Semana passada, viajei para Jacobina em companhia do amigo Guilherme Junot, companheiro de trabalho. Fomos falando sobre as igualdades entre Poções e Ilhéus, as nossas terras natais. Já mencionei em outra crônica, que nós somos oriundos da mesma capitania hereditária, a de São Jorge dos Ilhéus, de Jorge Figueiredo Correa, apenas separados por 210 km de distância entre as duas cidades.
Quando ele falou da professora Benedita, dos bolos que levou por causa de não saber responder a tabuada, eu me lembrei da professora Zirinha. Falar dela é relembrar a sua escola na baixa da Lapinha, onde uma legião de estudantes ia fazer o reforço escolar, o que chamávamos de banca. Na verdade, aquela galera ali não queria muita coisa com a “hora do Brasil”. Minha mãe dizia: “ou você estuda, ou te mando pra dona Zirinha”. Era a segunda chance de aprender o que não tinha aprendido na escola regular. Quem gostava de estudar, não precisava fazer a banca.
Quando ela passava pra tomar a lição, a gente tinha que estar afiado, na ponta da língua, como se dizia na época. Tomava cuidado para não ficar de pé quebrado (segunda época) porque ali seria o lugar próprio para passar parte das férias estudando. A lição tinha que ser aprendida e as perguntas respondidas como uma verdadeira sabatina, caso contrário a palmatória aparecia. A sua assistente Abigail era mais maneira e batia devagar. Como estudávamos em mesas grandes, sempre procurei aquela que Abigail ficava. Lembrei de Paulin de Doca, que não permitiu tomar uns bolos com a palmatória e pulou a janela – nunca mais voltou.
Mas aquela senhora de óculos com lentes redondas e fortes, blusa de tricô, com a palmatória na mão, me traz as boas lembranças dos tempos de curso primário e o quanto pude aprender só em pensar em ter que ir para a escola da Professora Zirinha.
No retorno de Jacobina, passando pela Vila Fátima, entramos na estrada que dá acesso ao município de Capela do Alto Alegre, em meio a algumas casas de um pequeno povoado para procurar Dona Isabel Rezadeira. Junot insistiu que deveria ser rezado e me perguntou se eu acreditava nessas coisas. Tentava me convencer que viajaríamos mais leves e a semana seria bastante diferente, produziríamos mais.
Respondi que acreditei muito na reza da velha Marcolina e contei a sua história. Além de rezadeira, a velha era muito especial na família. Tinha presença constante. Ela era uma florista excepcional e a sua arte baseada em utilizar retalhos de roupas e papel crepom para fazer as belas rosas com talos na cor verde bandeira.
A velha Marcolina (ao lado da noiva) no casamento de uma das suas netas - foto Vitinho Borba.
Quando ele falou da professora Benedita, dos bolos que levou por causa de não saber responder a tabuada, eu me lembrei da professora Zirinha. Falar dela é relembrar a sua escola na baixa da Lapinha, onde uma legião de estudantes ia fazer o reforço escolar, o que chamávamos de banca. Na verdade, aquela galera ali não queria muita coisa com a “hora do Brasil”. Minha mãe dizia: “ou você estuda, ou te mando pra dona Zirinha”. Era a segunda chance de aprender o que não tinha aprendido na escola regular. Quem gostava de estudar, não precisava fazer a banca.
Quando ela passava pra tomar a lição, a gente tinha que estar afiado, na ponta da língua, como se dizia na época. Tomava cuidado para não ficar de pé quebrado (segunda época) porque ali seria o lugar próprio para passar parte das férias estudando. A lição tinha que ser aprendida e as perguntas respondidas como uma verdadeira sabatina, caso contrário a palmatória aparecia. A sua assistente Abigail era mais maneira e batia devagar. Como estudávamos em mesas grandes, sempre procurei aquela que Abigail ficava. Lembrei de Paulin de Doca, que não permitiu tomar uns bolos com a palmatória e pulou a janela – nunca mais voltou.
Mas aquela senhora de óculos com lentes redondas e fortes, blusa de tricô, com a palmatória na mão, me traz as boas lembranças dos tempos de curso primário e o quanto pude aprender só em pensar em ter que ir para a escola da Professora Zirinha.
No retorno de Jacobina, passando pela Vila Fátima, entramos na estrada que dá acesso ao município de Capela do Alto Alegre, em meio a algumas casas de um pequeno povoado para procurar Dona Isabel Rezadeira. Junot insistiu que deveria ser rezado e me perguntou se eu acreditava nessas coisas. Tentava me convencer que viajaríamos mais leves e a semana seria bastante diferente, produziríamos mais.
Respondi que acreditei muito na reza da velha Marcolina e contei a sua história. Além de rezadeira, a velha era muito especial na família. Tinha presença constante. Ela era uma florista excepcional e a sua arte baseada em utilizar retalhos de roupas e papel crepom para fazer as belas rosas com talos na cor verde bandeira.
A velha Marcolina (ao lado da noiva) no casamento de uma das suas netas - foto Vitinho Borba.
Quantas vezes nos rezou e bocejou. Insistíamos na possibilidade de rezar três pessoas na mesma seqüência e ela não agüentava de tanto bocejar e lacrimejar os olhos – sinal de muito “carrego”. Era especialista em espinhela caída, carne quebrada, cobreiro, quebranto e outros males curados com aqueles três ramos de plantas. Vez em quando me dava uns conselhos.
Mas a velha Marcolina, além das rezas e das flores, era a matriarca de uma grande família, avó de Joel e Josenildo, os meus colegas de escola. Sogra de Homero pintor. Mãe de Floriza e Beto, quem me ensinou a fazer carrinhos de madeira.
Professora Zirinha e a velha Marcolina foram exemplos para a nossa cidade!
Lu,lembro da velha Marcolina, ia sempre lá em casa.Na época que tinha avião Poções-Salvador (fale sobre isso) minha mãe contou para ela a viagem que havia feito e ela perguntou se tinha muita poeira! A velha Marcolina era uma pessoa simples e muito prestativa e as flores que fazia eram belissimas.
ResponderExcluirEsta foto, mostrando tia Lina, tia Ana e Annina Sarno é um registro importante da integração dos italianos com o povo de Poções em geral.Esta era uma caracteristica dos nossos italianos, se relacionavam e bem com a cidade toda, não eram elitizados nem tinham preconceitos...ou se tinham inicialmente conseguiram superar com muita eficiência.Assim é Poções, a verdadeira terra de todos nós. Parabéns pela cronica.
Vc ainda acredita em rezadeira ?
Eduardo Sarno