(Reprodução)
A imagem é familiar. Está na varanda da casa onde residiu a família do Dr. Ruy Espinheira. Hoje, é habitada pela família de Vicente Palladino, na Rua da Itália.
(arquivo pessoal)
Comentários de Carlos Barbosa
Ruy Espinheira Filho comemora seus 70 anos
com um novo livro de poemas: A casa dos nove pinheiros. O livro reúne uma
seleção de poemas escritos no período 2009-2012, e sai publicado pela editora
Dobra, de São Paulo. O aniversário de Ruy será em dezembro, mas, esbanjando
generosidade e invertendo a lógica, entrega aos amigos desde já (não haverá
lançamento do livro) um presente que é uma celebração emocionada de uma vida bem
vivida, na qual afirma crer "que sempre fui feliz, / inclusive nos momentos em
que me sentia / e me dizia / infeliz."
A imagem da capa mostra dois pinheiros
maiores seguidos por sete outros, "nove pinheiros enfileirados / em curva suave,
/ do maior ao menorzinho, / representando / o pai, / a mãe, / os sete filhos /
que ali moravam." Morava, essa família, em uma casa viva na memória do poeta e
ainda de pé na cidade em que passou parte de sua infância, Poções. A foto da
capa, recortada para destacar o detalhe dos nove pinheiros, foi feita pelo filho
do Ruy, o jornalista Mário Espinheira.
O poema que dá título ao livro diz dessa
presença eterna da casa a habitar o poeta, mesmo tendo nela vivido por meses e
não por décadas. Talvez pela particularidade dos pinheiros cravados na parede da
varanda e o claro propósito de caracterizar aquela morada como permanente, e que
culminou se tornando provisória no plano físico e olímpica no emocional. "Os
pinheiros continuarão a lembrar / pai, / mãe, / sete filhos, / mesmo quando não
restar sequer um deles / para sentir certo tempo, / respirar a casa, // como eu
agora, / com antiga alegria e um sabor / de lágrimas."
Ruy Espinheira Filho tem afinado sua lira ao
ponto de alcançar a simplicidade dos poetas maiores. Os versos encadeiam-se
naturalmente, e o leitor experimenta a delícia do poema como um voo sem ruídos e
turbulências, prenhe de ritmo e densidades várias. E ao pousar, ao final do
último verso, terá feito então um percurso de emoção e sabedoria, que se
repetirá no poema seguinte até o último do livro. Até uma nova
leitura.
Encerro este comentário com o quarto movimento do poema "Condição":
"Sim, novamente escrevendo.
Sem saber,
como sempre, aonde estou indo,
se é que estou indo a algum
lugar.
Às vezes me ocorre
que escrever é exatamente
isto: ofício
de quem não sabe aonde ir.
E, como não sabe,
tateia
na névoa
à espera de encontrar alguma
coisa
que não só não sabe onde está
como não sabe o que
é
e que talvez seja uma parte da alma que ficou perdida
na
travessia
entre sombras ancestrais
e a vida."
.
Eu ganhei o meu. Com direito a autógrafo e um dedo de prosa sobre Poções... Ruy emociona, encanta e nos faz mais alegres com suas palavras. Lindo demais o texto dele. Recomendo!
ResponderExcluirÉ a casa mais emblemática de Poções. Sair de Poções em 1975, mas imagem daqueles pinheiros parece uma obra de arte singular que fica eternamente em minha memória. Sempre lembro de uma menina que se chamava Monica Sarno e seu irmão brincando na sua varanda.
ResponderExcluirCesar Moretti