O velho Chico, meu pai, fazia conta com as placas dos veículos. Multiplicava, somava e dava um resultado ou significado, como se fosse aquele cálculo de Zagalo quando ele quer que o resultado seja o número 13. Um dia, chegou Marivaldo Soares com um Volks TC de placa AC2678. Chico não poupou a matemática e disse 26 x 3 = 78.
Naquela época, as placas dos veículos eram com duas letras e quatro números. Isso durou até 1990. Por exemplo: Poções tinha a combinação das placas com as iniciais VS. Iguai VJ, Nova Canaã VP, Conquista tinha duas combinações VX e VZ. VI era Ibicuí e Planalto era VQ. Com estas placas, todo entendido de carro sabia o ano de fabricação pelas iniciais. Nos lugares que havia um par de letras somente, a cronologia era pela ordem crescente dos números da placa.
A estrada para Morrinhos não era asfaltada e passava por lá a Rural de Vicente Orrico com a placa VS0006. Eu aprendi a dirigir no fuscão da minha prima Aurora, que era AB6222. Já Michele, penou para aprender a dirigir no fusca AC7743. Depois que aprendeu, comprou a Brasília AH3763 e trocou pelo fusca AT9203. Pepone veio a aprender mais tarde, tinha um Corcel II azul AN8182 e, mais tarde, uma Elba AU8741, sem esquecer da Marajó AW7743, que meu pai com o sotaque italiano pronunciava "Marujon". Me faltou memória para lembrar a placa do Corcel branco - lembrei agora: AS8778.
No quintal da nossa casa, Chico Pithon Sarno guardava o fusca AD6841 e usava nas estradas da fazenda em Boa Nova. Sola, meu primo, comprou o fusca branco que foi de Gervásio Moura, emplacou em Salvador, e recebeu a nova placa AG0048. Quem comprou um gol daqueles BX, primeira geração, foi meu cunhado Gerson Lima, trocou o fusca AI4941 que era da professora Madalena. O gol foi emplacado como AZ1008.
Comecei minha vida de viajante no fuscão amarelo Fafá de Belém que tinha a placa AK2972. Esse daí, tinha dentro dele um rádio transmissor SSB, de longo alcance. Quando passava em Poções, eu montava a antena e ficava falando com os colegas de trabalho: Não dava outra – ficava rodeado de pessoas ouvindo a conversa.
Cansei de tomar emprestado o Chevette de minha prima de placa AL1618. Tomei vergonha e comprei o meu primeiro carro, uma Variant branca, AL9070, que pertenceu a Afonsinho Liguori. Dois carburadores e valente naquela estrada poeirenta para Guanambi. Depois, troquei por uma Brasília verde comprada na mão de Zé Palladino, de placa VX4038. Fiz rolo e fiquei com a Brasília branca TD2334 (TD eram as iniciais de Guanambi), que pertenceu ao meu sogro Valmir. Me lembro do Fiat 147 de placas VZ8211 e do Uno YV8072 (YX8074, com a correção de Ricardo - veja comentário), que fui comprar no Rio de Janeiro na mão de Adilson Santos, em 1985. Tive, ainda, um Prêmio UM5972.
.
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Ton de Nino (O Ton de Poções)
No texto publicado ontem, eu falei do acaso. Hoje, recebo uma ligação telefônica para tratar de serviços de plotagem de veículos. Mesmo sabendo que não trabalhava mais naquela empresa, perguntei por Wellington Pereira (Ton) e fui surpreendido com a notícia de que faleceu no primeiro semestre de 2010, vitima de alguma complicação cardiológica.
Ele sempre me dizia: - Quando você for rapidamente a Poções me chame, pois eu quero ver aquelas pessoas, principalmente a família de Tia Neuza (esposa de Miga).
Ainda não havia o blog quando publiquei o texto abaixo em 2007. Relembra o nosso reencontro. Em sua homenagem, publicarei o texto:
“Estava procurando uma empresa para fazer trabalhos de programação visual. Indicaram Supimpa, na Br-324, saída de Salvador. Tinha que plotar os veículos da empresa e fui ao encontro do cidadão, que é o “fera” dos mega cartazes expostos nas ruas de Salvador.
Chegando ao escritório dele, deparei com um cidadão sentado atrás de uma carteira, cabelos brancos e de olhar fixo. Apresentei-me. Ele, ao ouvir o meu sobrenome, pergunta:- Você é irmão de Migueluccio? de Poções? Eu sou Ton, irmão de Nino. Certamente não se lembra de mim.
Lógico que eu me lembrei dele, de Nino e do tempo em que eles moraram em Poções, bem na Praça do Coreto. Wellington Antônio Vieira Pereira é o Ton, irmão de Clóvis Pereira Júnior, o Nino do Cartório, filhos do Sr. Clóvis Pereira.
Não tinha mais assunto de trabalho a não ser reatar aquela lembrança boa. Passamos a falar de coisas do passado, das pessoas e da saudade. São 25 anos que ele não vai a Poções, mas parece que as coisas estão vivas, com riquezas de detalhes na mente do amigo Ton. Para os mais antigos, mandou notícias de Nino – está morando em Niterói-RJ e bem de saúde. (*)
Como os serviços prestados por ele são de qualidade, já estamos na terceira remessa de plotagens dos veículos e faço questão de visitá-lo quando negociamos. Cada vez que nos falamos, revela lembranças e o grande desejo de retornar a Poções para “matar” a saudade. Indiquei as colunas e leu todas. Me disse: “a gente precisa sentar pra conversar. Você vai ter história pra encher o site”.
Outro dia, empolgado com as histórias que leu, me ligou para dizer que a publicação das colunas deveria ser menos espaçada e me contou um fato interessante que merece registro.
Aconteceu em 1957, antes de falecer o Sr. Clóvis Pereira. A energia elétrica ficou ligada direta por dois dias, devido ao grave estado de saúde que o pai atravessava. Era uma questão de extrema necessidade, pois somente nos casos de saúde, nas noites de festas, sentinelas e outros muito especiais a geração de energia se prolongava após as 22 horas.
Ton, estudante interno no colégio de Jequié, fora chamado às pressas em uma das crises do pai. O amigo Almir Rocha (Miga) foi apanhá-lo em Jequié e, no caminho, após a meia noite, próximo a Poções, sentiu um alívio enorme ao perceber que a cidade estava às escuras. A escuridão era sinal de paz naquela noite que pareceria ser difícil. Tinha a certeza que o pai estava vivo e pode confirmar chegando em casa.
Cinqüenta anos após, ainda é uma lembrança viva e marcou para sempre o cidadão poçõense. O fato chama atenção para os momentos que cada um guarda na memória e quanto é importante para enxergamos o tempo e as rápidas mudanças. Emocionado, ele disse que era um sinal de respeito e prestígio para um homem com relevantes serviços prestados à cidade.
O outro lado bom foi a maneira despretensiosa de reencontrar o simpático contemporâneo que me fez lembrar das épocas das brincadeiras no coreto, do velho Ginásio da praça, da lateral da Igrejinha, da escuridão das ruas e de uma turma mais velha, anterior a minha. Me deu saudades e vontade de rever tantos amigos sumidos.Valeu Ton, que você possa reencontrar mais rápido os seus velhos amigos!
(*) Ton informou que Nino faleceu no final de março de 2008".
.
Ele sempre me dizia: - Quando você for rapidamente a Poções me chame, pois eu quero ver aquelas pessoas, principalmente a família de Tia Neuza (esposa de Miga).
Ainda não havia o blog quando publiquei o texto abaixo em 2007. Relembra o nosso reencontro. Em sua homenagem, publicarei o texto:
“Estava procurando uma empresa para fazer trabalhos de programação visual. Indicaram Supimpa, na Br-324, saída de Salvador. Tinha que plotar os veículos da empresa e fui ao encontro do cidadão, que é o “fera” dos mega cartazes expostos nas ruas de Salvador.
Chegando ao escritório dele, deparei com um cidadão sentado atrás de uma carteira, cabelos brancos e de olhar fixo. Apresentei-me. Ele, ao ouvir o meu sobrenome, pergunta:- Você é irmão de Migueluccio? de Poções? Eu sou Ton, irmão de Nino. Certamente não se lembra de mim.
Lógico que eu me lembrei dele, de Nino e do tempo em que eles moraram em Poções, bem na Praça do Coreto. Wellington Antônio Vieira Pereira é o Ton, irmão de Clóvis Pereira Júnior, o Nino do Cartório, filhos do Sr. Clóvis Pereira.
Não tinha mais assunto de trabalho a não ser reatar aquela lembrança boa. Passamos a falar de coisas do passado, das pessoas e da saudade. São 25 anos que ele não vai a Poções, mas parece que as coisas estão vivas, com riquezas de detalhes na mente do amigo Ton. Para os mais antigos, mandou notícias de Nino – está morando em Niterói-RJ e bem de saúde. (*)
Como os serviços prestados por ele são de qualidade, já estamos na terceira remessa de plotagens dos veículos e faço questão de visitá-lo quando negociamos. Cada vez que nos falamos, revela lembranças e o grande desejo de retornar a Poções para “matar” a saudade. Indiquei as colunas e leu todas. Me disse: “a gente precisa sentar pra conversar. Você vai ter história pra encher o site”.
Outro dia, empolgado com as histórias que leu, me ligou para dizer que a publicação das colunas deveria ser menos espaçada e me contou um fato interessante que merece registro.
Aconteceu em 1957, antes de falecer o Sr. Clóvis Pereira. A energia elétrica ficou ligada direta por dois dias, devido ao grave estado de saúde que o pai atravessava. Era uma questão de extrema necessidade, pois somente nos casos de saúde, nas noites de festas, sentinelas e outros muito especiais a geração de energia se prolongava após as 22 horas.
Ton, estudante interno no colégio de Jequié, fora chamado às pressas em uma das crises do pai. O amigo Almir Rocha (Miga) foi apanhá-lo em Jequié e, no caminho, após a meia noite, próximo a Poções, sentiu um alívio enorme ao perceber que a cidade estava às escuras. A escuridão era sinal de paz naquela noite que pareceria ser difícil. Tinha a certeza que o pai estava vivo e pode confirmar chegando em casa.
Cinqüenta anos após, ainda é uma lembrança viva e marcou para sempre o cidadão poçõense. O fato chama atenção para os momentos que cada um guarda na memória e quanto é importante para enxergamos o tempo e as rápidas mudanças. Emocionado, ele disse que era um sinal de respeito e prestígio para um homem com relevantes serviços prestados à cidade.
O outro lado bom foi a maneira despretensiosa de reencontrar o simpático contemporâneo que me fez lembrar das épocas das brincadeiras no coreto, do velho Ginásio da praça, da lateral da Igrejinha, da escuridão das ruas e de uma turma mais velha, anterior a minha. Me deu saudades e vontade de rever tantos amigos sumidos.Valeu Ton, que você possa reencontrar mais rápido os seus velhos amigos!
(*) Ton informou que Nino faleceu no final de março de 2008".
.
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Dose Tripla
No último final de semana estive em Vitória da Conquista, a trabalho, e dei uma esticada a Poções.
Em Conquista, me encontrei com um dos maiores artistas plásticos que Poções produziu para o mundo: - Adilson Santos. Os quadros pintados por ele estão em paredes do mundo inteiro. Depois de muitos anos no Rio de Janeiro, ele voltou para a Bahia e montou o seu ateliê naquela cidade. A sua arte é igual às velhas garrafas de vinho – sempre melhor.
O que mais me impressiona nas suas pinturas são os detalhes que lembram a minha infância. Afinal, poçõenses da minha idade têm os mesmos sentimentos.
Adilson sempre me fala da saudade que sente dos vizinhos da Lapinha. Por Zoma e João Batatinha, os seus amigos de infância, ele sempre alimentou um carinho especial. Quando eu me encontrava com Zoma, a primeira pergunta era em relação a Adilson. O mesmo acontece com João Batatinha, que também não esquece de perguntar pelo amigo. Nesse sábado, Adilson me perguntou: - Tem notícias de João Batatinha?
Enquanto almoçava com ele no Caminho da Roça, no Alto Maron, entra Dino Gusmão trazendo Irundy Dias e Noélia Gusmão Dias. Não posso deixar de escrever e demonstrar o carinho especial que tenho pelo casal. Sentei-me ao lado dele e trocamos alguns minutos de conversa boa, da família, de netos, bisnetos e Afonso Manta, seu irmão.
Se os quadros de Adilson trazem as recordações da infância, o casal me traz as recordações do tempo de pré-adolescência e adolescência. É como se passasse um filme dos tempos do Ginásio, de um passado sem volta.
Se vocês não sabem, a minha primeira viagem para fora da Bahia foi a excursão ao Rio de Janeiro, comandada por Irundy, onde acabamos assistindo ao empate de Botafogo e Grêmio no Maracanã.
À noite, lá em Poções, de repente, surge Chico Schettini com um violão na mão. Ao lado da barragem de Morrinhos, Chico fez uma seresta e trouxe as lembranças dos velhos tempos das noites nos jardins da cidade.
Já comentei esse fato e repeti na noite do sábado: Chico foi o meu grande incentivador indireto para escrever as crônicas sobre Poções. Ele escrevia para o site Terra do Divino e percebi que o meu estilo de escrever era bastante parecido com a forma que escrevia. Inesperadamente, deixou de colaborar com as suas escritas e sempre cobro para que volte a ativa. Está, diariamente, às sete da manhã, no comando de um programa na Radio Liberdade de Poções http://www.liberdadefmpocoes.com.br/ (você escuta ao vivo na internet).
Depois dessa dose tripla, fui ver o significado da palavra acaso: Acaso (do latim a casu, sem causa) é algo que surge ou acontece a esmo, sem motivo ou explicação aparente.
Será?
.
Em Conquista, me encontrei com um dos maiores artistas plásticos que Poções produziu para o mundo: - Adilson Santos. Os quadros pintados por ele estão em paredes do mundo inteiro. Depois de muitos anos no Rio de Janeiro, ele voltou para a Bahia e montou o seu ateliê naquela cidade. A sua arte é igual às velhas garrafas de vinho – sempre melhor.
O que mais me impressiona nas suas pinturas são os detalhes que lembram a minha infância. Afinal, poçõenses da minha idade têm os mesmos sentimentos.
Adilson sempre me fala da saudade que sente dos vizinhos da Lapinha. Por Zoma e João Batatinha, os seus amigos de infância, ele sempre alimentou um carinho especial. Quando eu me encontrava com Zoma, a primeira pergunta era em relação a Adilson. O mesmo acontece com João Batatinha, que também não esquece de perguntar pelo amigo. Nesse sábado, Adilson me perguntou: - Tem notícias de João Batatinha?
Enquanto almoçava com ele no Caminho da Roça, no Alto Maron, entra Dino Gusmão trazendo Irundy Dias e Noélia Gusmão Dias. Não posso deixar de escrever e demonstrar o carinho especial que tenho pelo casal. Sentei-me ao lado dele e trocamos alguns minutos de conversa boa, da família, de netos, bisnetos e Afonso Manta, seu irmão.
Se os quadros de Adilson trazem as recordações da infância, o casal me traz as recordações do tempo de pré-adolescência e adolescência. É como se passasse um filme dos tempos do Ginásio, de um passado sem volta.
Se vocês não sabem, a minha primeira viagem para fora da Bahia foi a excursão ao Rio de Janeiro, comandada por Irundy, onde acabamos assistindo ao empate de Botafogo e Grêmio no Maracanã.
À noite, lá em Poções, de repente, surge Chico Schettini com um violão na mão. Ao lado da barragem de Morrinhos, Chico fez uma seresta e trouxe as lembranças dos velhos tempos das noites nos jardins da cidade.
Já comentei esse fato e repeti na noite do sábado: Chico foi o meu grande incentivador indireto para escrever as crônicas sobre Poções. Ele escrevia para o site Terra do Divino e percebi que o meu estilo de escrever era bastante parecido com a forma que escrevia. Inesperadamente, deixou de colaborar com as suas escritas e sempre cobro para que volte a ativa. Está, diariamente, às sete da manhã, no comando de um programa na Radio Liberdade de Poções http://www.liberdadefmpocoes.com.br/ (você escuta ao vivo na internet).
Depois dessa dose tripla, fui ver o significado da palavra acaso: Acaso (do latim a casu, sem causa) é algo que surge ou acontece a esmo, sem motivo ou explicação aparente.
Será?
.
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
A Mulinha de Ouro
O terno de Reis de Dona Fetinha era bastante tradicional no mês de janeiro. Como morava defronte da casa dela, acompanhava todos os passos e ajudava a acender as velas dentro das lanternas. Era um misto de pastorinhas, membros da Cruzadinha Eucarística e algumas figuras mais tradicionais da Congregação Mariana e outras entidades religiosas. Chegavam os músicos e a gente seguia pelas principais ruas, mas não visitávamos todas as casas. Era um terno para cantar cantigas religiosas e rezar junto aos imensos presépios que eram construídos (o da casa de Claudionor Mituca era imbatível),
Outros tinham objetivos diferentes e a idéia era passar nas casas para beber. Passavam os ternos do Pavão, da Mulinha de Ouro, do Boi e alguns mais modestos. Independente dos objetivos, mantiveram o folclore e a tradição na nossa cidade por muitos anos, principalmente o terno de Reis que era conduzido por Dr. Alcides dos Reis Pinheiro (coincidência?).
Interessante era ver a figura da mulinha dançando na sala de visitas da nossa casa. Até determinada idade, eu imaginava que ali havia um misto de homem e mula. Da cintura para baixo, o homem ficava dentro do corpo da mula. Havia um estribo pendurado e não compreendia onde ficava a perna da pessoa. Depois, entrava o boi e eles dançavam como se estivessem numa tourada. Os animais muito bem feitos, decorados com um tecido chitão bem vistoso. As roupas dos componentes tinham cores vivas e ainda usavam coroas e cetros. Os instrumentos eram rústicos, mas o som contagiante.
O refrão da música dizia: É de ouro só, a mulinha é de ouro, é de ouro só...
Por vários anos, Chico, meu pai, sempre abriu as portas para receber os ternos de Reis. Deixava pronto um garrafão de licor. O que sobrava, os seguidores levavam. Era tanta gente acompanhando que enchia a sala e a copa.
Em uma bela noite, usaram o banheiro da casa e levaram um barbeador de estimação que havia trazido da Itália. Depois desse fato, ouvia os resmungos dele toda vez que fazia a barba.
Nos anos seguintes, nunca mais o Reis entrou lá em casa. Era cantado na porta da rua, permanecendo a tradição do licor.
Adeus, Mulinha de Ouro!!!
Nota: Hoje, graças ao Sr. Homero, a tradição de cantar Reis em Poções ainda é mantida. Veja apresentação do Terno de Reis filmado pela Rádio Liberdade Fm: http://www.youtube.com/watch?v=v7U9UkQ-4MU&feature=player_embedded
Outros tinham objetivos diferentes e a idéia era passar nas casas para beber. Passavam os ternos do Pavão, da Mulinha de Ouro, do Boi e alguns mais modestos. Independente dos objetivos, mantiveram o folclore e a tradição na nossa cidade por muitos anos, principalmente o terno de Reis que era conduzido por Dr. Alcides dos Reis Pinheiro (coincidência?).
Interessante era ver a figura da mulinha dançando na sala de visitas da nossa casa. Até determinada idade, eu imaginava que ali havia um misto de homem e mula. Da cintura para baixo, o homem ficava dentro do corpo da mula. Havia um estribo pendurado e não compreendia onde ficava a perna da pessoa. Depois, entrava o boi e eles dançavam como se estivessem numa tourada. Os animais muito bem feitos, decorados com um tecido chitão bem vistoso. As roupas dos componentes tinham cores vivas e ainda usavam coroas e cetros. Os instrumentos eram rústicos, mas o som contagiante.
O refrão da música dizia: É de ouro só, a mulinha é de ouro, é de ouro só...
Por vários anos, Chico, meu pai, sempre abriu as portas para receber os ternos de Reis. Deixava pronto um garrafão de licor. O que sobrava, os seguidores levavam. Era tanta gente acompanhando que enchia a sala e a copa.
Em uma bela noite, usaram o banheiro da casa e levaram um barbeador de estimação que havia trazido da Itália. Depois desse fato, ouvia os resmungos dele toda vez que fazia a barba.
Nos anos seguintes, nunca mais o Reis entrou lá em casa. Era cantado na porta da rua, permanecendo a tradição do licor.
Adeus, Mulinha de Ouro!!!
Nota: Hoje, graças ao Sr. Homero, a tradição de cantar Reis em Poções ainda é mantida. Veja apresentação do Terno de Reis filmado pela Rádio Liberdade Fm: http://www.youtube.com/watch?v=v7U9UkQ-4MU&feature=player_embedded
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
De Carona com Lulu
Estava atualizando a conta de quanto já andei de carro, ônibus e avião. O resultado estimado é de 1.350.000 km. Significa dizer que é o correspondente a quase duas viagens à Lua ou 1.520 viagens entre Poções a Salvador, ida e volta, ou o mesmo que 34 voltas em redor da Terra.
Não é tanto, aproximadamente 44 mil km por ano trabalhado ou 120 km por dia.
Com essa quilometragem, com tanta gente que já viajou ao meu lado e que já ouviu as minhas histórias, comecei a escrever outras crônicas além da nossa querida Poções para transformá-las em um livro. Mas, enquanto se escreve, pensa-se no título. Eu tinha pensado no título em inglês – se chamaria “The Best” porque alguém brincou e disse: - O seu livro será The Best (erol).
Recentemente, durante uma viagem entre Poções e Salvador em companhia da minha irmã Elisa, contei tantas histórias que ela sugeriu um nome para o livro: “De Carona com Lulu”. Achei por bem colocar logo no blog, pois o livro é coisa que tem um longo prazo para ficar pronto. Por enquanto, o livro tem nome e algumas poucas histórias escritas - é o suficiente.
Mas, me lembrei de duas caronas que dei. A primeira, foi em companhia do meu amigo Jônatas Fagundes Ferreira - Jota. Viajei de Poções para Teixeira de Freitas e ele me pediu uma carona para Eunápolis, pois pretendia visitar Beto, filho de Vitinho Fotógrafo.
Quando chegamos em Itabuna, abasteci a camionete C10 em um posto ao lado da Estação Rodoviária. Dei partida e percebi que o motor falhava enquanto transitava por uma área esburacada. Jota resolve mexer com um cidadão que passava próximo à camionete e soltar uma piada pra cima dele. O carro falhou o motor. Tentava dar partida e nada. O cidadão, visivelmente chateado, percebeu a nossa dificuldade e veio em direção a Jota dizendo: Desça seu ... venha falar aqui, desça do carro!!!. Jota ficou vermelho, me olhava, levantava o vidro da porta e dizia: - Bota esse negócio para pegar... vamo tomar tapa.
O motor pegou quando faltava um metro para o cidadão abrir a porta. Nos divertimos muito depois que saímos do perigo.
A outra história de carona foi com meu amigo Lourival Manoel da Silva Filho – Lourinho, desta vez em um fusca modelo Fafá de Belém.
Paramos no Posto Pau de Vela para fazer um lanche, como era de costume nas viagens entre Poções e Salvador. Paguei a conta e fiquei conversando com o dono do Posto, que era cliente da empresa que eu trabalhava. Me deu vontade de tomar um café e pedi ao caixa que cobrasse separado. Tomei o cafezinho e fui para o carro. Sentei, de cabeça baixa anotava o consumo de combustível e falava para Lourinho: - Que cara sacana, outro dia o carro dele furou o radiador e dei socorro a uns 45 km de Salvador. Ele foi capaz de cobrar o cafezinho, que sujeito miserável!
Lourinho balbuciava: Lulu, você se arrombou, o cara tá bem aí do seu lado e deve ter escutado tudo o que você falou. Eu já estava mesmo na pior e esperava que um buraco se abrisse - não tive outro jeito a não ser emendar: - Também pudera! Todo mundo que passa aqui é amigo dele, se der cafezinho para cada um, imagine o tamanho do prejuízo.
O dono do posto comentou: - é isso mesmo, você tem razão!
para o meu alívio.
Não é tanto, aproximadamente 44 mil km por ano trabalhado ou 120 km por dia.
Com essa quilometragem, com tanta gente que já viajou ao meu lado e que já ouviu as minhas histórias, comecei a escrever outras crônicas além da nossa querida Poções para transformá-las em um livro. Mas, enquanto se escreve, pensa-se no título. Eu tinha pensado no título em inglês – se chamaria “The Best” porque alguém brincou e disse: - O seu livro será The Best (erol).
Recentemente, durante uma viagem entre Poções e Salvador em companhia da minha irmã Elisa, contei tantas histórias que ela sugeriu um nome para o livro: “De Carona com Lulu”. Achei por bem colocar logo no blog, pois o livro é coisa que tem um longo prazo para ficar pronto. Por enquanto, o livro tem nome e algumas poucas histórias escritas - é o suficiente.
Mas, me lembrei de duas caronas que dei. A primeira, foi em companhia do meu amigo Jônatas Fagundes Ferreira - Jota. Viajei de Poções para Teixeira de Freitas e ele me pediu uma carona para Eunápolis, pois pretendia visitar Beto, filho de Vitinho Fotógrafo.
Quando chegamos em Itabuna, abasteci a camionete C10 em um posto ao lado da Estação Rodoviária. Dei partida e percebi que o motor falhava enquanto transitava por uma área esburacada. Jota resolve mexer com um cidadão que passava próximo à camionete e soltar uma piada pra cima dele. O carro falhou o motor. Tentava dar partida e nada. O cidadão, visivelmente chateado, percebeu a nossa dificuldade e veio em direção a Jota dizendo: Desça seu ... venha falar aqui, desça do carro!!!. Jota ficou vermelho, me olhava, levantava o vidro da porta e dizia: - Bota esse negócio para pegar... vamo tomar tapa.
O motor pegou quando faltava um metro para o cidadão abrir a porta. Nos divertimos muito depois que saímos do perigo.
A outra história de carona foi com meu amigo Lourival Manoel da Silva Filho – Lourinho, desta vez em um fusca modelo Fafá de Belém.
Paramos no Posto Pau de Vela para fazer um lanche, como era de costume nas viagens entre Poções e Salvador. Paguei a conta e fiquei conversando com o dono do Posto, que era cliente da empresa que eu trabalhava. Me deu vontade de tomar um café e pedi ao caixa que cobrasse separado. Tomei o cafezinho e fui para o carro. Sentei, de cabeça baixa anotava o consumo de combustível e falava para Lourinho: - Que cara sacana, outro dia o carro dele furou o radiador e dei socorro a uns 45 km de Salvador. Ele foi capaz de cobrar o cafezinho, que sujeito miserável!
Lourinho balbuciava: Lulu, você se arrombou, o cara tá bem aí do seu lado e deve ter escutado tudo o que você falou. Eu já estava mesmo na pior e esperava que um buraco se abrisse - não tive outro jeito a não ser emendar: - Também pudera! Todo mundo que passa aqui é amigo dele, se der cafezinho para cada um, imagine o tamanho do prejuízo.
O dono do posto comentou: - é isso mesmo, você tem razão!
para o meu alívio.
domingo, 2 de janeiro de 2011
Demagogia é falar bem!
Em Poções, viveu o Sargento Severino Bispo dos Santos. Foi instrutor do Tiro de Guerra 135 durante anos e tinha uma grande eloqüência. Além de comandar o TG, ensinava Francês, Inglês e Educação Física no Ginásio de Poções. Então, falar bem em público era uma das suas especialidades.
Do outro lado da história, havia um carpinteiro de mão cheia. Figura simples, modesta e de fácil relacionamento com as pessoas da cidade.
Certa vez, Severino encomendou algumas janelas para a sede do TG. O carpinteiro, seu amigo e admirador, prestou o serviço sem antes orçar. As peças foram assentadas e chegou a hora do acerto:
- E aí, quanto eu te devo? perguntou o Sargento. O carpinteiro, na sua simplicidade, não podia deixar passar a oportunidade de elogiar o amigo e respondeu:
- Ora Sargento, o senhor é um homem demagogo, fala tão bem, pode pagar o quanto quiser!!!
Do outro lado da história, havia um carpinteiro de mão cheia. Figura simples, modesta e de fácil relacionamento com as pessoas da cidade.
Certa vez, Severino encomendou algumas janelas para a sede do TG. O carpinteiro, seu amigo e admirador, prestou o serviço sem antes orçar. As peças foram assentadas e chegou a hora do acerto:
- E aí, quanto eu te devo? perguntou o Sargento. O carpinteiro, na sua simplicidade, não podia deixar passar a oportunidade de elogiar o amigo e respondeu:
- Ora Sargento, o senhor é um homem demagogo, fala tão bem, pode pagar o quanto quiser!!!
Assinar:
Postagens (Atom)