A nossa geração tem esta marca indelével de apego sentimental à cidadezinha do interior que albergou nossa infância e juventude.
Lembramos o nosso saudoso obelisco, de base hexagonal,que afinava à medida que subia, construído por Paulo Barbosa do Amaral e inaugurado a 10 de novembro de 1941, na Praça da Bandeira, na gestão do Dr. Peixoto. Era um dos raros e talvez único monumento dedicado à Bandeira Pátria. A descrição e a foto do obelisco, garboso na sua originalidade, consta no livro "Monumentos Nacionais".
O conjunto do obelisco era composto de quatro postes com luminárias e quatro bancos de granito, sem encosto, com um largo passeio em volta. Na praça, as casuarinas ,plantas originárias da Austrália, lembrando árvores de Natal simétricas, lindas no seu verde fosco, contrapondo com o céu azul e as nuvens multiformes e alvas. Seus raminhos verdes cilíndricos, que substituem as folhas, divididos em pequenas secções, serviam para uma brincadeira inocente: partido em dois, e depois perfeitamente encaixado, tratava-se de adivinhar qual o gomo que havia sido secionado.
Velhuscas, nodosas, as casuarinas ainda estão lá. Quando passamos perto o som do vento nos galhos parece dizer: “ - Olha quem está aí ! lembram daquele menino ?”
Quem não está mais é o obelisco. Ferrugem? descaso? mas era um obelisco importante. Além das casuarinas ele era cercado pela casa de Luis Sarno, onde antes funcionou o Dopolavoro Umberto Maddalena, a Igreja dos Crentes (como a chamávamos), do pastor Alcides “Batatinha” (como o chamávamos), a Escola Alexandre Porfírio, a casa de Argemiro Pinheiro, a dos Mascarenhas, a de Juvenal Oliveira, a de Ioiô Macedo, a de Brás Labanca, pela antiga sede do Clube Social, a de Dr. Trindade, a casa de Américo Libonati e a da Escola da Cooperativa da professora Lusmar e pela atual Prefeitura, que já foi clube e jardim de infância, onde cursei.
Era lá no obelisco , nos seus degrauzinhos, que as crianças sentavam em grupo para tirar fotos, que nas tardes de domingo Antonio Leto passeava com Dalva e suas futuras cunhadas Dolores e Alina, que Félix Magalhães e Maita Curvelo, namorados, pensavam que tinham por única testemunha dos seus amores o solitário obelisco, sem saber que a meninada olhava tudo de longe.
Era lá que o Dr. Fernando Costa realizava os atos cívicos, quando da sua gestão na Prefeitura, perfilando a Filarmônica de Mestre Nadinho e o Tiro de Guerra. Era no obelisco que, na hora do “baba” sentavam os que não estavam jogando.
Nele, no tempo de Getúlio Vargas, eram colados os cartazes convocando os reservistas para defender a Pátria e o povo para aprender o ABC. Era lá que acontecia tanta coisa que eu nem sei contar...
Com o tempo o obelisco ficou esclerosado, descamado, feio e ninguém cuidou dele. Parecia que diziam: “-Cai logo, peste!” Mas ele não caiu, foi demolido.
No seu lugar foi construído um lindo jardim florido e bem cuidado.
Sem desmerecer as flores acho que jogamos fora um obelisco cheinho de lembranças e emoções.
Eduardo Sarno
Fev/98
Nesta crônica do livreiro e escritor Eduardo Sarno, gostaria de que se inserisse no segundo parágrafo, entre as casas de Ioiô Macedo e Bras Labanca, havia a casa de Rosina Schettini e Ernesto De Benedictis com tia Ida De Benedictis. Depois dela, o quintal da casa de Daniel Alves, cuja frente dava para a Rua Clemente Freire. Se o Eduardo assim o fizer, completará melhor seu bom relato sobre a antiga Praça da Liberdade que nunca deixou oficialmente de designar-se Praça da Bandeira. Abraços do Ricardo De Benedictis.
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