No último domingo, fomos
almoçar na casa de meu padrinho Antônio Libonati, que também convidou Elisa e
Pepone, meus irmãos.
Elisa, Libonati (de pé), Pepone e Lulu |
O que rola em um almoço na
casa de italiano são as lembranças da Itália, especialmente de Mormanno, a
terra natal de todos os nossos. Ainda mais que, na parede da sala, havia um
quadro reproduzido a partir de uma fotografia da casa onde Libonati morou na
pequena cidade italiana. O quadro foi pintado por Gerson, meu cunhado, há mais
de trinta anos.
As famílias Libonati e Sangiovanni: Pepone, Elisa, Bete, Eliane, Zilma, Delza, Libonati, Lulu e Sérgio. |
Além da tradição do almoço em
família no domingo, as músicas tocadas são especiais da região sul da Itália.
O quadro era o pretexto para
iniciarmos a conversa sobre Mormanno, embalados pela música. As lembranças
traziam fortes e emoções quase que contidas, não fossem os brilhos dos olhos à
medida que iam sendo contadas. Em determinado momento, Libonati chamou os
convidados e disse: “Esse almoço é uma
homenagem especial a vocês e a Chico e Anna Maria, seus pais, pela amizade e
apreço que eu tinha com eles. Isso era recíproco. Então, estando com vocês,
estou com eles”.
Perpetuando essa alegria, eu
contei que poderíamos comemorar, pois o costume reza que os italianos comem
macarrão na quinta-feira e no domingo. Libonati achou estranho o costume e
demorou a se lembrar. Era assim mesmo e a notícia corria longe, falei. Os viajantes,
os pracistas que visitavam Poções, ficavam horas vendendo e eram gentilmente convidados
para o almoço nas casas dos tios devido a falta de restaurantes na cidade, onde
apenas poucas pensões ofereciam esse recurso. Eles ficavam mesmo enrolando para
serem convidados.
Tinha viajante que só aparecia
na quinta. Um dia, um deles foi convidado. Sentando-se à mesa, quando imaginava que comeria uma bela
macarronada, foi surpreendido por um prato inusitado – sopa de leite. Pois
é, sopa, minestra ou minestrone eram os pratos prediletos nos almoços na nossa e nas casas
dos tios. Sopa de feijão era a mais comum. Mas, no dia em que o leite da
fazenda Caetitú sobrava, tinha uma receita de sopa de leite.
O gosto era salgado, mas muito
gostosa. A aparência branca do leite gerava sempre uma reação de desagrado.
Então, surpreendendo-se com o inesperado prato, nosso viajante não podia se
desfazer da “novidade” e, para agradar, disse que adorava sopa de leite. O
primeiro prato servido ele tomou em rápidas colheradas. Minha tia, sabendo que
o convidado adorava a sopa e como havia tomado rapidamente, tratou de servir
logo mais duas enormes conchas.
Coitado, nunca mais aceitou o
convite para o almoço.