"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Pop78 - Uma viagem ao passado



Ensaio da Banda Pop78
As notícias que chegam de Poções, dão conta de uma onda de euforia e expectativa com a Festa do Divino. Tenho a impressão que este ano será o fim do “divisor de águas” entre o antigo e o novo – enfim, diversão para todos os gostos e idades. 
A festa do grupo de amigos do Velhas Fotografias de Poções também promete (07/06). Um reencontro de amigos como nunca visto - casa cheia, como se diz no futebol. Tenho lido confirmações de presenças de pessoas que já haviam dado como encerrada a participação na adoração ao Divino.
Uma das maiores atrações, com certeza, será a Banda Pop78. A antiga banda Os Fantasmas, de Poções, se manteve travestida durante anos com nomes que fizeram sucesso, sendo o Fase Cinco um dos grandes. Chegou a vez de voltar pra casa. Tocar no Clube de Poções é reviver a sua origem.

Nessa euforia de voltar, a convite de Robertinho Prudente, eu fui conferir o ensaio que a banda fez há duas semanas e vem repetindo quase todos os dias.

Fui recebido por Jeová, Robertinho e Albérico no estúdio do Itaigara com a alegria de quem não se via há anos. Os olhos de todos brilhavam na mesma intensidade. Respirávamos um ar de nostalgia, e ansiedade para começar o ensaio de imediato, mas ainda existia um mundo de fios a ser conectado nos aparelhos.

Carlos Senna
Ao lado deles, o experiente contrabaixista Carlos Sena dava as coordenadas para o ensaio começar com um “ar” muito espontâneo e sorridente. André Barbosa, o Pixinguinha, tocava no teclado umas notas querendo ensaiar aquilo que já estava planejado. Enquanto isso, Jeov
á montava o pedal na bateria e escolhia as baquetas sob a gozação de Albérico. Robertinho me apresentou a lista com todo o repertório e o que tocarão nas sequencias.

Como não entendo muito, fiquei na cerveja anotando e fotografando enquanto cada música era ensaiada. Entre uma e outra, a pausa para lembrar dos detalhes do passado. “Milionários” foi a única liberada para dizer que está no repertório. Mas, eu disse que “Georgia” deveria ser no início de algum intervalo para a gente se lembrar do momento em que cruzávamos o salão para neutralizar a concorrência na hora de formar o par para dançar.

Jeová Prudente
As baquetas de Jeová soavam como uma marcação de tempo, literalmente. Pra marcar o tempo de entrada de uma nova música, bem como uma marcação do nosso tempo de adolescente . Robertinho olhou para Albérico e puxaram o sucesso antigo - “Cândida”. Sucesso total no estúdio, os cinco cantaram e se formou um coro bonito, harmonioso. Era como estar no meio do salão do Clube de Poções. Embalaram o ensaio ao som de Creedence Crewater Revival e eu, grudado na Skol, imaginando como será a nossa festa. A sequencia dos Beatles é fantástica (chega, pois prometi que não contaria).

Enquanto trocava os pedais de solo da guitarra, Albérico comentou que a banda promete surpresas e fortes emoções. Relembrar o passado é o presente da confraternização com os nossos companheiros. Os estilos de cada um estão mantidos e isso faz parte do espetáculo. Animação e disposição pra tocar durante horas não vão faltar, prometeram.

Só posso garantir que tudo aquilo que vi e anotei não é metade do que a Pop78 vai mostrar. Quem quiser conferir essa empolgação envolvente vai poder viajar no passado – nós, a plateia delirante – eles, os músicos apaixonados pelo passado. Um casamento perfeito!!!

A festa promete e quem viver (revi)verá sempre...

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terça-feira, 27 de maio de 2014

Velhas Fotografias de Poções

Por Valdiria Rocha (27/05/2014)

Velhas Fotografias de Poções é um título autoexplicativo que indica uma linguagem, um tempo e um lugar. Um acervo de imagens, de compartilhamento de memórias, lembranças, registros da história de um povo, da identidade de uma comunidade. Daí a sua grande importância e o seu valor.

Ao mesmo tempo, Velhas Fotografias de Poções é um lugar sem chão, como a casa muito engraçada de Vinícius de Moraes, que não tinha teto... nem nada. Um ambiente feito de ondas magnéticas, um meio de comunicação desse nosso tempo onde a magia das tecnologias contrai, dilata, acelera ou para o tempo e o espaço, fazendo do mundo uma aldeia, e das distâncias apenas uma circunstância. Nosso Mestre Gilberto Gil já disse em décadas atrás que: “Antes mundo era pequeno Porque Terra era grande Hoje mundo é muito grande Porque Terra é pequena Do tamanho da antena Parabolicamará” e mais “Pela onda luminosa Leva o tempo de um raio Tempo que levava Rosa Pra aprumar o balaio

Quando sentia Que o balaio ia escorregar Ê volta do mundo, camará Ê, ê, mundo dá volta, camará”.
Nessas ondas luminosas nós navegamos ao encontro do fio condutor que nos leva a um lugar onde nos encontraremos por inteiro. Navegamos de volta para casa, para o abraço seguro dos amigos, o colo amado dos pais e avós, o conforto dos sabores, cheiros, texturas do nosso lar, dos sons e cenários da nossa cidade. Para uma ancestralidade familiar e cultural, uma raiz que dá sentido às nossas vidas, à vida dos nossos descendentes.

José Carlos (Tim de Eurípedes) disse lindamente: “Nós outros, ainda mortais, desfrutamos dessa benesse tecnológica que nos permite, à distância, reviver nossa inocência e nos comunicarmos impessoalmente”.
O espaço virtual nos permite refazer o caminho que, indubitavelmente, nos leva ao encontro de nós mesmos e de todos os outros que nos constituem pela genética ou pela convivência social. Há um tempo marcante onde a essência da nossa identidade se formou. Aquela parte que explica o nosso EU mais singular, que ampliamos no contato com os diversos mundos que passamos a habitar. Pois, como disse o poeta Alberto Caeiro,

 
“Da minha aldeia veio quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...”
Aqui podemos nos re-conhecer e estabelecer essa ponte entre as gerações para que a nossa cidade POÇÕES retome suas raízes, sua beleza e solidariedade, sua alegria espontânea e simples, sua grandiosidade artística libertando as almas cantadoras, musicistas, poéticas, cênicas, escritoras, plásticas, educativas oriundas de troncos ancestrais multiculturais.

Que o Divino Espírito Santo abençoe essa Terra e o seu povo, sempre.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Homens de capas

Don Diego de La Vega se transformava em Zorro. Bruce Wayne se transformava no Batman e Clark Kent no Superman. Deixavam as suas funções para trabalhar para outros mais necessitados. Todos usavam capas nas suas transformações.

Refletindo nas histórias desses “supers”, Poções deixaria de ter sucesso se alguns dos nossos não se transformassem e desenvolvessem várias outras atividades, além daquelas que desenvolviam naturalmente.

Colocar e tirar a capa, traduz o objetivo dessa crônica.

Otoniel Costa
(Foto: Vinícius Costa)
No beco dos Artistas, Otoniel Monteiro Costa, Tani, riscava com giz as roupas que iria costurar. Com a fita métrica pendurada no pescoço, transferia para o tecido as medidas exatas tiradas nos seus clientes. No final do dia, deixava de soprar o fole do ferro de engomar, tirava a capa de alfaiate e vestia a capa de músico - ia soprar um instrumento musical. Com isso, Armando Jacó, Zé Armando, Tonhe Arleo, seus funcionários, acompanhavam com outros instrumentos. O beco virava uma festa.

A figura franzina do comerciante Francisco Paradela subia a rua da Itália depois que fechava a casa de negócios na praça. No escuro da Praça da Bandeira, vultos circulavam em direção a um único local – a Maçonaria. Se transformava no Venerável Mestre, conduzindo as sessões. A outra capa que ele sempre vestiu foi a de orador nas atividades de datas comemorativas do município.

Quem via passar Senhorzinho Pia, fardado de militar, não imaginava o quão se transformava tocando na Filarmônica de Bernardino “Nadinho” Fagundes. Exímio trompetista, talvez evocasse Louis Armstrong para soltar as notas musicais, tocou na primeira formação musical poçoense que se chamava Os Fantasmas.

O Sargento Severino era o dirigente do Tiro de Guerra 135. Firme nas suas colocações, rígido nas instruções, mas um bom papo Quando tirava a sua capa, ia para o ginásio dar aulas de francês e inglês. Assim, também era o Pastor Isaías, que deixava a sua igreja protestante para ensinar francês no ginásio.

Olímpio Rolim, um excelente farmacêutico, dono da Farmácia Sudoeste, vestido com a capa profissional e o pijama na sua varanda, tratou de vestir a capa de prefeito municipal, entre 1959 e 1962.

Quem teve a capa de jogador de futebol foi João Batatinha. Quando tirava a capa, era um excelente tipógrafo. Na necessidade de decidir entre seguir a carreira de jogador ou ser tipógrafo, preferiu a segunda capa. Não deixou ainda de ser a referência das nossas tardes de domingo no campo de futebol e não deixou de exercer a sua escolha.

Falando de futebol e cinema, tivemos Tena como um excelente administrador de cinema e desenhista de cartazes. Mas, a capa que ele vestia era a de jogador de futebol, de lateral esquerdo, trazendo alegrias e qualidade ao nosso futebol.

Ainda uma das capas mais alegres de Poções - o mecânico Florisvaldo Cruz Ramos (Dôca). Deixava a capa pendurada na sua Oficina e vestia a capa da felicidade. Ia para o cinema e, lá, se transformava numa figura que deixava os seus problemas e se incorporava no artista do filme ajudando nas ações e tramas da película – um verdadeiro torcedor de cinema. Também teve uma capa importante na Maçonaria, cuja loja leva o seu nome.

Apenas algumas lembranças de homens que vestiam capas e marcaram Poções de alguma forma. São tantos e prometo sequenciar aqui com a lembrança de outros importantes personagens.
  

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quinta-feira, 1 de maio de 2014

O jegue que comia papel

O jegue, em Poções, sempre fez sucesso. Criar o animal, porém, nunca foi vantajoso porque não trazia retorno financeiro. Bruno Sangiovanni, meu sobrinho, quando morava aqui em Salvador, me passava a cotação: “tio, um jegue em Poções custa cinquenta centavos e ninguém quer comprar”. Explicava, portanto, a razão de tanto jegue perambulando na cidade.

Me lembro de passagens envolvendo jegues na cidade, numa época em que os animais andavam soltos e se alimentavam nos mangueiros ao longo do rio São José – nas gramas do chafariz defronte a casa de Dr. Alcides e no campinho das gramas, onde passa a tubulação de água quase defronte da casa onde morou Seo Abel Magalhães.

- Seu Liligo, Seu Liligo, me acode. O jegue “butuou”, o jegue “butuou”, repetia Véio de Zé Galo depois de tentar um encontro amoroso com o animal e esse  desembestar pela Av. Cônego Pithon. Passou pela frente da casa de Liligo e  recomendou ao “jegueiro”: - belisca o saco do bicho que ele solta. Belisca o saco…

Não vou explicar aqui o que significa “butuou” por duas razões: a primeira é não ter que entrar nos detalhes. A segunda, é que todo poçoense da minha geração tem a obrigação de saber (e como tem) o que significa o termo “butuar”. E quem não é da minha geração, pergunte a alguém mais velho.

Ainda sobre as paixões pelos jegues, tinha os da estrada da Cachoeirinha quando era a época da gabiraba. Bastava uma bicicleta com uma corda no bagageiro e a gente já sabia o resultado.

Mas, vamos voltar aos jegues mansos, os de sucesso. O jeguinho de Dezinho trabalhou muito. Saía de Morrinhos e trazia o leite para ser vendido na casa de Fernando Schettini (Bigode ou Fernando de Araci). E Dezinho não gostava de andar pela estrada dos Araçás, o antigo caminho para Morrinhos. O velhinho, de barbas brancas e tronco arriado, deixava os baldes cheios, pegava os vazios e os  deixava pendurados na cangalha enquanto fazia a venda do leite, litro a litro. O jeguinho, amarrado, esperava pacientemente até o meio dia, quando Dezinho estava pronto para voltar pra Morrinhos.
 
A turma do jegue na festa do Divino (foto: Ricardo Sangiovanni)
Mas, o valor de cinquenta centavos por um jegue subia de cotação na festa do Divino quando foi criada a Turma do Jegue.  Passava para R$ 1,00. Depois de exibido e montado na chegada das Bandeiras, o animal era solto e retornava para o seu lugar de origem. Até volante o jegue tinha e os enfeites lembravam os que desfilavam na lavagem da Bonfim, aqui em Salvador.

Como os animais andavam soltos, era comum que eles buscassem alguma coisa para comer. Certa vez, um daqueles pequenos redemoinhos que aconteciam em Poções, levou uma folha de jornal para a varanda da casa de Emílio Sarno (vizinho ao casarão dos Schettini). O jegue, paciente, subia a rua da Itália, foi direto na folha de jornal e comeu o papel naturalmente. Eu achei aquilo estranho e guardei na memória a cena.

Quando os meus filhos, Ricardo e Carla, eram pequenos, minha mulher Bete tinha o costume de contar histórias para que eles dormissem. Um dia, sendo a minha vez de colocá-los para dormir, contei a história do jegue que comia papel. Entre eles, essa história virou um “clássico” infantil. Toda vez que eu estava próximo e perguntava qual a história que queriam ouvir, eles não negavam a resposta e diziam:

 - Conta a história do jegue que comia papel.


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A poçoense Rosa Alba lança blog com as suas artes

Tela de Rosa Alba (50x50)
Rosa Alba lança blog e apresenta os seus quadros. Como sempre informo aqui, mais uma poçoense de sucesso. Para aqueles que não conhecem Rosa, ela é filha de Valentim e Giuseppina Grisi Sarno e irmã do cineasta Geraldo Sarno.

Visite o blog http://rosaalbapintura.blogspot.com.br/ 

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