. Riachão lançou seu primeiro LP;
- Salvador Allende, socialista chileno, foi morto em 11 de setembro (!) pelas forças comandadas por Pinochet;
- A banda Led Zeppelin fez a mais lucrativa turnê da história – 3 milhões de dólares;
- A inflação no país era de 15%;
- As reportagens internacionais chegavam ao país via Varig;
- Raul Seixas lançou o LP Krig-Há Bandolo;
- Lula era secretário do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo;
- O cantor Evaldo Braga morreu vítima de acidente de automóvel;
- O Maverick e a Brasília tiveram as suas fabricações iniciadas;
- Pedro Alves Cunha assumiu o segundo mandato como prefeito de Poções.
Feliz 1973? Foram tantas as notícias ruins. Passávamos por uma situação que chamavam de “anos de chumbo”. A imprensa era muito perseguida, havia censura para tudo que se escrevia.
Como na maioria das cidades do interior, o rádio trazia mais rapidamente as notícias. A televisão em Poções já era uma realidade, mas vivia constantemente fora do ar devido às retransmissões torre-a-torre. Uma ligação telefônica demorava dias para ser completada. Ninguém conhecia um micro-computador.
Poções, na verdade, era um mar de tranqüilidade para nós jovens, mesmo com a repressão às ideologias políticas dos militantes no país e pela ausência de recursos tecnológicos.
Passávamos as férias entre a sinuca do bar de Duca, o pão com manteiga de Arlindo, o banho de rio na Cachoeirinha e, à noite, improvisávamos uma seresta no Coreto ou no jardim da praça. Outra opção era fazer uma “festa” na casa de alguém - bastava uma radiola portátil, alimentada a pilha. Eram ambientes propícios para “fumar escondido” e beber cachaça, literalmente.
Nossa turma usava cabelo comprido até os ombros ou o famoso “black-power” no estilo Antonio Celso, penteado rigorosamente com aqueles pentes de arame chamados de pata-pata. Na moda, a camisa de “banlon” com gola cacharrel e o cinto largo, de couro, com uma fivela imensa na calça apertada e com a boca de sino.
Apesar dessa descrição de jovem avançado da época, vivíamos um tempo onde as famílias participavam de tradicionais festas como o Reveillon e o Carnaval, sendo muito comum fazerem a passagem de ano no clube social. Costumeiramente, as mesas eram compradas sempre pelas mesmas famílias por causa do relacionamento entre si e da possibilidade de juntar uma à outra. Só modificava essa posição das mesas quando na festa anterior houvesse rolado uma briga e, nesses casos, a própria direção do clube se encarregava de fazer a estratégica mudança, evitando o encontro dos desafetos.
Era muito bonita a confraternização à meia noite. Até o final da festa, todos já deveriam ter dado um aperto de mão ou abraço e o desejo de um feliz ano. Renovava-se a amizade, o respeito e o apreço pelo outro para mais um período.
Percebo que essa atitude perdura-se até hoje. Quando encontro pessoas daquela época, parece que elas têm o mesmo sentimento de que o tempo não passou.
Feliz 1973. Feliz 2010 a todos nós.
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