"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

"Horário..."

No início dos anos 70, as noites em Poções davam e deixavam. Mas, se alguém andasse pelas praças principais iriam ver um movimento muito pequeno para as intermináveis atividades que tínhamos para cumprir. Jogar um sinuca, fazer uma seresta, dá umas paqueradas e perambular pelas ruas escuras à caça de não sei o que. Chegava ao ponto de a gente levar uma radiola portátil e os discos preferidos da época, achar uma sala de casa de alguma família amiga e dançar.

Pra tantas coisas, eu tinha que descer cedo e já fazer ponto no Chamuscão, no Gaivota, no bar de Seu Hélio, no de Tonhe Luz. Ficava naquele vai e vem na calçada do lado oposto da praça esperando os outros amigos descerem e formar um grupo para traçarmos o plano da noite.

Tinha que ser rápido. Quando saía de casa, meu pai, naquele sotaque italiano carregado, dizia uma única palavra: “HORÁRIO”. Significava dizer que eu não podia passar das dez da noite pra voltar pra casa. Então, era marcar o encontro às 7:00h e cuidar de administrar o relógio – por isso eu gostava de um relógio de pulso.

A regra do horário era variável. Na época de aula, era as dez. Nas férias, podia ir um pouco mais - entre meia noite e duas da madrugada. Nos dias de festa, até as quatro da manhã. Eu ainda dava umas “quebradas” nos horários e ficava tudo bem. Mas, meu primo Miguel Sola, não tinha acordo com meu tio Giovanni. Cinco pras dez, ele saía da praça e subia o beco dos Artistas no pique.

Não pense que era fácil chegar em casa e enganar a hora. Meu pai usava uma lanterna de pilhas e iluminava o relógio na cabeceira depois que eu dava um toque na porta do quarto dele. Depois, passou alguém vendendo uns despertadores com aqueles ponteiros verde, reflexivos, onde se podia ver a hora só abrindo os olhos. A gente só entendia o que era ter “poder” quando nossos pais davam a chave da porta e a liberdade passava a ser meio que vigiada.

Tão vigiada para a questão dos cigarro. Saber se estava fumando era uma obsessão para eles. Minha mãe checava diariamente o bolso do casacão de frio que eu usava, procurando uma sobra de cigarro ou o resto do fumo que caia dos cigarros comprados à retalho. Já meu pai, montava outra estratégia – bem na porta do quarto, no braço da poltrona, colocava o maço de cigarros com as pontas voltadas para fora – era para ele contar na manhã seguinte e saber se tinha apanhado alguns. Nunca caí nessa armadilha. Comprava meus cigarros com Jorge Bufão, pois era confiável e não contava a ninguém. Nos outros bares e vendas, todo mundo era amigo do meu pai e poderia haver vazamento na informação. Então, para driblar as outras vendas, a gente sempre mandava alguém comprar.

Como era diferente a nossa juventude e não faz muito tempo. Aprendemos a saber o que é HORÁRIO… na marra!!!

(Vou colocar aqui que não se faz mais pai como antigamente, sabendo o que meu amigo Danilo Pinduca vai escrever com base nas sombrinhas da crônica anterior).

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Novas fotos de Poções - Fábio Lopes

Igrejinha do Divino - Poções - Ba (Foto: Fábio Lopes)
Recebo do amigo Fábio Lopes algumas fotos de Poções. São belas fotos e o tema é a Igrejinha do Divino. Vale a pena conferir na páginas Fotos de Poções, aqui no Blog.

Fábio mantém o site UniãoPerfeita, bastante acessado e com notícias diversas de Poções.

O espaço continua aberto para todos e agradeço ao Fábio por enviar as fotos.

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quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Eurípedes Rocha Lima - A história

EURÍPEDES ROCHA LIMA, nascido em 24 de Julho de 1926, em Umbuzeiro de Poções, Bahia, filho de Pedro Lima dos Reis e Ana da Silva Rocha. Aos 10 anos, cursei a Escola particular do Professor Alfredo José Ferreira e aprendi tudo que o Professor sabia, tendo sempre o cuidado de ler e escrever todas as manhãs antes de ir para o trabalho da roça com meu Pai, mas não era da minha aptidão o serviço braçal. Em seguida fui tomar conta de uma “bodega” (venda) na Fazenda Palmeira em 1939, época que teve uma grande seca e fome, tinha-se o dinheiro, mas não a mercadoria, alimentação não existia por falta de transportes, muitas vezes vi pessoas caírem desnutridas.
 
Em Janeiro de 1940 teve uma chuva que alagou a cidade de Poções, caindo muitas casas comerciais com grandes prejuízos aos proprietários. Voltei de Palmeira a Umbuzeiro para trabalhar na Loja de Diolino Xavier Luz, que a firma era Benigno & Luz, ganhando vinte mil reis por mês, moeda da época. Após seis meses fui negociar como ambulante, comprando e vendendo semanalmente entre Poções e Coquinhos. Voltei a trabalhar em balcão na Loja com Diolino até 1946.
 
Quando mudamos para Poções em 02 de Dezembro de 1946, trabalhei na Loja onde hoje é uma “Creche”, até 1949. Em 1947, fiz o Tiro de Guerra de Janeiro a Dezembro. Em 1948, no dia 05 de Setembro casei com Idalice Rocha Silva, tivemos 8 (oito) filhos: José Carlos Rocha Lima, Vanderley Rocha Lima, Sirley Rocha Lima, Augusto Carlos Rocha Lima, Maristela Rocha Lima, Humberto Carlos Rocha Lima, Maria Estela Rocha Lima e Ednilson Rocha Lima.
 
Em 1950, fui trabalhar na Padaria e Bar Conceição de Antonio Aguiar, dali em diante começou a clarear os horizontes com muito esforço e trabalho. Em 1954, me estabeleci no comércio de Padaria e Bar até 1963. Já estava equilibrado um pouco com as finanças. Ingressei na política com Aníbal Carvalho, fomos vitoriosos, continuando Vereador por duas vezes (8 anos), Vice-Prefeito com o Prefeito Otávio Curvelo (6 anos). Candidatei a Prefeito no pleito de 1982, fui eleito para mandato de 6 anos, tendo assim 20 (vinte) anos de vida pública.
 
Fui Adjunto da Promotoria Pública por 15 anos sem remuneração, e também fui Presidente da Loja Maçônica União e Justiça Nº 27 deste Oriente de Poções por 3 (três) vezes, passando por todos os cargos. Fui fundador do Centro Espírita Servos de Maria e Presidente por dois anos, com os irmãos Lourival Manoel da Silva, Ubirajara Pombal, Nicola Leto, Maria Bernardino Lago Macêdo e Saturnino Luiz de Macêdo. Fui Tesoureiro da Sociedade União das Classes, não mais existente. Continuando na política, fui candidato por duas vezes, perdi para Tonhe Gordo e continuo na política Municipal, sendo meu “hobby”.
 
Casei pela segunda vez com Vanuza Caires Macêdo, cuja união tivemos um Filho maravilhoso: Rômulo Pedro Macêdo Lima, um jovem de 21 anos, faz faculdade na UESB, muito estudioso e só nos dá prazer. Aos 85 anos de idade, sou Diabético tipo II, faço hemodiálise três vezes por semana e me considero “Jovial”. Agradeço a DEUS por tudo que fui e sou, com 50 anos na política, não tenho inimigos, mas sim amizades em todas as agremiações políticas.

Texto escrito por Eurípedes Rocha Lima há 02 anos e compilado por Vanuza Caires Macedo Lima (esposa) em 08.10.2013.
 
Nota do Blog 
(Este texto foi gentilmente cedido e autorizado a publicação por Vanuza Lima, a quem o Blog agradece pela contribuição à memória e história de Poções).
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domingo, 13 de outubro de 2013

Surras que tomei

Semana passada estava almoçando com alguns amigos em Recife. Num restaurante simples, ficamos conversando sobre a educação do passado.

O amigo espanhol contou que era coroinha na pequena cidade na região de Burgos quando foi expulso da igreja porque o padre não queria pagar a ajuda semanal acertada. A expulsão se deu porque resolveu retirar a ajuda da cestinha de arrecadação da missa dominical sem o conhecimento do padre. A mãe ainda deu uma surra nele. Pobre Gonzalo!

Me lembrei da surra que tomei da minha mãe quando começou a existir a televisão em Poções. Queria voltar cedo da escola para assistir aos diversos desenhos animados que passavam no horário da tarde. Disse para a professora que minha mãe havia solicitado para ela me “soltar” mais cedo. Então, três da tarde, eu já estava sentado naquele imenso sofá branco que tinha na sala de casa.

Minha mãe ajudava a irmã Lina no ateliê de costuras. Chegou mais cedo e me perguntou o que estava fazendo alí. “Ah, a professora teve que sair mais cedo e liberou a gente”. Foi se sentar na varanda, fazer o croché habitual. Naquele movimento de sobe desce da rua da Itália, quem passa? A professora.

“Ei, você não saiu mais cedo?” Perguntou. “Não, dona Anna, mas eu “soltei” seu filho mais cedo pois a senhora pediu”. Ela, minha mãe, não entendeu nada. Entrou em casa, pegou a primeira sombrinha que achou (chovia no dia) e me deu umas boas cacetadas, desligou a televisão e me deixou de castigo por vários dias, sem direito a desenho animado e cinema aos domingos.

É isso aí, hoje não se faz mãe como antigamente.

sábado, 5 de outubro de 2013

Joaquina Ventura: No tempo das parteiras

Por Ricardo Benedictis

Dona Joaquina foi, por longos anos, a principal parteira em Poções. Desde o acompanhamento da gravidez até o curativo definitivo após a queda do umbigo do recém-nascido, dona Joaquina visitava regularmente suas parturientes. E pelas suas leves mãos bondosas, em nossa casa, apenas o meu irmão mais velho e já falecido, Ernesto De Benedictis nasceu em Salvador, ‘aparado’ pela parteira Ignês Assumpção Alakija, que residia na Rua Siqueira Campos 16, no Barbalho.

Voltemos à dona Joaquina Ventura. Era uma senhora de estatura mediana para os padrões da época; devia medir mais ou menos 1,58 m. Tinha a voz doce e enérgica e falava baixinho, mas sua voz era audível e até sonora. Foi assim que, pelas suas leves mãos bondosas eu nasci, bem como mais oito entre meus irmãos e irmãs.

Meus pais e toda a minha família, nutriam muita amizade por dona Joaquina. Ela tinha trânsito livre em nossa casa, onde era tratada como parente próximo. Não me lembro quando ela faleceu pois já morávamos em Salvador à época do seu passamento. O certo é que ela merece a nossa homenagem e a nossa gratidão.

Vicente Ventura, pai de Pedro Jorge (funcionário da Justiça), foi funcionário do IBGE até aposentar-se; Vicente era neto de dona Joaquina.

Bom salientar que dona Joaquina ‘aparou’ duas gerações de poçoenses, tendo a seu encargo a graça de ajudar a virem à luz, inúmeras personalidades do mundo sócio-político-artístico de Poções em cerca de trinta anos de labor profissional.

Os membros da colônia italiana que se instalara em Poções desde os anos 1920, com raras exceções tiveram em dona Joaquina a parteira oficial das famílias. Ela era muito benquista e respeitada pela nossa sociedade poçoense, sem esquecer, entretanto, de registrar os bons serviços prestados à comunidade pelos médicos Peixoto Junior, 
Nestor Guimarães, Ary Alves Dias, Aloísio Euthalio da Rocha, entre outros contemporâneos da grande parteira Joaquina Ventura, através de cujas leves e bondosas mãos, tivemos o privilégio de aportar na Rua da Itália nº 13, em Poções, Estado da Bahia.

Também o cineasta Geraldo Sarno, o médico e ex-presidente nacional do INSS - Crésio Rolim, bem como o ex-presidente dos Correios – José Carlos Rocha Lima, vários prefeitos, deputados, advogados, médicos, dentistas, engenheiros, militares das três Forças e muita gente do povo – passaram pelas leves e bondosas mãos da grande parteira Joaquina Ventura, a quem, em nome da nossa memória cultural, rendo as maiores homenagens.

Que Deus a tenha, Joaquina.  


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quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Arborização urbana e o fim do tripes

Recebo o email de nosso conterrâneo Gilberto Messias, e ele escreve:

Luiz, sou um Poçoense apaixonado por esta Cidade, vivo em São Bernardo do Campo há aproximadamente 35 anos e, as vezes, chego a ir para Poções até 3 vezes ao ano. Meus planos é daqui alguns anos ir definitivamente para Poções. O google mapas deu uma melhorada na imagem e, talvez por ter condições de visualizar a cidade inteira, uma coisa me deixou preocupado, a falta de arborização na cidade é muito grande, percebi que as árvores existentes na sua maioria estão nos fundos das residencias e sabemos que conforme o crescimento da cidade os proprietários vão aumentando as suas construções e derrubando estas árvores. Tenho acompanhado o teu Blog e acredito que você seria a pessoa certa a fazer uma matéria sobre Arborização Urbana para a Cidade de Poções, quem sabe os gestores começavam a se preocupar com esse problema, que será sem sombra de dúvidas preocupante em um futuro muito próximo para Poções.
Obrigado

Agradeço a sua sugestão, não domino o assunto. Mas, a preocupação é pertinente e cada vez mais em pauta quando se fala de desenvolvimento urbano. Portanto, o seu texto é auto-explicativo e publico na íntegra para que possa ter o efeito desejado e solicitado.

Fiz umas buscas fotográficas nos meus registros e lembrei de um fato relacionado ao assunto que você menciona.
 
Rua da Itália arborizada (Foto: Arquivo Eduardo Sarno)
Rua da Itália de 2008 (foto: Lulu Sangiovanni)
Poções já foi muito mais arborizado e os antigos moradores se preocupavam e plantavam uma árvore na frente de cada casa. Me lembro que na rua da Itália existiam umas árvores frondosas. Elas amenizavam e refrescavam o calor dos dias de sol (leia mais sobre o assunto no Blog da Família Sarno)

Um vez, as árvores foram infestadas por um pequeno inseto chamado “tripes” ou “lacerdinha”. Diziam que o inseto caía nos olhos das pessoas e faziam um estrago. O mais interessante foi a decisão dos nossos gestores que, de imediato, mandaram erradicar o inseto – cortaram as árvores!  

Adeus tripes, adeus árvores nas ruas…