Fico vendo esses casos de pessoas
que saem de interiores longínquos, enfrentam a vida na capital, se esforçam e
se tornam grandes atletas.
Na Escola Técnica do bairro do
Barbalho, no ano de 1973, aqui em Salvador, havia três professores de educação física:
Valmir, João Célio e Coelho, todos boas praças. Eles incentivavam a nossa
participação em diversas modalidades de esportes – eu sempre gostei de jogar
volei (modéstia à parte, jogava bem) e aproveitava a bagagem que trouxe do
Ginásio de Poções.
Mas, eu queria ser um atleta destacado,
com capacidade de disputar os jogos interestaduais entre as escolas técnicas. O
caminho seria o professor João Célio, gozador nato, que me colocou o apelido de
Ameba, porque eu tinha as pernas brancas. Com o tempo, criamos uma relação respeitosa
e tivemos a oportunidade de conversar mais longamente, pois pegávamos o mesmo
ônibus (ele morava na rua do Destêrro e eu no Politeama). Conversando, me
perguntou se queria fazer natação na ABB (Associação Banco do Brasil), na
Barra.
Fiquei contente com a indicação.
Fazendo natação eu estaria dispensado das aulas de educação física. Fui parar
na ABB às seis da manhã para fazer o teste. Cheguei no local como um grande
atleta, de futuro promissor, pensava. O professor de natação me pediu para nadar
50 metros e ver como estava o meu rendimento. Com um apito na boca e um
cronometro na mão, autorizou a minha entrada na água. Nadei o que pude, o que
sabia.
Gentilmente, o professor pediu a
minha saída da piscina – vá tomar banho,
trocar de roupa pra gente conversar! Pulava de felicidades debaixo do
chuveiro, socava o ar e dizia - Chegou a
minha vez. Sou tão bom que o cara nem quis que eu terminasse!
Numa conversa franca, ele foi direto
e disse que eu teria que gastar muito tempo para aprender e que não tinha
nenhum estilo. Ouvir aquilo foi o mesmo que toda aquela água fria da piscina
caísse sobre mim. - Como um professor pode
descartar um talento da natação? Fui embora decepcionado.
No ônibus, vendo passar as
árvores do Corredor da Vitória, pensava e resmungava baixo, tentando entender a
decisão do professor e a minha decepção com todo o entusiasmo que cheguei ali.
O dia ficou marcado até hoje - Poções deixou de ter um
grande atleta mundial!
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