"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

sábado, 21 de abril de 2012

Nelito - Patrimônio de Poções

Nelito, um jovem de 80 anos, filho de Dona Julieta, viúvo da saudosa Ilse Gusmão, pai de Flávio, Marcos e Cláudia, irmão de Aracy, Juracy e Erbene, cunhado de Fidélis de Boa Nova, genro de Cícero Gusmão, tio de Aderbal Duarte (um dos maiores violonistas do país). Um cidadão de bem!

Todas as ligações familiares bastam para mostrar o quanto é importante. Mas, Nelito, Emanuel Campos de Sá, é um patrimônio da nossa cidade. Além de tantas realizações, foi ele quem renasceu a Filamônica 26 de Junho (http://filarmonica26dejunho.blogspot.com.br/), “toca” o projeto com alma e trata como uma grande família.

Os meus parabéns pelos seus 80 anos bem vividos.

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sexta-feira, 6 de abril de 2012

O dia da matraca

Não se faz mais Semana Santa como antigamente.

A programação iniciava-se no domingo de ramos e terminava no domingo de páscoa. Na quarta feira, já havia atividades na igreja e, praticamente, a quinta era de concentração com a tradição do lava-pés, no final da tarde, que simbolicamente traduz humildade e purificação. Os 11 apóstolos estavam lá representados com as suas faixas coloridas, já que Judas não participava porque havia vendido a sua alma para Satanás.

Padre Honorato fazia uma confusão e não beijava os pés da gente. Jogava um pouco de água, encostava o rosto quase um palmo de distância e fazia menção de beijar o pé, apenas. Passava para o outro apóstolo e repetia o gesto até lavar os pés de todos nós. Uma vez, quem beijou o meu pé foi o Bispo Dom Climério Almeida de Andrade, da Diocese de Vitória da Conquista.

Os santos e quadros já estavam cobertos com panos roxo, símbolos de penitência, dor e tristeza. Na missa de quinta, retirava-se a toalha do altar, talvez para demonstrar despojamento – a gente (como fui coroinha) fazia aquilo de forma mecânica porque não se explicava a razão, era tradição e bastava.

Na sexta, desde cedo, as rádios não apresentavam os programas normais e líderes de audiência. Era dia de folga para Aroldo de Andrade, na Rádio Globo, e para o Big-Ben, na Rádio Mundial. A programação era somente de músicas clássicas.

Havia pessoas que entravam em jejum completo. Invés, eu acordava cedo, tomava um café com pão e “jejuava” até meio-dia, bem na hora que começavam a chegar os vatapás e carurus diversos, já que lá em casa, por ser de tradição italiana, minha mãe nunca teve habilidade para fazer comida baiana. As vizinhas Zilda, tia Stela, Tidinha, tia Railda, Ziza, Dona Araci e Noélia (e outras que não me lembro agora) mandavam os pratos com as suas especialidades. Era uma festa poder provar tantas variedades.

- Dia de jejum, imagine! Como consciência e barriga cheia ninguém vê, ficava mais tranquilo para a gente comer tanto.

A tarde e noite de sexta ainda haviam atividades. Íamos para a procissão do Senhor Morto. Era bonita a apresentação de Margarida Nunes, representando a Madalena, descerrando a imagem de Cristo coroado com os espinhos. Ainda mais bonita, a manifestação de fé do Sr. Brasilino Neto, seu pai, levando o banquinho para que sua filha pudesse ganhar altura e todos ouvirem o seu canto, em latim, nas diversas estações da via Sacra.

No final da tarde, eu confesso que ficava tomado pela reflexão sobre a morte e o sentimento de culpa por alguém ter morrido por você. Enfim, eram as crenças trazidas pelo som da matraca.
Terminada a procissão, começava a cerimônia do beija-pé. O Senhor Morto era enrolado em um lençol e colocado dentro de uma caixa enorme revestida de pano roxo, com uma grande cruz onde a letra M era feita por outro lençol. A cerimônia era extremamente organizada, com a iluminação reduzida, as pessoas em fila e em silêncio, se dirigindo para a imagem a fim de beijar o pé.

Pra mim, a grandiosidade do ato também era demonstrada na imagem, onde o dedão já não existia mais devido ao buraco formado pela umidade dos lábios das pessoas.

O sentimento de dor no dia da matraca só seria amenizado no dia seguinte, sábado de aleluia, quando o sol briga com a lua, refletidos numa bacia esmaltada e cheia de água.

Nota do blog
MATRACA - Instrumento formado de tábuas ou argolas móveis que se agitam para fazer barulho e se usam em vez da campainha nas festas da Semana Santa (Dicionário Michaelis).


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terça-feira, 3 de abril de 2012

Mário Mamão

Não só me lembro da turma do Ginásio de Poções como também da minha turma de faculdade, aqui em Salvador. Depois de forçar a barra para passar em algum vestibular, consegui entrar para o curso de Administração de Empresas da EAEB – Escola de Administração de Empresas da Bahia, hoje denominada Facs, que comemora 40 anos de existência.

Lá pelos meados da década de 80, faziamos o curso noturno de Administração de Empresas. No meio de tantos jovens, formamos um grupo coeso de colegas apenas com aqueles que trabalhavam. Luiz Carlos Andrade, o mais experiente e o nosso “chefe”, era Gerente do Banco Itaú do Comércio, Luiz Cláudio Castro na Aliança de Seguros, Josemar Ferreira Carneiro era o Gerente da Caixa de Candeias, Raul Noya (dono da Movecil) e Mário Mamão, um jovem que apenas estudava e nos admirava pelo fato de trabalharmos. Tão jovem que me lembro das grandes espinhas no rosto.

Mário, todo dia me perguntava se eu era o dono da Pizzaria Don Giovanni, que ficava defronte ao Barravento. Associava o nome Sangiovanni com Don Giovanni. Acreditou tanto nessa possibilidade que caiu na armadilha de Luiz Carlos.

 – Caputo (como eu era chamado), porque você não dá uma cortesia pro Mário?

- Certo Luiz, Mário realmente merece!

Resolvi atender ao pedido de Luiz. Peguei um pedaço de papel e escrevi: VALE UM JANTAR e rubriquei para mostrar bastante autenticidade.

Mário, sorrindo, perguntou:  – Posso levar minha namorada?

– Claro, Mário, você pode levar toda a sua família, semana passada eu fui lá com a minha, disse Luiz.

Chamei Luiz em particular e perguntei:

- Será que a gente não vai complicar Mário? E se ele estiver sem dinheiro?

- Não se preocupe, ele tem conta na agência, eu pago o cheque.

Semana seguinte, Mamão chegou resmungando que o Gerente da pizzaria não havia acatado o vale, que não reconheceu a assinatura e ele teve que pagar a despesa, apresentando a nota fiscal para comprovar que havia ido lá.

Luiz, sem pestanejar, disse: - Caputo, dê um visto na nota e ele volta, janta e apresenta a nota assinada, já que está com crédito.

- Será que ele vai aceitar dessa vez? perguntou Mário.

Grande saudade dessa turma desfeita pelo tempo. Assim, estudamos vários anos e convivemos entre as salas de aula, os trabalhos em grupo e a barraca de Tia, a baiana do acarajé, tomando cerveja.