Por Roberto Fagundes Prudente (*)
Há quase cinquenta anos atrás, os caminhos musicais de nossa terra mudariam para sempre. Celeiro de grandes músicos, naquela época imperava a Filarmônica de Poções, também chamada de “A Furiosa”, competentemente comandada pelo Maestro Bernardino Fagundes (tio Nadinho) e composta de grandes músicos: Arnaldo Fagundes, Antônio Fagundes, Alcides Bordado, Quito, entre outros tantos. Essa orquestra, aliada a outros músicos boêmios, como Deusdete Fagundes, Pedro França etc., fazia das calçadas de nossa infância verdadeiras noites de serestas. E como era gostoso viver cada um daqueles momentos!
Mas o mundo estava mudando e uma nova geração musical surgia. O “trio ASA”, composto por Antônio Fagundes (Tonhe Banana), Sandoval Lago França (Gazo) e Albérico Fagundes de Sá (Berecó), já dava os primeiros passos para essa mudança no horizonte poçoense. Mais tarde, transformado no “quarteto JASA”, com a inclusão de Jeová Fagundes Prudente (Géo), praticamente, ou especificamente, na sala da casa de Alcides da Silva Fagundes (vovô Cide) e Alzira Lago Fagundes (vovó Dila), iniciava a gestação de “Os Fantasmas”. Sem muitos recursos, o grupo ensaiava com violões e uma bateria improvisada, composta de dois carotes (barris de madeira usados para carregar água em lombo de jegue, do chafariz para casa), um grande e um pequeno, com a tampa da face superior substituída por couro, e um prato cedido pela “Furiosa”. Assim os primeiros acordes começavam a ser ouvidos na Rua Benjamim Constant.
Aí veio a primeira apresentação em público. Festa marcada para um sábado à noite, de umas férias de Natal em 1966 (não recordo exatamente a data). Com violões eletrificados artesanalmente e amplificadores montados sobre plataformas de velhos rádios valvulados (obra fantástica de Rone, meu irmão mais velho, e de Tonhe Banana, mestres na eletrônica já naquela época). E a bateria... E a bateria? Como tocar numa festa com uma bateria feita de carotes? Foi aí que meu pai, Roberto de Souza Prudente, já totalmente envolvido com a história, resolveu alugar, em Conquista, uma bateria para o evento, só que, por exigência do locador, o baterista teria que vir junto (era o quinto Fantasma, rsrsrsrs). E assim Jeová entrou como vocalista e o grupo estava pronto para o grande show.
Local: Clube da Sociedade União das Classes (vulgo “Mela Cueca”), clube construído pelas famílias de Poções através da Sociedade União das Classes, na gestão de meu avô, Alcides Fagundes, como presidente.
Apresentador: Pietro Sangiovanni, o Pepone (nem sei se ele se lembra disso). A emoção era tanta que o apresentador trocou até o nome do conjunto, anunciando “Os Fagundes” ao invés de “Os Fantasmas”.
Abertura do show: “Prá me conquistar” – Renato e seus Blue Caps.
Esse show marcou realmente uma nova era musical em Poções e o conjunto “Os Fantasmas” inspirou tantas gerações, e tantos músicos começaram a despontar a partir deles (inclusive eu), que, hoje, Poções faz parte do circuito do rock brasileiro, com grande participação de bandas locais.
É com muito orgulho que voltamos em 2015, quase cinquenta anos depois, para tocar neste mesmo espaço, numa mesma tarde de “Chá Dançante”, como tantos que aconteceram aqui e relembrar as músicas que embalaram os “anos dourados” de nossa juventude. Impossível não ficar emocionado e, como bem diz Lulu: “O importante é que em Poções eu vivi!”
(*) Roberto Fagundes Prudente é engenheiro e músico da Banda Pop78.