A vinda de Chico, meu pai, para o Brasil ocorreu no Natal de
1951, quando viajou para Gênova. Embarcaria no dia 28 no navio
Provence, em companhia de Anna Maria - minha mãe, e meus dois irmãos
– Pietro e Michele, com cinco e três anos, respectivamente.
Desembarcaram no porto de Santos em 09 de janeiro de 1952.
Foram
doze dias de viagem. Michele ficou doente por um bom tempo que esteve
embarcado. Meus pais revezavam na enfermaria do navio para
acompanhá-lo no internamento.
A
bagagem estava acomodada em grandes baús que foram embarcados por
via terrestre, diretos para Poções. Chegaram de avião em Salvador
no Aeródromo de Santo Amaro do Ipitanga (assim se chamava o atual Dois de Julho) e foi
recebido por Vincenzo Sarno (pai de Fidélis do Arroz).
Vincenzo
morava no Brasil desde os doze anos de idade. Dominava a língua
portuguesa, mas ainda carregava o sotaque italiano de criança.
Recebeu a nossa família e perguntou sobre as malas:
-
Quante male hai? (Quantas
doenças você têm?)
-
Non c´è male, respondeu meu pai. (Não
tem doença)
-
Come non? (Como
não?)
-
Michele è stato malatto sulla nave, adesso stà bene!
(Michele esteve doente no
navio, agora está bem!)
Vincenzo,
ouvindo a resposta do meu pai, percebeu a troca das palavras e refez
a pergunta:
-
Scusate, quante valigie hai? (Desculpe,
quantas malas você têm?)
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Para
os que chegavam em Poções, a preocupação era aprender rapidamente
o português. Os italianos que já estavam ali, por força das
circunstâncias da nova terra e dos diferentes dialetos do sul da
Itália, falavam uma terceira língua, misturando italiano e
português. Era comum falarem entre eles na língua pátria. Talvez,
a explicação porque os italianos continuaram com o sotaque
carregado por muito tempo e os seus descendentes não desenvolveram a
língua italiana, naturalmente.
Fornello
(fogão), já havia se transformado em Fogone.
Assucaro
se pronunciava a palavra açúcar. Era a mistura de Zuchero
com açúcar.
Já
a palavra Feijão (fagioli) se transformou em Fejon.