Direto de Mormanno - Itália
Depois de vinte e dois anos, retorno a cidade de Mormanno, ao
sul da Itália. É sempre um caminho especial, o mesmo que foi feito pelos nossos
pais, tios e demais italianos que viveram em Poções por muitos anos.
Os que não
vieram de Mormanno, vieram de Trecchina – mesma região.
Percorrendo a auto-estrada em um ônibus, tento entender as
dificuldades do passado, as dificuldades de atravessar regiões montanhosas até
se atingir o porto de Napoli e enfrentar uma travessia de 11 dias, aportar em
Santos – Sp. Daí, chegar em Salvador e depois Poções.
Uma cidade diferente das que estamos acostumados a ver,
mas comum em toda aquela região. Em Mormanno, existem apenas quatro mil habitantes.
Casas sobrepostas na montanha, uma única via principal que, às vezes, dois
veículos não se cruzam. Uma praça pequena por onde a cidade circula, as notícias,
as festas, comemorações e lembranças. Para eles, o mundo é aqui. Não é melhor
porque Cristóvão Colombo descobriu a América e muita gente foi embora. Talvez a vida aqui tenha demorado de passar, mas os costumes continuam os mesmos.
Foto de 1990
Foto atual
Todas as pessoas na praça estão ali acompanhando as outras, conversando, comprando e vendendo ou apenas sentados.
Entre caminhava e fotografava, fui apresentado a um senhor de nome Faraco (Grisolia Raffaelle) e, ao saber que era “americano”, disse logo que
eu era a cara de meu pai e que havia trabalhado com ele quando ainda morava na
cidade (meu pai foi morar no Brasil em 1951).
Aqui, ainda vive Domenica Sangiovanni, 102 anos, irmã do meu
pai. Giulia, a irmã de minha mãe, e primos de três gerações. Uma descendência
que durará anos.
A cidade produz queijos, mussarela e salames diversos –
produtos calabreses autênticos. Nas pequenas lojas de vendas de frios, a gente
enxerga o quanto é forte a produção e dá vontade de levar todos esses produtos
para o Brasil.
Existe uma cooperativa formada por dezoito produtores e
investem no sistema de gado confinado e porcos para engorda. Produzem oito mil
litros de leite e são transformados nos produtos finais. Os porcos são abatidos
quando atingem 120 kg e transformados nos embutidos famosos em toda a região.
Um dos administradores dessa cooperativa é Pietro Sangiovanni, nosso primo.
Eles encontraram na Cooperativa Campotenese a forma de produzir em uma região
montanhosa e aproveitar todos os espaços disponíveis.
Um fato histórico na cidade foi a descoberta de duas grandes
criptas na área inferior da Catedral de Santa Maria del Colle, utilizadas
antigamente como cemitério de pessoas comuns e de sacerdotes, muito bem
mostrada e explicada pelo primo Giuseppe Fortunato.
Daqui do alto, no bairro San Biase, enxergo o movimento tranquilo da cidade, o verde das montanhas que a cercam e o penacho da torre da Igreja de San Rocco, o que marca a minha primeira lembrança de uma Mormanno que apenas conhecia de fotos trazidas pelos nossos parentes.
Vinte e dois anos depois, realimento o passado respirando um pouco desse clima, não só de quatorze graus, mas de onde saiu uma parte da nossa história. Convivendo com o dialeto da língua, vem na mente as reuniões dos tios nas varandas das casas em Poções. Comer o doce "bocconotto" original é sentir a tradição que ultrapassou o oceano e foi parar nos aniversários da família.
É muita lembrança.
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