"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Eurípedes Rocha Lima - Falecimento

Com informações de Adelson Meira do Portal Poções

Eurípedes Rocha Lima (Foto: Arquivo Pessoal - Reprodução)
Faleceu aos 87 anos, na tarde desta terça-feira (17), o ex-prefeito de Poções Eurípedes Rocha Lima, considerado um dos maiores políticos da historia de Poções e região. O ex-prefeito tinha problemas cardíacos e fazia hemodiálise regularmente. Após um infarto na última semana, passou dias internado e se submeteu a uma cirurgia, permanecendo na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), quando sofreu um novo infarto e morreu. Eurípedes Rocha Lima deixa uma história exemplar na política local. Ele foi o único político que exerceu os três cargos eletivos no município; vereador, vice-prefeito e prefeito. Após ser vereador, ele foi escolhido para ser vice-prefeito do saudoso Otávio Curvelo e em seguida foi eleito prefeito de Poções. Seu mandato a frente do município durou seis anos, de 1983 à 1988. Homem público, pai de família, líder político, Eurípedes deixa mais que saudades a parentes e amigos, deixa a história de um homem que ajudou a desenvolver a querida Terra do Divino.

Eurípedes, centro, com os vereadores, na sua gestão (Foto: Ricardo Benedictis)
Nota do Blog
Os meus sentimentos nesse momento de dor. Abraços aos seus filhos e parentes.
A última vez que me encontrei com o Sr. Eurípedes foi na praça, junto ao monumento a Tonhe Gordo, exatamente na manhã do domingo do episódio do sumiço do busto. Falamos um pouco de política e lembramos de histórias ligadas à administração de Poções.
Do nosso encontro até dias atrás, não estávamos distantes. Poucos tempo faz, o Sr. Eurípedes se inscreveu como seguidor do Blog. Com certeza, ele era um apreciador das crônicas e eu fiquei muito orgulhoso de ver a sua inscrição e pensei: Se Seu Eurípedes faz questão de acompanhar as crônicas, eu não posso faltar com uma boa história. Ele conhece muitas delas.

domingo, 15 de setembro de 2013

Saudades Eterna

Por Ricardo Sangiovanni - O Purgatório

Alithea, esposa de James Woodcock, morreu em 26 de agosto de 1850. Partiu jovem, com 28 anos apenas.

Dali a quinze anos, em 1865, morreria também a filha do casal, Elizabeth, também num agosto – dia 12 – e também jovem – com 24 anos.

Mais dez anos passariam até que morresse Benjamin, irmão de Elizabeth, filho de Alithea e James Woodcock, em 14 de abril de 1875. Jovem ele também: tinha 24 anos.

De tudo isso fiquei sabendo no dia em que visitei o cemitério abandonado de Sheffield, uma simpática e cinzenta cidade do norte da Inglaterra onde pude viver por alguns meses. Terra de que tenho saudades, muito embora não devesse – afinal em Sheffield sofri com o frio cortante e a renitente garoa, comi mal, bebi, fumei e trabalhei muito, e não vivi nenhum amor. Mas, enfim, saudade é essa coisa, a gente não explica.

Talvez por ter sido um período em que me sentisse criativo e imensamente poeta – aliás, foi lá que comecei com este bendito Purgatório. A lápide da família Woodcock e as de outras eu fotografei para caso um dia houvesse precisão de pôr nome verossímil n’algum personagem literário que porventura viesse a criar.

Acontece que desde então já mais de dois anos se passaram, e nenhuma história de personagem nenhum me surgiu – nem sei se um dia surgirá – , de maneira que eis-me hoje aqui revelando-lhes os truques de minha vida literária sem jamais ter tido uma.

Mas também, olha, isso de vida literária virou uma franca bobagem, porque requer mais mesmo é que o denominado escritor acumule pilhas de filigraninhas inúteis sobre livros e literatos, e que viva destilando menções sobre eles, e barroquiando a palavra fácil, e dando entrevistas para explicar seus processos criativos e influências e afins; enfim: requer bem mais vestir-se de toda uma parafernália pop, bem menos tratar de viver e pesquisar e padecer e lapidar até chegar a algo que preste que mereça ganhar forma de livro.

De sorte que, ao tomar a família Woodcock por mero estoque onomástico, por pura ansiedade literária, eludi a pergunta fundamental, da qual talvez parisse alguma literatura: por que será que a mulher e os filhos de Woodcock morreram todos tão cedo? Terão sido vítimas do trabalho extenuante nas fábricas insalubres da região? Ou terão morrido cada um por um motivo: Alithea de complicações do parto de Benjamin; Elizabeth pela saúde frágil que passou a ter desde que precisou trabalhar para suprir a falta da mãe; Benjamin porque, na falta da irmã e da mãe, deprimiu-se e entregou-se ao álcool e ao frio? Ou, pior: terão sido progressivamente eliminados pelo próprio Woodcock? Ou, ainda pior, por sua segunda esposa, Hannah Rodwell, ou por ambos mancomunados, uma vez que esses dois só morreriam (como informa também a lápide) muitos anos depois, já próximos de completar 80 anos?

Cada uma dessas perguntas daria início a uma bela história inventada, de fato. Mas, ainda assim, talvez nenhuma delas fosse a pergunta correta. Talvez mãe e filhos tenham morrido vítimas de alguma maldição conhecida em toda a cidade na época, feito uma maldição que já se passou na cidade de Poções – Bahia, entre final dos anos 1960 e início dos 70. Foi uma doença congênita, cujo nome agora ignoro, que levou cedo três irmãs, aliás as moças mais bonitas da cidade: Vaneide, aos 23, Rosa Amélia, aos 22, e Vera Lícia aos 26 anos.

Assim contou-me meu pai, em uma visita que fizemos ao cemitério da cidade certa feita. Se fosse para eu ser escritor, talvez já tivesse transformado essa história em algum conto, ou com ela dado início a algum romance. Mas não, segue me interessando mais ir amealhando semelhanças, miudezas que vou guardando num baú infinito de lembranças soltas e trocos de pinga, coisas que talvez ainda volte a encontrar no futuro, talvez não.

Aliás, naquela visita, fixei-me, mais do que na história das moças, no epíteto escrito nas lápides delas: Saudades Eterna. Reparando, vi que é o que está escrito não só nas lápides delas, mas em quase todas as lápides do cemitério: Saudades Eterna. Estranho: achava que o certo fossem saudades eternas. Ou saudade eterna. Enfim, não importa, de qualquer jeito é saudade, essa coisa que a gente não explica.

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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Sem cabeça...

Semana passada, fui fortemente cobrado por alguns parentes e ferrenhos leitores do meu blog, principalmente o Dr. Antônio Libonati e seu filho Sérgio Roberto, porque estou demorando de postar as crônicas.

Em meio a tantas viagens que venho fazendo, a culpa foi mesmo do facebook. Reabri a minha conta e direcionei o tempo de escrever para o de ler postagens diversas. A quantidade de pedidos de amizade triplicou e gasto boa parte do tempo entendendo o funcionamento dessa nova (pelo menos para mim) ferramenta de comunicação.
Mas, não cabe, nesse momento, nenhum comentário sobre a ferramenta – apenas concordando com boa parte daquilo que vejo e justificando a atualização do blog.

Suspendendo o “face”, voltando ao blog, voltando a Poções, confesso que estou estarrecido com as notícias que leio na imprensa local da nossa cidade. Arrancaram a cabeça de um cidadão chamado Uruba e jogaram na lagoa. Crime ocorrido na antes pacata Lagoa Grande, local de oleiros e do campo de futebol onde o Cruzeiro, de Aziz Galdino Freire, disputava grandes partidas. Local onde ficava o discreto e pacato cabaré (era o de Zé Dias?), animando as noites poçõenses.
Nós, antigos cidadãos, não tínhamos ideia que chegaríamos a esse ponto de violência. Antigamente, um assassinato era comentado por meses até a solução no fórum, quando ocorria o juri. Em geral, cometido por legítima defesa. Era uma simples nota nos jornais de Seu Liquinho ou de Alcides Batatinha. Hoje, quando abrimos os sites e blogs, deparamos com tanta barbaridade e a gente vai se acostumando com fatos dantescos que entram para uma anormalidade “natural” crescente.

Será, então, que tivemos que chegar ao limite da barbaridade para dizer basta a tudo isso ou vamos continuar esperando uma outra forma mais anormal de assassinato?
É um problema público e geral na nossa cidade, no estado e no país que carece a ativação de políticas públicas, rigidez na aplicação de penas ou criação de tolerâcia zero para esses crimes – pena de morte? Não sei explicar como resolver. Sinto um clima de impotência das autoridades para enfrentar esse problema de tamanha complexidade.  

Semana passada, acompanhei a minha filha para um registro de furto numa delegacia aqui de Salvador. Ouvindo os conselhos de cuidados e recomendações da escrivã, percebi que não mais teremos paz: “o ladrão tem que levar algo de valor para pagar a droga senão quem vai morrer é ele. A vida passou a ser banal. Ele vai roubar ou matar simplesmente para encontrar algo de mínimo valor”, disse ela.
Preocupante, assustador... sem cabeça!!!

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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Renato Schettini

Por Renato Schettini

Cresci numa cidadezinha do interior do estado da Bahia, aonde vi a lua mais bonita no céu, as estrelas mais vivas e brilhantes, e divaguei nos meus sonhos de menino e de adolescente. Atento e curioso, me encantavam o fervor da fé e a devoção do povo simples no Divino Espírito Santo; a beleza da renda de bilro que minha avó Anita, lavadeira de mão cheia, fazia com tanta habilidade; as mulinhas dos ternos de reis, principalmente o de Seu Febrônio, o mais famoso da cidade.

Cresci. Transformando-me do menino que roubava as mulas que transportavam lenha para queimar no fogão da minha casa, para um passeio rápido cheio de aventuras; que brincava de guerra espacial com parafusos enferrujados e máquinas de moer carne que estavam empilhadas em algum lugar no fundo do quintal; que achava gelo uma invenção maravilhosa e o sorvia secretamente escondido nos pés de gabiroba do quintal da casa aonde cresci, em um adolescente descobrindo o mundo. 
Tudo foi rápido e veio aos borbotões. Chegaram-me aos meus ouvidos João Gilberto, os Beatles, Gal, Caetano, Gil, Bethânia. Li Lobsang Rampa e sonhei em ir embora para o Tibet e ser budista. Clarice Lispector me encantava com a sua poética estranha, Carlos Drumond de Andrade, Agatha Christie... O tempo foi selecionando meu gosto, o mundo me ofertando uma gama de novas possibilidades, de sons.

O despertar político me juntou a um bando de gente boa, que ajudou a tecer em mim sonhos de um mundo mais justo, mais humano, menos dividido... O menino que foi anjo de procissão do interior estava se transformando em um rapaz e descobriu o álcool, o cigarro, o sexo, o prazer e o mundo e sua intricada política... Chegaram às minhas mãos Elis Regina, Billie Holiday, Nat King Cole, Connie Francis. O Clube da Esquina, Beto Guedes, Lô Borges, Elomar, Xangai. Sempre gostei de misturar tudo e tanto lia Gorki, Stendhal ou José Lins do Rêgo. Me fez sonhar a Lagoa Azul, Superman, via filmes que inspiraram o Tigre e o Dragão com a fome de um chinês voador, Mazzaropi, Ghandi, Luz Del Fuego... Eu era uma máquina aberta para o mundo.

Salvador me fez ficar mais refinado, mais crítico, mais seletivo. Cursei História na UFBA e descobri um Universo de possibilidades. Amei conhecer Chet Baker, me aprofundar no jazz o estilo musical que mais escuto hoje em dia. Vivi na Residência Universitária e apurei meu senso de mundo, de irmandade, de preservação também. Amei conhecer Hilda Hilst, Verger, Hobsbawm e tanta coisa nova. Eu voei e ganhei o mundo...

Determinadas horas acho que o mundo esta mais louco que parece. Ainda sonho com uma sociedade mais justa, mais humana, com pessoas menos sacanas, com feijão na mesa de todos. Amei ver o PT subir ao poder, mas me decepcionei na mesma medida. Descobri o universo religioso aonde sou mais gente que nunca e fico feliz de ver que a minha religião me aproxima cada vez mais do povo e que aquele garoto que nasceu e se criou em Poções ainda corre e brinca em mim, ainda quer um país mais fraterno, menos consumista, com mais oportunidades para todos e que mais espertamente sonha com os sonhos de menino.

Por isso escuto com alegria a ponte entre Caetano e Emicida e percebo que as linguagens, as relações e os refluxos das marés sempre trazem algo de bom.

Salve Caetano, esse cara que me faz pensar em envelhecer com mais qualidade...

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