Eu fui para São Paulo na quinta feira passada e
tinha que voltar a tempo de participar da festa na sexta, não por completa, mas
a tempo de ainda ver algum cavalo na rua. Mas, sabia que era impossível chegar.
Às três e meia da manhã, enquanto era preparada a
Alvorada em Poções, eu estava chegando no adormecido estacionamento do Shopping
Eldorado, num frio de 17 graus, para esperar o ônibus da empresa aérea com
destino ao aeroporto de Viracopos, em Campinas.
Salta de um carro um senhor usando chapeu e um agasalho,
com uma mala, uma sacola e a mochila com alguns pertences. Vai até o segurança
e pergunta se alí era o ponto do ônibus. Não satisfeito, veio em minha direção
e me fez a mesma pergunta. Eu disse sim e perguntei para onde ele ia.
Prontamente respondeu que era para Vitória da Conquista e depois para Caraíbas,
pequena cidade do Sudoeste baiano entre Anagé e Tremedal.
Ele, alegremente, contava que não havia sido
necessário fazer uma cirurgia que lhe fora indicada pelos médicos de Conquista.
Estava naquela cidade, junto às suas filhas, há sessenta dias. O problema de
perda de líquido nas juntas ele enfrentava naturalmente, mas que incomodava vez
ou outra. Faria a sua segunda viagem de avião em toda a vida. Eu faria a
segunda da semana. Já comecei a imaginar na chegada dele em Campinas e na
conexão em Belo Horizonte. Quem comprou essa passagem, não imaginou a via sacra
que é para uma pessoa de certa idade e com aquelas dificuldades físicas.
Dizem que a gente tem anjo da guarda. Eu era o anjo
da guarda de Seu Valdelino. Resolvi adotá-lo naquela manhã. Chegamos em
Campinas por volta das 5 e meia e fomos fazer o check-in. Peguei carona na fila
dos idosos e conseguimos despachar as malas rapidamente – troca de favores – eu
dava conhecimento e ele me permitia prioridade.
Sentamos para tomar café e queria tirar as merendas
que as filhas haviam colocado na mochila, me lembrando dos embornais de
antigamente. O farnel ficou guardado e troquei por pão na chapa e café com
leite.
Embarcamos para BH e ele insistia para permanecermos
juntos a fim de dar-lhe mais segurança. Passou batido pelo fone de ouvido e se
sentou tranquilamente sem medo das turbulências de céu claro. Lá de trás, só
via o virar da cabeça através do seu chapéu, ligado em tudo que acontecia de
movimento no avião e fora dele, pela janelinha. Catou os pacotes de balas e
disse que levaria para os seus netos.
Em BH, descemos e os seus pés já não cabiam mais nos
sapatos. Reclamou e pediu para calçar as sandálias. Fomos caminhando todo o
desembarque até a área do novo embarque para Conquista. Ficou aliviado e me
disse que se não estivesse ali, não saberia o que teria acontecido, mas tinha a
certeza que teria feito umas trinta perguntas. Naturalmente, pediu para que
ligasse para sua espôsa para tranquilizá-la sobre a viagem. Disse para ela que
havia arranjado um companheiro de viagem e que não se preocupasse que ele iria
chegar bem.
Mais uma hora de conversas com aquele humilde
senhor, que enxergava novidades, mas as encarava com naturalidade. Só ficou
surpreso quando a mocinha do raio-x pediu para que ele mostrasse a pequena
tesoura de cortar pêlos do nariz, que havia sido presente da sua filha.
Acreditava que a mocinha havia usado a internet para descobrir. Deu um pinote
quando paguei R$ 6,50 em um pequeno copo de café com leite. – Não é aqui que
tem café e leite com fartura? É muito caro seu Luiz!
Hora do embarque para Conquista. Estava ele lá, na
fila, passando na frente dos outros. Já estava aprendendo como fazer e
entendendo os seus direitos.
Chegamos e desembarcamos. Seu Valdelino já cobrava
do rapaz das malas e dizia - Cadê as nossas malas? Tá faltando mais uma, de rodinha!
- era a minha mala que ele já havia
incorporado ao conjunto.
- Bem, seu Valdelino, nossa viagem termina aqui. Um
dia, eu vou a Caraíbas para ver o senhor.
Ele ainda insistia em que deveríamos almoçar na
pequena churrascaria que o filho dele tem próxima ao Ceasa de Conquista. Não sabia
que eu estava atrasado para a Chegada das Bandeiras, não aceitei o gentil
convite.
Nos abraçamos fortemente e nos despedimos. Eu já estava
no taxi e num gesto de respeito, tirou o chapéu e acenou para mim.
Valdelino Patez, uma amizade à jato. Um companheiro
de viagem.
- Até Caraíbas!!!
San,
ResponderExcluirEle também foi o seu anjo da guarda! Ambos foram enviados para fazer companhia um ao outro, ele para tentar acalmar sua ansiedade e você para deixá-lo mais confortável na viagem.
Um abraço,
Pinduca.
Ha coisas que acontecem na nossa vida e que nao entedemos porque, esta foi uma delas, mas tenha certeza tem um sentido. Belo causo.
ResponderExcluirÉ Pinduca, enquanto eu achava que você tava vendendo os planos de manutenção, tava mesmo aprendendo a reconhecer os meus sentimentos. Também, aluguei os seus ouvidos com as histórias de Poções. Obrigado amigo.
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