Em 1966, eu ouvi a Copa do Mundo pelo rádio. Foi na
Inglaterra e eu era um garoto de 9 anos de idade. Entre as descargas do rádio,
no vai-e-vem das ondas curtas, deu para ouvir a desclassificação do Brasil, que não
avançou para a segunda fase.
Era um rádio moderno, marca Semp, ligado na antena
externa. Hoje, com certeza, seria chamado de deskradio, seria um desktop, um rádio de mesa, de primeira linha. Mas,
o objetivo era ouvir e imaginar os jogadores correndo atrás da bola na mesma
velocidade dos locutores.
Já em 1970, eu entendia um pouco mais de futebol.
Tinha os meus incompletos 14 anos. O Brasil tinha 90 milhões em ação, dizia a letra da música. O rádio era uma opção quando não se tinha as imagens da televisão. A
primeira copa a ser assistida pela televisão em Poções, naqueles imensos
aparelhos das marcas ABC, Telefunken, Phillips, preto e branco, deixavam ver
que o Brasil avançaria para as finais.
Assistimos ao jogo na nossa casa da Rua da Itália.
Ainda não era o São João, dia 21 de junho, mas as bombas explodiam próximas à nossa varanda. Era a final entre Brasil e Itália. O Brasil saiu logo na frente e a
Itália empatou aos 37 do primeiro tempo.
Confesso que existia uma divisão de torcedores
brasileiros e italianos. Enfim, era um tal de “qualquer prazer me diverte”.
Estávamos na rua da Itália e era justa a predileção. Afinal, era uma partida
que todos torciam para que os dois times ganhassem, o que não existe numa final.
Só que o resultado foi 4x1 e o Brasil ganhou a Copa.
Juntaram-se os torcedores que desciam da praça da Prefeitura com aqueles que
vinham da praça, justamente para comemorarem tirando sarro dos italianos. De um
lado, as casas de Fernando Schettini, José Schettini e Emilio Sarno. Do outro,
a nossa casa, que estava com alguns italianos reunidos. Reduto verdadeiramente italiano.
O movimento ganhou corpo e a gritaria era na
porta destas casas. Minha mãe tinha receio de uma invasão e pedia para que meu
pai fechasse a porta. Ele foi na frente e quando apareceu na varanda, logo
aplaudiu as pessoas com as mãos levantadas, seguido pelos outros italianos
que estavam dentro de casa.
Quem conhecia a índole daqueles estrangeiros, sabia que tinham os corações azuis e as almas “pintadas” de amarelo e verde. Nada
mais justos de se juntarem à alegria dos “fratelli” poçõenses, recebendo, em
retribuição, as palmas dos que estavam na rua.
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