No início dos anos 70, as noites em Poções davam e deixavam.
Mas, se alguém andasse pelas praças principais iriam ver um movimento muito
pequeno para as intermináveis atividades que tínhamos para cumprir. Jogar um
sinuca, fazer uma seresta, dá umas paqueradas e perambular pelas ruas escuras à
caça de não sei o que. Chegava ao ponto de a gente levar uma radiola portátil e os discos preferidos da época, achar uma sala de casa de alguma
família amiga e dançar.
Pra tantas coisas, eu tinha que descer cedo e já fazer ponto
no Chamuscão, no Gaivota, no bar de Seu Hélio, no de Tonhe Luz. Ficava naquele
vai e vem na calçada do lado oposto da praça esperando os outros amigos
descerem e formar um grupo para traçarmos o plano da noite.
Tinha que ser rápido. Quando saía de casa, meu pai, naquele
sotaque italiano carregado, dizia uma única palavra: “HORÁRIO”. Significava
dizer que eu não podia passar das dez da noite pra voltar pra casa. Então, era
marcar o encontro às 7:00h e cuidar de administrar o relógio – por isso eu
gostava de um relógio de pulso.
A regra do horário era variável. Na época de aula, era as
dez. Nas férias, podia ir um pouco mais - entre meia noite e duas da madrugada.
Nos dias de festa, até as quatro da manhã. Eu ainda dava umas “quebradas” nos
horários e ficava tudo bem. Mas, meu primo Miguel Sola, não tinha acordo com
meu tio Giovanni. Cinco pras dez, ele saía da praça e subia o beco dos Artistas
no pique.
Não pense que era fácil chegar em casa e enganar a hora. Meu
pai usava uma lanterna de pilhas e iluminava o relógio na cabeceira depois que
eu dava um toque na porta do quarto dele. Depois, passou alguém vendendo uns
despertadores com aqueles ponteiros verde, reflexivos, onde se podia ver a hora
só abrindo os olhos. A gente só entendia o que era ter “poder” quando nossos
pais davam a chave da porta e a liberdade passava a ser meio que vigiada.
Tão vigiada para a questão dos cigarro. Saber se estava fumando
era uma obsessão para eles. Minha mãe checava diariamente o bolso do casacão de
frio que eu usava, procurando uma sobra de cigarro ou o resto do fumo que caia
dos cigarros comprados à retalho. Já meu pai, montava outra estratégia – bem na
porta do quarto, no braço da poltrona, colocava o maço de cigarros com as
pontas voltadas para fora – era para ele contar na manhã seguinte e saber se
tinha apanhado alguns. Nunca caí nessa armadilha. Comprava meus cigarros com
Jorge Bufão, pois era confiável e não contava a ninguém. Nos outros bares e
vendas, todo mundo era amigo do meu pai e poderia haver vazamento na
informação. Então, para driblar as outras vendas, a gente sempre mandava alguém
comprar.
Como era diferente a nossa juventude e não faz muito tempo. Aprendemos
a saber o que é HORÁRIO… na marra!!!
(Vou colocar aqui que não se faz mais pai como antigamente,
sabendo o que meu amigo Danilo Pinduca vai escrever com base nas sombrinhas da
crônica anterior).