"Se chorei ou se sorri, o importante é que em Poções eu vivi"

quarta-feira, 6 de maio de 2015

O homem que redescobriu o Brasil

Em 1982, quando fui a Poções votar, algumas pessoas me cobraram se já havia escolhido o candidato a Deputado Federal. Desconversava e dizia que sim. Logo, vinha a pergunta indiscreta:

- Quem é? Vai votar em quem?
E eu respondia: Carlos de Andrade.
Carlos de Andrade? quem é esse? Nunca ouvi falar!!!

Naquele ano, houve o acidente de helicóptero que vitimou o candidato Clériston Andrade. Foi escolhido o ilustre desconhecido João Durval e este ganhou a eleição para o governo do estado, após quinze dias de campanha política por conta do apoio de ACM (assim começou a nascer João Henrique Barradas Carneiro, ex-prefeito de Salvador).

Eu convivi muitos finais de semanas em Conquista e havia conhecido o candidato Carlos de Andrade em reuniões de família quando ainda namorava Bete. Gostava da forma que ele governava a cidade (era o prefeito) e que poderia ser um grande Deputado Federal, como assim foi.

Carlos de Andrade é o mesmo Raul Carlos de Andrade Ferraz e se elegeu com exatos 38.872 votos. Depois, em 1987, tornou a se candidatar e se reelegeu.
Raul Ferraz (Foto: Luiz Sangiovanni)
Agora, em março, estava numa festa na cidade de Conquista e veio aquele senhor vistoso sentar-se à nossa mesa e foi contando a história do redescobrimento do Brasil. Apresentei-me como seu eleitor e fiquei ali pensando que Raul Ferraz poderia imaginar que eu fosse um aventureiro querendo fazer “média”, mas fui logo contando a história de Carlos de Andrade.

Raul, depois de vastos estudos, escreveu, em 2008, o livro O Prado e o Descobrimento do Brasil (Thesaurus Editora), que teve a sua segunda edição lançada em 2010. Ele prova que Pedro Álvares Cabral esteve no Prado antes de seguir para Porto Seguro. Sob a luz da carta de Pero Vaz de Caminha, fundamenta a verdadeira história do descobrimento.

Em resumo, Raul cita que a esquadra de Cabral, no dia 22 de abril, fez o primeiro avistamento, a primeira ancoragem, batizou o monte com o nome de Monte Pascoal e deu o primeiro nome à TERRA DE VERA CRUZ, passando a primeira noite ancorado sob o céu do Brasil, exatamente na costa do município do Prado.

Ainda no dia 23, efetuou a segunda ancoragem a meia légua da barra do Rio Cahy. Ocorreu a ida de Nicolau Coelho para ver o rio. Houve a tomada de posse da terra e a solenidade do primeiro encontro com 18 a 20 homens pardos, todos nus. Dormiu ancorado na barra do Rio Cahy, na costa do Prado.

No dia 24, descreve Raul, houve uma reunião com os Capitães na nau capitânea e depois rumaram ao norte a procura de um porto, quando chegaram a Porto Seguro.

Ele ainda me perguntou se eu conseguia ver o Monte Pascoal a partir de Porto Seguro. Viajo constantemente por aquela região, principalmente de Eunápolis a Teixeira de Freitas, e afirmei que o Monte Pascoal pode ser visto a partir da BR101, mas pro lado de Itamaraju, e nunca a partir de Porto Seguro.

O livro é uma viagem ao descobrimento com as inúmeras afirmações corretas e é um documento que prova que o Brasil foi mesmo descoberto no município do Prado. Comercialmente, não interessa para Porto Seguro que estes fatos sejam divulgados, mas o meu candidato e historiador, Carlos de Andrade, está corretíssimo na sua interpretação.

Viva o Brasil, viva o Prado!!!


segunda-feira, 4 de maio de 2015

Maio

Chegada das Bandeiras, em Poções (Foto: Ricardo Sangiovanni)
Por Suerlange Ferraz
Os primeiros sinais que maio está chegando é o vento que circunda a madrugada, as nuvens cinzentas que escondem o brilho das estrelas.
Maio chegou!  Para muitos, um mês como outro qualquer, mas para quem mora ou é filho de Poções, o mês é repleto de emoção, simbolismo e, sobretudo, muita fé.
É mês dos Devotos do Divino. É o mês de a emoção percorrer a cidade, da memória ser revivida. É época de agradecer por tudo que temos e somos. É recordar-se dos devotos que foram habitar o plano celestial e que, de lá, devem estar louvando e em comunhão conosco.
A cidade ganha uma nova rotina. Uma festa tão esperada que finda tão rapidamente. Momentos que ficam eternizados na memória de quem com emoção repete a cada ano que “ Os Devotos do Divino vão abrir sua morada [...] que o perdão seja sagrado e que a fé seja infinita [...] que a justiça sobreviva [...] a bandeira segue em frente atrás de melhores dias”. Que a justiça sempre sobreviva, talvez essa parte tenha se tornado um refrão na vida de muitos. Muitos que vivem a vagar pelas noites frias, outros tantos que lutam bravamente por uma sociedade mais igual e mais humanitária. Que os representantes do povo nunca esqueçam que a justiça deve sobreviver sempre.
Que a fé seja sempre infinita. Fé em si mesmo, fé na vida, fé em tudo que fores fazer. Que assim como os devotos, nossa fé seja renovada constantemente.
Flores e lágrimas, fé e emoção, diversão e música, frio e devoção: é a festa do Divino ou Festa de Pentecostes dando seus primeiros sinais. Quantos aguardam ansiosamente o estourar dos fogos anunciando que a Festa começou? O barulho dos cavalos no decorrer da chegada das Bandeiras já pode ser sentido na memória. De quem ficou, emoção; de quem se foi, saudade doída.
É festa do Divino! É época de aconchegar-se em meio à multidão na festa de largo. Época de divertir-se no meio do encanto dos parques. Dar um pulo na Mostra Cultural e desfrutar de uma boa música. Tempo propício aos bons encontros, tempo propício para recordar de tantos cidadãos que foram responsáveis por transformar a festa em um evento que ultrapassa as barreiras.
Cresci ouvindo e vendo a magia da festa. Cresci ouvindo os “causos” contados por meu pai (Gil) e minha avó (Dona Filinha) sobre como eram confeccionadas as inúmeras bandeiras que eram costuradas na casa de vovó. Lembro-me do meu pai contar como era realizada a alvorada. Tornei-me uma adulta que sempre leva na memória os tantos significados que essa festa tem em minha vida.
Tantos devotos espalhados pela dimensão terrestre, mas que se juntam espiritualmente para saudar o Divino.
As flores nas janelas já foram postas. Venha Divino, venha. Abençoa-nos! Depois que a bandeira passa, a vida é mais alegre e a fé é renovada.
Bem vindo, Maio!
Que o fogo abrasador reacenda a chama que havia apagado no coração de quem anda descrente.
Fé, justiça e emoção. É a Festa do Divino!
Suerlange Ferraz Su Ferraz é professora de História e contista
http://suferraz17.blogspot.com.br/