Em 1984, passei a
ser Gerente de Peças e tive a incumbência de visitar as filiais,
residências e clientes no interior da Bahia.
Durante
muitos roteiros, fiz parceria com Lauro Matta, experiente vendedor de
máquinas e um tremendo gozador. Ele era residente em Vitória da
Conquista. De lá, partíamos para o roteiro do Sul da Bahia até
Teixeira de Freitas. Itabuna era a primeira parada para dormir.
Sempre nos
hospedávamos no Lord. Havia um bar no térreo que era o ponto de
encontro dos viajantes da região. Hotel simples, com uma
particularidade nos apartamentos – um rádio de cabeceira da marca
Semp.
Em toda
viagem a gente se juntava ao residente da região de Itabuna José
Carlos, o Prego. Assim o chamavam porque era magro e a cabeça
grande. A gente se reunia no apartamento que me hospedava.
Prego viu
o rádio e pensando que era meu, perguntou:
“Mas você
leva esse rádio toda vez que viaja? – é pra ouvir jogo do
Flamengo? É muito sacrifício”.
“O rádio
é bom. Pega até a Rádio Globo antes das 5 da tarde. Já me
acompanha desde rapaz”, respondi.
“Você
quer vender? É pra meu irmão Deco, aquele lá de Teixeira de
Freitas. Ele fica sozinho e o rádio seria uma boa companhia. Pago
com cheque pré-datado”.
Lauro,
mostrando desinteresse na conversa, disse:
“Olha
San, lá em Conquista tem desses rádios, você compra outro. Deve
custar um duzentos, piscando o olho para mim”.
“É San,
Deco vai gostar, fica lá na filial sem ouvir nada. Nem televisão
ele tem. Vou levar o rádio pra testar por alguns dias” disse Zé
Carlos.
“É de
pilha e de energia, ele vai gostar, Tá bom, Zé, pague 150 e a gente
fecha o negócio. Faça dois cheques para os dias dos salários
seguintes”
Terminada a
reunião, Prego colocou o rádio sob o braço direito e empunhou a
pasta 007 com a mão esquerda e me pediu para chamar o elevador.
Lauro esperava por esse momento, pegou o telefone e ligou para a
recepção:
“Olha,
aquele cara que subiu vai levando o rádio do hotel. Pegue ele aí”.
A
recepcionista já o conhecia e, meio embaraçada, falou: “Seu Zé, ei seu Zé”.
Apontou o dedo para o rádio mas não disse nada. Continuou apontando
e falou “Seu Zé, Seu Zé, oh ..........., oh ...........
“Ah! O
rádio? Acabei de comprar na mão dos meninos! É pra Deco, meu
irmão”
“Certo,
seu Zé, só que o rádio pertence ao hotel”.
Desapontado,
subiu e foi direto para o apartamento de Lauro. Só se acalmou quando
viu outro rádio igual na cabeceira da cama. Ele compreendeu a
brincadeira e descemos para o bar. Meia hora depois, chegou com um
rádio comprado na Avenida Cinqüentenário para o irmão.
Meses
depois Deco faleceu. Zé Carlos fundou a Silmar, uma loja de peças
para tratores em companhia de Josivaldo, o Rivelino.
Notas do Blog
Depois de muitos anos sem contato com Zé Carlos, semana passada me ligou Zé Palladino e estava na loja dele, em Itabuna.
Lauro Matta, hoje, aposentado, mora em Salvador e é o Presidente da AMARV - Associação dos Moradores e Amigos do Rio Vermelho.
- Crônica inicialmente publicada no extinto site Terradodivino.com.br
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