segunda-feira, 26 de outubro de 2009
ApelidE
(ATUALIZADA EM 05.04.2014)
“Apelide” era como a gente pronunciava a palavra apelido em Poções.
Com essa expressão, comecei a conversar com meu amigo Gildásio Possidônio de Lima Filho, um baiano da Caroba de Irará, terra de Dida da Seleção e do grande artista Tom Zé, no bar do Lula, na Cesta do Povo do Ogunjá.
Era sábado, nem um dos dois tinha pressa, nem fome. Compramos dois reais de camarão seco e ficamos tomando cerveja até a hora de almoçar o resto da feijoada, quase fria, servida no balcão “a la self-service”.
Fomos contando histórias e lembrando do cotidiano das cidades do interior, quando esbarrei na pergunta:
- Com essa “palavrona” no meio do seu nome, você não tinha um apelido?
- Tinha e tenho até hoje. Sou Dau de Julita, respondeu.
- Uma justa e bela homenagem pra quem já carrega o nome do pai, emendei.
Comum nos interiores as denominações de propriedade das pessoas. Contei que lá em casa, meu pai se chamava Amedeo e era mais conhecido pelo apelido de Chico que pelo próprio nome. Variava com Chico da Loja, Chico Sarno e tantos outros. Uma confusão nas correspondências e, muitas vezes, achavam que se tratava de duas pessoas. Com isso, além de Lulu Chorão, fiquei conhecido como Lulu de Chico.
Gildásio contou algumas passagens de Irará e se lembrou que ainda teria que visitar a sua mãe Julita naquele dia. Disse que a conversa ia rolar com outros velhos amigos já que Dida e Tonzé não estariam na cidade (pura pretensão de interiorano, eu conheço). Ia se encontrar com um tal de filho de Nega que Mata Vaca, o fulano da Farmácia e outros com apelidos estranhos.
Lá pelas 5 da tarde, a gente se despediu. Voltei pra casa lembrando dos apelidos dos conterrâneos poçõenses e passei a anotar alguns deles em um pequeno pedaço de papel. Foram tantos, que comecei a colocar em ordem alfabética na tela do computador e vi que dava até para classificar.
Passei a semana nesse exercício. Ativei todas as baterias dos neurônios. Na minha cabeça, rodavam as ruas de Poções, as casas comerciais, as festas, as pessoas circulando e, o melhor, lembrava de histórias e mais histórias. Achei apelidos do tempo de criança. Fiz uma verdadeira viagem no tempo. O pessoal daqui de casa dizia que eu estava ficando maluco quando lembrava de alguém no meio do nada e anotava no papel.
Gente que conheci, que convivi. Gente que já se foi. Gente que não vejo há muito tempo. Já são mais de 340 “apelides” (apenas masculinos). Dos sérios aos engraçados, eles fizeram parte também da vida dos seus donos e ficaram registrados na nossa cidade e são tratados aqui com toda a dignidade e respeito. Eles fazem parte da história.
Minha única preocupação, agora, é saber que esqueci de alguns. Paciência! Vocês vão viajar nas suas histórias, lembrar de mais gente e me enviar para aumentar a relação dos apelidos do nosso povo.
Agradeço ao meu amigo Dau de Julita pelo papo que resultou essa crônica. Aliás, confesso que foi uma das que mais me causaram emoção e prazer em pensar e escrever.
Nota do blog: Nasceu em 11.07.2012 Pedro, filho de Gildásio/Cláudia, neto de Julita - vamos aguardar para saber o apelido do menino, mas que sejam muito bem vindos - o menino e o apelido.
Apelidos – baseados em nomes de animais
Artur Rato Branco, Anísio Caçote, Aurino Gambá, Bidinha Cabra, Cesário Rabicó, Coelho (Fernandinho), Coelho (Acascp), Davi Cara de Jegue, Diva Mão de Onça, Edson Jacaré, Fernando Boião, Franga Preta, Gavião do Deserto, Gilberto Galo Cego, Ivan Pavão, Jorge Galinha, Leão Guarda, Lobão, Lobinho, Luiz Morcego, Luiz Surucucu, Mama na Loba, Marco Antônio Cara de Onça, Marcos Lagartixa, Marquinhos Cocá, Marquinhos Peruzinho, Nilton Porquinho, Oga Bode, Piolho, Ratinha, Renan Vaca Gorda, Tonhe Gabirú.
Profissões
Adelson do Portal, Adevaldo Radialista, Agenor da Cachaça, Alcides Retratista, Alfredo Alfaiate, Almir Serra Pau, Antonio Ourives, André da Ótica, Arnóbio da Cachaça, Bal Alfaiate, Barberim, Beto da Loja (Beto Penicilina), Celso Relojoeiro, Chico da Loja, Daje do DNER, Del da Alfaiataria, Dezin do Leite, Didi da lage, Dió Moto-Taxi, Duca do Bar, Enéas do Gás, Fafá Mata Égua, Fidélis do Arroz, Gil do Box, Hélio Manteiguinha, Homero Pintor, Hormindo do Rádio, João do Leite, João do Queijo, Joaquim Carregador, Jonas do Reforço, Lande da caçamba, Locutor Fabiano Ferreira, Louro Saboeiro, Márcio do Celular, Marcos Agente de Saúde, Marcos do Moto-taxi, Miguel Açougueiro, Mimi do Óleo, Nelson Pintor, Néo Ferreiro, Niltão do Fórum, Oscar do Posto, Pedro da Farmácia, Professor Carlos, Professor Kleber, Professor Rosalvo, Orlando Som, Pulú do Cachorro Quente, Quinca da Farmácia, Reginaldo do Posto, Rogério da Caixa, Rui Queijinho, Sargento Izaías, Sargento Jaílson, Sérgio Mota (Sérgio Motos), Terêncio do Bicho, Tonhe da ABB, Tonhe do Feijão, Ulisses do Rádio, Valter Gabriela, Vavá Açougueiro, Vavá da Coelba, Vieira da carne do sol, Zé da Loja, Zé Dentista, Zé do Pão, Zé Sapateiro, Zil da Relojoaria, Zu Latoeiro, Zu Ferreiro, Zuca Fiscal.
Em nome do pai, da mãe, ....
Arnaldin de Zu Latoeiro, Batatinha (João), Bida de Pasqual, Carlos de Daniel, Di de Marcolino, Didí de Eurípedes, Duardo de Pasqual, George de Jorge de Duca, Geraldo de Doninha, Gilmar de Abel, Hélio de Afonso, Jó de Marcolino, Joaquim de Rádio, João de Catão, Jorge de Duca, Jorge de Ucha, Lulu de Chico, Kau de Edite, Marquinhos de Tidinha, Neumir de Marcolino, Neumir de Miga, Paulin de Doca, Paulo de Aníbal, Paulo de Fábio, Pedro de Anália, Pedro de Diná, Raul de Paulo de Fábio, Santo de Zizio, Tim de Eurípedes, Tim de Louro, Toinzin de Carlito, Tonhe de Doca, Vilma de Kel, Zé de Alfredo, Zé de Dahil, Zé de Doca, Zé de Lausinha, Zé de Paladino (Patel), Zé de Vadim, Zé de Zú, Zostinho.
Pela geografia
Boa Nova, Carlinhos Carioca, Candango, Fidélis de Boa Nova, Pedro da Barreira, Serra Preta, Vani do Açude, Zé Califórnia, Zil do açude.
Pela aparência
Abílio Roxo, Ari - o Príncipe, Bruno Gaso, Capacete (Tonhão), Cara de Jaca, Careca, Carlinhos Regaçado, Castelo Branco (Banco do Brasil), Cesar Pedra, Daniel Rosinha, Decalcado, Deixa que eu chuto, Dó Baixinho, Fernando Melancia, Gaso, Geraldo Cafona, Guimar Vampiro, Gutão, Hélio Virote, Homem da Cruz, Isac Pé de Rodo, Ito Pezão, Jânio Barriga, Jipe, João Bonitin, João Pé Real, João Só (Aziz), Jorge Boneco, Jorge Uriudo, Latão, Mortalha, Nêgo Lino, Nêgo Rege, Nêgo Rosi, Nêgo Vando, Néo Bicudo, Néo Paciência, Nildo Cabeludo, Orlando Tonel, Osvaldo Catingueiro, Paulo Barão, Pé de Banha, Pé de Barro, Rui Barriga, Toinho Cabeção, Tonhe Feio, Tonhe Gordo, Turniado, Ulisses Gogó, Valdemar Branco, Valdemar Preto, Vicente Cheiroso, Vicente Lampião, Zé Creca, Zé Foen, Zé Perninha, Zé Pescoço, Zezin Bocão, Zoma Barriga, Zuza Pezão.
Pornográficos
Abel Cagão, Edilson Cuião, Jorge Bufão, Léo Bostinha, Luiz Bosteiro, Osvaldo pega-na-bosta, Quenga, Siri Caçola, Zé Bufinha.
No aumentativo e no diminutivo
Almizinho, Baninho Guarda, Bizinho, Cebolinha, Cumpadinho, Darinho, Fiinho, Gimirim, Gugu, Gutinha, Letão, Letin, Licinho, Lofinho, Lourinho, Maninho, Muzinho, Napinho, Nelsão, Nobertin, Nozinho, Nuguinha, Pedro Sibim, Quequinha, Rael, Riquinho, Rominho, Sonson, Tina, Tininha, Vecinho, Zequinha, Zezel.
Ecológicos
Dêga, Firmino Cravo Branco, Goiaba, João Mercório, Lago, Mário Goiabão, Mero, Rocha.
Italianos
Bajolão, Beleleu, Bruno Beçola, Caúva, Fidelão, Gueguel, Luizito, Lulu Chorão, Marão, Miguelute, Penute (Pinuccio), Pepone, Pipinho, Satobão, Solista.
Músicos
Alcides Bordado, Berecó, Bubuca, Chicão, Cidinho, Pitôco, Sandoval Caúca, Senhorzinho, Tião, Tonhe Faca Doida, Vilmar Coxinha, Xirico, Zé do Sargento, Zé Tenaz.
Na estrada
Alfredo Zefa Doida, Papel, Terão, Tonga, Tota.
Dos Fagundes
Bartola, Bil, Adilson Cabeção, Cebola, Deduca, Dega, Déo, Dudui, Dúi, Jota, Léo Fera, Nenzin (Nilton), Quito, Ti Nadinho, Tonhe Banana, Vei Neném, Viví.
Velha Guarda
Badinho, Batatinha (Alcides), Carlito de Uchinha, Dé, Dindo, Dôca, Fernando, Bigode, Frazin, Liligo, Liquinho, Lô, Lulu (Prefeito), Malagueta, Maneca, Miga, Nelito, Nenga, Nenzinho, Nino, Pedro Boca de Sebo, Tani, Ton de Nino, Ula, Vavá, Zizio Ferrugem.
Malucos
Dió Doido, Ruduleiro Morotó, Tunico, Véi de Zé Galo.
Bons de bola
Aví, Borrela, Bubute, Cal Barú, Capela, Cumpade Laro, Cumpade Nozin, Dái, Dão (Laudelino), Espirro, Ganapa, Jorge Bode, Lejo, Lejado, Mela, Miel, Mirinda, Nêgo Déo, Nêgo Gerson, Pata, Patel, Ponga, Tena, Ti, Tonhe Ximbica, Toninho Galego, Zozó.
Longe do nome verdadeiro
Agonia, Bada, Belisco, Biringo, Budu, Catão, Dena, Deputado, Diva, Fazendeiro, Fura Fura, Já Modeu, La Fontaine, Minuca, Mituca, Mufula, Nino Aprígio, Pancho, Pão, Tinga, Tléis (Alênio), Xarope, Xerife, Zé Catemba.
Outros
Cadê o pão Matheus? César Lubião, Chico Picolé, Fafá, Garapa, Lié, Luizão, Ni, Osvaldo Cientista, Paulo Bibimirim, Pepeu, Praxeda, Rafael Birro Doido, Roni, Rudiá, Tonico, Tonhá.
Colaboraram: José Paladino (Zé de Paladino), Jorge Dantas (Jorge Bufão), Luiz Carlos Schettini Barbosa (Luiz Bosteiro), Michele Sangiovanni (Miguelute) e Jorge Schettini Torres (de Ucha).
Lista do TRE candidatos a vereadores de 2012.
terça-feira, 20 de outubro de 2009
O muro do açude
O rio São José é represado no açude e o excesso de água desce pelo vale onde tem as pontes, rumo a baixada da Cachoeirinha.
Quem vê aquele canal, certamente se lembra das enchentes. Não imagina quantos problemas já trouxe para Poções. Hoje, o canal está feito. As enchentes acabaram.
Numa certa tarde, o céu ficou escuro e caiu uma tromba d´água nas cabeceiras do açude e no canal que passa defronte ao Isaias Alves. A água ficou retida nas duas praças e invadiu a Deocleciano Teixeira.
Era muita água. O povo correu para a parte alta da Rua da Itália e aguardava mais inundação. Dali, da porta da Tipografia de Alcides Batatinha, diziam: “o muro do açude caiu, o muro do açude caiu”. Era esperar pelo dilúvio, pois o açude São José inundaria a cidade.
Uma cena que me lembro como se fosse hoje. Desesperados, com as crianças, estava Carlos Rizério e Dona Célia. Eles moravam na Praça do Coreto e se livravam da inundação, mas bastante assustados com a notícia.
Em meio ao desespero, muitos comentavam o assunto e percebiam que a água não chegava. O que era desespero passava a ser alívio.
Na Praça da Igrejinha, onde hoje é “O Gaiolão”, havia um terreno baldio murado, bem ao lado do açougue de Seu Miguel. O muro era utilizado para propaganda política (uma delas era do Plínio Salgado).
Tanta chuva que o muro não resistiu à força dela. Bastou alguém gritar que “o muro do açougue caiu” para entender que “o muro do açude caiu”.
Enfim, o dia em que um erro de comunicação transformou o muro em um dilúvio.
Quem vê aquele canal, certamente se lembra das enchentes. Não imagina quantos problemas já trouxe para Poções. Hoje, o canal está feito. As enchentes acabaram.
Numa certa tarde, o céu ficou escuro e caiu uma tromba d´água nas cabeceiras do açude e no canal que passa defronte ao Isaias Alves. A água ficou retida nas duas praças e invadiu a Deocleciano Teixeira.
Era muita água. O povo correu para a parte alta da Rua da Itália e aguardava mais inundação. Dali, da porta da Tipografia de Alcides Batatinha, diziam: “o muro do açude caiu, o muro do açude caiu”. Era esperar pelo dilúvio, pois o açude São José inundaria a cidade.
Uma cena que me lembro como se fosse hoje. Desesperados, com as crianças, estava Carlos Rizério e Dona Célia. Eles moravam na Praça do Coreto e se livravam da inundação, mas bastante assustados com a notícia.
Em meio ao desespero, muitos comentavam o assunto e percebiam que a água não chegava. O que era desespero passava a ser alívio.
Na Praça da Igrejinha, onde hoje é “O Gaiolão”, havia um terreno baldio murado, bem ao lado do açougue de Seu Miguel. O muro era utilizado para propaganda política (uma delas era do Plínio Salgado).
Tanta chuva que o muro não resistiu à força dela. Bastou alguém gritar que “o muro do açougue caiu” para entender que “o muro do açude caiu”.
Enfim, o dia em que um erro de comunicação transformou o muro em um dilúvio.
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