"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Pra frente Brasil, no meu coração...

Quando a Seleção em 1970 ganhou o tri, no México, tocava-se a música Pra frente Brasil, onde os 90 milhões de brasileiros entoaram e empurraram o time de Zagalo. Enquanto isso, o governo militar usava o futebol para disfarçar as suas investidas na repressão aos estudantes da época.

Conhecíamos o México pela voz do cantor Miguel Aceves Mejia, através dos alto-falantes do cine Santo Antônio.

Nessa nossa mini-copa de agora (Copa das Confederações), novas manifestações políticas e várias delas buscando os estádios de futebol e ninguém conseguia furar os cercos. Será que estavam protestando contra os jogadores da seleção?

Um bom negócio. Pensando aqui, será que alguém já tinha feito essas contas abaixo? Vamos ver:

Somei os salários mensais dos principais jogadores (14 deles)  e deu o valor de R$ 11.741.000,00.

Considerando o salário mínimo atual, daria para pagar 17.317 salários; se uma pessoa recebe SM, levará 1.443 anos para faturar essa grana;

Com esse valor, poderemos comprar 335 automóveis populares;

Se chovesse moedas, cairiam dos céus R$ 4,53 por segundo; Cada 90 minutos em campo custam R$ 24.460,00 dos salários daqueles jogadores;

Até agora, foram feitos 11 gols, que correspondem a R$ 1.067.363,64 cada um deles.

Se os jogadores resolvessem distribuir seus salários para os torcedores presentes à Fonte Nova no dia do jogo Brasil x Itália, cada um receberia R$ 260,91; Distribuindo os mesmos salários para a população brasileira, seriam 6 centavos para cada pessoa;

Se fossem pagar a conta em cervejas, beberíamos 2.935.000 latas (preço do isopor). Ao preço do bar do estádio, apenas 1.334.555 copos com uma lata cada um (Antonio, o meu vizinho, dono do bar aqui da rua, ao saber que tinha pago R$ 9,00 por lata, queria aumentar o preço da cerveja).

Depois, me perguntam porquê eu não vibro com a seleção. Se eu vibrar, o custo também é alto - cada bola chutada a gol vai custar R$ 117.410,00. Não vou fazer a conta pelas faltas cometidas e nem pelos passes errados ou impedimentos - estou considerando 20 bolas chutadas a gol, que é muito.

Falando em vibrar, a minha Sony, a TV da empresa que patrocina a Fifa, queimou a tela com 17 meses de uso e querem me cobrar R$ 2.700,00 para consertar – o que custa R$ 158,00 por mês. E eu esperava por essa mini-copa para testar a TV e ver como é um jogo de copa na HD.

A "porqueira" não aguentou e tive que tomar emprestada uma Gradiente velha, para quebrar o galho.

Pra frente Bra$$$il…

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segunda-feira, 24 de junho de 2013

Mensagem da Itália

Recebi a mensagem abaixo enviada pela Senhora Nelly Cosenza. Ela reside na cidade de Trecchina, na Itália, e é prima dos irmãos Palladino (José, Vicente e Pasqual). Me lembro de cartas que eram trocadas entre ela e os primos, muitas vezes comentadas por meu pai, que certa vez viajou para a Itália e levou correspondências e notícias para a Senhora Nelly. Ela tem estreito relacionamento com Gaetana Palladino e seus irmãos, mantendo a união da família ítalo-brasileira, que ela menciona na mensagem.

Gostaria de compartilhar a simpática mensagem com todos, especialmente com os meus irmãos de coração pertencentes à família Palladino. Quanto a homengem prestada por Bruno Palladino ao meu pai, tive o prazer de saber e agradecê-lo na época da Festa do Divino, quando nos encontramos em Morrinhos.

Em nome da família Sangiovanni, agradeço publicamente a homenagem feita, o que nos honra imensamente, no ano em que Francisco (Chico), completou 100 anos de nascido.

Viva Francisco!!!


(Mensagem recebida - Tradução no final)

Gentile signor Luiz,
stasera, dopo tanto tempo, (dopo la meritata vittoria del Brasile sull'Italia!!) ho rivisitato il suo blog che trovo sempre delizioso per l'amore e l'attenzione che lei dedica alla sua cittadina e mi sono calata nell'atmosfera bahiana...

La sua cura del sito è davvero ammirevole e la volontà di tenere unita la collettività di Pocoes, attraverso la narrazione di fatti, persone e circostanze merita davvero sentimenti di gratitudine e stima che certamente i suoi concittadini le tributano e ai quali mi unisco!...

Ho visto che lei apprezza molto la fotografia di Milena Palladino e ciò mi ha fatto molto piacere...

Da mia cugina Gaetana ho saputo che nella nostra grande famiglia italo-brasiliana è nato un bimbo che porta il nome del suo amato genitore: Francisco (nipote di Rosana)...La cosa mi ha reso particolarmente felice e volevo dirglielo!

Lei non viene mai in Italia? Nel caso dovesse ritornare in Calabria, me lo faccia sapere, saremo tutti lieti di conoscerla e di trascorrere qualche ora con lei. Un caro saluto , nelly cosenza

TRADUÇÃO 
Gentil Senhor Luiz

Esta noite, após tanto tempo (depois da merecida vitória do Brasil sobre a Itália), eu revisitei o seu blog que acho sempre bom pelo amor e atenção que você dedica a sua cidade e entrei nesse calor baiano…

O seu cuidado com o site é verdadeiramente admirável e a vontade de manter unida a coletividade de Poções através a narração de fatos, pessoas e circunstâncias merecem verdadeiros sentimentos de gratidão e estima, que certamente os seus conterrâneos lhe tributam e aos quais eu me junto!...

Eu vi que você aprecia muito a fotografia de Milena Palladino e isto me fez feliz…

Através da minha sobrinha Gaetana, eu soube que na nossa grande família italo-brasileira nasceu um menino (neto de Rosana) que leva o nome do seu querido pai: Francisco… Gostaria de te dizer que isso me deixou particularmente feliz!

Você não vem à Itália? No caso de retornar à Calábria, me faça saber. Todos nós teremos o prazer de conhecê-lo e passarmos algum tempo com você. Uma cara saudação.
Nelly Cosenza
   

terça-feira, 18 de junho de 2013

Brasil x Itália - Copa de 1970

Em 1966, eu ouvi a Copa do Mundo pelo rádio. Foi na Inglaterra e eu era um garoto de 9 anos de idade. Entre as descargas do rádio, no vai-e-vem das ondas curtas, deu para ouvir a desclassificação do Brasil, que não avançou para a segunda fase.

Era um rádio moderno, marca Semp, ligado na antena externa. Hoje, com certeza, seria chamado de deskradio, seria um desktop, um rádio de mesa, de primeira linha. Mas, o objetivo era ouvir e imaginar os jogadores correndo atrás da bola na mesma velocidade dos locutores.

Já em 1970, eu entendia um pouco mais de futebol. Tinha os meus incompletos 14 anos. O Brasil tinha 90 milhões em ação, dizia a letra da música. O rádio era uma opção quando não se tinha as imagens da televisão. A primeira copa a ser assistida pela televisão em Poções, naqueles imensos aparelhos das marcas ABC, Telefunken, Phillips, preto e branco, deixavam ver que o Brasil avançaria para as finais.

Assistimos ao jogo na nossa casa da Rua da Itália. Ainda não era o São João, dia 21 de junho, mas as bombas explodiam próximas à nossa varanda. Era a final entre Brasil e Itália. O Brasil saiu logo na frente e a Itália empatou aos 37 do primeiro tempo.

Confesso que existia uma divisão de torcedores brasileiros e italianos. Enfim, era um tal de “qualquer prazer me diverte”. Estávamos na rua da Itália e era justa a predileção. Afinal, era uma partida que todos torciam para que os dois times ganhassem, o que não existe numa final.

Só que o resultado foi 4x1 e o Brasil ganhou a Copa. Juntaram-se os torcedores que desciam da praça da Prefeitura com aqueles que vinham da praça, justamente para comemorarem tirando sarro dos italianos. De um lado, as casas de Fernando Schettini, José Schettini e Emilio Sarno. Do outro, a nossa casa, que estava com alguns italianos reunidos. Reduto verdadeiramente italiano.

O movimento ganhou corpo e a gritaria era na porta destas casas. Minha mãe tinha receio de uma invasão e pedia para que meu pai fechasse a porta. Ele foi na frente e quando apareceu na varanda, logo aplaudiu as pessoas com as mãos levantadas, seguido pelos outros italianos que estavam dentro de casa.

Quem conhecia a índole daqueles estrangeiros, sabia que tinham os corações azuis e as almas “pintadas” de amarelo e verde. Nada mais justos de se juntarem à alegria dos “fratelli” poçõenses, recebendo, em retribuição, as palmas dos que estavam na rua.


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segunda-feira, 17 de junho de 2013

Brasil x Itália - Nos buracos e atrás do pau

No apagar das luzes, consegui comprar um ingresso para assistir Brasil e Itália, nessa conturbada Copa das Confederações. Foi uma sorte tremenda da minha filha Carla, que tentou na internet e acabou dando certo.

A cidade de Salvador está sempre cheia. Cheia de gente limpando as ruas próximas ao estádio e cheia de buracos. Estão dando uma maquiada na cidade – capinando o mato e pintando os meio-fios com cal branca. Cheia de ruas interditadas para o jogo e outras que estão sendo interditadas pelos desmoronamentos. Está cheia de gente esperando o absurdo feriado, mas todos com a malinha pronta pra fazer feriadão de São João.

Boa viagem e cuidado com o buraco na saída da cidade (o buraco sem dono – não se sabe se é federal ou municipal). Pelo menos, uma coisa é certa – não se conserta buraco debaixo de chuva, o que é o pior.

Tento não me irritar com o movimento e não vou ficar protestando agora. Já fiz o meu discurso quando estavam dinamitando a Fonte Nova. Agora, é sentar na cadeira do estádio às 11 horas de sábado e esperar o jogo começar às 16.

Mas, porque atrás do pau?
Antes do jogo (Foto: Lulu Sangiovanni)
É fácil. A cadeira que eu comprei, fica exatamente atrás da bandeira do escanteio, à esquerda do campo, onde corre o bandeirinha. Se tiverem um pouco de paciência, na hora dos escanteios vocês vão me ver atrás do pau, da bandeira, é claro.


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segunda-feira, 10 de junho de 2013

Perfume de gardênia

Semana passada, eu estava em Jaboatão dos Guararapes-Pe, em um bar, e os meus amigos discutiam quem fazia a primeira e a segunda voz nas duplas sertanejas.

Gildásio dizia que, na dupla Zezé e Luciano, a primeira voz era Luciano. Guto, achava o contrário. Enfim, eu e Marcos não achávamos nada e tentávamos apenas dar ré naquela "profunda" conversa de primeira e segunda, lembrando do Maestro Zezinho, do programa Leilão das Notas, de Sílvio Santos. O músico do bar quando começava a tocar, a gente perguntava qual era a música e Gildásio acertava todas.

Lá pelas tantas, depois que os dois já estavam cantando com a mão direita no ouvido, passou um vendedor de CD´s e Dvd´s piratas. No meio de centenas, escolhi apenas um, o do show de Waldick Soriano, aquele que foi dirigido pela atriz Patrícia Pillar http://www.youtube.com/watch?v=cJkrXpxTnNY.

Ontem, já em casa, coloquei o DVD para assistir ao show. A cada música que Waldick cantava, me lembrava de Poções, dos alto-falantes e das músicas encaixadas em cada local que havia um deles.

A primeira lembrança daquelas músicas era no alto-falante do Cine Santo Antônio. Ali, eram tocadas antes das sessões, como se fossem para anunciá-las. Pois bem, o quintal da nossa casa era bem próximo ao cinema e eu tinha aquelas letras todas decoradas. Ia buscar as folhas para fazer chá e escutava a sequencia – sabia todas elas.

Não mais baixo, era o serviço de som da Prefeitura, que tinha o postes distribuindo os alto-falantes e um deles era na porta lá de casa. Tocava as músicas de Waldick, de Agnaldo Timóteo e mais alguns. Sentava na varanda no final da tarde e já sabia a preferência de Vicente Ventura.

A música “Perfume de gardênia” era famosa nos chás dançantes no clube, misturada a outros boleros – tocados por orquestra ou pela radiola, que a turma mais velha chamava de “pick-up e seus negrinhos”, numa menção aos discos.

“Perfume de gardênia
Tem em tua boca
Eu vivo embrigado
Na luz do teu olhar

Teu riso é uma rima
De amor e poesia

Macios teus cabelos
Qual ondas sobre o mar…”

Era assim. Todos os lugares tocavam as mesmas músicas e, nós poçõenses, daquela época, temos até hoje um refrão ou uma parte de uma música na nossa memória. Não me venha dizer que “Eu não sou cachorro não” mão mexe com você? E “A Carta”, será que não tem um pedacinho que você viveu?

Minha querida, saudações
Escrevo esta carta
Não repare os senões
Para dizer o que sinto
Longe de ti
Amargurando na saudade
As horas vividas com felicidade
Renunciar seria solução
Mas não apagaria de nossas almas
Cruel paixão
Espero que um dia tudo se consiga
E a quem ama não seja negado
O direito de ser amado

Chegava a Festa do Divino e era instalado o sistema de som, onde as pessoas pagavam para dedicar músicas às outras – eram as páginas musicais. O locutor dizia: Atenção Fulana, ouça essa página musical que alguém te oferece como prova de amor e carinho. Às vezes, fulano sabia quem era. Outras, fulano ia no estúdio perguntar quem foi que ofereceu a página musical.

Isso era uma forma de paquera. Se a música era lançamento do ano, quando a Festa terminava, a letra ficava na memória. Assim foi “Colcha de Retalhos” e tantas outras que eram metáforas da vida amorosa das pessoas.
Aquela colcha de retalhos que tu fizeste
Juntando pedaço em pedaço foi costurada
Serviu para nosso abrigo em nossa pobreza
Aquela colcha de retalhos está bem guardada
Agora na vida rica que estas vivendo
Terás como agasalho colcha de cetim
Mas quando chegar o frio no teu corpo enfermo
Tu hás de lembrar da colcha e também de mim
  
Comparando com os dias de hoje, as paixões eram reveladas publicamente. As dores e os desejos de amores eram partilhados e tinha um romantismo diferente dessas modernidades eletrônicas atuais, seja na qualidade das músicas, seja na forma de se comunicar.

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segunda-feira, 3 de junho de 2013

Um grande atleta mundial

Fico vendo esses casos de pessoas que saem de interiores longínquos, enfrentam a vida na capital, se esforçam e se tornam grandes atletas.

Na Escola Técnica do bairro do Barbalho, no ano de 1973, aqui em Salvador, havia três professores de educação física: Valmir, João Célio e Coelho, todos boas praças. Eles incentivavam a nossa participação em diversas modalidades de esportes – eu sempre gostei de jogar volei (modéstia à parte, jogava bem) e aproveitava a bagagem que trouxe do Ginásio de Poções.

Mas, eu queria ser um atleta destacado, com capacidade de disputar os jogos interestaduais entre as escolas técnicas. O caminho seria o professor João Célio, gozador nato, que me colocou o apelido de Ameba, porque eu tinha as pernas brancas. Com o tempo, criamos uma relação respeitosa e tivemos a oportunidade de conversar mais longamente, pois pegávamos o mesmo ônibus (ele morava na rua do Destêrro e eu no Politeama). Conversando, me perguntou se queria fazer natação na ABB (Associação Banco do Brasil), na Barra.

Fiquei contente com a indicação. Fazendo natação eu estaria dispensado das aulas de educação física. Fui parar na ABB às seis da manhã para fazer o teste. Cheguei no local como um grande atleta, de futuro promissor, pensava. O professor de natação me pediu para nadar 50 metros e ver como estava o meu rendimento. Com um apito na boca e um cronometro na mão, autorizou a minha entrada na água. Nadei o que pude, o que sabia.

Gentilmente, o professor pediu a minha saída da piscina – vá tomar banho, trocar de roupa pra gente conversar! Pulava de felicidades debaixo do chuveiro, socava o ar e dizia - Chegou a minha vez. Sou tão bom que o cara nem quis que eu terminasse!

Numa conversa franca, ele foi direto e disse que eu teria que gastar muito tempo para aprender e que não tinha nenhum estilo. Ouvir aquilo foi o mesmo que toda aquela água fria da piscina caísse sobre mim. - Como um professor pode descartar um talento da natação? Fui embora decepcionado.

No ônibus, vendo passar as árvores do Corredor da Vitória, pensava e resmungava baixo, tentando entender a decisão do professor e a minha decepção com todo o entusiasmo que cheguei ali.

O dia ficou marcado até hoje - Poções deixou de ter um grande atleta mundial!


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