"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Um adeus a Bada...

Hoje pela manhã, assim que cheguei no trabalho, alguém me pediu o telefone de uma pessoa com a letra Z. Fui na agenda e quando procurava vi o nome de Zé de Dôca e o número que Adriana, a sua irmã, me passou. Naquele momento, comentei comigo mesmo: - como a gente não liga para os amigos? Imaginei ligar pra Zé Francisco (o Zé de Dôca) e dizer o quanto sentia vontade de dar um abraço, religar o passado. No entanto, não fiz a ligação.

Passou aquele momento e estava reunido com um cliente quando o telefone tocou. Vi que era Michele, meu irmão. Comentei com a pessoa: - Dá licença, pois essa hora pra meu irmão ligar é pra dar notícia ruim! Eu disse: - morreu alguém no nosso interior, lá em Poções. Não deu outra. Dava conta do fulminante infarto que tirara a vida de Bada (Zilovaldo Ferreira Ramos), irmão de Zé Francisco.
Zilovaldo Ferreira Ramos (Bada) - Foto: Luiz Sangiovanni

Fui buscar nos meus arquivos a foto que fiz dele, em outubro de 2012, e tive o triste cuidado de informar o ocorrido para os amigos de Poções.

Passei o dia pensando na rua da Itália, na família Ferreira Ramos, nossos vizinhos-imãos de casa e o quanto convivi com eles. Pessoas fortes de espírito, de educação firme dada por Dôca e Zilda, seus pais. Em vários momentos do dia eu recordei passagens. Afinal, a minha infância estava ali. A formação do caráter nas brincadeiras do dia-a-dia, a convivência ajudando-os na limpeza dos diversos motores dos jipes e Rurais que Dôca ensinava o manuseio a todos nós. Olhei para a Oficina de máquinas pesadas que hoje dirijo e agradeci pela convivência e experiência que adquiri. Vêm de lá – nasceram ali.

Lembrava que o nome Zilovaldo era a junção de parte dos nomes dos pais Zilda e Florisvaldo. Do tempo de namoro dele com Ládia (Ladinha), a filha de Dahil, que pareciam ter nascidos um para o outro - namoro de menino, feito na rua da Itália. Da figura de pacificar os irmãos em opiniões diversas. Os “cãos de Dôca”, como eram chamados, tinha um líder calmo e justo para uma palavra de harmonia que era Bada. O fato de uma família ser grande também no número de filhos (Tonhe, Paulin, Eraldo, Bada, Zé Francisco, Marcos, Marília, Adriana e Alex) precisava de uma mão extra nas ordens para ajudar aos pais na atitude sempre correta e justa – essa era a tarefa de Bada.

A Rua da Itália não é mais a mesma. Esvazia-se o passado. Troca-se por lembranças povoadas nas memórias de brincadeiras e convivências próximas, do frequentar a casa do outro. De pular o muro pra tirar frutas. Da confiança na intimidade, na revelação das mudanças adquiridas na puberdade. De como se transformar em verdadeiros homens e levar adiante a educação recebida pelos nossos pais. 

Essas lições a Rua da Itália nos deu.

Enfim, um momento de dor em nossa cidade. A falta de uma pessoa que ali conviveu anos e que prometia encerrar os seus dias naquele lugar será sentida. Vai-se Bada, vai a opinião comedida e certeira dos seus comentários. Toda as vezes que eu ia a Poções, era passagem obrigatória na sua casa de negócio para tomar uma pinga temperada que sempre fazia a questão de dizer a origem e oferecer como cortesia da casa. Naqueles banquinhos, sempre trocávamos algumas palavras, nem que fosse para atualizar as novidades das famílias ou comentar as publicações aqui no Blog.

Salve Bada!!! um dia muito triste para todos nós, como descreveu a sua irmã Adriana. Porém, tristeza em Poções e festa no céu. Festa na Rua da Itália da eternidade. Zilda, Dôca e os irmãos que estão lá os recebem de corações abertos e saudosos junto com os vizinhos da nossa rua, lugar onde todos nós nos encontraremos.




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