Texto original publicado em 2009 no extinto site Guia Poções
Nesse
final de semana, eu estive rapidamente em Poções. Atualizei-me sobre
a Festa do Divino. Quis saber se as notícias dadas pela pomba branca
eram verdadeiras. Só ouvi comentários e nenhuma confirmação da
programação da Festa da divisão. O sagrado e o profano ainda não
se decidiram. O certo é que no calendário, o último dia será em 31 de maio.
Se
a pomba estiver certa, teremos o ano da mudança. Festa dividida e o
Poções caindo para a 2ª divisão do futebol baiano.
Fiquei
conversando com o meu irmão Pepone na varanda de casa, lembrando de
coisas do passado, principalmente das brincadeiras. Da mesma forma
que a gente sentia que a hora não passava, parecia que as nossas
brincadeiras haviam acabado de acontecer.
Numa
época em que não havia internet, quais eram as nossas brincadeiras?
Ali
mesmo, na Rua da Itália, transformávamos um pedaço dela num campo
de futebol. O poste ao lado da varanda da nossa casa era um gol. O outro gol era no
limite entre o armazém de Fernando Schettini com a casa de Zóstenes
Vaz. O único lugar do mundo onde os gols ficavam no lugar do
escanteio. O local era exclusivo da criançada moradora da Rua da
Itália e a gente só perdia a vez quando Luiz Bosteiro chegava para
passar as férias em Poções. Era um terror, ninguém mais tinha
direito a nada, só ele mandava.
Também
era no armazém de Fernando que a gente brincava de esconder entre as
imensas pilhas de sacos de mamona e café que eram comercializados
naquela época (hoje funciona a
academia de Rosita Palladino).
Durante
o dia, lá na praça da prefeitura, a brincadeira era com o
pré-histórico pião. Pobre dos piões pequenos, as carrapetas ou
catatais. Normalmente, eles tinham o castelo “bizocado”. Na roda,
a gente só colocava o catatau.
Quando
não era pião, chegava a temporada do triângulo ou da gude. As
gudes eram compradas em Seu Emério Pithon, no Bazar Natal. Com
o “cocão” (gude grande) a gente dava o “aço” (bater na gude
menor para afastá-la da “casa”).
Ladrão
e polícia era a brincadeira preferida. Tinha mesmo que pegar o cara
no braço e levar para a “cadeia”. Normalmente a gente usava as
varandas das casas para fazer o cativeiro. Se bobeasse, o ladrão
invadia e bastava passar a mão na cabeça do preso para ele se
livrar.
Das
telas do cinema para a rua, foi trazido o “cowboy”, que era uma
variação “western” do ladrão e polícia. A imobilização do
bandido se dava com a expressão “comônio aí” uma espécie de
mãos ao alto. Normalmente, o bandido usava um lenço amarrado no
rosto, o que dava maior realidade e originalidade à brincadeira. A
atividade física era tão ativa que a sensação do frio passava e
ainda dava para brincar sem camisa. Esquentava o frio, como dizemos.
Com
os pequenos revólveres de brinquedo na cintura, daqueles de cabo
branco e rolinho de espoleta, a gente transformava a Rua da Itália
numa verdadeira praça de guerra.
Hoje,
nenhum sinal de brincadeiras. Naquela noite, apenas duas crianças
convenciam o velho Zica, caído e embriagado, para que encontrasse o
rumo da sua casa, evitando que fosse roubado e “judiado”
pelos malandros.
Durante
as quatro horas que ficamos na varanda conversando, tivemos a
presença de alguns amigos que participaram das brincadeiras do
passado, pararam seus carros e trocaram alguns minutos de boas
lembranças.
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